Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) ... OS VEGETAIS TAMBÉM PODEM COMPETIR OU COOPERAR ENTRE SI?
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

VOCÊ SABIA QUE...

 

... OS VEGETAIS TAMBÉM PODEM COMPETIR OU COOPERAR ENTRE SI?

 

Algumas plantas podem inibir o crescimento de outras, assim como há outras que podem auxiliar na germinação e crescimento. Descubra mais sobre essas relações botânicas no texto de Leonardo F. Stahnke.

 

 

 

... OS VEGETAIS TAMBÉM PODEM COMPETIR OU COOPERAR ENTRE SI?

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 

Sempre ouvimos falar em competição ou cooperação entre animais. Lembramos da predação dos carnívoros sobre os herbívoros, da competição por território, alimento ou parceiro, ou até mesmo de associações entre indivíduos que colaboram para caçar ou protegerem-se. Mas o que muitos não sabem é que no reino vegetal esse tipo de interação também acontece apesar da limitação móvel de seus exemplares.

Assim como no reino animal, muitas plantas também são competidoras. Recursos como luz, água e nutrientes do solo podem ser o motivo para que essas relações desarmônicas aconteçam e, desse modo, temos plantas que crescem e sombreiam seus vizinhos, inibem sementes de crescerem ou reduzem a concentração de água e nutrientes do solo, inviabilizando o crescimento de outras. Algumas espécies, como o arbusto Adenostoma fasciculatum, também produzem toxinas que são lavadas pela chuva e se acumulam no solo, inibindo a aproximação ou crescimento de outras plantas.

Algumas espécies exóticas, ou seja, que não tem origem em determinada região, podem exercer forte pressão sobre as espécies nativas, que anteriormente nunca foram expostas à sua presença. Desse modo, o aumento do crescimento populacional dessa espécie pode ocasionar a diminuição, ou mesmo a extinção local, da outra espécie quando colocadas em um mesmo ecossistema. Nesse caso, temos várias espécies a serem citadas, como o pinheiro-americano (Pinus sp.) e a maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana), ambas espécies exóticas do Brasil e também invasoras, devido ao seu grande poder de dispersão.

Outras espécies altamente competidoras são algumas figueiras e as plantas parasitas. A primeira, geralmente inicia sua germinação sobre outra árvore a partir de sementes trazidas por aves. Essa então cresce sobre a outra, lançando suas raízes ao solo e muitas vezes estrangulando e matando a outra planta. As parasitas, como o cipó-chumbo (Cuscuta racemosa) e a erva-de-passarinho (Tripodanthus acutifolius), também são dispersas por aves que se alimentam de seus atrativos frutos, os quais possuem sementes adesivas, que fixam-se nos troncos de outras plantas mesmo após fortes chuvas. A partir dessas sementes, esses vegetais germinam e inserem suas raízes dentro dos vasos condutores daquela planta hospedeira, retirando-lhe os nutrientes de que necessita e, desse modo, enfraquecendo-a.

Mas se por um lado, algumas plantas competem, por outro, também podem tolerar ou até mesmo facilitar para que outras cresçam. Exemplo disso são algumas plantas chamadas de pioneiras, cuja presença auxilia no estabelecimento de espécies secundárias e tardias em um processo de sucessão ecológica.

A sucessão ecológica é um processo ordenado, gradual e progressivo no ecossistema resultante da ação contínua dos fatores ambientais sobre os organismos e da reação destes últimos sobre o ambiente. Desse modo, plantas pioneiras podem proporcionar às demais, luminosidade e umidade adequadas ao seu estabelecimento e desenvolvimento, promovendo a melhora ambiental, bem como os benefícios de seus serviços prestados (como a melhora da qualidade do ar, manutenção do ciclo hidrológico, produção de alimentos, etc.).

Com isso, a aproximação com essas definições pode auxiliar no planejamento e organização de nossos, jardins, hortas e pomares, bem como de grandes áreas a serem recuperadas ou conservadas, sempre atentos de que os impactos ambientais podem ser positivos ou negativos e que não dependem só da intencionalidade, mas também do conhecimento para ser colocado em prática.

 

 

As sementes de erva-de-passarinho são adesivas e, após germinar, prejudicam a planta hospedeira, retirando-lhe os nutrientes.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos