Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CANUDOS, MUNICÍPIO DE CAMPO MAIOR-PI
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CANUDOS, MUNICÍPIO DE CAMPO MAIOR-PI

 

Maria Beatriz Dias Coutinho

¹ Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente. PRODEMA-UFPI, Especialista em Educação Ambiental-FAESPI, Licenciada em Biologia /UESPI. Email: coutinhobiaa@yahoo.com.br


RESUMO

 

 

A mesma se justifica pertinente, uma vez que vem de encontro a um cenário anti-utópico e desagregador dos laços societários apostando em uma nova utopia societária e epistêmica, capaz de reorganizar, os sentidos do viver e do agir político. O presente trabalho objetiva de forma geral verificar o saber ambiental existente entre os moradores de entorno ao riacho canudos situado no Bairro Paulo VI, município de Campo Maior-Pi. O estudo do meio ambiente foi desenvolvido por meio de entrevista dialogada e analise de mapas mentais de caráter exploratório. Os dados foram codificados, analisados por meio da analise discursiva das falas dos moradores, e analise categóricas das imagens (mapas), com intuito de se conhecer a trajetória do riacho canudos bem como a percepção dos moradores que moram em entorno ao riacho.

 

 

Palavra Chave: Riacho Canudos. Educação. Meio ambiente. Percepção.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 Em virtude do modelo capitalista que vivenciamos e presenciamos, criamos um modelo de desenvolvimento nada sustentável e começamos a perceber um modelo de desenvolvimento que utiliza uma mascara para destruir o pouco que resta da base natural necessária para a sobrevivência dos seres vivos no planeta. E talvez a partir do momento em que o homem se sentir, como elemento integrante do meio ambiente, os problemas ambientais poderão ser amenizados.

 

                  A educação Ambiental na visão de Reigota (2009) está vinculada ao meio ambiente e a forma como este é percebido. Em 1970 a IUCN definiu a EA, como sendo o processo de reconhecimento e esclarecimento de conceitos que permitam o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias para entender e apreciar as inter-relações entre o homem e sua cultura e seu ambiente.

 O percurso reflexivo traz a densidade da experiência de vida e da produção teórica de autores, que vem refletindo sobre a questão ambiental desde os anos 70. O livro didático deve ter a preocupação de que através de uma cuidadosa articulação filosófica, o debate entre as ciências sociais e naturais estruturado na forma de um amplo diálogo com as principais matrizes do pensamento contemporâneo, deva estar presente.

A via hermenêutica aqui escolhida é consequentemente, a ruptura da dicotomia sujeito-objeto.  Esta reflexão toma um empreendimento que reposiciona não apenas o ambiente enquanto alteridade, mas, sobretudo o sujeito que o conhece e seu modo de conhecer. Assim, ao problematizar a epistemologia do fenômeno ambiental, está em causa tanto o ambiente quanto o sujeito cognoscente.  Por fim, enfatiza-se que buscando tirar consequências do processo da adoção de uma postura hermenêutica para as práticas do saber ambiental, pensa-se a partir da perspectiva de uma complexidade ambiental proposta por Leff (2012).

 Leff (2011) indica que o conhecimento científico é um processo resultante de uma prática teórica ou de uma relação entre o Conhecimento e o Meio Ambiente. Neste itinerário que passa pelas principais rupturas epistemológicas do pensamento contemporâneo, delineia-se uma epistemologia ambiental da qual se desdobram um saber e uma racionalidade ambiental, sobretudo como uma postura epistemológica que não cede diante da complexidade do mundo, evitando a armadilha reducionista de uma ciência em busca da unidade do saber. Sustenta, assim, a renúncia ao desejo de totalizar seu objeto (Leff, 2011).

Sem incorrer em ecletismos epistemológicos, vale ressaltar que o saber ambiental, para Leff (2011), envolve paradigmas de conhecimentos de diversas ordens, os quais abrangem, também, sistemas de valores, crenças, técnicas e práticas produtivas referentes à vida material, social e natural e à apropriação e produção do ambiente, orientados por princípios de sustentabilidade, ou seja, nas palavras do autor, esse saber não apenas gera um conhecimento científico mais objetivo, abrangente, mas também produz novas significações sociais, novas formas de subjetividade e de posicionamento ante o mundo.

Ainda na visão de Leff (2009) o saber ambiental não é, portanto, um suposto saber tudo sobre o ambiente. Ao contrário, incorpora o desconhecimento como parte constitutiva do projeto de conhecer a vida do mundo desde o mundo de vida dos sujeitos.

Ao redesenhar as margens pré-definidas da ciência enquanto único campo de validação do conhecimento, outros saberes, experiências e atores sociais (populações tradicionais, movimentos e grupos sociais) é reconhecido como interlocutores na construção de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2013).

O saber ambiental fundado no encontro (confronto) de múltiplos saberes, legitimados por diferentes matrizes de racionalidades inscritas em lógicas culturais distintas, deve propiciar a produção de novas categorias e estratégias conceituais, não constituindo um campo discursivo homogêneo estabelecido a priori: ao contrário, é um campo que se constrói continuamente em relação com o objeto, com o sujeito e com o tema de cada área do conhecimento, em suas articulações com as demais áreas (LEFF, 2013).

Dessa forma o autor, retrata a racionalidade do saber ambiental como constructos teóricos capazes de articular um conjunto de formação lógica e discursiva a acerca das descrenças e compromissos sociais.

Sob esse olhar, Leff (2011) propõem a ampliação de perspectivas e o alargamento de horizontes para o conjunto da produção humana em sua diversidade. Tal diversidade se manifesta tanto na constituição interna do campo científico, como nas formas de organização dos saberes culturais, em suas múltiplas expressões – materiais e simbólicas –, como na manifestação dos sentidos do ser.

                  E pensando nesta reflexão, todos os seres vivos que tem a necessidades de se apropriarem de recursos naturais, mesmo com condições necessárias para o suprimento da própria vida e desde os primórdios de sua existência o homem buscou se organizar como forma de garantir uma sobrevivência segura.

 

“Das relações homem-natureza, se constitui o mundo propriamente humano, exclusivo do homem, o mundo da cultura e da historia, Este mundo, em recriação permanente, por sua vez, condiciona seu próprio criador, que é o homem, em suas formas de enfrentá-lo e de enfrentar a natureza. Não é possível portanto entender as relações dos homens com a natureza, sem estudar os condicionamentos históricos-culturais a que estão submetidos suas formas de atuar”. (Paulo Freire, 1975)

 

 

E partindo desse pressuposto, o primeiro questionamento que se pode fazer, quanto a concepção de meio ambiente, é o da compreensão da nossa própria existência. No entanto isso tudo nos leva a crer que o meio ambiente é tudo aquilo que nos envolve. E as propriedades do meio circundante influem, na população: as características da flora da fauna em grande medida os hábitos alimentares e a dieta. O que para Morin (2001), o conhecimento pertinente é aquele capaz de situar qualquer informação em seu contexto.

A Constituição Federal de 1988 significou um avanço no estabelecimento de limites aos modelos de desenvolvimento que atuam desregradamente no meio ambiente. Antes de tudo, foi um marco que definiu o meio ambiente como um bem de toda população e atribuiu ao Estado e a sociedade novas responsabilidades sentido de proteger os ambientes de uso inaceitáveis.

 

O Art.225 encabeça as disposições sobre o meio ambiente:

 

 

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo – se ao poder público e a coletividade o dever de defendê – lo e preservá – lo para as presentes e futuras gerações. (Constituição Federal, titulo VIII, capitulo VI - 1988)

 

 

 

 Para tanto, a educação e pratica dialógica objetiva o desenvolvimento da consciência critica pela sociedade brasileira e que devem estar comprometidos com uma abordagem da problemática ambiental que inter-relaciona os aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, legais e éticos.

E nesse contexto a educação ambiental busca um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Ela deve começar em casa, ganhar as praças e as ruas, atingir bairros e as periferias, evidenciar as peculiaridades regionais, apontando para o nacional e global. Deve gerar conhecimento local sem perder de vista o global.  E como preconiza a CF/88 a educação ambiental deve ser promovida em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

 O termo meio ambiente é usado para definir a relação entre os conjuntos sociais e naturais que sustentam a existência da vida no planeta, sendo esta interação indispensável para a sobrevivência dos seres neste meio.

 

 

 2.  A Percepção Ambiental dos moradores de entorno ao “Riacho” Canudos – entrevista.

 

Para realizar um trabalho voltado para a conservação do meio ambiente é necessário compreender, como os envolvidos neste trabalho percebem, reagem e respondem sobre as ações que os envolvem, implica em compreender que a percepção é algo individual e cada ser se apresenta de maneira diferente perante estas questões, dessa forma as respostas e desenhos, foram dadas por livre consentimento e esclarecimento dos entrevistados.

 Todos os seres vivos que tem necessidades de se apropriarem de recursos naturais, mesmo com condições necessárias para o suprimento da própria vida e desde os primórdios de sua existência o homem buscou se organizar como forma de garantir uma sobrevivência segura.

   O rio canudos se enquadra como sendo um pequeno riacho, ou até mesmo um córrego, nasce na serra de Santo Antônio de onde parte, cortando a região norte da cidade de Campo Maior. O trecho mapeado se encontra localizado no Bairro Paulo VI, mais popularmente como “rabo da gata”, antes das primeiras casa ribeirinhas surgirem, o riacho tomava parte de toda área, onde hoje  se encontra o bairro Paulo VI e alagando toda área que hoje serve de moradia para a população que ocuparam a região aos arredores do pequeno córrego. O riacho canudos tem um percurso rápido, o mesmo nasce na serra de Santo Antônio e desemboca no rio Longá.

Por volta de 1938, o riacho canudos possuía uma exuberante vegetação, segundo entrevistas com os moradores os vegetais eram arbustivos, caracterizando-se por apresentar espécies de “mameleiros”, pau – pereira, remela e bastante unha – de gato, constituindo capão fechado de vegetação, e o córrego entrelaçado nos “matos”.

  Com o passar dos anos as plantas maiores foram derrubadas, pois as mesmas serviam de lenha para alguns moradores que moravam próximo ao capão.  Para a prática das “caeiras”, em que consistiam em pequenas crateras que se fazia no solo, a lenha era colocada dentro destas crateras e recoberta com terra deixando-se uma “boca”, orifício por onde se colocará o fogo para a queima da madeira e a produção do carvão. E a outra parte da madeira era utilizada, pois se usavam a madeira diretamente nas fornalhas para o cozimento dos alimentos.

 

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Foto 02. (Canudos hoje). Arquivo pessoal

 

No final da década de 30, e iniciando a década de 40, as residências  eram pequenas com 02 ou 03 cômodos em média, de estrutura rústica feita de palhas que sofriam constantemente a ação de vândalos que atiçavam fogo nas palhoças. Com o aumento das famílias foram surgindo mais casas próximo ao riacho, as margens do riacho possuía grandes cacimbões onde a população pegavam água para beber e cozinhar. A população cada dia foi se aproximando do riacho. Conta os moradores que o riacho enchia tanto, que alagava toda a área habitada que já não era grande. “Apenas umas 07 casas pequenas e de palhas”.

                     O riacho Canudos, passava pela vila Papi - Vila situada do outro lado de suas margens e que chegava até as cancelas das fazendas que ficavam nas proximidades do riacho,  e ao trecho que dava acesso ao um Bairro- “Fripisa”. 

 

“No entanto numa enchente muito grande o riacho “rasgou” abrindo outro braço que passava mais próximo das casa e o  da vila Papi foi soterrado em virtude de construções de casas simples e distantes uma das outras que servia de moradia para as classes de baixa renda que vinham do campo”. ( Dona Maria)

 

 

Segundo os moradores Sr. Francisco, Dona Tereza e dona Preta  afirmaram que somente na década de 50 a 60 foi que várias casinhas foram construídas e que segundo eles aumentava o numero de moradores. Usando a expressão popular foram construídas essas casas foram construídas “no pé e na ponta” sendo as mesmas distanciadas alguns metros do riacho, temendo grandes enchentes como de costume.

·         Foto 05. (Canudos hoje)

 

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Coutinho, 2014

 

Os espaços vazios foram preenchendo as áreas que circundavam o riacho por casinhas, e mesmo querendo ficar longe da água precisavam ficar perto, uma vez que necessitavam da água que brotava em várias cacimbas nas proximidades do riacho para as atividades do lar (banhar, lavar, cozinhar, etc).

Os entrevistados afirmara que nas margens  do Riacho Canudos era feito a retirada de madeira.

 

 “Os moradores começaram a tirar “madeira” para lenha, já que usavam fogão a lenha para cozinhar seus alimentos, além de tirar areia, piçarras e pedras  ao longo do percurso do rio para fazer suas residências, vender, etc.

 

 

E com essas atitudes praticamente marcavam a morte do riacho. Afirmava o morador mais antigo da área. (Sr. Francisco).  Foi observado ainda que os períodos de permanência das águas do riacho, segundo os moradores mais antigos era os meses de agosto, setembro e outubro e que segundo eles aproveitavam a dádiva, para tomar banho e as mulheres para lavar roupas, nas águas límpidas e cristalinas, ainda ressaltam que além de servir de turismo e diversão para os moradores que habitavam as proximidades, vinha gente de todos os bairros vizinhos para desfrutar o prazer de banhar e se divertir.

                   Sendo o morador mais antigo, (desde 1945) Sr. Francisco, diz: “A  algazarra era de mais,  onde os banhistas descia as correntezas até as cancelas, se divertiam pra valer, voltavam caminhando e novamente desciam.

“Contam ainda: “Nem sempre o lazer terminava bem, pois as brincadeiras por descuido terminava em morte de pessoas, e que por várias vezes ocorreu morte entre jovens e crianças”“. (Dona Preta).

Relataram ainda que uma senhora vindo do interior com crianças pequenas foram morar perto do rio e um de seus filhos encantado com as águas foi banhar e morreu afogado com apenas 15 dias que havia chegado ao seu novo lar.

Acreditando que a transformação da percepção dos moradores é inerente a educação formal e observando em suas fala, que existe uma percepção fraca, e que esta não tem respaldo o suficiente para mudança de seus paradigmas. A introdução da dimensão ambiental no m exige um novo conceito de educação Leff (2012) em sua argumentação, poderíamos dizer que é justamente a “abertura em ser bem como o reconhecimento da falta em ser, o que diferencia o projeto desta epistemologia ambiental de uma ecologização das ciências, isto é, da internalização de uma dimensão ambiental nas diversas áreas do conhecimento” (LEFF, 2012, p. 22).

Somente em 1966, foi construída uma pequena ponte e estreita que dava acesso aos moradores que vinham das proximidades interioranas para a cidade. Francisco, “a ponte só foi construída porque dificultava o acesso dos moradores ao centro da cidade e que no período da construção o capitão da época e comandante do tiro de guerra, foram os responsáveis pela escavação dos pilares que ergueram a ponte, e que nessa construção o comandante mandou os trabalhadores cavar um buraco mais fundo perto da ponte para uma área de lazer, ficando conhecido pelos moradores como sendo o “buraco” do capitão.” A ponte foi erguida e ainda hoje permanece pequena e estreita, e o buraco serve para jogar entulhos (foto 02).

 

 

 

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A

 
 

 

 

 

 

 

 


Goolgle mapas, 2014

 

Na mesma década, desmataram uma área entre as casa para a criação de um campo de futebol de chão batido, que nos fins de tarde servia de diversão para a garotada da população ribeirinha. Hoje no local do antigo campo, existe uma pequena praça e um campinho melhor (quadra), conforme a imagem abaixo.

 

 

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Foto: Coutinho, 2014

 

Na década de 70, mais precisamente em 1974, “ocorreu uma grande enchente no Bairro Paulo VI, em virtude do alargamento do riacho, vindo água de todos os lugares “(Dona Amparo)”. “Por ser uma região mais baixa, recebia muita água de sua própria cabeceira, das ruas do centro da cidade, e incluindo águas do sangramento do açude grande”.

Segundo o Sr. Francisco: “aqueles que moravam um pouco” mais afastados tinham de socorrer os outros, pois as águas do riacho tinham entrado em suas casas levando tudo, e quase afogando as crianças, portanto passavam a socorrer uns aos outros durante toda à madrugada chuvosa e a dar abrigos temporários. “Foi a maior enchente já vista pelos os moradores”. (Dona Preta).           

Dona Tereza, ressalta de que “quando as águas baixavam os moradores mais uma vez retornavam à suas casas, ou seja, as casas que ainda se encontrava de pé”. E temendo novas enchentes, começaram a aterrar toda a redondeza das casas deixando-as, mais altas e mais seguras segundo eles, pois com isso minimizar a entrada da água (Sr. Francisco).

No quadro de evolução da população ribeirinha foram surgindo casas maiores e melhores, onde começaram se reunir mais próximas uma das outras e formaram um pequeno bairro a qual deram o nome de bairro Canudo, nome este que perdura até hoje nos documentos dos mais antigos e registros de alguns imóveis e documentos.

Como ação do prefeito, o bairro foi calçado, algumas residências melhoradas e uma praça construída no antigo campinho, a encanação de água e eletrificação era tudo que faltava para o bairro ficar perfeito e postinho de saúde construído.

 

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Coutinho, 2014

 

O bairro hoje se chama Bairro Paulo VI, mas o mais curioso é que toda população campomaiorense conhece pelo nome de “rabo da gata”: “fulano mora no rabo da gata”, mas perguntando aos moradores qual o verdadeiro sentido desse nome eles responderam, que não teve sentido algum, apenas alguns “moleques”, na época da construção da linha de ferro escrevia num pontião (ponte feita para o trem passar) que dava acesso ao bairro, hoje esse mesmo trecho dar acesso a rua Paulo VI ( rua principal,  considerados pelos mais antigos como sendo a rua do “rabo da gata” talvez, por ser estreita e torta, na percepção da “mulecada”, quem sabe? (Dona Maria).

Contam ainda, que existe um interesse político em soterrar toda a região do canudos e construir moradias. “De todo não seria ruim” afirma dona Lourdes, uma das moradoras antigas. Mas seu Francisco, que convive 66 anos com os canudos diz: “O melhor mesmo seria construir pontes para dar acesso as casas do outro lado e cavar um pouco, o riacho, fazer uma limpeza, e deixá-lo passar livre e sossegado para seu destino.” Ainda, ressalta : “na  minha casa nunca entrou água, mesmo sendo construída muito próximo ao canudos, mas se entrasse não ficaria com raiva, pois não seria ele o culpado e sim eu que invadir sua área.”

 

 

3. APRESENTAÇOES DE MAPAS MENTAIS DO RIACHO CANUDOS  DE MORADORES  DO BAIRRO PAULO VI- CAMPO MAIOR,PI

      

A partir da década de 90, os estudos sobre percepção tem adquirido significado e relevância nas politicas públicas e na implantação de ações principalmente na comunidade, quando se trata de problema relacionado ao meio ambiente.

Dentro das várias metodologias os mapas mentais, como representações simbolizadas da realidade, podem ser um ponto de partida para as pesquisas, em geral.   Desta forma, nesta pesquisa analisou-se os mapas mentais, para avaliar o nível de percepção ambiental dos moradores do Bairro Paulo VI.

De acordo com Wood (1992), torna-se importante salientar que, um mapa não é a realidade e não nos deixa ver coisa nenhuma, mas ele deixa nos saber, o que outras pessoas viram, acharam ou descobriram. Sob esta perspectiva salienta que, “mapas são realidades mentais” desenhadas que representa um fenômeno.  E sobre isso Woo (1992), nos diz: “Os detalhes e a complexidade da realidade são selecionados, simplificados e, em seguida, enfatizados de uma maneira que eles apenas retratam o que o fazedor do mapa acredita ser essencial a respeito do espaço referido no mapa”. (WOOD, 1992).

   A percepção acontece de forma diferenciada entre cada indivíduo, pois, cada um, manifesta sua percepção própria, com relação ao espaço, e seus momentos únicos de vida. Dessa forma o que é percebido e transmitido sob a forma de um desenho com significados que provoca á sensação de medo, dor, sentimento de amor, raiva, etc. e essa construção mental, será expresso em imagens.

Para codificação e análise dos mapas mentais elaborados pelos entrevistados, foram selecionados algumas representações. Dessa forma foi feito a categorização das imagens em categorias: Paisagem Natural, Espaço Intocado, Paisagem Construída, Qualidade de vida Ambiental, Ação Antrópica, Reducionista, Desastres Naturais.

                 Vale ressaltar, que os mapas exercem função de tornar visíveis, os pensamentos sobre uma realidade existencial ou vivenciada, sob uma ótica da imaginação sentida.  Então foi perguntado aos entrevistados: “Quando você pensa no Riacho CANUDOS, o que vem em sua mente? Desenhe”.  E os desenhos foram surgindo representando no papel, seus sentimentos. A amostragem foi de 10 moradores, e os mesmos foram escolhidos por serem os mais antigos morando na região.

 

Mapa mental 01: Paisagem Natural

Dona, Tereza, 83anos

                 Nesta imagem os ícones são bem claros quando demonstra o inicio e a formação da vila ao redor do riacho canudos, bem como a confirmação da vila Papi, como já mencionada por outros moradores na discursão das falas anteriormente citadas. Mostra pequenas e poucas casinhas, não representou nenhum animal, mas demonstrou uma harmonia dos homens com o local. Casas simples retratando a pobreza dos moradores, era “casas de pau a pique”, um tipo de estruturas rústica, coberta de palhas. Águas limpas e claras com coloração em azul simbolizando a existência de um ambiente limpinho. Observar-se, que as casas foram construídas muito próxima às margens do riacho.

 

 

Mapa Mental 02: Espaço Intocado

Dona. Salu, 82 Anos

 

               Nesta imagem os ícones são todos naturais, sem a interferência do homem, de forma a se perceber, como o riacho era antes da ação antrópica  e a falta de animais, juga ser um local de calmaria e paz, com serena tranquilidade.

 

 

Mapa mental 03: Paisagem Construída

 

 

Irenita, 28 anos

 

           Na categoria paisagem construída, se percebe, uma construção, que segundo os moradores é um parque de vaquejada construído nas margens do riacho, há ainda a presença de um campinho de futebol, lixos espalhado, alguns arbustos, carnaúbas e poucas casinhas simples ao redor, e ainda e possível a visualização de animais mortos. E como pano de fundo a Serra de Santo Antônio.

 

 

Mapa Mental 04: Qualidade de vida Ambiental

Irenita, 28 anos

                  A presença da exuberância de animais e o verde do lugar encantam. A simplicidade das casinhas que se instalavam na região a presença de garças, símbolo do município de Campo maior, bem como a presença de inúmeras carnaúbas, ícones muito importante na fauna e flora do município, a presença de vários peixes, indica que antes era apropriado para a pesca. O riacho com aguas claras e límpidas.

 

Mapa mental 05: Ação Antrópica

Irenita, 28 anos

                    A poluição toma conta do lugar, antes um paraíso intocado e preservado, hoje um lugar quase sem vida. O riacho quase morrendo, com águas sujas e a presença de lixo em todos os cantos, mostra ainda a retirada de sedimentos e a lançamento de lixo, mostrado no carro com a caçamba (entulhos), fezes humanas a céu aberto, lixo tipo pneus, garrafas, e carcaças animal. Hoje o riacho como mostrado no desenho, está quase que soterrado, bem fininho, se constituindo em um córrego, que em muitos dos trechos, a agua não consegue passar.

 

Mapa Mental 06: Reducionista

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Sr. Vicente, 65 anos

 

                Este mapa mostra um modelo reducionista, uma vez que simbolizou apena com cores o que sente em relação ao riacho canudos. Verde, simbolizando o riacho, e ele apresenta-se como nome grafado no lado esquerdo tdos mapas, o vermelho é a vegetação morrendo, e o amarelado um pouco ainda de vegetais vivos. A escrita do nome, marca a intenção de deixar claro onde fica o riacho e de que ele estava falando mentalmente do riacho canudos.

 

Mapa Mental 07: Desastres naturais

 

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 Dona. Amparo, 68 anos

 

            Este mapa,  mostra a enchente ocorrida no passado, e como as casas ficaram ilhadas. Percebe-se a simplicidades das casas, mostrando que as mesmas são feitas de palhas, nenhuma presença de animais, apenas alguns vegetais, dando a entender a impossibilidade de animais vivendo no local quando as enchentes vinham.

 

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Sr. Silva,67

 

           A enchente ocorrida no passado, isolamento das casas coma s aguas. Varias as casas, mostrando que o aglomerado que se juntavam perto do riacho, nenhuma presença de animais, apenas alguns pequenos vegetais.

 

 

AGUISA DA CONCLUSÃO

 

           O estudo do desta pesquisa, foi desenvolvido por analise discursiva das falas dos moradores e analise de mapas mentais, teve caráter exploratório e bibliográfico, com intuito de se conhecer a trajetória do riacho canudos bem como a percepção dos moradores que moram em entorno ao riacho.     

                   Ficou claro, que o Bairro Paulo VI, surgiu nas margens do “rio” e grotescamente falando pode-se dizer que o pequeno córrego deu origem a um grande Bairro. Ainda ficou constatado a necessidade de se trabalhar a educação ambiental com os moradores no intuito de minimizar a agonia do riacho que pede socorro. Notou-se,  que a percepção ambiental dos moradores quando é  relacionado o riacho canudos, os desenhos (mapas) retratam o vivenciados hoje por  eles ou o já vivenciado “ontem”, de certa forma se percebe  a existência do conhecimento do que é bom, e do que é ruim. Entendem, os perigos dos lixos, conhece o que é Educação Ambiental de forma informal, porque a maioria dos entrevistados não tem nenhuma escolaridade, “apenas” conhecimentos acumulados ao longo de sua vida existencial. E importante salientar, de que alguns desenhos são retratados uns diferenciados dos outros, no sentido de que, quem está mais próximo ao rio, imagina com maior clareza a poluição e a degradação na imagem mental do que, quem mora um pouco mais afastado.

                Concluiu-se que as enchentes grandiosas eram decorrentes do desmatamento de suas encostas e a retirada de matérias que também contribuíram para o estreitamento do riacho, facilitando o alagamento da região em época de cheia, fatos esses comprovados nos mapas mentais. O rio foi sendo soterrado, aos poucos a água mal dava pra escorrer, e  passava períodos acumulada que chegavam a variar por meses, semanas e em decorrência da poluição, não serve para banho, lavar roupa e nem consumir.

                      Notoriamente, se observou pelos mapas mentais, que a predominância de uma ecologia profunda, no sentido de dizer que o espaço natural deverá ser preservado e intocado, foi revelada nos mapas noções de uma natureza 100% preservada em uns desenhos e natureza, completamente destruída em outros.

                   As imagens , assim como a entrevista, foram importantes para se obtiver as impressões que os moradores do Bairro Paulo VI, tinham acerca do Riacho Canudos, e com isso a possibilidade  para  se conhecer as impressões dos moradores.   Dessa forma, ver-se aqui a necessidade de um trabalho norteado pela educação ambiental, no intuito de talvez não somente de recuperar o riacho, mas de buscar a construção de uma sensibilidade maior com relação ao meio ambiente para com o poder publico e toda comunidade de entorno. Percebendo que o problema ambiental do riacho, não é meu e nem seu, mas de todos no planeta.

                  O presente estudo tem-se, como desafio buscar de forma consistente, alternativas de um fazer educacional seja ele formal ou informal, que possa abranger as questões ambientais e a busca de diretrizes para uma política pública de desenvolvimento e conservação dos recursos naturais devendo pautar-se pelo estabelecimento de uma nova ética, que exija novas reflexões e ações sobre a dignidade, as contradições, as opressões e as desigualdades, onde a qualidade de vida seja elemento mediador na relação sociedade-natureza. Este, por sua vez se define como uma proposta de mapeamento do “rio” canudos, tentando mostrar o que foi o canudos antes e o que ele é hoje e como produto final a sugere-se a criação de um plano de ação pedagógica para a agonia do “rio” que seria construído em conjunto com a comunidade local.

 

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Ilustrações: Silvana Santos