Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DO RESÍDUO SÓLIDO NA ESCOLA
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DO RESÍDUO SÓLIDO NA ESCOLA

 

Mileni Cano Gusson

Bacharel e Licenciada em Geografia,  Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão, milenicano@yahoo.com.br

 

José Vieira Neto

Doutor em Geografia - Professor do Departamento de Geografia, Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão, Avenida Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120, Setor Universitário, Catalão, GO, CEP: 75704-020, Fone: (64) 3441-5300, jovineto@hotmail.com

 

Antonio Santiago da Silva

 Bacharel e Licenciado em Geografia (UFG), Esp. Artes Visuais: Cultura e Criação (SENAC), Técnico de  Laboratório Diagramador (UFU), Universidade Federal de Uberlândia, asantiagogeo@yahoo.com.br

 

 

Resumo: A ênfase à educação ambiental no ambiente escolar é uma necessidade urgente que tem como principal objetivo amenizar os problemas ocasionados pelo consumo exacerbado e/ou poluição. Dessa maneira, o engajamento pessoal e coletivo dos educadores e dos educandos no processo de transformação social é de grande importância. O cultivo de pequenos hábitos tais como a diminuição do consumo e a reciclagem fazem toda a diferença.

Com o intuito de mudar o comportamento do educador e do educando poderemos, a partir da escola, obter um ambiente mais limpo e de qualidade por meio de atividades como oficinas de material reciclado, leitura de textos voltados à temática, limpeza dirigida em sala de aula e a horta escolar nas quais os alunos de 11 a 14 anos, estudantes do 6ª e 7ª ano do Ensino Fundamental, poderão perceber e refletir sobre a mudança de comportamento. Sendo assim, ao propormos aos alunos da escola Municipal Allan Kardec, localizada na cidade de Catalão, Goiás, uma reflexão aliada a ações cotidianas sobre o problema do resíduo solido na escola e ao incentivá-los a compreenderem a proposta e colocá-la em prática, fará com que a Instituição de Ensino fique mais limpa e, consequentemente o bairro e a cidade, contribuindo assim com a preservação do meio ambiente. 

 

Palavras chave: Educação Ambiental; Consumo Sustentável; Resíduo Sólido.

 

 

 

 

1. Introdução

 

Ao longo da sua historia o homem usufruía da natureza somente para suprir as suas necessidades básicas. Com a evolução humana e das técnicas, no período da Revolução Industrial inicia-se um novo marco na sociedade que fez a relação homem - natureza mudar completamente. Devido ao desenvolvimento industrial, o homem passou a explorar a natureza, e que fez crescer o consumo dos recursos naturais de forma expressiva a cada nova era da indústria.  De acordo com SANTOS (2008 p. 97):

 

O homem também vai impondo à natureza suas próprias formas, a que  podemos chamar formas e objetos culturais, artificiais, históricos.  A natureza conhece um processo de humanização cada vez maior, ganhando a cada passo elementos que são resultados da cultura. Torna-se cada dia mais culturalizada, mais artificializada, mais humanizada. O processo de culturalização da natureza torna-se cada vez mais o processo de sua tecnificação. As técnicas, mais e mais, vão sendo incorporadas à natureza, e esta fica cada vez mais socializada, pois é cada dia mais o resultado do trabalho de um número de pessoas.

 

 O atual modelo de desenvolvimento capitalista tem gerado grandes problemas à natureza, RODRIGUES (1998) destaca que a natureza é um recurso, um bem aproveitável, quando se verifica a possibilidade de seu esgotamento, inicia-se uma preocupação com este recurso que devido à sua exploração em larga escala está ficando cada vez mais escasso.

Podemos notar com clareza que o desequilíbrio da relação homem – natureza tem trazido graves problemas para o planeta e que vários desastres naturais têm ocorrido em pequenos períodos de tempo, com intensidade cada vez maior. Segundo SANTOS (2008, p. 99):

 

Hoje, porém, o fato é que, se os grupos humanos têm o poder de modificar a ação das forças naturais, a natureza ainda obriga esses grupos a adaptações ou impõe resultados diversos a ações semelhantes. O processo técnico não elimina a ação da natureza. A ação humana verifica segundo diversos modelos: quando o homem tem a força de modificar os aspectos do quadro natural, fazendo deste uma segunda natureza; quando o homem prevendo as mudanças conjunturais do quadro natural, prepara-se, seja para tirar partido dessa mudança, seja para reduzir os seus efeitos nefastos ou puramente negativos e por fim quando através do conhecimento das possibilidades de oscilações das condições naturais – consideradas em relação com a atividade humana desenvolvida nesta ou naquela área - , o homem imagina, elabora, codifica, impõe um sistema regulador, mediante o qual os danos sociais ou individuais são coletivamente absorvidos.

 

O desenvolvimento industrial e tecnológico em busca de novas técnicas, informação e produção de forma rápida e eficiente, gera uma verdadeira revolução afetando toda a sociedade. SANTOS (2008) dizia que a cidade aparece determinando o avanço das técnicas que vão impulsionar ainda mais o desenvolvimento e a modernização. E RODRIGUES (1998) compreende as cidades o meio urbano como um conjunto das edificações, com suas características construtivas, sua historia e memória, seus espaços segregados, a infra-estrutura e os equipamentos de consumo coletivo. Esse espaço urbano que é fruto da Revolução Industrial, do desenvolvimento quando apresenta determinadas condições modernas de vida.

E consequentemente tais avanços ocasionados já pela era globalização fazendo crescer assustadoramente essas cidades mesmo que de forma desigual com o processo conhecido de meio técnico-científico-informacional, ou seja, o momento em que estamos reconstruindo nosso espaço utilizando o conteúdo da ciência, técnica e informação com muito mais ênfase, estamos com isso trazendo grandes problemas para o meio ambiente. (SANTOS, p.37, 2005).

Esse desenvolvimento desigual e desenfreado traz consigo o problema que se evidencia com mais clareza nas cidades, o acúmulo em grandes áreas urbanas de resíduo sólido, ou seja, todos aqueles resíduos nos estado sólido e semi-sólido que resultam das atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, de serviços de varrição e/ou serviços agrícolas.

No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da Norma Brasileira Registrada (NBR) nº. 10.004, apresenta a seguinte definição para resíduos sólidos:

 

Resíduos nos estados sólidos e semi-sólido que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987, p.2).

 

Os resíduos sólidos tem sido um dos grandes problemas ambientais da sociedade. Devido ao consumismo exacerbado muitos resíduos são gerados e causam sérios problemas no momento do descarte, que na grande maioria das vezes é feito de forma inadequada. Nota-se hoje em dia, por exemplo, o acúmulo de aparelhos eletrônicos que não podem ser descartados junto com o lixo doméstico. As cidades não foram planejadas para suportar tanto e, não existe um trabalho de conscientização sobre o descarte correto desses materiais. Poucas cidades implantaram a coleta seletiva, porém mesmo nestas cidades a população não é orientada a separar os resíduos corretamente. E RODRIGUES (1998, p. 23) acrescenta:

 

Um grande problema, da intensificação da produção/destrutiva, senão o maior está no que se convencionou chamar de problemática ambiental, na criação de novas necessidades que não satisfazem necessidades humanas enriquecedoras, mas apenas correspondem a modos de vida da sociedade do descartável. E, na sociedade do descartável, o tempo e o espaço são tidos como separados, produzem-se cada vez mais e mais mercadorias - que duram cada vez menos -, e utiliza-se de forma intensiva o espaço para produzir mais.

 

Outro agravante em relação aos resíduos sólidos é que estes são uma das principais causas da poluição do solo, do ar e das águas decorrentes dos acúmulos de embalagens de plástico, papel e metais, e de produtos químicos, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas. O material sólido do lixo demora muito tempo para desaparecer no ambiente. O vidro, por exemplo, leva milhares de anos para entrar em decomposição, enquanto determinados tipos de plástico nunca se decompõem, pois são resistentes ao processo de biodegradação promovido pelos microorganismos. (ROBERTO, 2010)

Em virtude de ser descartado a céu aberto ou, em algumas cidades em aterros sanitários, o lixo orgânico (restos de alimentos), no seu processo de decomposição, gera um líquido escuro, turvo e malcheiroso altamente poluente denominado de chorume (este líquido é muitas vezes mais poluente que o esgoto doméstico). Este efluente tem a capacidade de dissolver tintas, resinas e outras substâncias químicas de alta toxidade contaminando o solo, impedindo o desenvolvimento das plantas.

Atualmente o planeta Terra tem passado por uma crise ambiental histórica, consequência do uso excessivo dos recursos naturais e da falta de planejamento para o descarte correto dos produtos e bens adquiridos pela sociedade consumista. SANTOS (2008, p. 116) em seus estudos sobre o destino dos resíduos dizia que:

 

Grandes são os danos causados ao meio ambiente pelo acumulo irregular desse resíduos e pelos sistemas utilizados para seu gerenciamento. Desde o momento de geração até o destino último dos resíduos, uma serie de medidas necessitam ser empreendidas para evitar problemas de ordem ambiental, social de saúde pública, econômica e até mesmo de estética paisagística. Entre essas medidas destacam-se o acondicionamento, a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final.

 

Pensando numa forma para amenizar os problemas ambientais causados pela devastação dos recursos naturais e pelo acúmulo e descarte desse resíduo sólido, hoje a sociedade de modo geral tem mudado algumas ações, ainda que de forma tímida. Mas para que seja realmente possível amenizar essa situação, é necessário que cada individuo compreenda e reflita na importância de suas ações. A perspectiva de mudança que propõe a educação ambiental busca não só a conservação dos meios naturais, mas principalmente a valorização e o respeito pela natureza, pois entende-se que a sociedade é parte do meio ambiente e a interação com o mesmo precisa ser repensada.

É nesse sentido que se pretende trabalhar a educação ambiental de forma mais significativa nas escolas, fazendo com que o professor dê ênfase na importância de mudanças de hábitos cotidianos tanto no ambiente escolar quanto no ambiente familiar, com foco na importância da humanidade como ser vivo e habitante responsável do planeta. À medida que o professor contribui com a conscientização dos alunos como seres atuantes nesse processo de mudança, a escola e o professor contribuem muito para amenizar o problema ambiental que vivemos.

 

2. A Educação Ambiental como uma possível solução para o problema dos resíduos sólido na escola

 

O crescimento populacional e as exigências por energia, alimentos e, todo aparato da Era Moderna na busca de certo conforto à sociedade, impõe demandas crescentes de recursos em todo o mundo.

A ocorrência de impactos decorrentes da ação antrópica indiscriminada, com produção máxima e o incentivo ao consumo desenfreado, seja pela facilidade de financiamento ou aumento de poder aquisitivo, tem levado milhares de pessoas ao consumismo e desperdício de recursos naturais e tem gerado problemas para a humanidade.

Desta forma a necessidade premente da conservação dos recursos naturais que favorece a sustentabilidade da produção, a discussão sobre a temática ambiental, que tomou corpo mundialmente desde a Conferência de Estocolmo em 1972, e se fortalece ainda mais do estabelecimento do conceito de “Desenvolvimento Sustentável” criado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1983 e publicado em 1987. O uso dos recursos naturais, em qualquer etapa do processo produtivo, deve ser precedido de um processo de planejamento que atenda os interesses econômicos e sociais sem o comprometimento produtivo das futuras gerações, observando sempre a conservação do entorno e levando-se em consideração os aspectos naturais, sociais, políticos e culturais específicos de cada região. Em segundo momento a ONU convoca a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que foi realizada no Rio de Janeiro em 1992, na qual foram aprovados diversos documentos importantes entre eles a Agenda 21 que prevê varias ações importantes, das quais podemos citar o fomento da educação, a capacitação , a conscientização entre outras.  

Com as mudanças no cenário mundial, em 1999 é criada a Lei n.º 9795 que dispõe sobre a educação ambiental que institui à Política Nacional de Educação Ambiental diz, em seu Art.3.º, que [...] “todos têm direito à educação ambiental” sendo que em incisos I, II, III, IV. V e VI do mesmo artigo, atribui a incumbência da educação ambiental, respectivamente, ao “Poder público”, “às instituições educativas”, “aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio ambiente — SISNAMA” —, “aos meios de comunicação de massa”, “às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas” e “à sociedade como um todo”. Desta forma, a Educação Ambiental - EA passa ser obrigatória por todas as instituições e nas diversas práticas sociais e econômicas.

Entendemos que é na educação fundamental, que a Educação Ambiental assume o lugar privilegiado, por seu papel social e responsável pela educação básica. Também por exigência legal todos os brasileiros, crianças, jovens e adultos, possuem acesso a educação conforme Constituição Federal de 1988 - Art. 205 e 208 e Lei de Diretrizes e Base de 1996.

A Educação Ambiental tem como meta avaliar valores sociais que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais espécies que habitam o planeta, auxiliando o aluno a analisar criticamente o princípio antropocêntrico, que tem levado à destruição inconseqüente dos recursos naturais e de várias espécies do nosso planeta. Para que isso aconteça é preciso considerar que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional. Evitar o desperdício considerando a reciclagem como processo vital e ainda reduzir o consumo, são formas de utilização racional do meio ambiente.

DÍAZ (2002) expõe que a finalidade da Educação Ambiental é, de fato, levar à descoberta de certa ética, fortalecida por um sistema de valores, atitudes, comportamentos, destacando, entre os primeiros, questões como a tolerância, a solidariedade ou a responsabilidade ambiental. A Educação Ambiental também deveria permitir o progresso na busca dos valores mais adequados a um verdadeiro desenvolvimento sustentável.

O papel da Educação Ambiental é fundamental para uma possível solução do problema do resíduo sólido, tema que ainda é pouco explorado em práticas nas escolas. De acordo com REIGOTA (1995), que reforça a idéia mencionada, a Educação Ambiental é um instrumento estratégico na busca da melhoria da qualidade de vida e na construção do desenvolvimento sustentável. Entretanto, CARVALHO (2004), diz que a Educação Ambiental pretende provocar processos de mudanças sociais e culturais que visam obter do conjunto da sociedade, tanto a sensibilização à crise ambiental e à urgência em mudar padrões de uso dos bens ambientais quanto o reconhecimento dessa situação e a tomada de decisões a seu respeito caracterizando o que poderíamos chamar de um movimento que busca produzir novo ponto de equilíbrio, nova relação de reciprocidade, entre as necessidades sociais e ambientais.

É nesse sentido que se tenta mudar a realidade do problema causado pelo resíduo sólido nas áreas urbanas e, especificamente nas escolas que, mesmo com grandes avanços tecnológicos na área educacional continuam a produzir e desperdiçar material didático. Muitas instituições de ensino desperdiçam e produzem muito resíduo sólido, especialmente papéis (crepom, cartolinas, sulfite, papel cartão, papel celofane, seda, etc) que são utilizados na ornamentação da escola e trabalhos em sala de aula. Esse resíduo deveria ser reaproveitado em outras metodologias pedagógicas ou ainda, deveria haver uma conscientização dos professores no que diz respeito a desenvolver trabalhos que não gerem tanto resíduo.

Nessa perspectiva torna-se necessário então, trazer de fato para as escolas a questão da Educação Ambiental e, a partir do educador iniciar uma nova postura e reflexão das atitudes, valores e habilidades profissionais conscientes de sua função educativa.

Propõe-se adotar a educação ambiental como um processo participativo, no qual o educando assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais e na busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, por meio do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, mediante uma conduta ética condizente ao exercício da cidadania. Com base na Educação Ambiental, o contexto assume e propõe assim, a mudança de valores, comportamento e atitudes em relação à natureza tornando-a mais sustentável.

Para que o trabalho de conscientização e novas práticas sejam realizados, é preciso esclarecer que a postura esperada do educador não é a mera transmissão de valores do ao educando. Espera-se na verdade, possibilitar ao educando a formação crítica e o questionamento sobre a realidade que o cerca, e a partir daí construir coletivamente opiniões e conceitos, que o levarão além de uma teoria (GUIMARÃES, 2003).

O cultivo de hábitos de reciclagem e a promoção da diminuição do consumo de produtos plásticos e de latas são pequenas atitudes que podem contribuir com o equilíbrio ambiental do nosso planeta.

Segundo GUIMARÃES (2003) é preciso valorizar o conhecimento do aluno e possibilitar a ele novas alternativas.  Partindo destas ações a conscientização do educando se em relação à mudança de suas atitudes cotidianas, trará ao ambiente escolar maior limpeza e consequentemente também à cidade, potencializando as ações positivas voltadas para a preservação ambiental.

 

3. Relato de experiência prática em educação ambiental como professora

 

Com a finalidade de contribuir com a amenização do problema do resíduo solido na escola, foram realizados alguns trabalhos com alunos de 11 a 14 anos, estudantes do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental, no período de 2009 a 2011, na Escola Municipal  Alan Kardec, na cidade de Catalão-GO. O tema foi abordado por todos os educadores do ensino fundamental II.  

Os professores trabalharam práticas educacionais visando contribuir para que os alunos, por meio de medidas simples, se interessassem em preservar o meio ambiente e o patrimônio escolar, possibilitando o desenvolvimento da cidadania consciente e prática, mostrando aos alunos que é possível diminuir o consumo para amenizar o problema do resíduo solido.

Nesse sentido, o projeto teve como objetivo inicial selecionar o público alvo dentre as turmas de 6º e 7º ano com as características desejadas, para abordar o tema. As informações primárias foram obtidas em sala, por meio de perguntas sobre o cotidiano, tais como: o que consumimos mais? O que fazemos com o nosso lixo? Foi feito também um levantamento da quantidade consumida e muitas vezes desperdiçada, por aluno, de água, luz, papel, metal, plástico e orgânico feitas, que possibilitou uma visão mais clara sobre quais produtos são consumidos e qual é o destino do resíduo solido acumulado no dia-a-dia e ainda, a quantidade de resíduos gerada pelos alunos.

Numa segunda fase foram realizadas algumas oficinas em conjunto com os professores, das disciplinas de história, geografia, matemática, inglês, educação física, artes, português e ciências, do ensino fundamental II, tais como: confecção de cestas de jornal (figura 1); confecção de cartazes; pesquisa, coleta de material, reciclagem de garrafas pets e outros objetos em oficinas (figura 2); horta; limpeza dirigida e contínua da sala de aula. Foram desenvolvidas algumas atividades em grupos sobre o tema, a partir de textos e filmes educativos trabalhados em sala de aula.

 

 Figura 1 - Oficina de confecção de cestas de jornal

Foto: GUSSON, M. C. Maio, 2009.

 

Figura 2 - Oficina confecção de objetos.

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Foto: GUSSON, M. C. Junho, 2010.

 

O projeto foi desenvolvido com um total de 42 (quarenta e dois) alunos da Escola Municipal Allan Kardec, e iniciou-se com a exibição do vídeo “A História das Coisas”, durante a aula de geografia proporcionando aos alunos a noção do quanto a sociedade polui com o consumo exagerado. Após o vídeo, iniciou-se uma discussão sobre o consumismo desordenado no cotidiano de cada um deles. Essa etapa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2010, com a discussão de alguns textos e vídeos trabalhados em sala de aula, contextualizados conforme o conteúdo ministrado pelos educadores das disciplinas mencionadas, buscando evidenciar soluções possíveis para o problema do consumismo. No mesmo semestre, aconteceu uma oficina direcionada ao dia das mães, em que a proposta foi fazer uma cesta de jornal, reforçando assim, a importância do reaproveitamento de materiais. As crianças ficaram empolgadas com a atividade. 

No segundo semestre deu-se sequência ao trabalho com o cultivo de uma horta e o plantio de diversas outras plantas nos espaços disponíveis na escola. Essa experiência fez com que os alunos, ao participar da oficina voltada para a preservação e manutenção do meio ambiente, mudassem o comportamento, mobilizando inclusive outros colegas a preservar o ambiente escolar sempre limpo.  Tal oficina aconteceu no período de novembro de 2009 até Outubro de 2011.

Destacamos que o projeto foi além das expectativas iniciais, pois houve um envolvimento coletivo dos educandos, educadores e de todos os funcionários da escola. Alguns estudantes aprofundaram no estudo sobre o cultivo da horta e compostagem, com o objetivo de fazer em casa. Trabalhamos também com uma oficina sobre reciclagem de cadernos, na qual os alunos aproveitaram as folhas de cadernos que sobraram e seriam jogadas fora. Eles trouxeram figuras de casa e a partir daí juntamos as folhas e montamos um novo caderno personalizado. Essa metodologia foi utilizada por outros professores do ensino fundamental I e II da escola. Os alunos puderam relatar as mudanças no comportamento cotidiano a partir das reflexões sobre o meio ambiente e as práticas na escola.

Salientamos que ao final do projeto, professores de alunos de 06 a 08 anos, assumiram o cultivo da horta com seus alunos, já que os mesmos se interessaram ao verem os colegas assumirem as práticas voltadas à conservação ambiental. Trabalhamos ainda, uma oficina de jogos infantis a partir de jogo da memória feito com figuras de panfletos de lojas.  

 

4. Considerações finais

 

Ao longo das atividades desenvolvidas neste projeto, que visou ações pedagógicas voltadas para educação ambiental, os professores observaram a superação da mera transmissão de conhecimentos e o envolvimento efetivo do educando com a causa ambiental. Por meio de oficinas que trabalharam as questões ambientais e a relação das mesmas com cotidiano escolar e o dia-a-dia dos estudantes, pudemos obter êxito no processo ensino aprendizagem do aluno.

 Os projetos desenvolvidos na escola sobre a educação ambiental devem ser voltados para além das salas de aula, e no planejamento das ações pedagógicas é extremamente importante sensibilizar os alunos e a comunidade acerca das transformações necessárias para uma boa convivência social em um ambiente saudável. 

É nesse contexto que a educação no seu todo constitui uma arena, um espaço social adequado e que abriga uma diversidade de praticas de formação de sujeitos, por isso a necessidade de mais projetos baseados na importância da educação ambiental. Segundo CARVALHO (2004) a educação ambiental acrescenta uma especificidade: compreender as relações sociedade - natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais. Neste sentido o projeto político - pedagógico deve contribuir para uma significativa mudança de valores e atitudes do educando.

Nesse sentido, o esperado é que haja uma mudança no comportamento dos estudantes da comunidade escolar, visando um processo de transformação da realidade com objetivo de desenvolver no ser humano, a consciência da relação harmônica com a natureza.

Ao final do projeto pudemos perceber uma importante mudança nos hábitos dos estudantes, o que confirmou que é papel do educador promover o envolvimento da escola, em propostas que visam engajamento de alunos e professores partindo das atitudes cotidianas. Notamos que o objetivo foi alcançado e os estudantes expressaram o conhecimento adquirido na realização de atividades como: realização de jogos didáticos, dramatizações, mural, exposições artísticas e coleta seletiva.

A conscientização por meio da reflexão é um instrumento eficaz para modificar conceitos arraigados, é necessário desenvolver com os alunos propostas didático-pedagógicas para internalizar os valores de trabalho em grupo e respeito à sociedade e ao meio ambiente.

Uma das atividades que os alunos demonstraram maior interesse foi o cultivo da  horta, na qual participaram ativamente da construção dos canteiros , do plantio das hortaliças e também de cuidados como: molhar os canteiros, colher hortaliças, arrancar ervas daninhas dentre outros.

Notamos também o crescimento da preocupação com a preservação do meio ambiente e a preocupação com a quantidade de resíduo sólido gerado na escola e em casa. Os estudantes passaram a se preocupar com a adoção de medidas simples e de grande importância para preservação do ambiente como evitar o desperdício de água e energia nas atividades realizadas no cotidiano

Por meio dos resultados obtidos e da relação entre a prática e as leituras prévias do tema norteador do trabalho, reforçamos a necessidade de trabalhar mais o tema da educação ambiental na escola, pois entendemos que o conhecimento adquirido na escola, é transmitido pelos alunos aos amigos e familiares, disseminando a conscientização ambiental para a comunidade.  Segundo GADOTTI (2000), o processo educativo por ela desencadeado visa a formação de um cidadão cooperativo e ativo, contrariamente ao que vem sendo desenvolvido pelas pedagogias tradicionais, o que busca é a constituição de uma sociedade sustentável.

Finalmente destacamos que o estudo demonstrou a necessidade de se trabalhar mais esse tema, visando amenizar o grave problema ambiental vivemos nos dias atuais. Por intermédio da educação ambiental nas escolas, podemos incentivar as boas práticas de consumo responsável, visando a melhoria do meio ambiente e formando cidadãos conscientes.

 

5. Referências

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Ilustrações: Silvana Santos