Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) REFLEXÕES, DIAGNÓSTICO E PROSPECÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR NO EXTREMO OESTE DO RIO GRANDE DO SUL
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REFLEXÕES, DIAGNÓSTICO E PROSPECÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR NO EXTREMO OESTE DO RIO GRANDE DO SUL

 

 

 

 

Autores:

Janaína Balk Brandão

Leonardo Marques Caires

 

 

 

Universidade Federal do Pampa

Email para contato: janainabalkbrandao@gmail.com

 

 

 

Resumo

O objetivo do trabalho foi proporcionar aos professores da rede municipal de educação em Itaqui, no Rio Grande do Sul, um espaço de reflexão sobre a sua realidade, no que tange a prática escolar da educação ambiental, analisando os desafios da implantação das estratégias desse tema transversal em escolas e avaliando a situação dos problemas apontados, esperando ao fim da ação, obter um diagnóstico e traçar o panorama da situação local. Para tanto, foram realizados dois encontros, totalizando um público de 80 professores, utilizando metodologias participativas que propiciaram que o cenário fosse elucidado de forma rápida e representativa. Constatou-se que, 37% dos professores consideram a educação ambiental em processo de evolução ou timidamente construída nas escolas, enquanto outros 37% avaliaram que está deficitária ou precariamente conduzida. Apenas 24% dos envolvidos argumentaram que está sendo desenvolvida de forma satisfatória. Foram elencados quatro pontos críticos em cada grupo, respectivamente: 1) Sensibilização/Planejamento; 2) Comprometimento; Conscientização; 3) União/Comprometimento; 4) Sensibilização/União. Por fim, como soluções para os pontos críticos foi apontada a necessidade de um número maior de projetos, mais ação e mobilização da comunidade escolar, mais conhecimento sobre o tema e destacada a importância do apoio pedagógico e da continuidade das ações desenvolvidas.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Historicamente o tema do meio ambiente tem ficado em segundo plano em todos os níveis escolares, subjugado ao desenvolvimento econômico. Todavia, conforme os problemas sociais se agravam, os impactos ambientais emergem relacionados diretamente com os padrões produtivos e de consumo atuais (JACOBI, 2005).  

            Conforme assevera Jacobi (2003) é necessário uma reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea. Leff (2001) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.

            Considerando a importância da temática ambiental e a construção de uma nova visão, mais integrada no tempo e no espaço, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão (CHAGAS, 2009). Para isso, são necessárias ações de Educação Ambiental (EA) através de atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar (DIAS, 1992).

            Entende-se por EA os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999). Minini (2000) relatou que a educação ambiental é um processo que consiste em propiciar as pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado.

No Brasil, a década de 90 foi um período determinante para o Ministério da Educação (MEC) e as Secretarias Estaduais de Educação já que elaboraram propostas de atuação discutindo diretrizes para definir a política de Educação Ambiental. Em 1994, numa ação conjunta com os Ministérios– Meio Ambiente, Educação, Ciência e Tecnologia e Cultura, foi criado o PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental, com o objetivo de capacitar os profissionais da área formal e não formal da educação, nos diversos níveis e modalidades, define-se que as ações destinam-se a assegurar a integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade - ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política - ao desenvolvimento do País. Assumindo também, as quatro diretrizes do Ministério do Meio Ambiente: Transversalidade, Fortalecimento do Sisnama (Sistema Nacional de Meio Ambiente), Sustentabilidade, Participação e Controle Social (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013). A EA ganhou maior notoriedade com a promulgação da Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu uma Política Nacional de Educação Ambiental e, por meio dela, foi estabelecida a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis do ensino formal da educação brasileira. A lei 9.765/99 precisa ser mencionada como um marco importante da história da educação ambiental no Brasil, porque ela resultou de um longo processo de interlocução entre ambientalistas, educadores e governos (BRASIL, 1999).

Entretanto, muitos são os desafios para a efetiva implantação da EA nos espaços escolares, em todos os níveis escolares e, em particular, no ensino fundamental, foco dessa ação extensionista. Para elucidar alguns desses desafios, torna-se pertinente destacar uma pesquisa de Medeiros, Ribeiros e Ferreira (2013) na qual as autoras destacam que muitas dificuldades são encontrados na EA na Educação Básica, especialmente no ensino fundamental nas escolas públicas, constatando que a maioria dos professores estão cientes das responsabilidades sócio-educativas a eles confiadas, existindo consenso da importância do tema transversal EA, no entanto observam uma barreira quanto a aplicação de atividades relacionadas a este tema. Medeiros, Ribeiros e Ferreira (2013) perceberam que os professores tem o conhecimento sobre o tema, mas ressaltam que não são oferecidas capacitações referentes ao mesmo e nem incluem o tema EA como temas transversais em seus planos de aula. Outro problema verificado pelas autoras é que os professores questionam sobre a falta de material didático, onde o próprio livro didático é ausente de conteúdos relacionados à questão ambiental, se fazendo necessário outras metodologias com outros materiais que poderiam auxiliar, mas as escolas pesquisadas não disponibilizam, tornando o trabalho ainda mais difícil.

Medeiros, Ribeiros e Ferreira (2013) asseveram que os problemas ambientais são tratados como algo não concreto, observando que a escola procura transmitir para os educandos de maneira isolada e fragmentada um conhecimento pronto sobre o meio ambiente e suas questões, onde o modo como a EA é praticada nessas escolas, é apenas como projeto especial, extracurricular, sem continuidade, descontextualizado, fragmentado e desarticulado, e apesar da disposição do MEC sobre a educação ambiental, não há efetivamente o desenvolvimento de uma prática educativa que integre disciplinas.

            A escola deve sensibilizar o aluno a buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente, auxiliando-o a analisar criticamente os princípios que tem levado à destruição inconsequente dos recursos naturais e de várias espécies, tendo a clareza que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e considerando a reciclagem como processo vital (EFFTING, 2007). Esse processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente escolar e esse estreitamento das relações intra e extra-escolar é bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o ambiente da escola (SOUZA 2000).

            Para Effting (2007) a educação ambiental, como componente essencial no processo de formação e educação permanente, com uma abordagem direcionada para a resolução de problemas, contribui para o envolvimento ativo do público, torna o sistema educativo mais relevante e mais realista e estabelece uma maior interdependência entre estes sistemas e o ambiente natural e social, com o objetivo de um crescente bem estar das comunidades humanas. Neste âmbito, destaca-se o papel do educador, já que o mesmo tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza (JACOBI, 2003).

            Neste sentido, o objetivo do trabalho foi proporcionar aos professores na rede municipal de educação em Itaqui, no Rio Grande do Sul, um espaço de reflexão sobre a sua realidade, no que tange a prática escolar da educação ambiental, analisando os desafios da implantação das estratégias desse tema transversal em escolas e avaliando a situação dos problemas apontados, esperando ao fim da ação, obter um diagnóstico e traçar o panorama da situação local.

 

METODOLOGIA

 

            O presente estudo que visa apresentar um panorama da situação da EA nas escolas municipais do município mais à oeste do estado do Rio Grande do Sul (Itaqui), partiu da necessidade da realização de um diagnóstico, concretizado através da criação de espaços de reflexão que permitiram aos professores desempenhar uma análise da realidade, identificando pontos críticos no avanço da EA nas escolas e especialmente, o levantamento de aspectos que podem contribuir para o avanço do desenvolvimento deste tema tão relevante. Como forma de viabilizar essa proposta, a ação extensionista baseou-se no uso de metodologias participativas (Medina e Santos, 2011), utilizando-se também da visualização móvel de tarjetas. Assim, o trabalho utilizou metodologias que procuraram estabelecer um processo participativo possibilitando o empoderamento do público, atentando para a complexidade do problema e a necessidade de reflexão para a superação dos mesmos. (Lopes et al., s\d)

            A escolha do local se deu devido à inserção da Universidade Federal do Pampa nesta região, e particularmente ao desenvolvimento de um projeto de extensão universitária que visava à sensibilização da comunidade escolar no que tange a questão dos resíduos e sua correta destinação final. O município possui uma população estimada em 2013 de 39.173 habitantes, deste total 32.979 habitantes são alfabetizados. No que se refere à educação básica, conforme informações obtidas com a Secretaria Municipal de Educação, o município possui vinte e uma escolas de ensino fundamental das quais metade destas são da rede municipal, com cerca de 3.297 alunos matriculados de um total de 6.011. O número de docentes em exercício no ensino fundamental (na rede municipal) é de 408 profissionais.

              O público alvo foi dividido em dois grandes grupos (denominados Turma A e Turma B), cada um com professores de três escolas diferentes, contendo 40 professores cada. O número total de professores abarcados representa cerca de 20% da totalidade dos professores da rede municipal. O trabalho teve uma duração de oito horas para cada grupo (um dia). Em cada grupo foram aplicadas as mesmas dinâmicas e sequência de trabalho.  Em um primeiro momento, com auxílio de projetores multimídias e folhetos explicativos, foram realizadas apresentações sobre a importância da EA no contexto escolar, enfatizando a transversalidade do tema e a sua importância no contexto escolar. Num segundo momento, os professores e as equipes diretivas foram convidados a participar da discussão que tinha o seguinte tema: “A educação ambiental na nossa escola”. A mesma estava composta de três momentos, cada um com uma dinâmica diferente, quais sejam: Tempestade de Ideias - onde cada indivíduo pode expressar seu ponto de vista individualmente sobre a atual situação da EA; Muro das Lamentações – na qual o público em grupos pequenos de quatro pessoas elencou os pontos críticos, identificando os principais entraves e/ou problemas; e, Árvore dos Problemas – na qual os participantes apresentaram soluções para os problemas detectados, também em pequenos grupos. Sempre após cada dinâmica o moderador recolhia as tarjetas ou as mesas eram apresentadas por um representante do grupo. Cada metodologia foi norteada por uma pergunta-chave, respondida através de uma ou poucas palavras em tarjetas coloridas para melhor visualização, exigindo dos partícipes a necessidade e reflexão e interpretação sobre a temática. Após cada reflexão e/ou discussão sobre as perguntas, as tarjetas eram coladas em um painel e o moderador conduzia a discussão no grande grupo.

              Na primeira metodologia aplicada cada educador recebeu uma tarjeta onde deveria ser respondida a seguinte pergunta: “Como você vê a Educação Ambiental nas escolas?”. Essa pergunta permitiu a interpretação individual sobre o tema e tinha o objetivo de traçar o panorama conjuntural da EA nas escolas trabalhadas. As respostas foram separadas pelo moderador em “nuvens” por similaridade, sempre após a discussão no grande grupo. Na segunda metodologia, os participantes foram divididos em grupos pequenos com professores de todas as áreas e cada grupo deveria encontrar dois pontos críticos para a consolidação da EA nas escolas, respondendo a seguinte pergunta: “Qual o ponto crítico para concretização da EA nas escolas?”. Nesta etapa, foi eleito um representante de cada grupo com o objetivo de apresentar o que foi discutido para os demais presentes. Ao final dessa dinâmica, o moderador elencou os pontos críticos em ordem crescente de prioridade, considerando as colaborações do grande grupo. Na terceira dinâmica executada os grupos foram rearranjados aleatoriamente e esses deveriam encontrar uma solução para corrigir o ponto crítico de maior relevância para a implementação efetiva da EA. A pergunta norteadora foi a seguinte: “Qual a solução para o ponto crítico?”. Ao final do dia, foi disponibilizado um questionário para avaliação da atividade via endereço eletrônico dos participantes.

 

RESULTADOS

 

              A equipe executora como forma de inserir a EA na pauta do dia, iniciando os trabalhos, realizou uma apresentação que possibilitou uma maior compreensão sobre a temática abordada. A seguir, cada etapa propiciou uma profunda reflexão sobre a prática cotidiana dos educadores, tanto a partir da sua postura individual como a prática coletiva em termos de escola e comunidade escolar. Isso pode ser evidenciado nas Figuras 1, 2 e 3 já que representam de forma sintética e real a análise realizada, demonstrando as respostas dadas pelos educadores em cada dinâmica proposta.

 

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Figura 1: “Como você vê a Educação Ambiental nas escolas municipais”.

 

 

 

 

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Figura 2: “Qual o ponto crítico para a concretização da EA nas escolas?”

 

 

 

 

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Figura 3: “Qual a solução para os pontos críticos?”

 

 

              Na primeira pergunta norteadora utilizada como forma de viabilizar um contato reflexivo individual inicial aos participantes, denominada “Tempestade de Ideias” pode-se viabilizar o debate, propiciando ao moderador que verificasse os conflitos apresentados pelas divergentes opiniões, além é claro, do estabelecimento de uma atmosfera agradável para a livre expressão dos participantes do seu “mundo interno”, através dos seus pensamentos, muitas vezes reprimidos pela sociedade formada por padrões e “verdades absolutas”, conforme contribuição de uma educadora presente na ação. Assim, a exposição das tarjetas coloridas no painel a frente de todos participantes, foi considerado um elemento facilitador da visualização móvel, já que após a exposição em lista das contribuições dos profissionais de educação, o moderador (com o auxílio dos partícipes) elaborou nuvens, tentando agrupar ideias semelhantes.

              Como resultados dessa primeira dinâmica, salienta-se que professores dentro de uma mesma escola expressaram opiniões contraditórias. Um grupo mostrou não acreditar na forma que a EA que é praticada na atualidade, deixando claro o descontentamento causado pelas dificuldades da prática e pela fraca implementação de ações e projetos de EA no âmbito escolar. Essa insatisfação com a atual situação da EA pode ser ilustrada pela utilização de palavras como “ausência”, “limitada”, “distante”, “inexistente”, “deficitária”, “falha” e “péssima”. Dentro do mesmo contexto, mas com uma percepção totalmente diferente, outros educadores acreditam num estado satisfatório no que se refere à EA desenvolvida nas escolas atualmente, fato expressado através do uso palavras como: “ótima”, “excelente”, “boa”, “bom”. Entre os dois extremos, uma parte de professores, numericamente mais expressivo, acredita que a EA passa por um processo evolutivo ao decorrer dos últimos anos e dá passos rumo a um futuro melhor, demonstrando nas tarjetas expressões do tipo “a caminho”, “em desenvolvimento”, “evoluindo”, “em evolução”, “progredindo”. Numericamente, constatou-se que, 37% dos professores consideram a educação ambiental em processo de evolução ou timidamente construída nas escolas, enquanto outros 37% avaliaram que está deficitária ou precariamente conduzida. Apenas 24% dos envolvidos argumentaram que está sendo desenvolvida de forma satisfatória.

Na segunda pergunta, os partícipes foram divididos em grupos aleatórios, nos quais cada integrante pode expressar-se livremente durante trinta minutos. A atividade em grupo como complemento da atividade reflexiva individual possibilitou o aprofundamento da discussão sobre pontos divergentes. Cada grupo, possivelmente com indivíduos de opiniões divergentes, deveria escolher em consenso (sem utilizar o voto como forma eletiva) os pontos críticos do processo de construção da EA. A seguir, o moderador através da discussão coletiva, organizou por ordem de prioridade os pontos críticos a serem enfrentados para a efetiva consolidação da EA nas escolas. Por ordem de importância para os professores da Turma A, constam os seguintes problemas: 1) Falta de sensibilização; 2) Falta de comprometimento; 3) Falta de ação/união; 4) Falta de multiplicadores. Já para a Turma B, um elemento distinto surge como primordial entre os fatores críticos na conjuntura problemática: a falta de planejamento. Seguida da falta de planejamento, seguem: 2) Conscientização; 3) Comprometimento; 4) União. Observando os pontos levantados é necessário salientar que em nenhum momento aparece a questão estrutural como limitante ou, por exemplo, um apoio ou incentivo institucional (por parte da secretaria municipal) como necessário enquanto linha condutora das ações. A maior parte dos críticos apontados referem-se basicamente à aspectos mais ligados à postura individual dos educadores, possivelmente reflexo do paradigma produtivista na qual estamos inseridos.

A terceira etapa do processo de reflexão proposto nesse trabalho consistiu novamente de uma dinâmica em grupo que buscava alternativas para a solução dos pontos críticos apresentados. Os educadores foram rearranjados sem a repetição de integrantes, buscando um novo diálogo e confronto de ideias, agora focado na resolução dos problemas verificados. Nessa etapa, os partícipes deveriam analisar o que é necessário para o enfrentamento do ponto crítico número um apresentado por cada turma.

Para a Turma A, na qual o principal ponto crítico apontado foi a “falta de sensibilização”, os elementos elencados como necessários para a superação estão relacionados a uma maior elaboração e implementação de projetos, à necessidade de mobilização e desenvolvimento de ações de EA que cumpram um papel multiplicador dentro da comunidade escolar, aumentando a prática e a motivando-os. Todavia, foi salientado também, a importância de um maior conhecimento sobre o assunto, fato destacado especialmente por professores de áreas distintas das ciências.

Já para a Turma B, no qual o “planejamento” foi definido como problemática central, o apoio pedagógico e a continuidade das ações aparecem em destaque entre os fatores que podem auxiliar no enfrentamento do problema. Entretanto, assim como na Turma A, a importância dos projetos envolvendo a comunidade escolar, a capacitação e o desenvolvimento de ações com maior abrangência foram elencados como elementos que favoráveis ao processo de EA.

No que se refere à pergunta 1, além da notória divergência de opiniões, surpreendeu à equipe executora o fato que, as nuvens formadas com opiniões semelhantes, representassem integrantes com características muito semelhantes entre si. O grupo de opinião positivista foi formando pelos professores de maior faixa etária e mais longa carreira docente. Esse grupo, relatou ainda que adotam em suas aulas a educação tradicional, sem utilizar a EA como tema transversal. O grupo de opinião negativa, que desacredita na eficiência da atual EA, estava formado por maioria por professores de Ciências, que se mostram sobrecarregados pelo fato da EA ser tratada como uma responsabilidade exclusiva dos professores da área, com atividades pontuais desenvolvidas (conforme relato) “em modelos arcaicos da educação” e não como tema transversal e de responsabilidade de toda a escola. Essa parcela de professores ressalta ainda que as atividades isoladas em salas de aula, tratando os alunos como meros receptores da informação impossibilita a adequação da temática na realidade vivenciada pelos alunos e consequentemente a sua pratica cotidiana.

A nuvem que engloba as opiniões dos que acreditam na evolução da EA referia-se na maioria por professores de menor faixa etária que saíram da faculdade na última década, fato possivelmente ocasionado pela mudança de concepção das novas gerações acerca da questão ambiental e os seus impactos ao planeta. Esse grupo ressaltou que as atividades e projetos ganham gradativo espaço nas grades escolares, mas que muito precisa ser feito para obtenção da sua efetividade. Esses indivíduos argumentaram que essa situação é a que mais reflete o panorama atual.

            Com relação à segunda dinâmica, na qual foi dividido o público em grupos, pondera-se que os pontos críticos apresentados são fatores considerados essenciais para construção da consciência ambiental, tratando-se da soma das atitudes particulares que refletem em pouca ação/integração da comunidade escolar visando uma formação conjunta, de modo a viabilizar a transversalidade do tema dentro da escola.

            Por fim, ao analisar o que é necessário para o enfrentamento do ponto crítico número um apresentado por cada turma cabe destacar a reflexão de Forsberg, Mendes e Almeida (2009) já que os mesmo comprovaram a importância dos projetos na efetivação da EA em escolas. As autoras realizaram um estudo que objetivava apresentar as concepções de estudantes do ensino fundamental em definir tanto problemas ambientais como responsabilidades para a sua solução, comparando estudantes dos professores envolvidos nos projetos dos não-envolvidos. Para tanto, usaram um conjunto de instrumentos metodológicos tais como entrevistas, questionários, observação participante em sala de aula e em eventos programados na escola, além da análise documental. Os resultados de Forsberg, Mendes e Almeida (2009) foram claros sobre a diferença positiva que esses projetos exercem na formação de professores e estudantes envolvidos.

Contrapondo o relatado por Medeiros, Ribeiros e Ferreira (2013) que afirmam que os professores tem o conhecimento sobre o tema, o diagnóstico realizado apontou que os professores não se sentem seguros no que diz respeito ao tema, o que pode ser evidenciado pelas palavras citadas como importantes na superação dos pontos críticos, tais como: “conhecimento”, “capacitação”, “apoio pedagógico”. No que tange a falta de conhecimento sobre o tema, Magalhães Jr. e Oliveira (2005) corroboram neste sentido, salientando que a discutida falta de competência e habilidade da maioria dos professores para facilitar a educação ambiental, principalmente no ensino fundamental, é de grande preocupação para profissionais que se dedicam na formação de professores, destacando até mesmo a formação deficiente de professores para tratar com a educação ambiental nos professores de ciências não surpreende, já que a própria história do ensino de ciências no ensino fundamental é muito recente. Ainda se tratando da capacitação dos professores, mas também relacionando outros fatores apontados como determinantes na superação dos pontos críticos, como a continuidade das ações e a motivação, Aquino (2009) salienta que é crucial registrar a importância e eficiência de algumas estratégias de formação continuada para professores. Para Oliveira e Krasilchik (2009) a formação continuada é necessidade constante para professores, já que tem um grande papel, o de estimular o professor da área ou que esteja ensinando na área em se envolver em pesquisas, formação e reflexões sobre conteúdos e práticas educativas que aprimore o ensino e assim contribua para formar cidadãos ambientalmente educados. As ações para a formação continuada de professores são muitas, mas em geral são destacadas (a) o continuo aprimoramento profissional e de reflexões críticas sobre a própria prática pedagógica; (b) necessidade de superar o distanciamento entre as contribuições da pesquisa educacional; (c) melhorar a ação em sala de aula, para que o professor seja também pesquisador da sua própria prática (SCHNETZLER, 1996). Scheid t.al. (2009) enfatiza a importância de promover a formação continuada de professores do ensino fundamental através de monitoria didático-cientifica, rompendo com a tradição de cursinhos de curta duração, nos quais não é possível romper com a racionalidade “técnica” como tem sido assinalado por alguns (MARANDINO, 1997; ROSA, 2000).

Ainda há a necessidade de apoio pedagógico, elemento destacado como  importante para superação do ponto crítico “falta de planejamento” apontados pela Turma B. Para tanto, confirma-se o estudo Medeiros, Ribeiros e Ferreira (2013) no qual as mesmas ressaltam que não são oferecidas capacitações referentes ao mesmo e nem incluem o tema EA como temas transversais em seus planos de aula, o que exige um aporte em termos de apoio pedagógico. Embora se verifique que muitos materiais têm sido elaborados nos últimos anos (Ministério da Educação, 2013), na presente pesquisa, os educadores referem-se a necessidade de um aporte dentro da própria escola, direcionando as atividades para um objetivo comum. Ou seja, uma linha norteadora, que estimule, possua abrangência, integre e proporcione um processo contínuo de mobilização, gerando efeito mobilizador da comunidade escolar.

No que tange a dificuldade relatava pelos professores relacionada à sensibilização, cabe destacar que, na ação realizada, todas as escolas convidadas a participar da ação demonstraram grande interesse pela complexidade do tema e pela a abordagem participativa atípica, até então, nas salas de aula. É relevante enfatizar o notório interesse por parte dos professores dessas instituições em contribuir na execução da proposta, mostrando-se abertos e predispostos a colaborar, expressando suas preocupações pela temática e a possibilidade de permear o conteúdo em todas as disciplinas da grade curricular, contextualizando com a realidade onde a escola está inserida. Fato que pode ser evidenciado pela avaliação feita pelos professores sobre a ação. Dos oitenta professores que avaliaram essa etapa do projeto, 82% acreditam que a capacitação promovida ampliou muito sua percepção sobre os o tema, cerca de 55% do público afirma que até então desconheciam ou conheciam muito pouco sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e, 92% do público presente na etapa afirmaram que a ação poderá melhorar a Educação na rede municipal de ensino de Itaqui.

Todavia, deve-se registrar novamente que, na prática, a situação verificada ainda é bem aquém do desejado, já que a maioria dos educadores deixaram claro seu descontentamento com a situação da educação ambiental nos espaços escolares. Aquino (2008) numa pesquisa que buscava contextualizar a problemática ambiental contemporânea, tentando interpretar as condições da transversalidade da EA no cotidiano da escola, ressalta que a escola ainda está orientada para a tradicional formação cartesiana.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

              Constatou-se que existem alguns desafios para efetiva implantação de um processo contínuo de EA nas escolas trabalhadas já que apenas ¼ dos educadores consideram a situação como boa ou razoável. Entre eles, destaca-se: 1) a necessidade de ampliar a sensibilização e realizar um planejamento como fio condutor; 2) o estabelecimento de um maior comprometimento e conscientização no quadro de professores para com a temática ambiental; 3) Por fim, que o engajamento pela EA seja de forma contínua e em ‘rede’ pelos professores das diversas áreas, demonstrando coesão em prol desse objetivo. Por fim, como soluções para os pontos críticos foi apontada a necessidade de um número maior de projetos, mais ação e mobilização da comunidade escolar, mais conhecimento sobre o tema, a importância do apoio pedagógico e da continuidade das ações desenvolvidas.

             

             

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos