Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) PERCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DA SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE DO IFRS, CÂMPUS FELIZ
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O AMBIENTE NATURAL E O SAGRADO:

Percepções de meio ambiente e educação ambiental: em busca da sensibilização ambiental dos alunos do Curso Técnico

em Meio Ambiente do IFRS, Câmpus Feliz

 

 

Cristiane Inês Musa, IFRS/Feliz, cristiane.musa@feliz.ifrs.edu.br

Gláucia C. de Souza, IFRS/Feliz, glaucia.souza@feliz.ifrs.edu.br

Leandro Neutzling Barbosa, IFsul /Camaquã,leandro.barbosa@camaqua.ifsul.edu.br

 

 

 

 

RESUMO

 

A presente pesquisa tem como objetivo apresentar as percepções ambientais elaboradas e compartilhadas pelos alunos da segunda turma do Curso Técnico em Meio Ambiente, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Câmpus Feliz, de maneira a suscitar a sensibilização e conscientização ambiental nos estudantes. No que se refere aos procedimentos metodológicos, cita-se, consecutivamente: a aplicação de um questionário de percepção ambiental, a confecção de expressões plásticas sobre o conceito de meio ambiente e, por fim, a aplicação de um questionário para verificar a percepção dos alunos sobre a educação ambiental. Verificou-se que a maioria dos alunos percebe o meio ambiente como um lugar para se viver, bem como, o concebem como um problema. A maioria dos alunos considerou a educação ambiental como um instrumento de conscientização ou sensibilização ambiental, mencionando, inclusive, a distinção entre as modalidades formal e não formal.

 

Palavras-chave: Meio Ambiente; Percepção Ambiental; Educação Ambiental; Técnico em Meio Ambiente.

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS, Câmpus Feliz) oferece, desde 2011, o Curso Técnico em Meio Ambiente. Tal curso visa formar profissionais qualificados, com embasamento científico e tecnológico, para conservar, preservar e administrar de forma sustentável os recursos naturais. Possui, também, o intuito de contribuir com as empresas, instituições de ensino e órgãos públicos instalados na Região do Vale do Caí, no Rio Grande do Sul, inserindo no mercado de trabalho profissionais qualificados para atender com eficiência à resolução dos desafios ambientais na busca da sustentabilidade.

Neste artigo, apresenta-se uma das atividades desenvolvidas na disciplina Introdução ao Meio Ambiente e Educação Ambiental da segunda Turma do Curso Técnico em Meio Ambiente. A atividade intitulada “Percepções de meio ambiente e educação ambiental: em busca da sensibilização ambiental” condiz com o objetivo principal da disciplina, que é introduzir a temática ambiental aos alunos, de maneira a perceber o que é meio ambiente, refletindo sobre as atitudes que podem ser realizadas tanto individual quanto coletivamente em prol do ambiente.

Sabendo-se que a percepção equivocada que o ser humano tem em relação ao ambiente acaba desencadeando ações pontuais e pouco efetivas diante da diversidade de problemas ambientais, torna-se imprescindível, em qualquer iniciativa de cunho educativo ou socioambiental, conhecer a percepção ambiental do grupo envolvido.

Pois, conhecer como os indivíduos agem e porque agem desta maneira, integrado ao levantamento da organização comunitária, das redes de influências e da intensidade e forma de participação da comunidade das suas organizações, permite determinar onde e como agir para promover a participação e a corresponsabilidade de todos. A percepção ambiental é a base para os programas de educação ambiental (EA), pois justamente fornecem as pistas de como as pessoas pensam e agem. Promovem, simultaneamente, o desenvolvimento do conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental, através das metas: consciência, compreensão e compromisso da ação (DIAS, 1993).

Assim, o presente trabalho visa apresentar as percepções ambientais elaboradas e compartilhadas pelos alunos da segunda turma do Curso Técnico em Meio Ambiente, do IFRS, Câmpus Feliz, de maneira a suscitar a sensibilização e conscientização ambiental nos estudantes.

 

 

2 MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÂO PARA A SENSIBILIZAÇÂO AMBIENTAL

 

Diante da complexidade do conceito de meio ambiente e do caráter difuso e polissêmico do termo, vários autores, dentre eles, Reigota (1998) consideram a noção de meio ambiente uma representação social, que contempla as diversas percepções que as pessoas podem ter dele, em função do contexto, a partir do qual produzem a sua concepção. A identificação das representações sociais das pessoas envolvidas no processo educativo é o ponto de partida para a realização da EA.

Neste contexto, Reigota (1998, p. 14) define meio ambiente como sendo:

 

o lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam em processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído.

 

Sabendo-se da importância da percepção ambiental para desenvolver ações de sensibilização e EA, Musa (2005) ressalta que o conhecimento anterior de cada ser humano, afeta a sua percepção, da mesma forma que as avaliações a respeito de determinado aspecto também são afetadas intensamente pela sociedade e pela cultura. Para complementar, Oliveira (1983) define percepção como sendo o conhecimento que o ser humano adquire, através do contato com o meio em que vive.

Ao se trabalhar o conceito de meio ambiente com os discentes, é abordada a temática da EA, a qual deveria ser considerada parte intrínseca da educação como um todo e não apenas uma modalidade ou uma dimensão.

Conforme a Lei Federal n. 9.795 de 27 de abril de 1999 que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA (BRASIL, 1999), a EA está relacionada aos processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

              Nesse contexto, Leff (2001) reitera a necessidade de aproximação entre a questão ambiental e a educação, compreendendo que a educação pode ser um instrumento de fomento à construção e consolidação da cidadania ambiental e de uma cultura democrática participativa. De acordo com o autor, tendo em vista a necessidade de construir uma nova racionalidade social, orientada por comportamentos diferenciados, por novos valores e saberes, a educação representa um processo estratégico com o propósito de transformação das consciências, de formação de novas capacidades.

              É importante salientar que a criação de uma nova consciência passa por um processo educativo, o qual proporciona desde a formulação de novas visões de mundo, imaginários coletivos, até a formação de novas capacidades técnicas que, por conseguinte, promovem a construção de novas formas de desenvolvimento (LEFF, 2001).

              Para tanto, pressupõe-se que atores sociais devidamente informados sobre as consequências danosas dos seus atos e percebendo de maneira correta os conceitos necessários para a compreensão das relações entre o processo social e o natural, estão aptos para transformarem seus hábitos e atitudes. No entanto, o processo de conscientização passa pela construção de uma nova sensibilidade (CRESPO, 1998).

Nesse sentido, acredita-se na importância da percepção ambiental para transformarmos nossa própria cultura e trabalharmos coletivamente em prol de um meio mais sustentável e num projeto de futuro menos impactante para nosso planeta.

 

 

3 METODOLOGIA

 

              A pesquisa caracteriza-se eminentemente pela abordagem qualitativa, inserida na perspectiva exploratória. A pesquisa qualitativa tem como finalidade intervir em uma situação considerada insatisfatória, bem como modificar condições percebidas como transformáveis. A referida abordagem propõe o esclarecimento de uma determinada situação para a tomada de consciência acerca dos problemas e das condições que os geram, a fim de apontar meios e estratégias para resolvê-los (CHIZZOTTI, 1991).

              De acordo com Gil (1994, p. 47), pesquisas exploratórias “[...] têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições”. Pesquisas desse tipo são desenvolvidas com o intuito de proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo, sobre um determinado fato.

Tendo em vista a existência de diversas pesquisas no âmbito da percepção ambiental, a concepção de meio ambiente dos ingressos foi interpretada utilizando-se as categorias propostas por Sauvé (1997), um trabalho emblemático da área, nas quais o ambiente pode ser percebido como:

 

  • Natureza, para ser apreciada e preservada; percebida como um santuário natural e intocável; pura e original.
  • Recurso, para ser gerenciado; compreende uma herança coletiva para ser explorada pela sociedade; sua importância está relacionada à qualidade de vida.
  • Problema, para ser resolvido; há ênfase na poluição, na degradação ambiental.
  • Lugar para viver; a natureza é concebida com seus componentes sociais, históricos e tecnológicos.
  • Biosfera, como local para ser dividido socialmente; reconhece a interdependência dos seres vivos com os inanimados.
  • Projeto comunitário, para ser envolvido; tem como premissa um senso crítico e a participação política da comunidade.

 

Tal pesquisa foi realizada durante o primeiro semestre de 2013 na disciplina Introdução ao Meio Ambiente e Educação Ambiental. A ação proposta intitulada de “Percepções de meio ambiente e educação ambiental: em busca da sensibilização ambiental” foi desenvolvida com 19 alunos da segunda turma do Curso Técnico em Meio Ambiente do Câmpus Feliz.

Constaram desta ação as seguintes atividades: 1. Apresentação da disciplina aos estudantes; enfatizando seus objetivos principais. 2. Dinâmica de apresentação, uma vez que se tratava do primeiro semestre do curso. 3. Aplicação de um questionário inicial sobre percepção ambiental, avaliando o conhecimento trazido pelos estudantes sobre meio ambiente. Os estudantes responderam, individualmente, cinco perguntas, divididas em quatro questões fechadas e uma aberta. 4. Expressão plástica na qual os alunos confeccionaram desenhos individuais sobre o conceito de meio ambiente que possuíam previamente. Dessa maneira, foi solicitado a cada um que expressasse através de um desenho o que concebiam como meio ambiente. Os desenhos foram analisados de acordo com as categorias de Sauvé (1997). 5. Aplicação de um questionário para verificar a percepção sobre o conceito de educação ambiental dos alunos.

 

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Dos 19 alunos pesquisados, a grande maioria reside na cidade de Feliz. No entanto, o restante mora nos municípios vizinhos de Alto Feliz e Bom Princípio. No que se refere à faixa etária dos estudantes, constatou-se que 13 dos futuros técnicos em meio ambiente possuem entre 18 e 24 anos. Quanto aos demais, quatro dos participantes situam-se na faixa entre 25 e 29 anos, enquanto a minoria, somente dois, possuem idade superior aos 30 anos. Os estudantes encontram-se homogeneamente distribuídos no que se refere ao gênero, com uma participação sensivelmente maior do público femino: 11 são do sexo feminino e oito do masculino.

Destaca-se que não é considerado efetivo analisar os dois primeiros passos da atividade nesse momento, já que o foco reside na construção do conceito de meio ambiente e educação ambiental. Assim, parte-se para a análise da terceira atividade: o questionário sobre percepção ambiental.

Perguntou-se inicialmente se a questão ambiental é discutida no âmbito familiar. Verificou-se que esta temática é discutida no cotidiano familiar de 76% dos alunos. Em contrapartida, 24% alegou que tal tema não é um assunto recorrente nas conversas familiares (Figura 1).

 

Figura 1 – Distribuição percentual dos participantes relacionada à prática de discussão das questões ambientais em família.

 

Complementarmente, constatou-se que na residência de 90% dos participantes existe a preocupação com a segregação dos resíduos em duas categorias: orgânico e seco. Devido ao fato de que os alunos residem, em sua maioria, na cidade de Feliz, onde existe a coleta seletiva, muitos cidadãos se sentem motivados a segregar os resíduos na fonte geradora, para que sejam coletados e destinados de forma correta. Com exceção de um único participante, todos os demais reconhecem e se preocupam com a importância de reduzir a quantidade de resíduos sólidos domiciliares gerada.

Quando indagado àqueles que trabalham, se é desenvolvida alguma atividade relacionada ao meio ambiente, 60% informou que existe alguma iniciativa ligada ao respectivo tema, ao passo que 40% responderam negativamente (Figura 2).

 

Figura 2 – Distribuição percentual dos participantes quanto ao desenvolvimento de alguma atividade relacionada ao meio ambiente no local de trabalho.

 

Das atividades que são desenvolvidas pelas empresas ou instituições onde trabalham, foram citadas: segregação e destinação adequadas de resíduos; coleta de resíduos especiais, tais como eletrônicos e farmacêuticos; controle de documentos da área ambiental; fiscalização de fauna, flora e da poluição de modo geral; além do tratamento de efluentes; e elaboração de cartilhas como instrumento de EA. Nesse sentido, verificou-se que a grande maioria dos ingressos no referido curso identificou práticas ambientais no seu local de trabalho.

Indagou-se, por fim, quem são os principais responsáveis pela poluição ambiental na opinião dos questionados. A grande maioria acredita que as diversas formas de poluição ambiental decorrem de atitudes antrópicas. Foram inclusas nessa categoria as respostas “homem”, “ser humano”, “nós”, “pessoas”. Relata-se a resposta de duas alunas:

 

Principalmente as pessoas, a própria população ainda não consciente dos problemas ambientais que vêm acontecendo.

Todos nós, às vezes de maneiras mais diretas às vezes indiretas, mas creio ser uma visão de totalidade.

 

Salienta-se que o restante das respostas atribuídas a esse questionamento – “poder público”, “automóveis” e “indústrias” – constituem-se e decorrem de ações humanas, no entanto, foram deixadas separadas para apresentar a percepção tal e qual dos estudantes, conforme demonstradas na Figura 3.

 

Figura 3 – Distribuição percentual dos participantes no que diz respeito aos principais responsáveis pela poluição ambiental.

 

Os sujeitos que se referiram ao poder público, mais especificamente aos políticos, justificarm seu posicionamento alegando a ausência de investimentos na educação, bem como, em programas de conscientização. Houve, ainda, embora com um percentual reduzido, aqueles que relacionam a poluição ambiental às indústrias ou empresas. Algumas contribuições que elucidam o exposto.

 

Falta de programas políticos de conscientização para separação do lixo e dos impactos que por ele são causados ao meio ambiente.

Educação, políticos e grande consumismo.

As grandes empresas, em especial, as produtoras de produtos tóxicos e componentes eletrônicos.

 

Quanto a análise dos desenhos, observou-se as representações das categorias: biosfera, lugar para se viver, problema, recurso e natureza, conforme ilustrado na Figura 4.

 

Figura 4 – Distribuição percentual dos ingressos de acordo com as categorias de meio ambiente adaptadas de Sauvé (1997).

 

A partir das percepções mais representativas, é possível inferir que 26% dos alunos concebe o meio ambiente como um lugar para se viver, sendo que os desenhos continham tanto o ambiente construído quanto elementos naturais, destacando a presença de casas e do homem em harmonia com o ambiente. Como exemplo, tem-se a fala de um aluno: “meio ambiente como lugar para se viver, na comunidade, na interação com a natureza, com os animais, e com as pessoas”.

A percepção relacionada ao ambiente como um problema, foi expressa também por 26% dos participantes, sendo manifestada por meio de desenhos nos  quais o ambiente aparecia poluído ou contaminado, principalmente, pela presença de rios poluídos e de resíduos sólidos, como demonstrado na Figura 5.

 

 

 

Figura 5 – Percepção de meio ambiente que se enquadra na categoria: ambiente como um lugar para se viver.

 

A Figura 6 ilustra um desenho que se enquadra na categoria ambiente como um problema. Destaca-se algumas respostas que vão ao encontro dessa percepção:

 

[...] estamos usando muito os recursos e não estamos conseguindo ‘gerir’ os resíduos de maneira eficiente.

[...] vejo o meio ambiente como um problema, e cabe a nós, profissionais do meio ambiente, tentar mudar essa realidade.

 

 

Figura 6 – Percepção de meio ambiente que se enquadra na categoria: ambiente como um problema.

 

Pode-se dizer que 21% dos futuros técnicos em meio ambiente enxergam o ambiente como um recurso, expressado através do homem se utilizando dos recursos naturais. Houve, também, ênfase à qualidade de vida, como mostrado na Figura 7. Duas falas foram destacadas para expressar a categoria em análise.

 

[...] os seres humanos necessitam do Planeta Terra para sobreviver, disso retiram alguns recursos dele para usar no dia-a-dia [...].

[...] o ser humano necessita dos recursos do planeta para sobreviver [...].

 

 

Figura 7 – Percepção de meio ambiente que se enquadra na categoria: ambiente como um recurso.

 

Verificou-se, ainda, a inferência ao ambiente como biosfera por 16% dos alunos, através de desenhos que não se referiam somente aos elementos naturais ou construídos e à presença do homem, mas à existência de uma relação mais ampla entre eles (Figura 8).

 

Figura 8 – Percepção de meio ambiente que se enquadra na categoria: ambiente como biosfera.

Dessa forma, salienta-se a colaboração de um pesquisado: [...] se leva em conta o natural, a fauna e flora, o construído, as cidades com seus prédios, casas e construções, e o social, que é a interação do ser humano com o meio”.

Por fim, cita-se que 11% dos alunos referiu-se ao ambiente como natureza, sendo que os desenhos expressaram apenas elementos naturais (Figura 9).

 

 

Figura 9 – Percepção de meio ambiente que se enquadra na categoria: ambiente como natureza.

 

Logo, a percepção predominante, ao contrário do que muitas pesquisas apresentam, como relatado por Musa (2005), não é a naturalista, ou seja, àquela cujos desenhos retratam exclusivamente elementos naturais do ambiente, sem a presença do homem. Para tanto, cita-se o argumento de um aluno: “[...] está relacionado não somente com a natureza, animais, plantas e assim por diante, mas está ligado com o homem que interage com o meio ambiente, causando poluição e degradação do nosso Planeta Terra [...]”.

Quanto à análise do questionário para verificar a percepção sobre o conceito de EA, a maioria dos alunos a considerou como um instrumento de conscientização ou sensibilização ambiental, mencionando, inclusive, a distinção entre as modalidades formal e não formal. Pode-se ressaltar algumas contribuições:

 

[...] é a maneira como se sensibiliza a sociedade para dessa forma criar hábitos coerentes e conscientes, indiferente se de forma formal ou informal.

[...] direciona uma melhor percepção do meio ambiente, nos oferece um aprendizado muito importante na criação de consciências mais críticas.

[...] é um instrumento que apresenta soluções, que torna o indivíduo mais crítico. Pode ser feita na forma formal (em escolas) ou não formal (fora do âmbito escolar).

[...] é uma forma de conscientizar a população [...], inteirá-los dos problemas ambientais e promover a mudança de hábitos [...].

[...] está voltada para os indivíduos e a comunidade, terem conhecimento, habilidades, para poder agir e resolver problemas ambientais presentes e futuros.

 

Questionou-se, também, como a EA pode contribuir para a melhoria da qualidade ambiental da sua cidade ou região. Seguem algumas respostas:

 

[...] com a população mais atenta aos problemas [...], haverá uma maior busca para resgatar o meio e procurar mantê-lo ou melhorá-lo.

[...] conscientizando a população a utilizar os recursos de forma mais sustentável, a contribuir com a recuperação e reutilização dos recursos.

[...] a partir da educação ambiental, a população se conscientiza e se torna ciente dos problemas locais, podendo contribuir para a não degradação do meio ambiente.

[...] ela deve estar presente de forma contínua no dia a dia da sociedade.

[...] pode contribuir de várias formas, conscientizando todos para torná-los seres críticos que procuram agir a favor do meio ambiente.

[...] mostrando a importância da separação do lixo, da reciclagem e da preservação do planeta.

[...] ajudaria as pessoas a se conscientizarem mais com o meio ambiente, e mostrar o certo a fazer. [...] nas escolas deveria ter o ensino sobre isso.

 

Por fim, Gamba (2002) enfatiza sobre a importância da busca da sensibilização dos atores sociais para o desenvolvimento de práticas ambientais efetivas. Nesse sentido, constatou-se a partir das citações supracitadas que os estudantes percebem, igualmente, a importância da EA, enquanto um instrumento de sensibilização e conscientização na busca por ações sustentáveis.

 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Pode-se destacar que a atividade desenvolvida com os ingressos no Curso Técnico em Meio Ambiente do IFRS, Câmpus Feliz, se mostrou pertinente, pois oportunizou a ampliação da percepção ambiental, destacando a complexidade que esta exige. As ações buscaram despertar a preocupação dos estudantes, com as questões ambientais como responsabilidade coletiva, desenvolver a observação, incitar a reflexão e a ação em favor da transformação tão premente no nosso ambiente, favorecendo a construção de uma consciência de responsabilidade coletiva e participativa.

            De acordo com os resultados da pesquisa, verificou-se que a percepção predominante entre os estudantes não é a naturalista, muito pelo contrário, pois a maioria dos investigados relacionou o ambiente com o ser humano, enfatizando a inter-relação do homem com a natureza. No que se refere à EA, grande parte dos alunos a consideraram como um instrumento de sensibilização ou conscientização ambiental, mencionando, inclusive, a distinção entre as modalidades formal e não formal.

            Para finalizar, cabe salientar que compreender como o aluno percebe o meio ambiente e a EA torna-se fundamental, pois tais percepções podem interferir positivamente no modo de se relacionar com o ambiente e a natureza, possibilitando desencadear o comprometimento dos alunos, auxiliando-os a ter uma visão mais crítica. Assim, o fato do estudante se perceber integrado ao ambiente, pode favorecer o desenvolvimento de atitudes e de habilidades necessárias à preservação, conservação e melhoria da qualidade ambiental.

 

 

 

 

6 REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental. 1999. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 20 nov. 2013.

 

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991.

 

CRESPO, S. Educar para a sustentabilidade: a educação ambiental no programa da agenda 21. In: NOAL, F. O; REIGOTA, M; BARCELOS, V. H. de L. Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998.p. 211-226.

 

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 2. ed. São Paulo: Gaia, 1993.

 

GAMBA, I. C. Educação ambiental: análise do discurso em textos jornalísticos.

Revista de Estudos Ambientais, Blumenau, v. 4, n. 2-3, p. 5-23, maio/dez. 2002.

 

GIL, A. C. Metodologia do ensino superior. 2. ed. São Paulo: Ed. Atlas, 1994.

 

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, pode. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

 

MUSA, C. I. Meio ambiente e religião: uma leitura a partir das denominações religiosas cristãs da sub-bacia do Ribeirão Araranguá. 2005. 165 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2005.

 

OLIVEIRA, L. A percepção da qualidade ambiental. In: A ação do homem e a qualidade ambiental. Rio Claro: Associação dos Geógrafos/Câmara Municipal, 1983.

 

REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. 3. ed. São Paulo: Cortez,

1998. 

 

SAUVÉ, L. Pour une éducation relative à l’environnement. 2. ed. Montréal: Guérin, 1997.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos