Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Trabalhos Enviados
04/09/2014 (Nº 49) INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1838 
  
Praticas de inovação e sustentabilidade: Estudo de caso em uma empresa de transporte rodoviário de passageiros

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

 

Autores:

Eleanara Pereira Guedes- Servidora da UFSM, Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: eleanara_pereira@yahoo.com.br

 

Flavia Luciane Scherer – Professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM e coordenadora do Curso de Mestrado Profissional em Gestão de Organizações Públicas. E-mail: flaviascherer@globo.com

 

Diego Echevengua Borges – Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil. E-mail: diego.e.borges@hotmail.com

 

Amanda de Lemos Mello - Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria, UFSM. E-mail: amandamello6@yahoo.com

 

RESUMO

Este estudo objetivou identificar e analisar as práticas adotadas em relação à inovação e sustentabilidade em uma empresa que atua no transporte rodoviário de passageiros, na região central do Rio Grande do Sul. Os aspectos analisados visam a compreender como a empresa organiza suas atividades na busca da inovação e da sustentabilidade. Para realizar este estudo utilizou-se a pesquisa qualitativa por meio de estudo de caso exploratório-descritivo. Os dados primários foram coletados por intermédio de entrevistas. Levantou-se os dados secundários em documentos da empresa e journals. O estudo identificou que a empresa possui uma equipe técnica multidisciplinar, que atuam nos processos de recrutamento, seleção e treinamento de motoristas e colaboradores. No que diz respeito à sustentabilidade a empresa realiza dois projetos, o projeto de economia de água e reutilização e o projeto despoluir que tem o objetivo de controlar a emissão de gases poluentes de motores a diesel. Em relação à Responsabilidade Social a empresa desenvolve junto à comunidade Projetos Social. Concluiu-se que a Planalto Transportes obedece a lógica competitiva, pois dentro do seu mercado de atuação destacou-se pelo pioneirismo em oferecer serviços com conforto, qualidade e segurança. Em seus sessenta anos no meio empresarial garantiu a credibilidade de seus serviços e a fidelidade de seus clientes.

PALAVRAS-CHAVE: Prestação de serviços; Inovação; Sustentabilidade.


1 INTRODUÇÃO

            Atualmente, o acentuado desenvolvimento tecnológico provoca uma mudança de comportamento das empresas em geral. A velocidade com que a tecnologia e a inovação estão sendo inseridas nas novas técnicas de gestão e diferenciação de produtos exige que as empresas adotem uma postura pró-ativa para desenvolverem novas competências.

            Entende-se que a inovação parece ser de caráter inevitável para a sobrevivência das empresas, pois a empresa que não desenvolver inovações em produto, processo ou gestão no atual cenário competitivo global poderá ser suplantada pela concorrência, comprometendo sua competitividade e lucratividade do negócio (ARBIX, 2005; HO, LIN e CHIANG, 2009).

O cenário atual propõe para as empresas do setor de transporte uma nova postura empresarial que está voltada para a criatividade e o desenvolvimento sustentável. Essa nova postura visa cultivar um relacionamento ético e responsável com seus clientes, fornecedores, colaboradores, comunidade local e os gestores das mesmas.

Acredita-se que a capacidade de inovação em serviços é a chave da produtividade e a concorrência pode ser entendida como algo que impulsiona a produtividade, pois caso a empresa não atente para aspectos relacionados com a inovação, poderá perder parcelas de mercado para competidores mais capacitados. Simmie e Strambach (2006) ratificam o exposto, salientando que as economias mundiais precisam se concentrar em produtos e serviços que agreguem valor.

O setor de transporte envolve vários aspectos, uns afetam diretamente e outros indiretamente a população. Por exemplo, o próprio transporte em si gera grande quantidade de gás carbônico na atmosfera. Aronsson e Brodin (2006) apud Zailani, Amran e Jumadi (2011) expõem que o setor de transporte é uma das principais atividades que geram forte pressão sobre o meio ambiente, particularmente no que se refere a poluição do ar e barulho. No entanto, nos últimos anos a legislação tem exigido do setor de transporte medidas e condutas preventivas dos riscos.

Ultimamente, as empresas estão engajadas em evoluir de maneira sustentável, sendo que a divulgação para a sociedade de suas ações e práticas sustentáveis é caminho proposto para obter o reconhecimento dos legisladores, clientes e da sociedade em geral (ISAKSSON et al. 2011). Entende-se que a legislação ambiental normatiza e legitima as ações empresariais, atentando para a utilização adequada e eficiente de matérias-primas e energia.

Ressalta Campos et. al (2007) que as melhorias socioambientais proporcionam benefícios para a empresa, como a redução de custos e condições de trabalho adequadas para que os trabalhadores exercitem suas atividades com segurança e bem estar.

Diante do exposto, as empresas que prestam serviços, em especial, o setor de transportes, precisam responder de forma rápida e efetiva às novas demandas, assim como devem gerenciar seus bens e os recursos de maneira responsável, superando o desafio de inovar e criar novas estratégicas sustentáveis de atuação. Nesse contexto, o presente estudo tem o objetivo identificar e analisar as práticas de inovação e de sustentabilidade na Planalto Transportes Ltda., empresa que atua no setor de transporte rodoviário de passageiros, e que pertence ao Grupo JMT Administração e Participações Ltda.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Inovação em serviços

            Desenvolver a criatividade e fomentar novas ideias tornou-se uma prática essencial dentro das empresas para garantir o seu crescimento econômico e obter vantagens competitivas (SATO, 2013). Aparecida et al. (2013) complementa o exposto ao enfatizar que na economia contemporânea a inserção da inovação é o principal ponto a ser considerado pelos gestores para alavancar o para o desempenho econômico das empresas.

            Segundo Arbix et. al. (2005) na década de 1990 surgiu uma nova visão empresarial, devido à competitividade originada pela globalização mundial e pela abertura da economia, que apresentou um novo cenário para as empresas, apontando as seguintes questões: estratégias voltadas para a inovação e diferenciação do produto; mudanças estruturais e organizacionais; adequação das firmas aos padrões internacionais, via inovação tecnológica; inovação e melhora no desempenho exportador das firmas; e a  Internacionalização das firmas com foco na inovação tecnológica.

            O Manual de Oslo (2004) mostra que os gestores das empresas inovadoras possuem características que podem ser agrupadas em duas categorias de competências: a primeira, competências estratégicas, que tem visão de longo prazo, capacidade de identificar e até antecipar tendências de mercado, disponibilidade e capacidade de coligir, processar e assimilar informações; e a segunda, competências organizacionais, que aborda a disposição para o risco e capacidade de gerenciá-lo, qualificação interna e cooperação entre todos departamentos e cooperação externa com consultorias e envolvimento de toda empresa.

            Torna-se importante entender as diferentes formas que assume a inovação, as quais podem ser resumidas como os “4Ps” da inovação propostos por  de acordo com Bessant e Tidd (2009, p.30): - Inovação de produto: mudança nas coisas (produtos/serviços) que uma empresa oferece; - Inovação de processo: mudanças nas formas em que as coisas (produtos/serviços) são criadas e ofertadas ou apresentadas ao consumidor; - Inovação de posição: mudanças no contexto em que produtos/serviços são introduzidos; - Inovação de paradigma: mudanças nos modelos mentais básicos que norteiam o que a empresa faz.

            A inovação é muito abrangente e envolve não somente o incremento de novas tecnologias e desenvolvimento de novos produtos e processos, porque conforme a terceira versão do Manual de Oslo de 2004, que retirou a palavra “tecnologia” de sua definição com o intuito de mostrar que a inovação pode ser obtida em produtos, processos, serviços, marketing e sistemas organizacionais.

2.1 Sustentabilidade

            O desenvolvimento sustentável é entendido como a capacidade de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Esta definição criada pelas Nações Unidas propunha harmonizar o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental (WWF, 2011).

            Manzini e Vezzoli (2005) salientam que a sustentabilidade ambiental em nível regional e planetário está relacionada com as atividades humanas, as quais não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras.

            Para o melhor entendimento sobre sustentabilidade torna-se oportuno mencionar o conceito de sociedade sustentável, pois uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco os recursos naturais como o ar, a água, o solo e a vida vegetal e animal. Na concepção de Philippi (2001) a sustentabilidade pode ser vista como uma capacidade da empresa de auto-sustento e de preocupação com o meio ambiente e o bem estar social de todas as partes envolvidas no processo.

            A sustentabilidade é um processo que se revela capaz de manter-se num padrão positivo de qualidade perpétuo com autonomia de manutenção. De acordo com Trigueiro (2005, p.19) “O conceito foi introduzido no início da década de 1980 por Lester Brown, fundador do Wordwatch Institute, que definiu comunidade sustentável como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras”.

            Ao longo dos anos, o conceito de sustentabilidade passou por vários entendimentos, mas a essência da sustentabilidade envolve conscientização ambiental e social, de maneira que o desenvolvimento sustentável só poderá acontecer mediante os esforços de toda a sociedade, sem a exclusão de qualquer segmento. Assim, as empresas desenvolvem ações, programas, projetos e estratégias voltadas para a sustentabilidade do seu negócio.

            Dessa forma entende-se que a sustentabilidade é o compromisso empresarial com o desenvolvimento sustentável, pois, delimitando o foco no setor de transportes como um todo, sabes-se que dentre os atividades econômicas presentes em nossa sociedade, este setor é um dos maiores contribuintes para a grande quantidade de ameaças e problemas ambientais em nosso planeta. Diante disso, sabe-se que os clientes ao contratar serviços de transporte consideram a imagem da companhia ofertante do serviço, avaliando se esta possui uma relação harmoniosa com a sociedade (BJORKLUND, 2011).


2.3 Inovação e Sustentabilidade

             A inovação pode ser considerada uma espada de dois gumes, ou seja, sabe-se que o crescimento econômico e populacional têm ocorrido sob o leque de inovações tecnológicas, porém, Westley et al. (2011) acreditam que a capacidade humana é um input primordial para gerar inovação prol da sustentabilidade global.           Nessa mesma linha de pensamento, Baumgartner (2013) expõe que o desenvolvimento sustentável pode ser uma fonte de inovação e lucratividade, porém, as organizações que desejam inserir esta temática aos seus processos e produtos devem fazer uso de um modelo norteador que lhes permita identificar as oportunidades e as ameaças ligadas ao processo de desenvolvimento, controle e aperfeiçoamento de suas estratégias.

            No entanto, ainda é válido ressaltar que para transferir ideias sustentáveis para o processo de desenvolvimento de atributos em produtos e serviços que poderão ser valorizados pelos clientes, as empresas encontram-se incertas sobre as consequências de suas soluções inovadoras sobre o meio ambiente. Dessa forma, a realização de parcerias externas com consultores e agências governamentais, surgem, aliada a capacitação de seus ativos, como plataformas que oferecem suporte no processo de desenvolvimento de inovações (KESKIN, DIEHL e MOLENAAR, 2013).

            O processo inovador voltado à sustentabilidade deve considerar o manuseio ecologicamente correto do ser humano sobre o ambiente natural, níveis de resiliência e renovação dos recursos naturais; considerações sobre o ciclo de vida do produto e destinação ou reutilização dos resíduos; investimentos futuros sem danos ambientais, etc.. ao mesmo tempo que entrega um produto sustentavelmente competitivos, atentando para a viabilidade econômica, justiça social e sustentabilidade econômica(SATO, 2013).

            Zailani, Amran e Jumadi (2011) salientam que é necessário integrar inovações sustentáveis no âmbito da indústria de transporte, pois inovações “verdes” agem como ferramentas voltadas a diminuição de poluição e dos gases do efeito estufa, e, ao mesmo tempo, propiciam as organizações obter vantagem competitiva na atual conjuntura global, pois, conforme os autores, a realização de novas formas de realizar inovação emerge como o principal fator a ser relevado para empresas que buscam reconhecimento e competitividade.

            Tomando a pesquisa realizada pela comissão europeia, Hyard (2013) salientam em seu estudo que o controle dos gases do efeito estufa emitidos pelo setor de transporte poderá ter aumento de 74% ,entre 1990 e 2050. Diante dessa previsão, os autores asseveram que se torna primordial para as empresas gerenciar a emissão desses gases na atmosfera . Políticas públicas geralmente incentivam o desenvolvimento de inovações tecnológicas nos meios transporte com o intuito de reduzir o consumo de combustível ou modificar a base de energia dos veículos, porém, a emersão de inovações não tecnológicas como o investimento na infraestrutura organizacional para reduzir o consumo de água e energia, assim como no estabelecimento de medidas para reorganizar e otimizar rotas para a realização de transporte de passageiros ou de carga, podem surgir como ferramentas para lidar com os problemas sociais e ecológicos derivados dos transportes.

            Isaksson et al. (2011) identificaram ao estudar 41 provedores de serviços logísticos Italianos e Suecos que o principais fatores que os impulsionam à adotar práticas sustentáveis tem relação com o aumento da competitividade da empresa,  melhora de imagem e um melhor relacionamento com a clientela. Por outro lado, quando os participantes da pesquisa foram arguidos sobre os fatores que obstruem o desenvolvimento de atividades voltadas a sustentabilidade, os pontos elencados foram a falta de ambos, incentivos financeiros e legislação clara para orientar as organizações.

            O encorajamento da alta administração para que os preceitos da sustentabilidade sejam considerados no desenvolvimento de inovações, assim como a interatividade informal entre departamentos e a capacitação do capital humano surgem como fatores essenciais para que atividade inovadora voltada à sustentabilidade tome forma e seja expandida por toda estrutura organizacional (HO, LIN e CHIANG, 2009).  

3 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DE PESQUISA

            Para Severino (2007), a metodologia indica o modo como se pretende proceder na investigação e exposição da pesquisa, bem como conduz uma pesquisa e tem por finalidade analisar idéias, informações, resultados, limitações ou distorções de sua utilização.

3.1 Método de pesquisa e procedimento de coleta e análise dos dados

            Utilizou-se o método estudo de caso exploratório-descritivo, o qual não objetiva encontrar uma resposta definitiva ao problema de pesquisa, mas sim, explorar o problema a fim de levantar hipóteses para estudos futuros (GIL, 2010).  Os dados foram coletados e analisados por meio de levantamento bibliográfico, documentos da empresa e precedidos por entrevistas, a fim de compreender o tema em foco.

            Os dados primários, de natureza qualitativa, foram coletados através de questionários aplicados a Técnica Segurança do Trabalho e ao Auxiliar do Departamento Recursos Humanos da Planalto Transportes, no mês de junho e dezembro de 2011. Os dados secundários foram obtidos no sítio eletrônico da empresa.

            No que se refere ao tema inovação, estruturou-se o questionário com perguntas abertas nos seguintes assuntos: 1º) Condição mercadológica; 2º) Inovação para a melhoria competitiva da empresa; 3º) Cooperação para a melhoria competitiva da empresa e perspectivas futuras.

            Quanto ao tema sustentabilidade, o questionário foi estruturado com perguntas fechadas, abordadando os seguintes temas: 1º) Operação de transporte; 2º) Operações de armazenagem e escritórios: 3º) Tratamento aos funcionários; 4º) e Atendimento aos requisitos legais e Atendimento às questões sociais.

            A análise dos dados iniciou-se pela interpretação dos dados primários, que foram os questionários. Após reunir os dados primários, buscaram-se os dados secundários e realizou-se a coleta de dados documentais da empresa. A partir deste momento foram confrontados os dados obtidos da pesquisa, analisando-os à luz do referencial teórico.

4 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA PLANALTO TRANSPORTES LTDA

            Em 1966, a empresa instalou-se em Santa Maria e, no final do ano de 1999 a empresa constrói uma edificação moderna, localizada às margens da BR 158 km 323, nº 800, Bairro Cerrito, Santa Maria (RS), em um complexo conhecido como a Matriz administrativa do grupo JMT.

O grupo controla quatorze empresas, as quais atuam em diversos seguimentos da sociedade, como transporte rodoviário e aéreo de passageiros e cargas, turismo, estações rodoviárias, revenda de veículos comerciais e agropecuária. A empresa se destaca na participação social nas regiões onde atua, fomentando o espírito de solidariedade e preservação ambiental entre seus colaboradores, de forma que eles se transformem em agentes multiplicadores na comunidade.

Atualmente, a Planalto é uma das maiores empresas de transporte do estado, conta com uma frota de mais de 280 ônibus, percorre aproximadamente 36.412,19 kms, transportando em média 4.487.857 passageiros por ano, consolidando-se e sendo reconhecida como um dos nomes fortes do Rio Grande do Sul, com ascendente projeção no cenário nacional. A empresa oferece oportunidades de trabalho e estágio em diversas áreas, gerando mais de 1000 empregos diretos.

4.1 Práticas em relação à inovação em serviços da Planalto Transportes

As práticas adotadas pela empresa Planalto Transportes LTDA ao longo dos anos, possibilitaram ganhar confiabilidade e competitividade no mercado, sendo que a preocupação da empresa é permanente com o conforto e a segurança dos seus clientes. Portanto, serão elencadas as práticas identificadas nos serviços prestados pela empresa.

A empresa em relação a condição mercadológica, atua com prestação de serviços de transporte rodoviário de passageiros coletivo. A Planalto Transportes possui o maior número de linhas e itinerários do território gaúcho, atua em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia e Distrito Federal, com mais de 50 bases distribuídas ao longo destas unidades da federação. Também, realiza linhas internacionais, para o Uruguai e Argentina.

Sobre a segunda questão: a inovação para a melhoria competitiva da empresa foi citado pelo entrevistado que a empresa busca constante atualização, sendo enfatizados aspectos relacionados a controle do tráfego, renovação na frota do ônibus e tecnologias utilizadas nas atividades administrativas da empresa e nos serviços prestados para os clientes. Tal achado vai ao encontro com o pensamento de Porter (1989); Aparecida et al. (2013) pois verifica-se que a empresa concebe a temática inovação como prática elementar em seus processos, o que, dentre outros motivos, contribui para a manutenção de sua posição competitiva da Planalto no segmento de transporte de passageiros.

No aspecto do controle de tráfego, a empresa renova os equipamentos de operação, além de utilizar equipamentos de alta tecnologia que permitem o controle de tráfego e auxilia o motorista informações relevantes a segurança da viagem.

A frota de ônibus da empresa é renovada de 5 em 5 anos, com carros de última geração. As renovações ocorrem periodicamente, uma vez que a frota de ônibus passa por rotineiras revisões preventivas e corretivas dos veículos. Uma das modificações recentes foi a evolução das carrocerias de madeira às de metal, dos motores convencionais aos eletrônicos ecológicos, que possuem redutor de poluentes (motor ecológico).

Quanto à tecnologia utilizada na empresa tanto nas atividades administrativas quanto nas disponibilizadas aos clientes, a empresa implanta sistemas de alta tecnologia, oferecendo aos colaboradores eficiência e aos clientes, segurança e conforto no transporte.

No que se refere a cooperação para a melhoria competitiva da empresa e perspectivas futuras, tal como exposto pelo Manual de Oslo (2004), a Planalto Transportes visa garantir melhorias em sua performance e tem mantido relação de cooperação com Serviço Social do Transporte (SEST) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), entidades que têm por objetivo valorizar e qualificar transportadores autônomos e trabalhadores do setor de transporte.

Além disso, na mesma linha de pensamento presente no Manual de Oslo (2004) identificou-se que a empresa pesquisada busca aperfeiçoar suas competências a partir da qualificação interna, pois, a mesma busca otimizar os serviços prestados por meio do investimento em cursos de treinamento e qualificação para seus colaboradores. No entanto, a preocupação não está somente em qualificar seus colaboradores e atender os clientes com presteza, e sim, alocam-se tecnologias nos serviços administrativos e operacionais.

4.2 Práticas em relação à sustentabilidade da Planalto Transportes

No que se refere à questão de operação de transporte abordou-se planos de controles e projetos que a Planalto desenvolve para manter suas atividades de operação. Quanto ao controle de emissões de poluentes atmosféricos, a empresa mantém o controle ao adquirir seus veículos com redutor de poluentes (motor ecológico) e ar-condicionado ecológico, que não agride camada de ozônio.

A preocupação da Planalto Transportes é estritamente correlacionado com as considerações teóricas de Zailani, Amran e Jumadi (2011) os quais salientam que é necessário integrar inovações sustentáveis no âmbito da indústria de transporte, pois inovações “verdes” agem como ferramentas voltadas a diminuição de poluição e dos gases do efeito estufa, e, ao mesmo tempo, propiciam a obtenção de vantagem competitiva. Outro controle, que ocorre anualmente, é a mensuração da produção de ruídos. Além do exposto, desde 2011 a empresa desenvolve o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais- PPRA.

Existe uma preocupação da empresa com a redução do consumo de combustível, portanto, faz o controle trimestralmente. Ampliou seus programas em 2006, com a criação do Poupa Tanque, que tem a finalidade de conscientizar e motivar o público interno. Esse programa visa, também, premiar os motoristas que economizam combustíveis e os praticam uma condução defensiva exemplar. Com o programa Poupa Tanque à empresa teve uma economia no combustível de 30%, a qual foi revertida em prêmios. No ano 2007 iniciou o programa Super Time (ZAILANI, AMRAN e JUMADI, 2011).

A Planalto apresenta o controle de acidentes diariamente, porém a empresa não possui o controle de acidentes com produtos perigosos. A empresa tem o plano de atendimento emergencial e plano de descarte dos pneus, mas não relatou qual a forma que desenvolve esses planos. Foi referido pelo entrevistado que a empresa desde sua fundação realiza o processo quinzenal do plano de descarte de fluidos (ex. combustíveis, óleo do motor e freios, fluido do radiador e filtro de óleo). Ainda, foi relatado que a empresa utiliza o plano de descarte de baterias automotivas, a qual existe uma relação de parceria com os fornecedores.

No que diz respeito ao segundo tema analisado, operações de armazenagem e escritório, a empresa não desenvolve nenhum plano ou projeto relacionado à construção do galpão com tecnologia sustentável (ex. utilização de material de demolição, ecotelha, ecopiso, explorar a ventilação e a iluminação natural, entre outras) e nem de redução do consumo de energia. Porém, a empresa desenvolve outras ações, como o Programa de redução do consumo de água Interno. Esse programa iniciou em 2003 e visa à conscientização sobre a utilização da água e energia elétrica de forma racional e reciclagem do lixo.

O programa de economia da água envolve o processo de armazenagem e reutilização da água. A empresa para captar a água da chuva, instalou tubulações em torno de todo o telhado da empresa. A água é armazenada em uma grande piscina subterrânea com capacidade para 300 mil litros e, depois, utilizada para a lavagem de ônibus, caminhões e limpezas diversas.

A empresa faz a utilização de equipamentos com controle de poluentes atmosféricos e de ruídos desde a sua fundação. Tais achados demonstram que a cultura da empresa desde sua fase inicial no mercado de transporte procura amenizar o impacto de suas ações obre o meio natural e social (SATO, 2013). O projeto despoluir tem o objetivo de controlar a emissão de gases poluentes de motores a diesel. O controle é feito por meio de um aparelho chamado NA-9000E, que mede o nível de opacidade da fumaça preta emitida, composta por gases como CO, HC e NOX. Se a emissão de gases do carro estiver abaixo dos níveis estabelecidos, ele estará aprovado, recebendo um selo do projeto, que é afixado no pára-brisa do ônibus. Esse processo realiza-se novamente após 90 dias.

A empresa faz a manutenção dos equipamentos periodicamente e possui uma parceria com os seus fornecedores para o descarte de baterias e lâmpadas fluorescentes, de maneira que retorna para o fornecedor. A Planalto não tem plano ou projeto sobre a utilização de embalagens recicláveis e reutilizáveis, e plano de descarte de equipamentos de informática e comunicação. 

Outro plano que a empresa desenvolve é o descarte de resíduos de lavagem. A utilização do equipamento SAO (separador de água e óleo) usado para separar o óleo da água proveniente do abastecimento, da oficina e da lavagem da empresa. Ao chegar ao SAO, que está distribuído em vários pontos da empresa, a água poluída (água+óleo) é separada por um sistema de tanques e coletores tubulares, que captam somente o óleo e o armazenam para depois ser eliminado por processos ecologicamente corretos. A água, que agora não é filtrada, pode ser eliminada sem poluir o meio ambiente.

No que diz respeito ao terceiro tema analisado, tratamento aos funcionários a empresa, desenvolvem treinamentos para seus colaboradores na própria empresa, pois são treinados com procedimentos técnicos e operacionais. A empresa possui uma equipe técnica multidisciplinar, composta por engenheiros, técnicos e psicólogas que atuam especificamente no recrutamento, seleção e treinamento dos colaboradores (CORAL, 2002; KESKIN, DIEHL e MOLENAAR, 2013).

O processo de seleção é minucioso, com entrevistas, avaliações psicotécnicas e exames de saúde, os motoristas admitidos recebem um treinamento adicional, onde é possível adaptar o novo funcionário à empresa. Em 2011 a empresa desenvolveu o Programa Guiar 2011/2012, que trata do plano de carreira para seus colaboradores.

A reciclagem do treinamento de motoristas ocorre a cada 5 anos, com cursos de treinamento que totalizam 132 horas de teoria e mais 660 km rodados de aulas práticas, com acompanhamento permanente dos motoristas orientadores.

Quanto ao quarto tema, o atendimento às requisitos legais e questões sociais, a pesquisa mostrou que a empresa ainda busca as certificações e teve como marco inicial para iniciar as adequações o ano de 2008. O objetivo é adequar-se às normas da ISO-26000, que certifica as empresas na área de transporte intermunicipal a partir de 2009.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante este estudo, pode-se perceber que a Planalto Transportes obedece a lógica competitiva, pois dentro do seu mercado de atuação destacou-se pelo pioneirismo em oferecer serviços com conforto, qualidade e segurança. Em seus sessenta anos no meio empresarial garantiu a credibilidade de seus serviços e a fidelidade de seus clientes. A competitividade da empresa no seu mercado de atuação por muitos anos atribui-se a preocupação permanente em satisfazer e atender as expectativas dos clientes.

Entende-se que a Planalto transportes introduziu serviços com qualidade, tecnologia, segurança e conforto distinguindo-se de seus concorrentes a partir de uma prestação de serviços diferenciada, pois dispõe de uma frota com tecnologia sócio-ambiental de última geração, de serviços prestados por profissionais qualificados, que disponibiliza a tecnologia tanto para os seus colaboradores, quanto para seus clientes ou usuários, implementa planos e programas voltados para a conscientização do meio ambiente e participa de projetos sociais.

Logo, mesmo sem o suporte das esferas governamentais para alavancar seus processos inovadores, a empresa acompanha as evoluções do ambiente no qual está inserida e se mostra com pré-disposição para a inovação e sustentabilidade.

Espera-se que o resultado desse estudo possa contribuir para a aplicabilidade nas empresas do setor transporte. Por fim, sugere-se para estudos futuros a possibilidade de investigar planos e programas, os quais a empresa não mostrou aplicabilidade em suas operações.

 

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ARBIX, G. Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. XVII Fórum Nacional China e Índia como desafio e exemplo e a reação do Brasil... para cima, Rio de Janeiro, 2005.

BAUMGARTNER, R. J. Managing Corporate Sustainability and CSR: A Conceptual Framework Combining Values, Strategies and Instruments Contributing to Sustainable Development. Corporate Social Responsibility and Environmental Management. 2013.

BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009.

BJORKLUND,M. Influence from the business environment on environmental purchasing—Drivers and hinders of purchasing green transportation services. Journal of purchasing and supply  management. V. 17.N. 1. pp. 11-22. 2011.

CAMPOS, E.M., SILVA, E.C., GOMEZ, C.R.P.,  Influência da Sustentabilidade na Competitividade Empresarial: Um Modelo da Relação Através da Utilização de Indicadores. Anais do IX – ENGEMA, Curitiba, PR, Brasil, 2007.

CORAL, E. Modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade empresarial. 2002. 282f. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) UFSC, Florianópolis – SC, 2002.

GIL, A. C. Como elaborar um projeto de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.

HO, Y.H., LIN C.Y., CHIANG, S.H. Organizational  determinants of green innovation implementation in the logistics industry. The International  Journal of Organizational Innovation, 2(1), pp. 5-12. 2009.

HYARD, A. Non-technological innovations for sustainable transport. Technological Forecasting & Social Change. Vol. 80 pp.1375–1386. 2013.

ISAKSSON, K.; BJORKLUND, M.; EVANGELISTA, P.; HUGE-BRODIN, M. The Challenge andAdoption of Green Initiatives for Transport and Logistics Service Providers  Proceedings of the 16ºAnnual Logistics Research Network Conference, 2011.

KESKIN, D.;   DIEHL, J. C.;  MOLENAAR, N. Innovation process of new ventures driven by sustainability. Journal of Cleaner Production. Vol.45, pp 50-60. 2013.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. FINEP — Financiadora de Estudos e Projetos, 2004.

PHILIPPI, L. S. A Construção do Desenvolvimento Sustentável. In.: LEITE, Ana  Lúcia Tostes de Aquino; MININNI-MEDINA, Naná. Educação Ambiental: Questões Ambientais – Conceitos, História, Problemas e Alternativa. 2. ed, v.  5. Brasília:Ministério do Meio Ambiente, 2001.

PLANALTO TRANSPORTES LTDA. Empresa do Grupo JMT Administração e Participações LTDA. Disponível em: < http://www.planaltopassageiros.com.br/site/> Acesso em: jun e dez 2011.

PORTER, M. E. A vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

SATO, S. A. S. Desenvolvimento sustentável para a base da pirâmide (BOP) baseado em recursos naturais renováveis amazônicos (PFNMs): O caso Reca. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.

SIMMIE, J.; STRAMBACH. The contribution of KIBS to innovation in cities: an evolutionary and institutional perspective. In: Journal of Knowledge Management, Vol. 10, N. 5; p. 26-37, 2006.

TRIGUEIRO, A. Meio ambiente no século 21, Autores Associados LTDA,            Campinas, 2005.

WESTLEY, F.; OLSSON, P.; FOLKE, C.; HOMER-DIXON; T.; VREDENBURG, H.; LOORBACH, D.; THOMPSON, J.; NILSSON, M. LAMBIN, E.; SENDZIMIR, J.; BANERJEE, B.; GALAZ, V.; LEEUW, S. V. Tipping Toward Sustainability: Emerging Pathways of Transformation. AMBIO. Vol. 40: pp.762–780. 2011

  WWF BRASIL, ONG. Disponível em:   <http://www.wwf.org.br/empresas_meio_ambiente/porque_participar/sustentabilidade/> Acesso: dez 2011.

ZAILANI S., AMRAN A., JUMADI H. Green innovation adoption among logistics service providers in Malaysia: an exploratory study on the managers’ perception. International Business Management, 5(3), pp. 104-113. 2011.

Ilustrações: Silvana Santos