Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
04/09/2014 (Nº 49) PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DAS ESCOLAS ESTADUAIS RAUL SOARES E SENADOR LEVINDO COELHO SOBRE A ARBORIZAÇÃO URBANA MUNICÍPIO DE UBÁ – MG
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1878 
  

PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DAS ESCOLAS ESTADUAIS RAUL SOARES E SENADOR LEVINDO COELHO SOBRE A ARBORIZAÇÃO URBANA MUNICÍPIO DE UBÁ – MG

 

Daniel Rodrigues da Silva[1]; Renata Barreto Tostes[2]; Kelly da Silva[3]; Karla Valente[4]

 

 

RESUMO

 

A percepção ambiental é uma prática cujo intuito é investigar a qualidade do ambiente por meio da análise dos anseios da população, possibilitando planejamentos que melhorem a qualidade da vida nos centros urbanos. Este trabalho objetivou diagnosticar a percepção ambiental dos alunos das Escolas Estaduais Raul Soares e Senador Levindo Coelho sobre a arborização urbana município de Ubá – MG e desenvolver a partir do diagnóstico, atividades de educação ambiental. Para a realização do diagnóstico utilizou-se questionário semi-estruturado que foram aplicados aos alunos do ensino fundamental e médio, sorteou-se três séries do ensino médio e fundamental em cada escola nas quais totalizaram 256 questionários preenchidos. Diagnosticou-se que a grande maioria dos entrevistados conhece os benefícios e a importância da arborização urbana, citando como exemplo a sombra e a redução de calor.

Palavras-chave: Diagnóstico; Educação Ambiental; Qualidade Ambiental.

 

ABSTRACT

 

Environmental perception is a practice whose aim is to investigate the quality of the environment through the analysis of the concerns of the population, enabling plans to improve the quality of life in urban centers. This study aimed to diagnose the environmental perception of students from state schools Raul Soares and Senador Levindo Coelho on urban forestry town of Uba - MG and develop from diagnosis, environmental education activities. For the diagnosis we used semi-structured questionnaire that was administered to students in elementary and secondary education, has drawn up three grades of elementary and middle school in each school in which totaled 256 completed questionnaires. Diagnosed that the vast majority of respondents know the benefits and importance of urban forestry, citing as an example the shade and heat reduction.

 

Keywords: Diagnosis, Environmental Education, Environmental Quality.

 

 

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais tem crescido o conhecimento da população acerca dos benefícios da arborização, seja ela urbana, rural, ou representada pelas florestas remanescentes. Afinal o que é arborização urbana? Ela é caracterizada pelas árvores nas calçadas, canteiros centrais, parques e praças públicas e também pelos quintais e jardins.

 Dentre as inúmeras finalidades da arborização urbana destacam-se: a estabilidade ambiental, a manutenção da qualidade dos ciclos hidrológicos, a qualidade do ar, a melhoria no microclima urbano, a estabilização de taludes, a redução dos ruídos das cidades, a produção de alimentos e abrigo para animais, além de contribuírem para a qualidade de vida da população nos grandes centros urbanos (SILVA; PAIVA; GONÇALVES, 2007; MACIEL et al., 2010).

A arborização é um dos fatores mais importantes para a qualidade de vida nos centros urbanos, devido aos múltiplos benefícios que proporciona ao homem. Além da função paisagística, elas melhoram a qualidade do ar, oferecem sombra e amenizam as altas temperaturas, servem de abrigo e produzem alimentos aos animais, funcionam como barreira acústica, melhoram as condições do solo, valorizam os imóveis do ponto de vista estético e ambiental, caracterizam a beleza natural da cidade e representam valores culturais da memória histórica da mesma, SANTOS; TEIXEIRA, (2001) e FILHO et al., (2002).

De acordo com FILHO; NUCCI (2006) as regiões urbanas têm crescido continuamente, fato que tem provocado modificações na paisagem e comprometimento da qualidade e do meio físico, além disso, o crescimento vertical e horizontal dos grandes centros urbanos expõem os recursos naturais do meio (água, ar, solo, vegetação, demais organismos vivos) a baixos níveis de qualidade ambiental.

 Paiva e Gonçalves (2002) afirmam que “a vegetação urbana contribui para a harmonia da paisagem quebrando a dureza e a rigidez do concreto, criando linhas mais suaves e naturais e lembrando um pouco a paisagem bucólica, início natural de todo citadino”.

A percepção ambiental é uma prática que vem alcançando destaque recentemente, sendo uma técnica que combina psicologia, sociologia e ecologia cujo intuito é identificar por meio da população os fatores que contribuem positivamente e negativamente para a qualidade ambiental e bem estar social através da avaliação e observação do ambiente, além de prover um objeto de análise das inter-relações entre o homem e a natureza (FAGGIONATO, 2005; FREITAS; RIBEIRO, 2007).

Faggionato (2005) afirma que existem algumas formas de realizar o estudo da percepção ambiental como: o uso de questionários, mapas mentais ou contorno, representação fotográfica, além disso, há trabalhos que visam à sensibilização dos indivíduos visando a compreensão do ambiente.

A percepção ambiental tem sido utilizada em alguns bairros brasileiros e atrelada a trabalhos de educação ambiental, torna-se um instrumento muito útil para a conscientização dos cidadãos sobre os benefícios decorrentes de uma arborização urbana bem planejada à vida das pessoas, bem como a preservação dos recursos naturais no ambiente urbano (LACERDA et al., 2010).

            O planejamento da arborização urbana é muito importante, visto que tentar conciliar o crescimento das cidades com as florestas urbanas não é tarefa das mais fáceis, sendo necessárias políticas públicas de planejamento urbanístico, atreladas à arborização urbana, profissionais aptos a trabalharem nesta área, análise da percepção ambiental e a implantação de programas de educação ambiental.

Devido a estes benefícios a arborização urbana deve ser uma ferramenta indispensável no desenvolvimento urbano. Entretanto, na maioria das cidades brasileiras, a arborização é negligenciada dentro de seu planejamento e planos diretores, onde as mesmas possuem apenas importância ornamental e não possuem função ambiental relevante (BRUN et al., 2008).

            Segundo MONICO (2001) atualmente existe nas cidades, uma preocupação excessiva em eliminar elementos e fatores que possam representar trabalhos adicionais à vida moderna já agitada, como consequência, observamos a maioria dos quintais e passeios públicos completamente impermeabilizados com cimentos. As árvores, principal elemento de ligação entre seres humanos e natureza, passam a disputar espaço na paisagem com outros elementos de caráter prático como postes, fiação elétrica e calçadas. A natureza passa a ser percebida como algo distante e separada da vida urbana.

            Todas as cidades brasileiras deveriam dispor de setores responsáveis pela arborização urbana, visto que sua contribuição para a qualidade de vida nas cidades é inestimável como já foi ressaltado anteriormente, além disso, observa-se que em nosso país poucos centros urbanos tem sua vegetação planejada, sendo esse um problema que deveria ser tratado com mais seriedade por parte do poder público.

            O presente estudo teve como objetivo geral avaliar a percepção ambiental dos alunos em duas escolas estaduais do município de Ubá – MG que foram: Escola Estadual Raul Soares e Escola Estadual Senador Levindo Coelho, a fim de identificar o conhecimento dos alunos sobre a arborização urbana.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Local de estudo

 

O município de Ubá se localiza no domínio da Mata Atlântica na região da Zona da Mata Mineira entre as coordenadas 20°57ʼ14” a 21°16ʼ07” S e 42°50ʼ39” a 43°06ʼ29” W, está distante da capital Belo Horizonte, cerca de 275 Km. Possui uma população de 101.519 habitantes, sendo que 97.638 residem na cidade e 3.881 na zona rural (IBGE, 2010).

Na classificação de Koopen, o clima da região é caracterizado Cwa e a temperatura média anual é de 23,9 °C, com médias das máximas e mínimas de 31,9 e 16 °C, respectivamente. O índice pluviométrico anual no município é de 1.100 mm, com chuvas concentradas no período de outubro a março.

O município apresenta relevo ondulado e montanhoso, fincado dentro de um vale, o que fez a sua área urbana crescer nas direções oeste/noroeste para as direções leste/sudeste. Com altitudes que variam entre 295 a 875 metros.

O município de Ubá é um dos mais populosos da Zona da Mata Mineira, seu crescimento se dá de forma desordenada em função da expansão do polo moveleiro da cidade e região. Com este crescimento desordenado sua arborização urbana não foi bem planejada, tornando Ubá uma das cidades com menor número de indivíduos arbóreos no perímetro urbano da região.

Além, desta falta de planejamento, Ubá é considerada uma das cidades mais quentes da Zona da Mata Mineira podendo chegar a 35° C facilmente durante os meses de verão. Estas características conjuntas à falta de planejamento, baixo índice de arborização urbana e temperaturas elevadas vêm ocasionando uma baixa qualidade de vida para a população da cidade.

 No diagnóstico realizado em quatorze bairros centrais da cidade de Ubá pela Universidade do Estado de Minas Gerais, ainda foram detectados outros problemas como interferências da arborização em calçadas, muros e na iluminação pública, decorrentes dos plantios voluntários realizados pela população sem qualquer planejamento prévio.

 

Coleta dos dados

 

Este estudo foi desenvolvido em duas escolas estaduais do município de Ubá, Escola Estadual Raul Soares e Escola Estadual Senador Levindo Coelho, escolhidas propositalmente por estarem participando do projeto “Educação ambiental nas escolas estaduais como ferramenta para a manutenção da arborização urbana de Ubá - MG”.

A metodologia empregada para realização do presente trabalho baseou-se em um questionário previamente elaborado contendo questões objetivas e dissertativas, as quais foram apresentadas aos estudantes do ensino médio e fundamental, antes do início do projeto de educação ambiental, com intuito de diagnosticar o conhecimento dos mesmos em relação à arborização urbana. Com observação durante o desenvolvimento do projeto nas mudanças de hábitos e suas relações com o ambiente da escola e as árvores ali encontradas.

A aplicação dos questionários seguiu o método da amostragem aleatória, onde foram sorteadas três séries do ensino médio e fundamental em cada escola, totalizando 256 questionários preenchidos, 131 questionários na Escola Estadual Senador Levindo Coelho e 125 na Escola Estadual Raul Soares.

 

 

ASSUNTOS ABORDADOS DURANTE O DIAGNÓSTICO

1)      Como você classificaria a arborização de Ubá – MG?

(   ) muito arborizada   (    ) razoavelmente arborizada    (    ) pouco arborizada

 

2)      Quais as vantagens que você observa na arborização de Ubá-MG?

(    ) sombra     (    ) redução do calor    (    ) redução da poluição sonora  

(    ) flores e frutos   (    ) outras __________________________________

 

3)      E quais as desvantagens que você observa na arborização de Ubá-MG?

(   ) sujeira das ruas e calçadas   (    ) sujeira provocada por pássaros   (    ) redução na iluminação pública  (   ) problemas com a rede elétrica ou telefônica    (    ) problemas na calçadas    (    ) falta de pode    (    ) muita poda   (    ) outras ____________________________________

 

4)      Qual o seu grau de satisfação com a arborização da cidade de Ubá – MG?

(    ) muito satisfeito   (    ) satisfeito    (    ) pouco satisfeito   (    ) insatisfeito

 

5)      Reconhece as espécies de árvores nativas existentes no perímetro urbano do município de Ubá- MG? Quais?

(    ) não       (    ) sim ___________________________________________

 

6)      Diferencia uma espécie nativa de uma exótica?

(    ) não       (    ) sim

 

7)      Caso seja necessário, a quem você encaminharia suas reclamações referentes à arborização urbana?

(    ) prefeitura municipal       (    ) companhias responsáveis pela telefonia e energia elétrica          (    ) Outros

 

8)       Que espécies você gostaria que fossem plantadas em sua rua?

 

9)       Você colabora com a arborização de sua vila, bairro? Se colabora, de que forma?

 

10)  O que pensa sobre a poda das árvores?

 

11)   Na sua opinião, o que deveria ser feito para melhorar a arborização de sua rua?

 

 

Com base nas repostas dos alunos, foram elaboradas diferentes atividades, como oficinas, palestras, distribuição de panfletos e plantio de árvores.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os alunos entrevistados foram indagados sobre a classificação da arborização urbana na cidade, e apresentaram as seguintes respostas: 5,8% dos alunos entrevistados consideraram a cidade muito arborizada, 71,9% consideram a cidade razoavelmente arborizada e 22,3% consideraram a cidade pouco arborizada. Sendo assim a grande maioria dos entrevistados consideraram a cidade com uma arborização razoável ou pouca, como no trabalho de Araújo et al., (2010).

Roppa et al., (2007) afirma que essa classificação pode ser subjetiva pois depende do maior ou menor grau de vivencia do morador naquele local, além disso os entrevistados podem tomar como base para dar a resposta apenas a arborização de sua rua ou bairro e não da cidade como um todo.

 A Sociedade Brasileira de Arborização Urbana em 1996 (SBAU, 1996), propôs que o índice de 15 m2 por habitante de área verde é o mínimo recomendado para a população. Para a cobertura vegetal o mínimo recomendado é 30% para que se mantenha a qualidade do ambiente (LOMBARDO, 1985).

Com relação às vantagens da arborização urbana, todos os alunos entrevistados consideraram-na importante na cidade. O fator sombra foi apontado pelos alunos como a maior vantagem vista (48,8%), seguido de redução de calor (29,6%), produção de flores e frutos (7%), redução da poluição sonora (5,5%) e outras: melhora na qualidade do ar, cidade mais bonita (9,1%) (Figura 1).

Roppa et al., (2007) na cidade de Santa Maria (RS) e Lacerda et al., (2010) na cidade de São José de Piranhas (PB) obtiveram índices semelhantes aos do presente trabalho em que a sombra e a redução de calor foram vistas como as principais vantagens da arborização urbana quanto à qualidade do microclima urbano em especial durante os meses de verão.

 

FIGURA 1. Vantagens da arborização urbana no município de Ubá – MG, 2013

 

 

Segundo estudos as árvores reduzem a incidência de luz solar no solo, além de contribuírem com o aumento da umidade relativa do ar, podendo reduzir a temperatura no ambiente em 4º C, atenuando o calor das chamadas ilhas de calor dos grandes centros urbanos (EPAU, 2007).

Assim como ocorrido no trabalho de Araújo et al., (2010) a produção de flores e frutos foi vista por poucos entrevistados como vantagem da arborização urbana, demonstrando pouco conhecimento das pessoas acerca da importância dos frutos e flores produzidos pelas árvores urbanas que servem de alimento para o homem e outros animais.

No quesito desvantagens da arborização urbana a falta de poda (24%) foi vista como a maior desvantagem seguido de sujeira nas ruas e calçadas (20,2%), problemas com a rede elétrica ou telefônica (16%), problemas na calçada (15,1%), sujeira provocada por pássaros (13,7%), redução da iluminação pública (8,1%), muita poda (2,1%) e outras: facilita o tráfico de drogas (0,8%) (Figura 2).

 

FIGURA 2. Desvantagens da arborização urbana no município de Ubá – MG, 2013

 

 

Os índices de desvantagens vistos nesse estudo reafirmam o que foi levantado no trabalho de Silva et al., (2011) na cidade de Ubá, em que a arborização municipal está baseada no plantio de árvores de médio e grande porte como oiti (Licania tomentosa (Benth.) Fritsch.), ficus (Ficus benjamina L.) e sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides Benth.), que são incompatíveis com os equipamentos urbanos e acabam por causar essas interferências e desvantagens.

Para que esses índices de intervenções no ambiente urbano não aconteçam a CPFL Energia (2008) recomenda que a escolha de espécies arbóreas adequadas para plantio nas vias urbanas devem seguir os seguintes critérios: origem da espécie, dimensão e arquitetura da árvore, aspectos ornamentais, sistema radicular, crescimento, presença de frutos e flores, folhas, resistência a fungos e pragas, rusticidade, toxicidade e agressividade.

Quanto ao grau de satisfação dos alunos com a arborização de Ubá a maioria encontra-se pouco satisfeitos (52,4%), satisfeitos (35,1%), muito satisfeitos (2,9%) e insatisfeitos (9,6%) (Figura 3).

 

FIGURA 3. Grau de satisfação com a arborização da cidade de Ubá – MG, 2013

 

 

Mais de 60% dos alunos se apresentam pouco satisfeitos ou insatisfeitos com a arborização municipal, o que reflete nos trabalhos de arborização feitos na cidade, que apontam para uma arborização urbana escassa, homogênea (poucas espécies perfazem mais da metade dos indivíduos encontrados nas vias públicas) e sem o devido planejamento (SILVA et al., 2011).

Quanto ao reconhecimento das espécies de árvores existentes no perímetro urbano do município observou-se que 71,5% dos alunos não reconhecem nenhuma espécie e 28,5% reconhecem as espécies plantadas nas vias públicas, dentre as espécies reconhecidas destacam-se as seguintes: mangueira, palmeira, ipê, pinheiro, seringueira, coqueiro, amendoeira, pé de café e quaresmeira.

Foi perguntado aos alunos se eles sabem diferenciar uma espécie nativa de uma exótica e 64,3% alegaram não saberem diferenciar e 35,7% alegaram saber a diferença.

Mais da metade dos alunos desconhecem tanto as espécies arbóreas existentes nas vias públicas de Ubá, bem como a sua origem quanto nativa ou exótica, segundo Dantas e Souza (2004) é necessário conhecer as características das espécies plantadas para que no futuro estas não venham causar danos e prejuízos.

As reclamações referentes à arborização urbana seriam em grande parte encaminhadas pelos entrevistados à prefeitura municipal de Ubá (98,2%), seguido pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas) (1%) e companhias responsáveis pela telefonia e energia elétrica (0,8%).

Lacerda et al., (2010) em seu trabalho observou que os moradores encaminhariam grande parte das reclamações referentes à arborização urbana à prefeitura (60,8%), seguido daqueles moradores que não sabem a quem reclamar (39,2) e nenhum entrevistado citou a companhia elétrica.

Os alunos responderam sobre quais espécies vegetais que eles gostariam que fossem plantadas na rua onde eles moram, destacando-se as espécies listadas na Tabela 1.

 

TABELA 1. Espécies vegetais que os entrevistados gostariam que fossem plantadas na rua onde eles moram na cidade de Ubá – MG, 2013

 

Nome Popular

Nome Científico

Palmeira

Roystonea oleraceae (Jack.) Cook

Mangueira

Mangifera indica L.

Ipê

Tabebuia sp.

Coqueiro

Cocos sp.

Amoreira

Morus sp.

Pinheiro

Pinus sp.

Pingo de Ouro

Duranta repens aurea

Pinha

Annona squamosa L.

Cerejeira

Prunus sp.

Palmito

Euterpe sp.

Quaresmeira

Tibouchina granulosa Cogn.

Roseira

Rosa x grandiflora Hort.

Salgueiro

Salix sp.

Hibisco

Hibiscus rosa-sinensis L.

Magnólia

Magnolia grandiflora L.

Pau Brasil

Caesalpinia echinata Lam.

Seringueira

Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.

Limoeiro

Citrus limon (L.) Burm. F.

Amendoeira

Terminalia catappa L.

Dama da Noite

Cestrum nocturnum L.

Eucalipto

Eucalyptus sp.

Bananeira

Musa paradisíaca L.

Jabuticabeira

Myrciaria cauliflora (Mart.) Berg.

Macieira

Malus domestica Borkh

Abacateiro

Persea americana Mill.

Pitangueira

Eugenia uniflora L.

 

Roppa et al., (2007) observou que os entrevistados gostariam das seguintes espécies na arborização urbana: Melia azedarach L. (Cinamomo) com 10,8%, Caesalpinia peltophoroides Benth. (Sibipiruna) e Inga sp. (Ingá) com 7,7% e Ipê (Tabebuia sp.) com 4,6%.

Através da análise das espécies da tabela percebe-se que os alunos tem grande preferência pelas espécies frutíferas, Mascaró e Mascaró (2003) comentam em seu trabalho exemplos bem sucedidos de arborização com macieiras e pereiras na Suiça e laranjeiras em Assunção no Paraguai. Segundo este autor o sucesso desta utilização de frutíferas neste país se deu em função do grau de cultura da população.

Algumas espécies nativas e frutíferas da região se adaptam muito bem à arborização urbana, como exemplo, acerola (Malpighia emarginata DC), Araçá (Psidium cattleyanum Weinw.) aroeira, (Schinus terebinthifolius) e pitangueira (Eugenia uniflora L.).

A arborização urbana com a utilização de espécies frutíferas é importante, pois estas contribuem na manutenção da biodiversidade nesses ambientes, visto que podem oferecer abrigo e alimentos para as espécies que vivem em florestas ou matas nativas próximas as cidades (BRUN et al., 2007).

Apesar da preferência por espécies frutíferas observa-se algumas espécies indicadas pelos estudantes cujo perfil não é indicado para a arborização de vias públicas como: Palmeira, Mangueira, Coqueiro, Pinheiro, Palmito, Pau Brasil, Eucalipto e Abacateiro, pela altura e pelo excesso de vigor do sistema radicular, causando intervenções e prejuízos nos equipamentos urbanos.

Em seguida os alunos responderam se eles colaboram com a arborização de sua vila ou bairro e se colaboram, de que forma o fazem. Observou-se que 62% dos alunos responderam que colaboram e 38% responderam que não colaboram, dentre os que colaboram a grande maioria afirmou que contribuem não danificando a arborização urbana.

Diferentemente dos dados do presente trabalho com relação à colaboração dos entrevistados com a arborização urbana, foi visto que nos trabalhos de Lacerda et al., (2010) e Roppa et al., (2007) muitos dos entrevistados afirmaram que colaboram com a arborização urbana plantando árvores.

Como em Ubá a colaboração dos entrevistados para a arborização urbana é a não danificação da mesma é imprescindível que o poder público realize campanhas de educação ambiental e sensibilização, de modo que os moradores se tornem parceiros na arborização da cidade (LACERDA et al., 2010).

Apesar do plantio de árvores pelos moradores ser importante é necessária muita atenção, Roppa et al., (2007) afirmam que podem haver equívocos quanto as espécies escolhidas para o plantio, podendo estas interferir nos equipamentos urbanos como já foi abordado.

Com relação as podas nas árvores urbanas os alunos responderam o seguinte: é necessária pois melhora a qualidade da árvore (56,7%), deve-se podar em determinadas situações (30%), deve-se escolher a espécie adequada para cada local para não ter necessidade de podar (13,3%) e não se deve podar (0%) (Figura 4).

 

FIGURA 4. Opinião dos entrevistados com relação às podas nas árvores no município de Ubá – MG, 2013

           

            As podas realizadas visam adequar o indivíduo arbóreo ao local onde ele está inserido e tem a função de limpeza ao se cortar os galhos mortos que possam oferecer riscos, mas também pode ser feita de forma emergencial, na qual a árvore oferece risco à população ou ao patrimônio particular, o que deve ser evitado são as podas drásticas que por sua descaracterizam por completo a forma original do indivíduo arbóreos, podendo causar sua morte, daí é muito importante o planejamento e conhecimento das árvores a serem plantadas (IPEF, 2006).

A última pergunta feita foi o que deveria ser feito para melhorar a arborização de sua rua, os alunos responderam o seguinte: plantar mais árvores na cidade (42,1%), fazer manutenção e realizar podas de forma correta em épocas corretas (28%), fazer um trabalho de conscientização ecológica sobre arborização (27%) e outras formas: implantar árvores em locais apropriados e árvores em locais que tragam benefício (2,9%) (Figura 5).

 

FIGURA 5. Opinião dos entrevistados sobre o que poderia ser feito para melhorar a arborização da rua onde moram na cidade de Ubá – MG, 2013

 

 

O resultado dessa pergunta demonstra o anseio dos alunos com relação à arborização urbana municipal que como já foi ressaltada é insuficiente para a manutenção da boa qualidade de vida. Cabe ao poder público municipal um planejamento mais adequado afim de que os problemas evidenciados possam ser sanados.

Neste sentido, foram planejadas diversas atividades de conscientização e introdução ao desenvolvimento de uma arborização adequada à cidade de ubá. Implementar a educação ambiental, primeiramente, nas escolas é essencial, pois são nelas que os menores indivíduos de uma sociedade passam grande parte de seu tempo. Além de que o conhecimento e o pensamento crítico estão sendo formados nesse ambiente. O que explica a escolha de duas escolas para a implementação do estudo da percepção sobre arborização e posteriores desenvolvimento de atividades de sensibilização. (LAYRARGUES, 2006).

Foi desenvolvido nas escolas a atividade “concurso de fotografia amadora de árvores urbanas” (Fig.6), onde os estudantes foram estimulados a conhecerem e fotografarem a árvore que mais lhe chamou a atenção no bairro em que moram e/ou no entorno da escola. Após o resultado do concurso 15 fotos foram selecionadas e replicadas para exposição em dez escolas da cidade de Ubá.

 

FIGURA 6.  Concurso de fotografia amadora de árvores urbanas - Ubá – MG, 2013

Description: C:\Users\admin\Documents\UEMG 2013\paex3.jpg

 

 A partir do concurso pudemos conhecer qual o olhar do estudante participante do projeto das árvores que lhe cercam. A atividade teve participação da maioria dos alunos envolvidos no projeto e nos possibilitou desenvolver outra atividade junto aos estudantes, a atividade “adote uma árvore” (Fig.7): a ideia de adoção de uma árvore buscou despertar uma consciência geral a favor do meio ambiente, pois consistiu em estimular os estudantes a adotarem árvores existentes em seus bairros e/ou a plantarem uma árvore em seu quintal e assim auxiliar na preservação da biodiversidade da região.

 

FIGURA 7.  Atividade “adote uma árvore”- Ubá – MG, 2013

Description: C:\Users\admin\Documents\UEMG 2013\DSC02284.JPG

 

Após adotarem uma árvore, passaram a escrever “um diário”, onde expunham a sua relação com a árvore desde a infância, contando histórias de brincadeiras ao redor da árvore e outras formas de utilização desta árvore no seu dia a dia, além de que aqueles alunos que plantaram sua árvore receberam noções de plantio e cuidado com a muda e descreviam como sua árvore ia se desenvolvendo.

     Estas atividades atreladas a palestras e oficinas práticas possibilitaram a mobilização de estudantes, professores e comunidade em torno das escolas parceiras do projeto para a realidade do município e a articulação de contribuições para a arborização; o acompanhamento do desenvolvimento dos estudantes ao que se refere ao conceito e vivência da educação ambiental durante a realização do projeto; o desenvolvimento de competências e valores que conduziram os estudantes a repensarem e reavaliarem suas atitudes diárias e as consequências de suas práticas no/para o meio em que vivem.

 

 

CONCLUSÃO

 

            Com a realização do trabalho, verificou-se que os alunos conhecem sobre a importância e os benefícios proporcionados pela arborização urbana apontando a sombra e a redução de calor no ambiente urbano como uma de suas vantagens propiciadas, além disso, eles classificam a arborização municipal como razoável ou pouca, quanto às desvantagens da arborização urbana foi observado que a falta de poda e a sujeira obtiveram os maiores índices, já no quesito satisfação evidenciou-se que mais da metade dos alunos encontra-se pouco satisfeitos ou insatisfeitos com a arborização municipal.

            A maioria dos entrevistados desconhecem as espécies encontradas nas ruas da cidade, bem como a sua origem em nativa ou exótica, já as reclamações referentes a problemas com a arborização urbana seriam encaminhadas quase que predominantemente à prefeitura municipal, as espécies de preferência dos alunos são as árvores frutíferas e de grande porte incompatíveis com os equipamentos urbanos, foi respondido que grande parte dos entrevistados colaboram com a arborização urbana não destruindo-a e veem as podas como um meio principal para manter a qualidade da árvore, evidenciou-se também que os alunos anseiam mais árvores no ambiente urbano, com podas regulares e trabalhos de conscientização ecológica sobre a arborização urbana.

As atividades desenvolvidas pós percepção sobre a arborização na cidade de ubá- MG, foram importantes para colocarem os estudantes e comunidade escolar como corresponsáveis por um desenvolvimento sustentável ligado ao desenvolvimento de uma consciência coletiva em relação à necessidade de preservação da arborização como consequente cuidado com a melhor a qualidade de vida da população ubaense.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DANTAS I.C.; SOUZA, C.M.C. Arborização urbana na cidade de Campina Grande - PB: Inventário e suas espécies. Revista de Biologia e Ciências da Terra, V. 4 - No 2, 2004.

FILHO, A. T. B.; NUCCI, J. C. Espaços Livres, Áreas Verdes e Cobertura Vegetal no Bairro Alto da XV, Curitiba/PR. Revista do Departamento de Geografia, p.48-59, 18. 2006.

 

FAGGIONATO, S. Percepção ambiental. Disponível em:                                                            http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo18.pdf. Acesso em: 28 mar. 2013.

FILHO, D. F. DA S.; PIZETTA , P. U. C.; ALMEIDA , J. B. S. A. DE; FERRAUDO, A. S.; PIVETTA, K. F. L. Banco de dados relacional para cadastro, avaliação e manejo da arborização em vias públicas. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.26, n.5, p.629-642, 2002.

FREITAS, R. E. de; RIBEIRO, K. C. C. Educação e Percepção Ambiental para a Conservação do Meio Ambiente na Cidade de Manaus uma Análise dos Processos Educacionais no Centro Municipal de Educação Infantil Eliakin Rufino. Revista Eletrônica Aboré - Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo Manaus - Edição 03 Nov/2007.

 

LACERDA, N. P.; SOUTO, P. C.; DIAS, R, S.; SOUTO, L. S.; SOUTO, J. S. Percepção dos residentes sobre a arborização da cidade de São José de Piranhas – PB. REVSBAU, Piracicaba – SP, v.5, n.4, p. 81-95, 2010.

 

LAYRARGUES, Philippe Pomier. Muito além da natureza: educação ambiental e reprodução social. In: LOUREIRO, Carlos Frederico. et al (Orgs.) Pensamento complexo, dialética e educação ambiental. São Paulo: Cortez. p. 72-103. 2006.

IBGE. Disponível em: http://www.educacaoambiental.pro.br/victor/biblioteca/LayrarguesEAreproducaosocial.pdf . Acesso em 15/04/2013.

 

MACIEL, J. L.; WACHHOLZ, C. B.; ALMINHAMA, C. O.; BITAR, P. G.; MUHLE, R. P. Trilhas ecológicas como ferramentas para educação ambiental nos parques de Porto Alegre. Revista EGP – Escola de Gestão Pública, v.1, p. 1-7. 2010.

 

NORONO PEDROSA LACERDA2, PATRÍCIA CARNEIRO SOUTO3, RONDYNELLI SOBRAL DIAS4, LAUTER SILVA SOUTO5, JACOB SILVA SOUTO6. Percepção dos residentes sobre a arborização da cidade de São José de Piranhas-PB. REVSBAU, Piracicaba – SP, v.5, n.4, p. 81-95, 2010.

 

PACHECO, É..; SILVA, H. P. Compromissos epistemológicos do conceito de percepção ambiental. Rio de Janeiro: Departamento de Antropologia, Museu Nacional e Programa Eicos/UFRJ, 2007.

 

PAIVA, H. N.; GONÇALVES, W. Florestas Urbanas – Planejamento para melhoria na qualidade de vida. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2002. 44p.

 

ROCHA, J. R.; WERLANG, M. K. Índice de cobertura vegetal em Santa Maria: o caso do Bairro Centro. Ciência e Natura, UFSM, 27 (2): p.85 - 99, 2005.

 

SILVA, A.G.; PAIVA, H. N.; GONÇALVES, W. Avaliando a arborização urbana. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2007. p. 11 - 12.

 

SILVA, D. R. da, GUIMARÃES, J. M. de O., TOSTES, R. B., PORRECA, R. P. Diagnóstico da Arborização das Vias Públicas do Município de Ubá – MG. In: ENCONTRO REGIONAL DE BOTÂNICOS DE MINAS GERAIS, BAHIA E ESPÍRITO SANTO, 31., 2011. Viçosa, Minas Gerais. Meio Digital.



[1] Mestrando em Anatomia Vegetal da Universidade Federal de Viçosa – daniel.r@ufv.br

[2] Mestre em Botânica –UFV. Professora da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Ubá – UEMG – Ubá – renata.tostes@uemg.edu.br

[3] Mestre em Educação – UFJF. Professora da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Ubá – UEMG – Ubá – kelly.silva@uemg.edu.br

[4] Graduanda em Química – Campus Ubá – UEMG – Ubá – karvalente@gmail.com  

Ilustrações: Silvana Santos