Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS EM GESTÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE URUARÁ-PA SOBRE RESÍDUOS SÓLIDOS
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PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS EM GESTÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE URUARÁ-PA SOBRE RESÍDUOS SÓLIDOS.

Reinaldo Lucas Cajaiba - Laboratório de Ecologia Aplicada-LEA, Utad/Portugal. Sec. Munic. Meio Amb. SEMMA - Uruará, Pará (reinaldocajaiba@hotmail.com).

 

 

Resumo

Este trabalho teve como objetivo verificar o conhecimento dos alunos do curso de Gestão Ambiental do município de Uruará-PA sobre resíduos sólidos. Para tanto, foi aplicado um questionário com questões fechadas que abordava sobre a temática. Os resultados nos mostrou que, apesar dos participantes ser alunos de um curso voltado diretamente para questões ambientais, o conhecimento e atitude dos mesmos ainda deixa muito a desejar. Diante dos resultados, vê-se a necessidade de investir em mudanças, sensibilizando os envolvidos na pesquisa, a fim de mostrar-lhes a necessidade de se conhecer mais o problema para que se assumam novas posturas referentes à questão ambiental.

 

Palavras-chave: Resíduos sólidos; Conhecimento; Educação Ambiental.

 

Introdução

A produção de resíduos é uma ação inevitável que acompanha o homem desde sempre. Embora esta produção seja uma ação natural, a partir da urbanização e industrialização das cidades, além da explosão demográfica, o mesmo passou a ser visto como um fator de degradação ambiental significativo, principalmente à medida que é gerado em excesso e sua disposição final seja inadequada (ASSIS, 2007; SANTOS, 2008).

Os resíduos sólidos estão entre uma das principais causas da poluição do solo, decorrentes da acumulação de embalagens de plástico, papel e metais, e de produtos químicos, como fertilizantes, pois o material sólido do lixo demora muito tempo para se decompor no ambiente. Já o lixo orgânico, o processo de decomposição gera um líquido escuro, turvo e malcheiroso altamente poluente denominado de chorume (NAIME, 2009; LOPES, 2012).

Um dos grandes desafios da sociedade moderna está relacionado ao gerenciamento dos resíduos sólidos gerados, possivelmente em virtude da grande demanda, uma vez que são proporcionais ao aumento das indústrias, e o acelerado crescimento populacional, aliado ao consumismo da mesma, ocasionando, assim o aumento da poluição (CRISPIM et al., 2012).

A disposição inadequada dos resíduos sólidos pode ocasionar diversos impactos ao ambiente, como a poluição do ar e da água, contaminação e degradação do solo, e proliferação de doenças através de vetores associados aos resíduos sólidos (ANDRADE et al., 2011).

Atualmente, falar em resíduos sólidos domiciliares remete à coleta seletiva e à política dos 3Rs: Reduzir, Reaproveitar e Reciclar os resíduos. No entanto, de uma maneira geral, a ênfase dos programas de coleta seletiva está no reaproveitar e no reciclar e não no reduzir o consumo, que se caracteriza como o principal problema. Para que estas relações sejam viáveis, é necessário que haja uma Educação integrada no processo de Gestão Ambiental (ZANETI, 2003).

Segundo ABREU (2001) para se alcançar os objetivos de qualquer programa ambiental, é necessário que a sociedade passe por uma transformação social, cultural, política e educacional. A educação ambiental é um dos instrumentos mais importantes para promover a mudança necessária nos cidadãos, provocando o incômodo de passá-los de desconhecedores dos problemas para espectadores, atores e/ou responsáveis (ASSIS, 2007).

O conhecimento da produção e constituição dos resíduos sólidos, bem como a destinação das características do lixo coletado ou que potencialmente poderiam ser produzidos, é fator fundamental para orientação e planejamento de métodos e sistemas de acondicionamento, coleta, transporte e destino final do lixo das comunidades humanas (CONSULTEC, 1997), além da sensibilização dos atores envolvidos no processo (LOPES, 2012).

Este trabalho tem como objetivo conhecer a percepção ambiental dos estudantes de graduação em Tecnologia de Gestão Ambiental no município de Uruará-Pa sobre os resíduos sólidos.

 

Material e Métodos

Realizou-se um estudo prospectivo, em que os dados foram obtidos por meio de questionário aplicado aos alunos do curso de graduação em Tecnologia de Gestão Ambiental município de Uruará-PA durante o mês de fevereiro de 2014.

A coleta de dados foi realizada através de um questionário estruturado contendo cinco questões fechadas de maneira que fosse possível alcançar os objetivos da pesquisa e criar um espaço para reflexão por parte dos estudantes. Segundo LAKATO & MARCONI (2008), o questionário é um importante instrumento para a coleta de dados, estruturado a partir de um conjunto de perguntas que devem ser respondidas por escrito, sem a interferência do pesquisador.

Para a análise das respostas das questões, utilizou-se um padrão de contagem e aplicação de percentual.

 

Resultados e Discussão

Participaram da pesquisa 38 alunos, com idade variando entre 19 a 43 anos. Destes, 43% é do sexo masculino e 52% do sexo feminino.

Na primeira questão, solicitamos para que os alunos definissem o que é resíduos sólidos. Dos participantes, 53% conseguiram definir corretamente o que é resíduo sólido, 23% definiram parcialmente correto, enquanto 24% não souberam responder.

Muitos alunos citaram que resíduos é tudo aquilo que não presta; que não tem mais utilidade; produtos que não tem serventia. Pelo conceito dos alunos pesquisados, o termo lixo/resíduo é usualmente utilizado para designar tudo aquilo que não tem mais utilidade.

As definições acima mostram a relatividade da característica inservível do lixo, pois para quem o descarta pode não ter mais serventia, mas, para outros, pode ser a matéria-prima de um novo produto ou processo. Por isso, a necessidade de se refletir o conceito clássico e desatualizado de lixo.

Na questão seguinte, os alunos foram questionados sobre quais as formas que acondicionam os resíduos em casa. 37% afirmaram que os resíduos são colocados em lixeiras ou contêiners em frente às suas residências, 49% afirmaram que os resíduos são colocados em frente de casa em sacos plásticos e 14% afirmaram que queimam a maior parte dos resíduos produzidos em casa, como papel/papelão, sacolas, etc.

Segundo NUNES et al. (2008) nas últimas décadas, verificou-se uma grande mudança nos tipos de materiais usados para acondicionar as mercadorias mais comuns, prevalecendo atualmente o grande consumo dos plásticos. Até meados da década de 50, o material predominante nas embalagens dos produtos sólidos era papel e papelão (papel ondulado), e quando se tratava de produtos líquidos os vidros e latas (metais) eram os preferidos (KUBOTA, 1994; NUNES et al., 2008).

De acordo com CAMPOS (1998), a exposição de resíduos sólidos e acondicionamento inapropriado geram condições para instalação de uma grande variedade de organismos patogênicos, e ainda, convém ressaltar que o mau cheiro atrai muitos insetos e animais que contribuem na propagação de muitas enfermidades (NUNES et al., 2008).

Na próxima questão os alunos foram questionados quais as formas de tratamento dos resíduos sólidos. 39% citaram que os resíduos podem ser reciclados, 13% reaproveitado, 5% fazer a compostagem, 27% queimado e 16% afirmaram que os resíduos podem ser jogados no “lixão”.

O reaproveitamento e o tratamento dos resíduos são ações corretivas cujos benefícios podem ser a valorização de resíduos, ganhos ambientais com a redução do uso de recursos naturais e da poluição, geração de emprego e renda e aumento da vida útil dos sistemas de disposição final. Essas ações devem ser precedidas de estudos de viabilidade técnica e econômica, uma vez que fatores como qualidade do produto e mercado consumidor podem ser restritivos ao uso de algumas dessas alternativas (ZANTA & FERREIRA, 2003).

Para os resíduos sólidos urbanos gerados em pequenos municípios destacam-se as seguintes formas de reaproveitamento e tratamento de resíduos: Reciclagem; Reutilização, Recuperação, Tratamento da fração orgânica por processos biológicos (compostagem ou digestão anaeróbia) (ZANTA & FERREIRA, 2003).

Perguntamos aos alunos se conseguiam diferenciar corretamente as cores dos recipientes para coleta seletiva. Dos entrevistados, 57% afirmaram que conseguem e 43% afirmaram que não.

Diferenciar corretamente as cores dos recipientes para a coleta seletiva é uma ferramenta fundamental para um melhor aproveitamento dos materiais recicláveis, pois o acondicionamento e a coleta, quando realizados sem a segregação dos resíduos na fonte, resultam na deterioração, parcial ou total, de várias das suas frações recicláveis. O papelão se desfaz com a umidade, tornando-se inaproveitável; o papel, assim como o plástico em filme (sacos e outras embalagens) sujam-se em contato com matéria orgânica, perdendo valor; e os recipientes de vidro e lata enchem-se com outros materiais, dificultando sua seleção. Também a mistura de determinados materiais à matéria orgânica, como pilhas, cacos, tampinhas e restos de equipamentos eletrônicos pode piorar significativamente a qualidade do composto orgânico produzido. Portanto, a implantação da coleta seletiva deve prever a separação dos materiais na própria fonte geradora, evitando o surgimento desses inconvenientes (FUZARO & RIBEIRO, 2005; CAJAIBA & SANTOS, 2014).

CAVALHEIRO (2008) afirma ser de extrema importância a abordagem de assuntos ambientais em instituições de ensino, e acrescenta que o educador deve promover um trabalho permanente de conscientização e sensibilização dessas questões (CAJAIBA & SANTOS, 2014).

Na última pergunta os alunos foram questionados sobre as principais categorias dos resíduos sólidos. 53% não conseguiram responder, 31% responderam incorretamente e apenas 16% responderam de forma correta.

De acordo com a norma NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2004), os resíduos sólidos são classificados em três categorias de periculosidade: a. Resíduos Classe I - Perigosos: resíduos sólidos ou mistura de resíduos que, em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar riscos à saúde pública, provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. b. Resíduos Classe II - Não Inertes: resíduos sólidos ou mistura de resíduos sólidos que não se enquadram na classe I (perigosos) ou na classe II (inertes). Esses resíduos apresentam as seguintes propriedades: combustibilidade; biodegradabilidade; ou solúveis em água. c. Resíduos Classe III - Inerte: resíduos sólidos ou mistura de resíduos sólidos, que não tiveram nenhum de seus constituintes solubilizados à concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água. Exemplos: tijolos, concreto etc.

A educação ambiental num contexto de sociedade pode permitir a compreensão das características complexas do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que conformam os seres vivos, com vistas a utilizar racionalmente os recursos naturais. Para fazê-lo, a EA deve capacitar ao pleno exercício de cidadania, através da formação de uma base conceitual abrangente, técnica e cultural, o direito à informação e o acesso às tecnologias capazes de viabilizar o desenvolvimento sustentável (ASSIS, 2007).

Torna-se necessário, a implantação da EA voltada para os resíduos sólidos para os alunos pesquisados, tendo em vista que os mesmos ser graduandos em Gestão Ambiental, um curso voltado diretamente para o meio ambiente, sendo, portanto, obrigatório o domínio sobre o tema pesquisado.

 

Considerações Finais

Podemos concluir com esse trabalho que a maioria dos alunos pesquisados não consegue definir corretamente o que é resíduo sólido, nem saber identificar corretamente as cores dos recipientes para coleta seletiva, além de não conseguir citar as principais classes dos resíduos sólidos. Nossa sugestão é que seja implementado um programa de EA voltado para os resíduos sólidos.

 

Referências

ABNT. Resíduos Sólidos – Classificação, 2004.

 

ABREU, M. F. Dos Resíduos sólidos à Cidadania: Estratégias para a Ação. 1. ed. Brasília: “Fórum Nacional Lixo & Cidadania”, 2001, 94 p.

 

ANDRADE, R. M.; FERREIRA, J. A. A gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil frente às questões da globalização. REDE–Revista Eletrônica do Prodema, v.6, n.1, p. 7-22, 2011.

 

ASSIS, C.M. Subsídios para o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos nos municípios de Padre Paraíso e Francisco Badaró – Vale do Jequitinhonha-MG. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) UFMG, 2007.

CAJAIBA, R.L.; SANTOS, E.M. Conhecimento dos alunos do ensino fundamental sobre coleta seletiva: um estudo de caso no município de Uruará-PA. Enciclopédia Biosfera, 2014.

 

CAVALHEIRO, J. Consciência Ambiental entre Professores e Alunos da Escola Estadual Básica Dr. Paulo Devanier Lauda. Monografia (Educação Ambiental) Universidade Federal de Santa Maria, 2008.

 

CONSULTEC-SOCIEDADE CIVIL DE PLANEJAMENTO E CONSULTOS TÉCNICOS LTDA. Disposição de lixo no Brasil e suas perspectivas. Vol. 1. Rio de Janeiro. 1997.

 

CRISPIM, D.L.; SARMENTO, E.B.; ALVES, J.C.; CHAVES, A.D.C.G. A importância da ferramenta da educação ambiental na gestão de resíduos sólidos do campus de Pombal. Em: I ENECT - I Encontro Nacional de Educação, Ciências e Tecnologia/UEPB, 2012, Campina Grande. I ENECT - I Encontro Nacional de Educação, Ciências e Tecnologia/UEPB, 2012.

 

FUZARO, J.A. & RIBEIRO, L.T. Coleta Seletiva para prefeituras. 4ª ed. São Paulo: SMA/CPLEA, 2005.

 

KUBOTA, M. A mechanism for Accumalation of Floting Marine Debris North of Hawaii. Journal of Physical Oceanography, v. 24, n. 5, p. 1059-1064, 1994.

LAKATO, E M. & MARCONI, M A. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

 

LOPES, M.A. Percepção ambiental dos moradores de Viçosa sobre resíduos sólidos. Monografia (Especialização) Faculdade Redentor, 2012.

 

NAIME, R. Lixo ou resíduos sólidos. 30/05/2009. Disponível em : Acesso em Jan. 2013.

 

NUNES, J.S.; COELHO, J.G. & TAROUCO, J.E.F. Um estudo sobre produção, acondicionamento, coleta dos resíduos sólidos nas praias de São Marcos e Calhau, São Luís – Ma: Uma abordagem sócio-econômica. Revista Trópica-Ciências Agrárias e Biológicas, v. 2, n. 2, p. 23, 2008.

 

SANTOS, L. C. dos. A questão do lixo urbano e a geografia. Simpósio de Pós Graduação em Geografia do estado de São Paulo, I, SIMPGEO/SP, Rio Claro, 2008, p. 1014-1028.

 

ZANETI, I.C.B.B. Educação Ambiental, resíduos sólidos urbanos e sustentabilidade: Um estudo de caso sobre o sistema de gestão de Porto Alegre, RS. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) UNB, 2003.

 

ZANTA, V.M.; FERREIRA, C. F. A. Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos urbanos. In: BORGES, A.C. (Org.). Resíduos Sólidos Urbanos: Aterro Sustentável para Municípios de Pequeno Porte. 1 ed. Sao Carlos SP: Rima Artes e Textos, 2003, v. 1, p. 1-18.

Ilustrações: Silvana Santos