Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) PRÁXIS: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UFSCAR, CAMPUS ARARAS
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PRÁXIS: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UFSCAR, CAMPUS ARARAS.

 

 

Otávio Augusto de Moraes

Discente do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de São Carlos, campus Araras.

E-mail: oamoraes@hotmail.com

 

Helen Regina da Silva Rossi

Discente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Carlos, campus Araras.

E-mail: helen_regina@hotmail.com

 

Juliana Cristina Correa

Discente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Carlos, campus Araras.

E-mail: correa.julianac@gmail.com

 

Rodolfo Antônio de Figueiredo

Professor Adjunto do Departamento de Desenvolvimento Rural do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos, campus Araras.

E-mail: raf@cca.ufscar.br

 

 

 

 

Resumo

O artigo é parte do trabalho elaborado para a disciplina de Educação Ambiental, presente nos cursos de graduação dos autores. Neste trabalho o objetivo foi realizar uma ação educativa orientada pelo aporte teórico da disciplina, para buscar entender a relação dos textos com a prática educativa ambiental, no campus da UFSCar de Araras-SP. Objetivamos também compreender os contextos que as práticas estão inseridas, as limitações e/ou as dificuldades que são possíveis serem encontradas dentro de nossa própria realidade. Para este trabalho delimitamos algumas instâncias da universidade que acreditamos estar relacionadas com o objetivo proposto, nos quais possuem como enfoque principal, as salas de aulas, os laboratórios, a Unidade de Gerenciamento de Resíduos (UGR), a coleta de lixo e a biblioteca. De acordo a opinião do grupo estes eixos apresentam potencialidades para reconhecermos e alcançarmos o objetivo, e entender como a dinâmica de alguns setores do campus funciona. Realizando observações dos locais e conversando com o setor de limpeza da universidade, notamos que as salas de aulas apresentam lixos separados para papel, recicláveis e não-recicláveis. Porém, os alunos não praticam a separação adequadamente como sugere os cestos, assim como percebemos que os funcionários por sua vez juntam os diferentes tipos de lixos como pratica cotidiana. Nos laboratórios a separação e destinação de resíduos são dificultadas por obstáculos que perpassam pelo próprio sistema utilizado pela UGR e/ou, muitas vezes, também pela falta de um sistema mais eficiente de coleta e tratamento e limitações burocráticas da universidade. A coleta de lixo é realizada em caminhões separados de lixo reciclável e não reciclável, porém a não separação deles nas salas de aula pode comprometer este tipo de coleta. A biblioteca apresentou como problemas ambientais: a pichação de mesas e o acúmulo do lixo deixado em seu ambiente, indicando a contradição intelectual que o espaço físico sugere. Portanto, como parte da ação educativa e a fim de esclarecer e informar a administração do campus sobre os levantamentos realizados e as possíveis implicações, enviamos uma carta a prefeitura universitária sugerindo medidas para que alguns hábitos possam ser alterados e/ou ao menos refletidos, com a finalidade de melhora da situação ambiental do campus.

 

1.        Introdução

 

A Educação Ambiental (EA) é um assunto global e que compete a atenção de todos, desde os níveis de educação básica até grandes conferências internacionais.

Quanto ao que se refere às conferências internacionais, que começaram em Estocolmo, no ano de 1972, na Suécia, chamada de Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, nela foi discutido os problemas ambientais globais e foi inserido a temática da educação para as questões ambientais. No mesmo grau de importância, podemos também destacar o evento de Belgrado, que ocorreu em 1975 na cidade na Iugoslávia, o evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), propôs a Carta de Belgrado, a qual sugere uma estrutura global para a EA, objetivando:

 

 

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas associados e que tenha conhecimento, aptidão, atitude, motivação e compromisso para trabalhar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas existentes e para prevenir novos. [...] (DE BELGRADO, 1975)

 

Sobre a característica global que a EA deve possuir, a Conferência de Tbilisi - organizada pela UNESCO em 1977, afirma que deve “aplicar em enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo especifico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada” (DIAS,1998 apud LIMA, 2006). Nessa direção no que podemos entender quanto aos desdobramentos dessas decisões para a educação, podemos nos apoiar em autores que se dedicam a compreender os reflexos desses discursos e a complexidade que acabam sendo inseridos na EA, assim sugerindo profundas reflexões quanto as implicações nas relações sociais. Como por exemplo, Pelicioni & Philippi Jr (2005), que no trabalho “Bases Políticas, Conceituais, Filosóficas e Ideológicas da Educação Ambiental” discorre e contextualiza sobre a compreensão do que significa EA e essa no que se refere ao ensino da cidadania e seu desenvolvimento, sugerindo no entanto que em algumas literaturas na área é entendida “imaturamente” diante as complexidades e a essência política que a rodeia, assim os autores  afirmam criticamente:  “Consciência ecológica sem ação transformadora ajuda a manter a sociedade tal qual ela se encontra” (PELICIONI & PHILIPPI Jr., 2005, p. 6).

 Os autores ainda explicam:

 

 [...] “A reflexão crítica deve gerar a práxis, isto é, ação-reflexão-ação; e a educação ambiental, ao formar para a cidadania ativa e igualitária, vai preparar homens e mulheres para exigir direitos e cumprir deveres, para a participação social e para a representatividade, de modo, a contribuir e influenciar a formulação de políticas públicas e a construção de uma cultura de democracia” [...] (Ibid., p. 7).

 

 Assim a partir desse discurso nota-se que a EA é algo muito amplo que perpassa os limites de uma única disciplina, e conta com a sua compreensão através da sua própria totalidade, reforçando que a EA não está somente relacionada à ecologia ou biologia, mas também conta com áreas como “Geografia, a História, a Psicologia, a Sociologia, entre outras, mas tem como base a Educação e a Pedagogia na identificação dos métodos de trabalho” (PELICIONI & PHILIPPI Jr, 2005, p. 4).

Nessa perspectiva, entendemos que um dos objetivos da educação ambiental é promover a mudança de hábitos, como destacado por Carvalho: “Nesse sentido, podemos dizer que a Educação Ambiental é herdeira direta do debate ecológico e está entre as alternativas que visam construir novas maneiras dos grupos sociais se relacionarem com o meio ambiente.” (CARVALHO, 2008b, p.51).   

Ainda é possível compreender que a EA não é algo isolado, mas sim está estritamente relacionada com o modo de vida dos seres humanos, é uma relação dialética, a qual as ações e comportamentos humanos estão ligados à EA mutualmente.

O Homem está inserido no meio ambiente e suas ações cotidianas vão provocar reflexos que também o afetará. Assim sendo, a EA vem para mostrar as consequências de atitudes inadequadas em relação às questões ambientais, portanto torna-se uma temática importante a ser desenvolvida e um local propício é onde se formam pessoas, como a escola e a universidade,       

 

As atividades de Educação Ambiental são necessárias para que os alunos adquiram hábitos e se sensibilizem de sua importância no processo de melhoria das condições do meio ambiente ao qual está inserido, procurando minimizar os impactos causados ao mesmo. A Educação Ambiental fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo do ponto de vista ambiental. (CARVALHO, 2008a, p.79)

 

Para corroborar com o desenvolvimento de trabalhos nesta área em espaços de formação e ensino no âmbito jurídico, a promoção da Educação Ambiental no Brasil está contemplada pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 trata da Politica Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 2º, inciso X, propõe: “educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacita-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. [...]” (BRASIL,1981). A Constituição da República Federativa do Brasil menciona no seu artigo 225:

 

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; [...] (BRASIL, 1988).

 

Ainda para embasar a legislação sobre a temática, a Lei Federal nº 9.795 de 27 de abril de 1999, instituiu a Politica Nacional de Educação Ambiental e conforme seu artigo 2º prevê:

 

A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. (BRASIL, 1999)

 

Diante disso, este trabalho propõe desenvolver alguns aspectos da EA dentro da universidade como uma reflexão da práxis universitária do campus, sendo considerados diversos fatores e não apenas, a visão como ramo exclusivo da Ecologia.

 

2.        Objetivos

2.1     Objetivo geral

Realizar uma reflexão sobre a educação ambiental em alguns locais do campus da UFSCar- Araras, conciliando a teoria e a prática.

 

2.2     Objetivos específicos

Realizar um levantamento das principais características no tocante da educação ambiental, relativo às salas de aulas, dos laboratórios, da Unidade de Gerenciamento de Resíduos (UGR), da coleta de lixo e da biblioteca.

Compreender o funcionamento dos diversos setores que influenciam na gestão dos resíduos, assim como os documentos oficiais.

Fornecer subsídios, mostrando uma reflexão à administração para possíveis mudanças positivas nos pontos que a investigação apontar como deficientes.

 

3.        Metodologia

Este estudo baseia-se na perspectiva exploratória e qualitativa sobre como diversos aspectos da educação ambiental estão inseridos nos espaços do campus universitário.

O método de coleta de dados se constituiu em uma estratégia de levantamento de observações sobre os resíduos e conversas com os funcionários em contato com o objeto de estudo.

Optamos em não gravar a conversa com funcionários, pois acreditamos que essa condição propiciasse situações menos rígidas entre os autores e os funcionários, permitindo assim maior flexibilidade na explicação quanto ao funcionamento da gestão dos resíduos. As observações foram realizadas com e sem os funcionários presentes em horários distintos.

 

4.        Resultados

Com o intuito de facilitar a delineação dos locais investigados e auxiliar nas análises, dividimos por eixos os locais. Deste modo a tabela 1 ilustra os locais pesquisados e o respectivo eixo de análise.

 

Número do eixo

Local da pesquisa

Eixo 1

Salas de aulas

Eixo 2

Laboratórios

Eixo 3

Unidade de Gerenciamento de Resíduos (UGR)

Eixo 4

Coleta de lixo do campus

Eixo 5

Biblioteca

Tabela 1: divisão por eixos dos locais pesquisados.

 

Como principais pontos encontrados, podemos destacar em cada um dos locais investigados fatores que se relacionam e influenciam mutualmente.

 

4.1 Eixo 1 – Salas de aulas

Todas as salas do campus possuem três tipos diferentes de cestos de lixo, sendo um para papel branco, outro para materiais recicláveis e o terceiro para os materiais orgânicos e não recicláveis. Esta diferenciação foi implantada pelo Comitê de Gerenciamento de Resíduos (CGR), sendo fixada uma parceria entre a universidade e uma cooperativa de reciclagem.

A equipe da limpeza responsável pelo campus é terceirizada e dividida em dois turnos para a limpeza e organização das salas de aula, sendo respectivamente responsáveis pela coleta de resíduos nas salas de aula do período da manhã (das 7hs às 8hs) e no período vespertino (das 16hs às 18hs). Nos relatos dos trabalhadores e na observação das salas foi notado que o lixo no chão da sala de aula é sempre presente, tanto no período matutino quanto o noturno, e que a quantidade de resíduos varia muito e essa variação requer inclusive um planejamento maior quanto ao número dos trabalhadores, que em geral se revezam em duplas para poder deixar a sala organizada para o próximo turno.

Destacou-se em nossa ação a observação dos trabalhadores ao coletarem o lixo do chão e os resíduos dos cestos de lixo, que acabam jogando todos dentro de um mesmo saco de lixo, o que acaba assim não sendo funcional os diferentes cestos de lixo dentro da sala de aula, pois a separação do lixo, não segue seu processo até o final, ou seja, o processo muito timidamente inicia-se com os alunos, mas não segue o fluxo correto de destinação de resíduos.

Referente às salas de aula que apresentam maior número de lixo, geralmente as salas que estão mais sujas são as do horário das 16hs, sendo que a quantidade é maior no início da semana do que próximo ao final da semana.

Segundo os funcionários, outro aspecto importante que determina a quantidade de lixo é a presença dos dias de avaliações dos alunos, ou seja, em dias de prova as salas se apresentam mais limpas, quando comparados a dias de aulas normais. Os funcionários destacaram também os tipos de lixos que mais estão presente na sala de aula, são eles: garrafas PET (de água, refrigerante ou suco), papeis variados e embalagens.

 

4.2 Eixo 2 – Laboratórios

Inicialmente a investigação sobre como os resíduos são tratados nos laboratórios de química do campus ocorreu com funcionários técnicos do laboratório. Eles informaram de que o campus Araras não trata os resíduos químicos gerados diretamente no local, mas armazena os resíduos para posteriormente contratar uma companhia de transporte de resíduos para a cidade de São Carlos (SP), local onde o tratamento do resíduo efetivamente ocorre. A quantidade armazenada pode ser considerada elevada, e foi possível obter um manual de informações para padronizar a identificação dos resíduos químicos gerados, assim como sua segregação, identificação, acondicionamento e coleta.  Algumas vezes os requerimentos não são seguidos rigorosamente, em virtude da realidade e peculiaridade apresentada nos locais.

Notamos que os resíduos gerados nos laboratórios são divididos em diferentes categorias e cada uma delas apresenta um grau de risco característico, as categorias podem ser resíduos biológicos, químicos e radioativos. Os resíduos biológicos são recolhidos para o processo de incineração, sendo a empresa contratada a responsável pelo processo de incineração (UGR, 2005).

Para o resíduo radioativo as normas fornecem informações de como armazenar e os cuidados ao manipular estes materiais, visando o uso de equipamentos de proteção individuais (EPIs) apropriados. Para o armazenamento, recomenda-se o uso de polipropileno, caixa de acrílico e chumbo (UGR, 2005).

Os resíduos químicos são divididos de acordo com sua classe química (funções orgânicas ou inorgânicas), sendo que deve-se evitar ao máximo misturar resíduos, pois o processo de tratamento acaba ficando mais trabalhoso e desprende maior quantidade de recursos financeiros (UGR, 2005). 

Para o tratamento dos resíduos perigosos deve-se, primeiramente, aplicar um dos conceitos da química verde, que visa minimizar ou reduzir a geração de resíduos perigosos, contribuindo desta forma para a redução no custo do processo e em possíveis gerações de novas substâncias tóxicas. Para a segregação dos resíduos deve-se seguir uma lógica, que inclui resultados de dados sobre a periculosidade, as características físico-químicas, e os problemas ambientais gerados pelo resíduo, assim como, informações sobre toxicidade, reatividade e compatibilidade de inúmeras substâncias químicas, sendo tudo isso fundamental para a correta separação e armazenagem do resíduo. Em virtude dos parâmetros a serem considerados fica a cargo do pesquisador que gerou o resíduo a segregação e rotulagem.

A segregação dos resíduos é uma tarefa que deve ser realizada diariamente pelo laboratório, sendo fundamental ser realizada imediatamente posterior a prática de laboratório de ensino ou depois de uma análise de rotina.

A rotulagem recebe um papel importante no tratamento dos resíduos, pois, fornece a maior possibilidade de uma rápida interpretação de quais são as características químicas e os possíveis riscos à saúde e ao ambiente do resíduo gerado, tornando a classificação e a organização mais efetiva. A UGR recomenda que quando há diversos frascos rotulados com o mesmo tipo de resíduo, é importante armazená-los em um recipiente de maior volume, para posterior coleta (UGR, 2005).

A UGR possui recomendações de como tratar o resíduo diretamente no laboratório mais próximo da fonte geradora, porém, nas entrevistas realizadas podemos notar que esta prática não é realizada, sendo todos os resíduos brutos são encaminhados para São Carlos. O destino final do resíduo armazenado e coletado deverá ter um determinado destino definido pela UGR, sendo ela baseada em leis e resoluções, como a CONAMA, nº 357, de março de 2005 e a ABNT-NBR 10.004 de 2004 (UGR, 2005).

Observou-se a preocupação dos técnicos com a geração de resíduos como Pb (chumbo) e Cr (cromo) em quantidades elevadas, pois são potencialidades para contaminar o meio ambiente se não forem tratados e armazenados corretamente.

 

4.3 Eixo 3 – Unidade de Gerenciamento de Resíduos (UGR)

No tocante a este eixo, organizamos questões para dirigir a conversa com o representante do Comitê de Gerenciamento de Resíduo (CGR) de Araras, que foram embasadas em dúvidas do próprio grupo.

Para localizar o representante responsável pela UGR do campus de Araras, que possui uma sala no prédio da diretoria, tivemos bastante dificuldade, sendo que após algum tempo conseguimos obter os seguintes esclarecimentos:

No campus de Araras existe a CGR que é conduzida pela UGR de São Carlos, a proposta principal da UGR é a preservação dos ambientes dos campi, que entendem que preservação é encarada como um aspecto ambiental e de desenvolvimento que não agrida a natureza. A CGR possui como atividades a destinação do lixo, recolhimento e identificação de cada resíduo.

A maior dificuldade do Comitê relatada é o diálogo com os alunos, o qual é bastante escasso. Outras dificuldades predominantes é o recurso financeiro que se destina à CGR e o descarte dos resíduos dos laboratórios.

A CGR não trata resíduos no campus apesar da recomendação das normas da UGR de São Carlos, que deixa expressa a necessidade de se dar uma utilização correta dos resíduos nos próprios campi da universidade, pela falta de infraestrutura.

Na conversa com o servidor ele relatou também a dificuldade em trabalhar nesse setor de serviço, pois o mesmo não tem experiência com o gerenciamento de resíduos e afirmou que muito se fala em educação ambiental, mas pouco se faz. Um entrave que a CGR encontra é a grande documentação que a burocracia exige para as atividades.

Também fomos informados que o caminhão de recolhimento de resíduo que deve ser encaminhado para São Carlos, sendo lá o destino final dos resíduos, está presente uma vez por ano. E em relação à contratação desse caminhão também soubemos que esse deve ser contratado para o referido transporte, sendo obrigatória a cotação em três locais diferentes, já que possui alto custo em virtude dos resíduos que transporta.

 

4.4 Eixo 4 – Coleta de lixo do campus

Neste eixo temático conversamos com o vigilante que trabalha na portaria, que nos informou que a entrada do caminhão da reciclagem ocorre nas terças e quintas-feiras. O caminhão que recolhe os resíduos comuns, não-recicláveis, não possui um dia fixo para recolher o lixo, normalmente entra na universidade uma vez na semana, geralmente em um dos dias em que passa pelo bairro próximo ao campus.

Não foi possível observar qual lixo necessariamente esses caminhões recolhem, já que não conseguimos conversar e/ou acompanhar as coletas.

 

4.5 Eixo 5 – Biblioteca

A apresentação desse eixo surgiu de forma inesperada para o grupo, pois não imaginávamos que um local como a biblioteca, pudesse ser foco de contradição entre a teoria e a prática. Em conversa com as funcionárias da biblioteca recolhemos relatos que o problema com o lixo é grande e recorrente. Em relatos as funcionárias comentaram que resolveram fazer uma campanha para mostrar para a comunidade do campus a situação em que a biblioteca é deixada, principalmente pelos estudantes. Para isso desenvolveram um vídeo contendo fotos dos lixos que são deixados, principalmente nas salas de estudos.

As funcionárias comentaram que é encontrado, chiclete colado na mesa, garrafas PET (água e refrigerante), panfletos de propagandas (das chapas do DCE, de festas, entre outros), rebarba de folha de caderno espiral, diversos papeis pelo chão, embalagens de bala e chocolate, fórmulas e rabiscos diversos escritos na mesa. As mesmas ainda ressaltaram que é comum encontrarem garrafas PET espalhadas pelo local, todavia é proibida a entrada na biblioteca com garrafas.

 

5.        Discussão

Podemos notar que apenas analisando os eixos separadamente encontramos alguns problemas na organização da dinâmica do campus.

Para substanciar a discussão de nosso presente trabalho, no que diz respeito ao eixo 3, buscamos também dialogar com o trabalho de Lozano et al (2008), no qual aborda discussões sobre o gerenciamento de resíduos químicos em uma instituição de ensino superior e aponta  o potencial educativo ambiental que a Universidade detém, propiciando assim um rico dialogo com nosso trabalho.

            Nas discussões acima apresentadas em nosso trabalho, podemos encontrar respaldo no de Lozano et al (2008), quando esse claramente se posiciona num discurso que caminha no sentido de pensar o espaço universitário como um espaço rico de condições para uma interpretação mais crítica da EA, principalmente no que diz respeito ao gerenciamento dos resíduos químicos. Para confirmar isso podemos destacar o seguinte parágrafo:

 

 [...] “A Universidade é um espaço de geração e disseminação de conhecimentos, sendo um importante momento na formação profissional e, portanto, carrega consigo a responsabilidade de preparar seus estudantes para que sejam profissionais de atitudes éticas e ambientalmente conscientes, que reconheçam os problemas sócio-ambientais e colaborarem para sua solução.” [...] (LOZANO, et al, 2008).

 

Além disso, no mesmo trabalho, os autores trazem discussões que essencialmente orientam nossas reflexões, ou seja, para Lozano et a (2008), [..] “A gestão dos resíduos químicos em universidades é de fundamental importância” [...] pois para esse autores, [...] “A elaboração de um programa de EA pretende relacionar a gestão de resíduos com a gestão ambiental, focando a mudança de atitude, pois, ainda que seja um processo em que a resposta não será imediata, o resultado abrangerá muito mais” [...], referindo-se aos desdobramentos para uma EA mais reflexiva.

Nesse sentido, Lozano et al (2008), apresenta discussões e ações realizadas no âmbito da UFSCar, apontando inclusive avanços e ou limitações que a criação da UGR trouxe a essa instituição, e como consequência traz em si, respaldo teórico e prático para algumas das questões e reflexões apontadas por nosso trabalho.

Nessa perspectiva é notoriamente observável a preocupação, a reflexão e, sobretudo as ações que foram realizadas a fim de avançar quanto às questões de gerenciamento de resíduos químicos na UFSCar.

 

Como pode se observar na seguinte afirmação:

 

 [...] “Reconhecendo a fundamental importância da gestão dos resíduos químicos em IES e consciente de seu papel, a UFSCar criou em 2000 sua Unidade de Gestão de Resíduos (UGR), visando a promover atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma ambientalmente adequada, oferecendo apoio aos laboratórios no gerenciamento de resíduos, desenvolvendo tecnologias limpas, elaborando atividades para EA, ministrando treinamentos aos departamentos, entre outras atividades” [...]. LOZANO et al (2008).

 

Dessa forma, apesar dos esforços e conquistas realizados pela UGR, os autores em suas discussões remetem quanto à dificuldade das propostas lançadas e preveem mais ações que cumpram essa demanda. Assim apresentam um trabalho realizado com objetivo de além de gerenciar os resíduos químicos da universidade, de também atuar na formação dos estudantes, propiciando ações que vão desde sensibilizações, a palestras e minicursos, que visavam buscar e propiciar consequentemente ações mais ativas por parte dos estudantes e posiciona-los às reflexões mais críticas no que diz respeito ao gerenciamento de resíduos.

Como resultado, os autores destacaram as ações realizadas, que consistiram em produções de cartazes, folderes e manuais, que essencialmente visavam orientar de forma rápida e dinâmica as ações que melhor condiziam com o gerenciamento dos resíduos químicos, mostrando de fato a importância de uma implantação de uma sistema de gestão ambiental na universidade.

O trabalho de Lozano et al (2008) nos mostra que apesar de termos essenciais limitações e/ou dificuldade, como foi o caso que apresentamos e encontramos no campus de Araras da UFSCar, ainda sim há preocupações e disposição para enfrentar essas dificuldade e mostrar que a universidade está cumprindo seu papel e que as limitações encontradas, são desdobramentos que permeiam o espaço universitário e só, pois esse não encontra-se desconexo com a conjuntura da nossa sociedade. 

Ao relacionarmos os eixos 1 e 4, pode-se observar que a não separação dos resíduos na sala de aula, ocasiona um prejuízo para a coleta realizada pelos caminhões, pois estarão levando resíduos recicláveis e não-recicláveis misturados. Apesar de haver uma triagem de separação na cooperativa de recicláveis, acreditamos que seria mais efetivo se o processo de separação inicia-se na sala de aula, otimizando o trabalho da cooperativa.

O eixo 1 e 5 podem se relacionar, por partirem de um provável foco em comum; os estudantes. Muitas vezes estes na sala de aula não separam o lixo adequadamente, e na biblioteca promovem comportamentos contraditórios como pichações nas mesas, em livros etc. Aqui pontualmente devemos destacar que não só o trabalho da biblioteca é necessário neste ponto, mas um trabalho amplo com os estudantes, que visa justamente colocar em evidência reflexões critica no que diz respeito a esse comportamento.

Dessa forma o desenvolvimento de um trabalho efetivo de educação ambiental, na perspectiva mais ampla, é essencial, uma vez que a universidade deve ser o exemplo, pois é um local onde se produz tantos saberes e como função social é uma referência. Assim sendo, fica inaceitável que a mesma não exerça seu papel de formar e informar sua comunidade interna da importância de ações ambientais corretas como, por exemplo, a prática efetiva da reciclagem, que é relativamente simples e tratar seus resíduos químicos, pois existe um curso de química, o qual pode colaborar nesse aspecto. 

De acordo com Mardegan et al (2002, p.02):

 

 A implementação e manutenção de programas de gerenciamento de resíduos em universidades, instituições de ensino e pesquisa, tanto governamentais como particulares, apesar dos custos operacionais que acarretam, traz ganhos e vantagens das mais significativas, entre elas, a de propiciarem aos estudantes o ensino adequado de como lidar com resíduos produzidos na pesquisa e em sala de aula, o que minimiza danos ambientais. Além de se trabalhar em um local seguro, saudável e não poluente, em consonância com os preceitos da ecologia.

 

Assim, entender a universidade como fomentadora de espaços para discussões que incluam também discentes e funcionários acerca da temática, e cumpram com seu papel político-social, propondo sobretudo contextualizações que considerem questões da Geografia, Sociologia, entre outros, a fim de aos poucos sensibiliza-los, para que desse modo haja uma real mudança de hábitos e ações, colaborando assim para que isso se torne parte do cotidiano dessas pessoas, e que essa aprendizagem perpasse os muros da universidade.                                                     A educação ambiental, propõe a mudança de hábitos, porém é um processo lento, o qual o sujeito precisa incorporar o discurso, para aos poucos transformar suas ações.

Neste trabalho o eixo que consideramos como um dos problemas mais graves, são os resíduos laboratoriais (eixo 2) e a gestão da UGR/CGR (eixo 3). Neste aspecto, os resíduos dos laboratórios são armazenados e futuramente levados ao tratamento da UGR. Como relatado o tratamento não ocorre na fonte geradora do resíduo, o que contraria a recomendação da própria UGR, porém há falta de recursos para iniciar o tratamento, o que nos mostra que o problema transpassa estes eixos e necessita de uma política adequada para este setor. A própria prática se torna difícil à medida que, muitas vezes, não há um preparo dos funcionários da CGR do campus para se trabalhar na área, o que foi relatado na conversa com o representante do CGR.

 

6.        Considerações Finais

Neste trabalho notamos que a educação ambiental perpassa os fatores ecológicos, sendo também políticos, educacionais, econômicos e sociais. Os eixos apresentados são frutos de uma construção histórica, sofrendo influências dos outros eixos e parâmetros diversos. Alguns dos problemas poderiam ser solucionados com treinamento do corpo discente e administrativo da universidade e outros pontos são necessários uma atuação maior da organização universitária para que possam ser amenizados. Este trabalho contribuiu para construção de uma carta, encaminhada a direção do campus, relatando os resultados e a reflexão realizada sobre a educação ambiental. Até o momento da escrita deste relato, porém, não ocorreu uma resposta sobre a aceitação desta carta ou alguma mudança perceptível pelos membros deste trabalho.

 

7.        Referências bibliográficas

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BRASIL, Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Congresso Nacional, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.  Acesso em: 10/02/2014.

BRASIL, Congresso Nacional. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: Congresso Nacional 1981. Disponível em . Acesso em: 10/02/2014.

CARVALHO, I. C. M. A invenção ecológica: narrativas da educação ambiental no Brasil. 3.ed. Porto Alegre: UFRGS, 2008a.

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MACHADO, Ana Marta Ribeiro; SALVADOR, Nemésio Neves Batista. Normas Gerais 01/UGR - Norma de Procedimentos para segregação, identificação, acondicionamento e coleta de resíduos químicos. UGR/CEMA/UFSCar, São Carlos, 2005.

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Ilustrações: Silvana Santos