Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM PROFESSORES, ALUNOS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR ÁLVARO VALLE - BAIRRO JORGE TEIXEIRA III ETAPA - ZONA LESTE, MANAUS-AM”
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OFICINA PARA PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÃO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR A PARTIR DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

 PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM PROFESSORES, ALUNOS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR ÁLVARO VALLE - BAIRRO JORGE TEIXEIRA III ETAPA - ZONA LESTE, MANAUS-AM

 

 

 

Prof. Msc. Marinete Barroso Martins

Secretaria Municipal de Educação - SEMED Manaus

(92) 9196 4138

net@inpa.gov.br; netmartins7@gmail.com

 

 

Resumo

 

O Projeto de pesquisa foi realizado com alunos do Ensino fundamental da Escola Municipal Professor Álvaro Valle no ano letivo de 2011, para promover conhecimentos sobre Educação Ambiental com a participação de representações sociais do bairro Jorge Teixeira - III etapa, em Manaus/AM para realizar um planejamento de intervenção popular no Igarapé do Mindu que passa nos arredores da escola com o objetivo de aproximar escola, comunidade e órgãos públicos. As metodologias usadas foram palestras, oficinas e trabalho de campo, entrevistas e coletas da água do igarapé, para iniciar no ensino fundamental noções de pesquisa científica na escola pública. Dez alunos acompanharam o projeto até o final do ano letivo, sendo os mesmos considerados monitores de educação ambiental orientados para realizar palestras em outras turmas e turnos da escola. Como resultado, obtivemos índices que mostram a realidade de todas as regiões do país, onde, apenas 5% dos pais de alunos repartem responsabilidades financeiras familiares, tendo uma proximidade muito grande entre homens e mulheres (49% homens e 46% mulheres), realidade crescente em relação a chefes de família, conforme dados do IBGE. Os valores de pH das águas do igarapé do mindu apresentaram valores de 6.78 a 7.00 dentro do limite estabelecido para águas ácidas, demonstrando fortes alterações provocadas por substâncias provenientes de despejos doméstico relacionado às ações antrópicas. A participação dos atores sociais nas oficinas foi diminuindo a cada encontro por causa da ausência de órgãos públicos desinteressados pela temática ambiental, o que tem feito a escola passar por uma crise de credibilidade, havendo uma fragilidade dominada pela falta de expectativa da comunidade local, de uma população bastante obstruída na realidade brasileira em relação ao controle das políticas sociais.

 

 

 

Palavras chave: Educação Ambiental, Escola Pública, Manaus, Igarapé do Mindu

 

INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

 

Manaus teve a sua origem com a construção de um forte português em 1669, determinado Forte de São José da Barra do Rio Negro (MOURA et al, 1993 apud GONTIJO, 2008). A partir de 1856, nascia a Província do Amazonas instalada na cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, atualmente chamada Manaus (GARCIA, 2004), com interesses voltados para a exploração da floresta e de seus recursos naturais. No final do século IX conviviam nas áreas urbanas diversas classes sociais, principalmente um grande fluxo de migração de nordestinos que fugiam da grande seca que assolava aquela região e de estrangeiros de diversas regiões do mundo, que, atraídos pelas noticias que corriam das riquezas na região, sonhavam com novas oportunidades de fazer fortuna, os quais compuseram a mão-de-obra nos seringais amazônicos (MONTEIRO, 1998; GARCIA, 2004 apud GONTIJO, 2008; DIAS, 2007).

Entretanto, a modernidade em Manaus não só substituía os recursos naturais como escondia a marginalização de seus habitantes humildes que foram se estabelecendo nas áreas pobres da cidade com a decadência da borracha (1920). Por mais que cidade enfrentasse problemas econômicos e sociais, os produtos primários, incluindo a madeira, eram a única alternativa para enfrentarem a crise. O sitio urbano passou a receber parte da mão-de-obra que antes se concentrava nos seringais, devido à falta de planejamento, estrutura, permitindo-se assim, a ocupação desordenada da população (BERETTA, 1975; MONTEIRO, 1998 apud GONTIJO, 2008).

Em 1967, após uma extensa crise de 40 anos, é implantado na cidade de Manaus a Zona Franca a partir do Decreto Lei n° 288 definido como:

uma área de livre comércio de importação e exportação, incentivos fiscais e especial com a finalidade de criar no interior da Amazônia, um centro industrial, comercial, agropecuário dotados de condições econômicas que permitam o seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância a que se encontram os centros consumidores dos seus produtos”.

Atualmente Pólo Industrial de Manaus I e II (PIM), a zona franca permitiu o crescimento econômico e urbanístico da cidade com o intuito de criar alternativas para atender a demanda futura de investidores. Com isto, o espaço periférico dessa área foi sendo ocupado por invasões de trabalhadores do Distrito Industrial que necessitavam se localizar nas proximidades das indústrias.  A cidade cresce, principalmente com a ausência de saneamento básico, que resultou com a poluição dos rios e igarapés (MOURA et al, 1993 apud GONTIJO, 2008).

Deste modo, o descaso do poder público que deveria ter em suas atribuições prioritárias o exercício de fiscalizar e evitar a o crescimento desordenado facilitou a moradia de pessoas junto aos igarapés, causando a poluição desses importantes mananciais de água potável, entre ouras coisas.  Agravando a situação, bairros em Manaus começaram a expandir assustadoramente, e dentre eles, o foco do nosso estudo que se localiza no bairro Jorge Teixeira na Zona Leste da cidade, numa área superficial de 1.019.87 hectares que abrange as comunidades do Jorge Teixeira de I a IV (conjunto J. Carlos Mestrinho, Nova Floresta, conjunto Arthur Filho, João Paulo I e II, Monte Sião e Bairro Novo), fazendo fronteira com os bairros da Cidade Nova, Distrito Industrial e Tancredo Neves. Do bairro saem dois ramais, o do Brasileirinho e do Ipiranga, que cruza a Zona Rural de Manaus. A ocupação desta vasta área se deu por meio de invasões ou por loteamentos, quando a ação de particulares ou do poder público conseguiu se antecipar aos movimentos de ocupações, promovidos por integrantes da Igreja Católica e de partidos políticos ligados às causas populares.

O bairro foi criado pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, em 14 de março de 1989, com a distribuição de lotes para pessoas carentes, principalmente do bairro do São José. A ocupação da área a qual se instalou o bairro era premente, uma vez que a abertura da Avenida Autaz Mirim, na época denominada Grande Circular, que passou a ligar as zonas Leste e Norte, criando um corredor viário que se estende aos bairros do São José à Cidade Nova (Fonte: Jornal do Commércio Portal Amazônia).

Atualmente, o bairro é distribuído em quatro etapas, causando transtornos a comunidade que reclama a ausência de energia elétrica, saneamento, água e segurança pública. No que diz respeito ao lazer e entretenimento, as crianças e os adolescentes não têm opções, senão as casas de shows que existem nas proximidades nos fins de semana. Dentro dessa realidade, na terceira etapa do bairro Jorge Teixeira está localizado a escola Municipal Professor Álvaro Valle e aproximadamente 500 metros da escola passa o igarapé do Mindu (sem nome definido na área) que corta a cidade, apresentando a maior parte do seu trajeto em área urbana, cerca de 20 quilômetros. A cabeceira do igarapé esta situado em uma área de floresta preservada no interior do bairro Cidade de Deus que passa por três diferentes trechos dentro da área urbana da Zona Leste envolvendo suas nascentes.

Nas proximidades e dentro do igarapé, existe grande quantidade de lixo jogado pelos moradores dos diversos imóveis irregulares construídos as suas margens, dentre os quais inúmeros esgotos a céu aberto e canos que despejam detritos acumulados em seus leitos. A ponte que dá acesso para a maioria dos moradores e alunos apresenta um percurso difícil de ser percorrido. Essa situação ameaça a qualidade de vida dos moradores e principalmente afeta o meio ambiente, uma vez que a sociedade e ambiente constituem um mesmo sistema.

Dentro desse contexto, o objetivo deste estudo foi promover o conhecimento sobre Educação Ambiental aos professores e alunos da Escola Municipal Prof. Álvaro Valle e as representações sociais no bairro Jorge Teixeira com a finalidade de realizar um planejamento de intervenção popular no Igarapé do Mindu que passa nos arredores da escola, contando com parcerias de órgãos públicos municipais responsáveis pela temática. Neste propósito, este projeto baseou-se em LEFF (2002), o qual fazer referência a problemática ambiental propondo a necessidade de internalizar um saber ambiental emergente em todo conjunto de disciplinas, para construir um conhecimento capaz de captar a multicausalidade e a interdependência dos processos de ordem natural e social que determinam as mudanças socioambientais, bem como para construir um saber e uma racionalidade social orientados para um desenvolvimento sustentável, equitativo e duradouro.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Foram realizadas diversas metodologias: Palestras, entrevistas semi-estruturadas, oficinas e pesquisa de campo.

 

Palestras na Escola

Palestras ministradas pela Professora de Ciências para os estudantes do 6° ao 9° ano sobre Educação Ambiental e a importância do igarapé do Mindú desde sua nascente até o ponto que passa no bairro nos arredores da escola, acompanhadas por alunos voluntários do 8° e 9° anos que se identificaram com a problemática ambiental, para que os mesmos continuassem como multiplicadores ambientais da escola durante o ano de 2011. As palestras dos colaboradores dos órgãos públicos sobre saúde e higiene, foram ministradas por seus representantes.

 

Entrevistas semi-estruturadas

Distribuição aleatória de 100 questionários com perguntas semi-estruturadas para alunos que quisessem participar da pesquisa a serem respondidas por seus pais ou responsáveis em suas residências (trabalho de campo) com a finalidade de realizar um breve diagnóstico sobre as condições socioeconômicas dos alunos. Para esta atividade, os alunos foram orientandos a deixar os entrevistados responderem as perguntas de maneira livre (Cruz Neto, 1994). A elaboração do questionário foi feita utilizando a técnica de Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), com a intenção de avaliar e induzir a auto-análise dos participantes para que os mesmos iniciem um processo de auto-reflexão com o propósito de incentivar a comunidade pela participação e, assim, fomentar o desenvolvimento sustentável na comunidade escolar (VERDEJO, 2006). O questionário foi elaborado em sala de aula juntamente com alunos do 8° ao 9° ano e distribuído nas classes do horário vespertino, seguindo o roteiro abaixo:

 

1. Bairro onde moram;

2. Chefe de família;

3. Total de pessoas que moram na residência;

4. Principais doenças nas casas;

5. Situação das ruas do bairro.

 

Coleta da água do Igarapé do Mindu – Trabalho de campo

Para escolha dos pontos de amostragem de água foi levado em consideração à facilidade de acesso ao local e a influencia antrópica. Deste modo, foram definidas três estações de coleta ao longo do igarapé. Antes de partir para o procedimento, foi feito um checklist de equipamentos e materiais para evitar que os alunos não pudessem realizar a atividade e orientações de normas de segurança estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Os materiais usados para coleta da água foram: luvas plásticas, garrafas pets (350 e 600 ml), prancheta, lápis preto, caneta esferográfica azul, adesivos para identificação dos pontos de coleta.

 

 

 

Oficinas

Convites foram enviados para lideres comunitários, pais de alunos, pastores, padres, docentes e discentes para debater sobre a problemática, durante cinco sábados no pátio da Escola.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Palestras na Escola

                 Apenas 10 alunos participaram como multiplicadores ambientais desde o início até o final do projeto, sendo nomeados monitores e foram colaboradores em todas as cinco oficinas além de palestrantes em outras series do ensino fundamental. As palestras proferidas por esses alunos foram fundamentais para reforçar informações sobre a questão ambiental, contribuindo para que os mesmos adquirissem segurança em suas ações como monitores.

 


 

Entrevistas semi estruturadas

Dos 100 questionários distribuídos, 64 foram preenchidos parcialmente ou anotados de maneira incompleta. Segundo citações, os bairros apontados foram: Jorge Teixeira III, Bairro Novo (imediações do igarapé do Mindu) e Jorge Teixeira IV, locais onde reside a maioria dos alunos da Escola.  Seis bairros foram considerados indeterminados, por causa da ortografia ilegível dos alunos entrevistadores.


                   

Chefe de família

Em relação aos chefes de família, ambos os sexos tiveram quase a mesma média de responsabilidade, 49% homens e 46% mulheres, apenas 5% o casal reparte as responsabilidades familiares. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o numero de mulheres que são chefes de família aumenta ao longo dos anos no Brasil. Em 1996, 20,81% dos lares tinham como chefe uma mulher. No Censo realizado em 2000, a porcentagem subiu para 26,55%. Já a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) em 2011, o levantamento mais recente do IBGE apontou que 37,4% das famílias tiveram como pessoa de referência a mulher (BRASIL, 2011).

Estudos de especialistas em mulheres como chefes de família, realizados em periferias de grandes cidades, ROSSINI (1985) concluiu que “mulheres chefes de famílias são mais comuns em grupos familiares de baixa renda”.         

Por outro lado, MACEDO (2008) pondera que “a renda da mulher passou a ter um peso maior na composição da renda familiar”, outro fator que influencia é “o achatamento de salários, não permitindo mais que o homem seja provedor exclusivo”, a autora também ressalta que “a mulher pode viver sem o companheiro, sem que isso signifique situação de solidão ou pobreza”. CARVALHO (1998), também considera que “as relações entre a pobreza e chefia domiciliar é muito complexo e que é preciso considerar que nem toda chefia domiciliar emerge da pobreza, ela pode aumentar como resultado de processos sociais que melhorem a posição relativa da mulher na sociedade, como decisão de viver sozinha ou como resultado de uma migração familiar temporária”. O assunto em questão obteve resultados variados, mas observamos claramente que o aumento de mulheres chefe de família é um processo que já vem ocorrendo a varias décadas e de uma maneira irreversível. Um dos fatores que contribuem para este processo é o fato de ser mais comum “as mulheres ficarem com a guarda dos filhos após uma ruptura conjugal, tornando-se provedoras de seu próprio grupo, ou de mulheres independentes mesmo”, nisso, houve acordo entre as abordagens dos estudos das especialistas. Dentro desse parâmetro, o resultado das entrevistas realizadas pelos alunos da escola Álvaro Valle está dentro dos da estatística do IBGE, que aponta para um crescimento de mulheres chefes de família em seus domicílios.

 

     


                      

Total de pessoas que moram nas residências

A quantidade de pessoas nas residências variou de 2 a 14 indivíduos, entre crianças, adolescentes e adultos, obtendo uma média de seis pessoas por casa (Fig. 5).

                

                     

 

A proporção de famílias convivendo em um mesmo núcleo familiar foi maior no resultado das entrevistas, comparando com seis residências que convivem apenas duas pessoas. Segundo informação de um entrevistado, a grande quantidade de pessoas na casa é que além dos filhos solteiros, também moram filhos casados que têm filhos pequenos. Outra citação foi que parentes chegam do interior do Estado para tentar a vida na cidade grande, se juntaram ao grupo familiar e convivem até melhorar sua condição financeira.

Podemos ressaltar que a grande ocorrência de moradia conjunta, principalmente nas periferias da cidade, pode estar relacionada com a forte tradição de muitas famílias da região Amazônica que descendem de populações tradicionais (indígenas e caboclos ribeirinhos) que possuem uma cultura comunitária, onde os núcleos familiares convivem num mesmo espaço geográfico (FRAXE, 2000). Entretanto, essas pessoas ao chegarem à área urbana, a realidade muda, o parente que mora na cidade, muitas vezes não têm terreno suficiente para construir uma casa ao lado e todos acabam convivendo dentro da mesma casa, formando um núcleo familiar de várias pessoas. Essa situação é comum nos bairros da zona Leste de Manaus que começaram através de invasão, onde cada pessoa demarcava um pequeno lote para construir sua moradia.

 Apesar do quantitativo de questionários deste estudo não ter sido em maior número, pode-se observar que a realidade da região está incluída nos dados do Censo desde 2001, onde a moradia conjunta apontava 7,4% das unidades habitacionais.  Dez anos depois, o Censo apresenta uma porcentagem de 95,6% dos domicílios ocupados por apenas um núcleo familiar, enquanto 4,4% por dois ou mais núcleos, sendo esse percentual maior nas regiões Norte (7,4%) e Nordeste (5,5%) e menor no Sudeste (3,2%) e de acordo com as estatísticas, as famílias alegaram motivos financeiros para viverem no mesmo núcleo familiar e em geral, a pessoa responsável pela segunda família tem uma relação de parentesco com o dono do domicílio, que em grande parte das famílias é formada por mulheres com filhos, que vivem sem o cônjuge (BRASIL, 2011).

Principais doenças nas casas

Entre as doenças, a dengue foi citada como a principal causa de enfermidade no bairro. Apesar de toda campanha realizada pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), os dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM) registrou 49.932 de casos confirmados de dengue no período de janeiro a setembro de 2011, apontando a zona Leste da cidade à área de maior risco de ocorrência.

 


                               

 

            Considerando o resultado da pesquisa, é importante ponderar que o bairro Jorge Teixeira é um dos mais populosos da capital e a falta de saneamento básico é um dos principais agravantes para a população contrair diversas doenças. A deficiência do abastecimento de água para as residências faz com que os moradores, sem outra opção de sobrevivência básica, armazenem águas em diversos recipientes que muitas vezes ficam descobertos, facilitando assim, a proliferação do mosquito transmissor da doença.

Essa informação se baseia no levantamento realizado pelos agentes de Endemias da SEMSA, onde declaram que “os depósitos de armazenamento de água no nível do chão (como é o caso de camburões), mantidos sem tampa, responderam por 51,6% dos criadouros, seguidos do lixo (garrafas, latas, ferros-velhos, entre outros), com 24,4% e dos chamados depósitos móveis (vasos, pratos de vasos de plantas, pingadeiras de bebedouros ou geladeiras, entre outros), com 12,5%” (Fonte: SEMSA, 2011).

Constatam-se também, condições precárias de moradias, deficiência na coleta de lixo e a situação agravante de lixos jogados dentro e fora do igarapé do Mindu que corta o bairro. Deste modo, a estatística da SEMSA não poderia deixar de contabilizar esse alto índice da doença nos bairros da Zona Leste.

 

Situação das ruas

            As ruas dos bairros onde os alunos residem são em sua maioria asfaltadas 66%, porém, 34% ainda continuam em condições precárias, principalmente as ruas do Bairro Novo localizado nas imediações do igarapé do Mindu que fica nos arredores da Escola Álvaro Valle, onde vários alunos para chegar ao seu destino, atravessam uma ponte em condições precárias (figura 8). Em alguns pontos do bairro, moradores colocaram sacos de areia, restos de construções e outros materiais para tentar amenizar a situação. Infelizmente, essa realidade não ocorre só nos bairros da periferia de Manaus, varias partes da cidade também sofre com a falta de manutenção das ruas.

 

 

 

 

             

Dentro desta realidade, em dias de chuva diversos alunos que moram no Bairro Novo não conseguem chegar à escola. As ruas ficam intrafegáveis, muito escorregadias por causa do solo impermeável (barro), e o igarapé transborda chegando muitas vezes a inundar as casas construídas próximas as suas margens por consequência do descarte incorreto de lixos de moradores. Esse material acumulado que volta do igarapé gera prejuízo material, além de causar doenças que podem levar a morte.

Durante o ano letivo, os professores da escola concordaram que o transbordamento do igarapé foi um dos principais fatores que ocasionaram a evasão de alunos na escola nos três turnos do ano letivo.

 

Coleta da água do Igarapé do Mindu

A coleta da água do igarapé do Mindú foi realizada sob orientação de professores, com o cuidado de repassar às medidas de segurança necessária. Quatro alunos monitores usaram luvas plásticas para coletar a água do igarapé em três pontos consecutivos, a uma distância média de 20 metros de uma coleta para outra. A água foi cheia diretamente em garrafas pets (350 e 600 ml). Dois alunos anotavam os pontos referencia (A, B, e C) para medir o pH (potencial de Hidrogênio) e condutividade da água, além de anotar as informações nas etiquetas que colavam nas garrafas pets.

 

 

 

 

 

 


                                                                                                                         

Resultado da análise da água

A análise foi feita pela equipe técnica do Laboratório de Quimica Ambiental do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA (LQA/INPA) nos equipamentos: pHmetro, Condutivímetro. Todo o processo de analise foi explicado para os alunos por técnicas do INPA, para que os mesmos tivessem noção e conhecimentos sobre como se faz pesquisa cientifica no instituto.

 


 


 

                                                       

        O resultado da análise da água do Igarapé do Mindu, consta na tabela abaixo:

 

Tabela 1. Resultado da análise da água do igarapé do Mindu (bairro Jorge Teixeira III) junho/2011.

Ponto de coleta

pH

pH  (varia de 0 a 14)

Condutividade

Condutividade

Normal da água

Ponto 1 – Rua B

6.78

< 7 = ácida

> 7 = alcalina

= 7 = neutra

314.1

9 – 13

Ponto 2 – Rua G

6.87

247,6

Ponto 3 – Rua I

7.00

238,6

 

 

 

 

pH     

O pH ou potencial de hidrogênio iônico é um índice que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio aquático. Ou seja, representa a atividade do íon hidrogênio na água, de forma logaritmizada, resultante inicialmente da dissociação da própria molécula da água e posteriormente acrescida pelo hidrogênio proveniente de outras fontes como efluentes industriais (ácidos sulfúrico, clorídrico, nítrico, etc), dissociação de ácidos orgânicos como o ácido acético, que resulta da “fase ácida” da decomposição anaeróbia da matéria orgânica, bem como outras substâncias que venham a apresentar reação ácida com o solvente (água) (PIVELI & KATO, 2005).

Os valores de pH das águas do igarapé do mindu apresentaram valores entre 6.78 a 7.00 (tabela 1), dentro do limite estabelecido para águas ácidas. Este resultado equipara com estudos de águas coletadas em pontos estratégicos nos igarapés do Quarenta e bacia do São Raimundo (em três estações do igarapé do Mindú) que apresentaram valores de 5,8 a 7,2 constatando a diminuição da acidez dessas águas (Melo, et al. 2005). As afirmativas são de que provavelmente, a mudança de pH está relacionada a alterações provocadas por substâncias provenientes de despejos doméstico nos pontos coletados em nossa pesquisa e podem estar relacionado às ações antrópicas, corroborando com estudos de Silva (1999).

 

Condutividade elétrica

A condutividade elétrica da água é determinada pela presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions. É a capacidade da água de transmitir a corrente elétrica. As variáveis analisadas mostraram baixa condutividade elétrica, sendo indicativo de influencia antrópica, confirmadondo estudos de ELIAS & SILVA (2001) ao encontrarem valores em torno de 215 μS. em água de igarapés da cidade de Manaus. Em observação direta nos locais de coleta e relato dos alunos sobre espécies aquáticas, percebe-se a ausência de peixes e alta concentração de oxigenio dissolvido(OD). O pouco tempo no LQA, não foi sufiente para avaliar esta variável extremamente importante e necessária para analisar a repiração de organismos que habitam o meio aquático.

 

Oficinas

            As oficinas foram realizadas em cinco sábados consecutivos no pátio da escola e seguiram conforme o cronograma do projeto e contou com a presença de representantes dos seguintes órgãos: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMMAS), Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA - Disa Leste II), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Secretaria Municipal de Educação (SEMED), representantes dos bairros da Zona Leste, professores e alunos da escola.

            Durante o andamento do projeto foi evidente a ausência dos líderes comunitários nas oficinas. Segundo os alunos, a ausência desses atores sociais deu-se pelo não comparecimento de representantes do órgão PROURBIS (Programa de Desenvolvimento Urbano e Inclusão Socioambiental de Manaus), responsável em desenvolver a área com programas de habitação nessas áreas de risco do bairro Jorge Teixeira. No entanto, convites foram enviados para todos os órgãos da Prefeitura Municipal de Manaus, responsáveis pela melhoria e qualidade de vida da população. Porém, não obtivemos respostas, dificultando assim, as propostas de debates na escola entre alunos, atores sociais do bairro e poder publico.

Este fato confirmou a grande distancia que existe entre poder publico e escola como formadora de políticas publica que anseia por uma disposição democrática para alcançar um consenso em função da racionalidade, no diz respeito ao meio ambiente nos bairros das periferias de Manaus.

 

CONCLUSÃO

As atividades deste projeto deram aos alunos do ensino fundamental da escola Municipal Professor Álvaro Valle a oportunidade de reforçar as informações e as idéias sobre a temática ambiental. Esses fatores foram precisos para fortalecer a atenção dos alunos, pois envolveram vários estilos de aprendizagem destacando a pesquisa de campo, essencial para resultados satisfatórios, corroborando com SENICIATO & CAVASSAN (2004), que afirmam ser adequado investir em atividades diferenciadas com os alunos que participam de atividades extraclasses, com o intuito de favorecer o desenvolvimento cognitivo, os quais normalmente não se manifestam durante as aulas teóricas em decorrência da abordagem fragmentada do conhecimento. Em trabalhos de campo, as experiência e sensações vividas contribuem para que os alunos recorram aos aspectos concretos da realidade, guardando coerência com as características de interpretação do mundo que são típicas de sua faixa etária.

Entretanto, em relação ao planejamento de intervenção, infelizmente a ausência de órgãos públicos desinteressados pela temática tem feito a escola passar por uma crise de credibilidade, havendo uma fragilidade dominada pela falta de expectativa da comunidade local de uma população bastante obstruída na realidade brasileira em relação ao controle das políticas sociais.

 

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos