Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA AO ENSINO MÉDIO: A UTILIZAÇÃO DOS MICROFÓSSEIS PARA O ENSINO DO SISTEMA LAGUNA-BARREIRA
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A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA AO ENSINO MÉDIO: A UTILIZAÇÃO DOS MICROFÓSSEIS PARA O ENSINO DO SISTEMA LAGUNA-BARREIRA

 

 

 

Andréia Cardoso Pacheco Evaldt1

Suelen Bomfim Nobre2

Soraia Girardi Bauermann3

Leticia Azambuja Lopes4

Júlia Bombardelli Leal5

 

 

 

1 Mestre em Geociências, Professora Pesquisadora na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, Brasil. E-mail:  andreia.pacheco@ulbra.br.

 

2 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na ULBRA, Canoas, RS, Brasil. E-mail: nobre.suelen@gmail.com 

 

3 Doutora em Geociências, Professora Pesquisadora na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, Brasil. E-mail: soraia.bauermann@ulbra.br

 

4 Doutora em Ciências, Pós-doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na ULBRA, Canoas, RS, Brasil. E-mail: leazambuja@gmail.com

 

5 Bolsista de Iniciação Científica Júnior no Laboratório de Palinologia da ULBRA Canoas, RS, Brasil. E-mail: lab.palinologia@ulbra.br

 

 

 

Resumo:

Estudiosos da área de Educação, têm enfatizado em seus trabalhos a utilização da pesquisa em todos os níveis educacionais, considerando-a como uma importante estratégia pedagógica, para estimular o espírito investigador do aluno. Com o objetivo de divulgar a Ciência produzida na universidade e contribuir para a formação dos alunos do Ensino Médio, foi elaborado um modelo didático do Sistema Laguna-Barreira, representando a Planície Costeira do Rio Grande do Sul, com o intuito de propiciar a identificação dos microfósseis e observar de que modo os mesmos auxiliam na reconstituição ambiental. A maquete didática construída, foi apresentada em uma Feira de Ciências na região metropolitana de Porto Alegre/RS. Para avaliar o entendimento dos alunos acerca do tema proposto, foi aplicado um questionário fechado. A atividade aqui descrita permitiu ao público do Ensino Médio, o acesso ao saber científico, produzido no âmbito acadêmico e contribuiu para o crescimento da cultura científica no ambiente escolar. Pode-se concluir que a estratégia pedagógica proposta neste trabalho, trata-se de uma importante ferramenta para o Ensino de Biologia e Geografia.

 

Palavras-chave: Divulgação científica. Ensinar pela pesquisa. Microfósseis.

 

 

1     Introdução

A divulgação científica tem grande potencial, porém ainda é pouco difundida no meio educacional. É notável que mesmo com várias expressões e formas diversas de publicação, os conhecimentos científicos veiculados continuam de difícil compreensão às pessoas em geral e raramente chegam as escolas. Além do acesso restrito, o maior desafio está em como fazer com que esses avanços possam ser trabalhados na Educação Básica, cujo ensino, ainda, é fortemente influenciado pelos programas e conteúdos dos tradicionais livros didáticos.

Segundo Demo (2001) ensinar através da pesquisa, significa motivar o aluno a construir o seu próprio conhecimento e colocar essa ideia como meta de formação. O incentivo à formação do aluno pesquisador tem se tornado essencial no âmbito educacional, por diversas razões, entre elas destacamos a possibilidade de aprimoramento dos conhecimentos e a contingência do desenvolvimento pessoal. Para Demo (1997), a pesquisa deve ser utilizada nas escolas como princípio didático, porque constrói conhecimento, e como princípio educativo, porque promove o questionamento crítico da realidade e sua inovação. Nesse sentido, o conhecimento e a inovação se tornam as principais manifestações da pesquisa. Atualmente nas escolas de Educação Básica, a Feira de Ciências transformou-se em uma oportunidade para o desenvolvimento  das pesquisas.

A realização de Feiras de Ciências em uma escola traz benefícios para os estudantes e professores, além de mudanças positivas no trabalho em Ciências. Mancuso (2000) e Lima (2008) elencam como principais benefícios para os estudantes com o advento das Feiras de Ciências: crescimento pessoal e ampliação dos conhecimentos, aumento da capacidade de comunicação, mudanças de hábitos e atitudes com o desenvolvimento da autoconfiança, desenvolvimento do pensamento crítico, maior envolvimento e interesse nos estudos, disposição às descobertas e inovações e maior politização dos participantes.

Pereira et al.  (2000) enfatiza as principais ações pedagógicas vinculadas à realização das Feiras de ciências em uma escola, das quais destacamos: incentivar as atividades científicas, realizando ações interdisciplinares, envolvendo o planejamento e execução de projetos; estimular o aluno na busca e elaboração de conclusões a partir de resultados obtidos por experimentação. Estas ações possibilitam vislumbrar pressupostos de pesquisa, permitindo ao aluno a elaboração de critérios e a sistematização de fatos.

Mancuso (2000), explicita os modelos de trabalhos apresentados normalmente em Feiras de Ciências, de acordo com ele são três  tipos:

1) trabalhos de montagem: em que os estudantes apresentam artefatos a partir do qual explicam um tema estudado em ciências;

2) trabalhos informativos: em que os estudantes demonstram conhecimentos acadêmicos ou fazem alertas e/ou denúncias; 

3) trabalhos de investigação: projetos que evidenciam uma construção de conhecimentos por parte dos alunos e de uma consciência crítica sobre fatos do cotidiano.

Com o objetivo de descrever uma proposta de estratégia pedagógica para ensino de Biologia e Geografia no Ensino Médio, foi elaborada uma experimentação (maquete) que permitiu uma reflexão da comunidade escolar sobre as mudanças ambientais. Esta atividade teve como características metodológicas os trabalhos informativos e de montagem, de acordo com a classificação de Mancuso (2000). A atividade pedagógica foi aplicada no Colégio São Lucas, pertencente à Universidade Luterana do Brasil, localizada no município de Sapucaia do Sul. Para reconhecer os pressupostos de ensino e aprendizagem envolvidos na metodologia proposta, foi elaborado um instrumento avaliativo para análise das percepções dos alunos a respeito da temática abordada.

Como objeto para estudo exploratório foi utilizado o Sistema Laguna-Barreira do Rio Grande do Sul, que foi formado através da transgressão e regressão marinha ao longo do tempo. Este sistema desenvolveu as praias arenosas e o campo de dunas e representa o nível do mar ao tempo geológico, na planície costeira do estado do Rio Grande do Sul, nos períodos Terciário e Quaternário. São barreiras arenosas que contêm diversos tipos de sedimentos, alguns com potencial de preservação microfósseis marinhos e terrestres (Tomazelli & Villwock, 2005).

Muitas vezes, entre o campo de dunas do Sistema Laguna-Barreira, formaram-se pequenas lagoas que podiam ou não ter influência do mar. Estas lagoas possuíam um fundo lodoso e pouco contato com oxigênio e este ambiente é propicio para preservação de microfósseis (Tomazelli & Villwock, 2005).

Os microfósseis possuem tamanhos diminutos que podem ser originados através de pequenas partes de animais e plantas, organismos microscópicos ou até mesmo o esqueleto completo de organismos unicelulares protistas, além de partes reprodutivas de plantas e fungos, como os grãos de pólen e esporos. Estes microfósseis, quando preservados em ambientes específicos como fundos de lagoas, podem contar a história da vegetação e clima do local (Barth, 2004).

 

2     Materiais e métodos

Através de um programa de Iniciação Científica Júnior da Universidade Luterana do Brasil, a aluna de Ensino Médio Júlia Bombardelli Leal desenvolveu um estágio de um ano, no Laboratório de Palinologia da ULBRA, onde um dos temas trabalhados foi a Palinologia do Quaternário, tema também escolhido pela referida aluna para realização do seu trabalho na Feira de Ciências do Colégio ULBRA São Lucas.

Para representação da dinâmica do Sistema Laguna-Barreira foi desenvolvida uma maquete, onde se visualizava as dunas, os diferentes tipos de lagunas e onde também estavam representados os microfósseis marinhos e terrestres. Para a confecção do modelo laguna barreira apresentado foi utilizado um aquário de vidro 40x19 cm representando a planície costeira. Para representação dos microfósseis, foram confeccionados exemplos de grãos de pólen e dinoflagelados com material EVA e pintados com caneta esferográfica preta e azul. A água foi representada por papel celofane azul e as dunas por isopor coberto com areia. A apresentação foi desenvolvida de forma a apresentar os dados como trabalho informativo. De acordo com Mancuso (2000), o tipo de produção científica do tipo trabalho informativo é o qual os estudantes demonstram conhecimentos acadêmicos.

Com a finalidade de verificar as percepções dos alunos do Ensino Médio presentes na Feira de Ciências do Colégio ULBRA São Lucas em relação ao trabalho apresentado, foi elaborado um questionário contendo cinco questões fechadas, relacionadas a temática proposta de estudo que abordavam conhecimentos sobre os microfósseis.

 

3.    Resultados

São aqui apresentados e discutidos os resultados dos questionários aplicados na Feira de Ciências do Colégio ULBRA São Lucas. Os alunos participantes responderam um questionário fechado com as seguintes questões:

 

a.    Você gostou da apresentação do trabalho do Sistema Laguna-Barreira?

Esta questão foi elaborada com o intuito de mensurar o nível de interesse dos alunos em relação ao tema, que foi bem aceito pelos alunos, uma vez que 95% dos entrevistados afirmaram ter gostado da apresentação.

 

b.    Para você a explicação foi clara e objetiva?

Neste questionamento o objetivo foi analisar o grau de entendimento dos alunos após a explanação, que mostrou-se satisfatória para 90% dos alunos.

 

c.    Os pólens são os gametas masculinos das plantas?

Entre os entrevistados, 90% dos alunos responderam corretamente a questão.

 

d.    Os dinoflagelados são organismos microscópicos?

Os dinoflagelados são organismos microscópicos, com ocorrência em ambiente de água salgada, doce ou mixualino (águas salobras). Nesta questão 70% dos participantes responderam corretamente.

 

e.    Os microfósseis podem ser encontrados nos diferentes tipos de sedimentos do Sistema Laguna-Barreira?

Nesta questão 95% dos alunos responderam que os microfósseis podem ser encontrados nos diferentes tipos de sedimentos do Sistema Laguna-Barreira.

 

As respostas referentes às questões abordadas foram sintetizados estão apresentados no gráfico 1.

 

Gráfico 1: Gráfico indicando a porcentagem das respostas positivas e negativas de acordo com o questionário aplicado. No eixo x estão representados os números das questões e no eixo y as porcentagens das respostas referentes ao questionário aplicado aos discentes visitantes da Feira de Ciências do Colégio São Lucas – ULBRA.

 

A primeira questão demonstrou que embora o tema não seja presente nos currículos escolares e no cotidiano dos alunos, o mesmo tornou-se interessante devido a sua aplicação prática e inúmeras possibilidades interdisciplinares. Observamos nos resultados obtidos, que a maioria dos alunos desconhecia o fato de que o petróleo e o calcário eram formados a partir de microfósseis.

A segunda questão comprovou que a aluna Julia Bombardelli Leal aprendeu de forma satisfatória sobre o tema ao qual desenvolve a Iniciação Cientifica Júnior, pois a mesma atuou como mediadora do conhecimento transmitindo os conhecimentos adquiridos na academia a 90% dos ouvintes (participantes da Feira de Ciências).

Na terceira questão, o alto índice de acertos (90%) provavelmente é decorrente do conhecimento prévio adquirido através das aulas de Biologia com ênfase no Reino Vegetal.

Na quarta questão, o índice de acertos foi consideravelmente menor (70%) em relação a terceira questão. Isso deve-se ao fato de que os dinoflagelados não estão contemplados na grade curricular do ensino médio e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998).

Na quinta questão, 95% dos alunos responderam de forma incorreta, afirmando que os microfósseis podem ser encontrados em diferentes sedimentos do Sistema Laguna-Barreira. Este foi considerado o ponto frágil e que precisa ser reforçado dentro do tema abordado. A preservação de microfósseis é uma temática complexa até mesmo para pesquisadores da área, pois exige conhecimento multidisciplinar em Biologia, Geologia, Geografia e Paleontologia. Representar em uma maquete todas as interações deste Sistema é algo complexo. Entretanto, a representação de organismos microscópicos através de materiais concretos possibilitou aos alunos visualizar como são realizados os estudos de reconstituição ambiental.

Verificou-se que o uso de estratégias pedagógicas expositivas com materiais diversificados e de baixo custo financeiro, são uma importante ferramenta para o ensino de Ciências da Natureza no Ensino Médio e Técnico, contribuindo de forma efetiva nos processos de ensino e aprendizagem das disciplinas relacionadas ao tema. Alem disso, mostrou-se com uma potencial estratégia para o desenvolvimento da Educação Ambiental no ambiente escolar.

De acordo com os resultados apresentados, podemos concluir que a utilização de microfósseis para compreensão do Sistema Laguna-Barreira mostrou-se satisfatório no processo de ensino e aprendizagem.

As Feiras de Ciências no Ensino Médio oportunizam aos alunos o contato com assuntos de importância para sua formação, mas que não estão presentes na grade curricular do Ensino Básico, propiciando a vivência em temáticas de cunho científico e tecnológico.

            O trabalho aqui desenvolvido vem de encontro com o tripé ensino-pesquisa-extensão defendido pelas universidades e pelo Ministério da Educação, é uma forma eficiente de divulgar o conhecimento científico produzido pela academia, nas escolas e comunidades.

 

3. Considerações finais

De acordo com os resultados apresentados, podemos concluir que a utilização de microfósseis para compreensão do Sistema Laguna-Barreira mostrou-se satisfatório no processo de ensino e aprendizagem.

Verificou-se que o uso de estratégias pedagógicas expositivas com materiais diversificados e de baixo custo financeiro, pode ser uma importante ferramenta para o ensino de Ciências da Natureza no Ensino Médio e Técnico.

As Feiras de Ciências são a oportunidade dos alunos terem contato com assuntos que são de extrema importância para sua formação, mas que não estão presentes na grade curricular do Ensino Básico, propiciando o contato com temáticas de cunho científico e tecnológico.

 

Referências

 

BARTH, O. M. Palinologia. In: CARVALHO, I. S. (Org.). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.

 

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

DEMO, P. Educar pela Pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados. 1997

 

DEMO, P. Educação & Conhecimento - Relação necessária, insuficiente e controversa. 2a ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

 

LIMA, M. E. C. Feiras de ciências: o prazer de produzir e comunicar. In: PAVÃO, A. C.; FREITAS, D. (Org.). Quanta ciência há no ensino de ciências. São Carlos: EduFSCar. 2008.

MANCUSO, R. Feiras de ciências: produção estudantil, avaliação, consequências. Contexto Educativo. Revista digital de Educación y Nuevas Tecnologias, 6, p. 1-5, 2000.

 

PEREIRA, A. B.; OAIGEN, E. R.; HENNIG. G. Feiras de Ciências. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.

 

TOMAZELLI, L. J.; VILLWOCK, J. A. Mapeamento Geológico de Planícies Costeiras: o Exemplo da Costa do Rio Grande do Sul. Gravel, 3, 109-115, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos