Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) LIXO E SUSTENTABILIDADE: A IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM PARA OS OPERADORES DO DISTRITO DE JERICÓ, TRIUNFO - PE
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LIXO E SUSTENTABILIDADE: A IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM PARA OS OPERADORES DO DISTRITO DE JERICÓ, TRIUNFO - PE

Aline Cristina Ferreira Nunes1, Maria das Graças Oliveira Ferreira2

alinenunes_sje@hotmail.com

1. Pós graduanda do curso de Especialização em Educação Ambiental e Sustentabilidade no Semi-Árido Pernambucano pela Unidade Acadêmica de  Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). Referência profissional: Fazenda Saco s/n, Caixa Postal: 063. Bairro: Zona Rural, Margem  Direita da BR-232, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada-PE. CEP: 56.903-970. Endereço: Rua Antônio Curado, n° 110, Bairro São Borja, São José do Egito-PE. CEP: 56.700-000. Telefone: (87) 9906-5413. E-mail: alinenunesje@hotmail.com

2. Pós graduanda do curso de Especialização em Educação Ambiental e Sustentabilidade no Semi-Árido Pernambucano pela Unidade Acadêmica de  Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). Referência profissional: Fazenda Saco s/n, Caixa Postal: 063. Bairro: Zona Rural, Margem  Direita da BR-232, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada-PE. CEP: 56.903-970. Telefone: (75) 91697681. E-mail: graca.oliveira.18@hotmail.com

 

 

Resumo

O lixo pode ser compreendido como todo e qualquer resíduo sólido resultante da atividade humana que é considerado como algo inútil e desprezível. O presente trabalho teve como objetivo geral, realizar um estudo de caso relacionando o aumento da população versus a formação do lixo, pelo olhar de pessoas que dependem deste último para sobreviver, enfatizando, sobretudo a questão ambiental. A pesquisa de campo, foi realizada no distrito de Jericó, município de Triunfo-PE. A coleta de dados foi realizada através da aplicação de questionários semi-estruturados com os atores sociais da usina de reciclagem da localidade. Os entrevistados possuem idade superior a 30 anos, sendo 2 homens e 4 mulheres, todos casados e residentes em Princesa Isabel-PB. Conclui-se que o processo de reciclagem em Jericó, tem trazido grandes benefícios a comunidade, além de atuar como complemento de renda para as famílias que participam do projeto, conscientiza-os a respeito da sustentabilidade e contribui para a preservação da natureza.

 

Palavras-chave: sustentabilidade, lixo, reciclagem

 

1 INTRODUÇÃO

 

 Na antiguidade quando a população mundial era composta de aproximadamente dez milhões de habitantes, permitiu-se que o homem passasse a formar comunidades e a perder o caráter de nômade, fazendo com que houvesse uma aceleração no processo reprodutivo (CORSON, 2002). Estudos revelam que o crescimento da população mundial deverá permanecer em crescente evolução até o ano de 2050 e as projeções são de que possa atingir a marca de 11 bilhões de habitantes (COHEN, 2005), fato este que influenciará em um aumento proporcional na produção de lixo (RODRIGUES; CAVINATTO, 2002).

A palavra lixo deriva de lix, é de origem latina e significa “cinza”, daí sua definição de sujeira (RODRIGUES; CAVINATTO, 2002). O lixo pode ser compreendido como todo e qualquer resíduo sólido resultante da atividade humana que é considerado como algo inútil e desprezível. Geralmente, apresenta-se sob estado sólido, semi-sólido ou semi-líquido (ABNT, 1987). Depositado em locais inadequados, o lixo pode causar inúmeras consequências, tornar-se fonte de alimento para animais e atração destes para o local, ocasionando a disseminação de várias doenças (BRASIL, 2005).

A degradação ambiental provocada pelo lixo depositado a céu aberto, não tratado de forma adequada vem se tornando uma prática comum nos diversos municípios e juntamente com o crescimento contínuo da população e indústrias acabam alterando o equilíbrio da natureza gerando poluição (SILVA, 2007). A prática da reciclagem implica na conscientização da população de como utilizar e ver o lixo não como ameaça, mas como fonte de práticas de prevenção e utilidades. Inserida neste contexto a seletividade é de grande valia, pois proporciona o ponto de partida para a reciclagem, deste modo se torna de grande acuidade lembrar que as práticas de seleção só poderão ser realizadas eficazmente com a participação da comunidade (SCARLATO; PONTIN, 1992). A falta de interesse ou responsabilidade a partir desta mesma temática se dá em grande parte por falta de maiores planejamentos de políticas públicas em decorrência da falta de envolvimento com a gestão do meio ambiente, mas principalmente falta de conhecimentos sobre o tema em destaque (MONTEIRO et al., 2001).

Cada localidade tem uma realidade diferente, logo para uma apresentação mais completa do objeto de estudo é preciso levar em conta o contexto em que ele se situa. Assim, para compreender melhor a manifestação geral de um problema, as ações, as percepções, os comportamentos e as interações das pessoas, deve-se relacionar à situação específica onde ocorrem ou às problemáticas que estão ligadas (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

 

2 OBJETIVOS

 

2.1 Geral

 

Realizar um estudo de caso relacionando a formação do lixo e a importância da reciclagem, pelo olhar de pessoas que dependem deste último para sobreviver, enfatizando, sobretudo a questão ambiental.

 

 

2.2 Específicos

ü  Avaliar o grau de conhecimento sobre a importância do lixo na concepção de operadores que trabalham com a reciclagem;

ü  Identificar, a partir de questionários as mudanças que ocorreram com os trabalhadores após a reciclagem;

ü  Mostrar o destino final de grande parte do lixo coletado na comunidade em estudo.

 

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

3.1 Histórico do Aumento Populacional

 

Dados revelam que o homem desde o seu surgimento, sempre procriou como forma de perpetuação da espécie. Todavia, é evidente que no traço histórico, o homem até o período de 8.000 a.C. não havia se multiplicado de forma tão explosiva como na atualidade (CORSON, 2002).

No sentido de explicar esse processo de crescimento populacional até o período acima especificado, segundo Corson (2002) no ano 1000, ainda existem 250 milhões de homens. Depois, começa uma fase de crescimento lento: entre 1200 e 1500, atinge o patamar de 400 milhões, e esse número se mantém. Mas a partir de 1500, manifesta-se uma aceleração, provocada pelos progressos da higiene e da medicina. Em 1600, 580 milhões de homens; em 1700, 770 milhões; em 1800, 900 milhões. O primeiro bilhão é superado por volta de 1820, e o segundo, meio século mais tarde, aproximadamente em 1925.

 

3.1.1 Consequências da Explosão Demográfica Mundial sobre o Meio Ambiente

 

Os dados apontados à verificação das consequências do crescimento demográfico mundial são alarmantes. Revelam as pesquisas que o crescimento da população mundial deverá permanecer em crescente evolução até o ano de 2050, quando as projeções são de que a população mundial possa atingir a marca de 11 bilhões de habitantes (BACHELET,1995)

Segundo Bachelet (1995), a destruição da natureza pelo homem também se dá em face do desencadeamento de um modelo agrícola em grande escala, porquanto que tempos atrás o pequeno agricultor ainda vivia em simbiose com a natureza, retirando da terra somente o essencial para sua sobrevivência, asseverando que “durante muito tempo associados à natureza que tentavam conquistar há séculos, os camponeses viviam em total simbiose com uma terra que os alimentava mas sem excessos”.

Outro fator relacionado ao tema é o da explosão da área das cidades e seus reflexos negativos. Estima-se que em 2020, cerca de 60% da população mundial viva nas cidades. O êxodo rural tem sido comum nos últimos anos. Essas pessoas que se retiram do meio rural, acabam por se tornar os novos favelados urbanos. As pessoas que residiam no meio urbano, por exemplo, eram 29% apenas em 1950, saltando para 42% em 1985, e de lá para cá se estima que já está superada a barreira dos 50% (CORSON,  2002).

Nesse sentido, esclarecem Scarlato e Pontin (2001), que “o lixo urbano é, provavelmente, um dos mais sérios problemas ambientais da atualidade, pois tudo aquilo que é introduzido em um sistema de fluxo, depois de processado, mais cedo ou mais tarde sai sob a forma de materiais secundários.

E a realidade da formação de lixo nas grandes cidades é assustadora em face que o Poder Público não consegue dar conta da captação destes resíduos pela ausência de estrutura, acabando por revelar uma realidade negativa em termos ambientais, ante aos percentuais das cidades brasileiras que não possuem sistemas ideais de manutenção de resíduos, de modo que permanece o lixo produzido nos denominados “lixões” a céu aberto, proporcionando a proliferação de doenças e riscos ambientalmente nocivos. Scarlato e Pontin (2001) alertam para esta negativa realidade apresentando dados estatísticos, ao descreverem que a realidade brasileira nesse aspecto é muito triste: a grande maioria de todo o lixo produzido no Brasil ainda é lançada em reservatórios naturais (vazadouros) a céu aberto – os chamados lixões. Cerca de 75% dos municípios brasileiros ainda utilizam esse recurso e apenas 25% dão tratamentos mais adequados, ou seja, aterro controlado (12%), aterro sanitário (9%) e compostagem (4%). Como não bastasse a gravidade dessa situação, apenas 55% dos municípios brasileiros admitem ter recolhimento de lixo hospitalar (censo de 1991), que, como se sabe, representa sério risco de transmissão de doenças.

 

3.1.2 A População e o Consumo Exagerado

 

Pode-se afirmar que o rápido crescimento populacional em todo o mundo causa uma necessidade muito grande de bens de consumo. A cada momento, surgem novos modelos, novas tecnologias, novos produtos, sempre aumentando o consumismo. O consumo excessivo, por sua vez, gera desperdício. Existe uma diferença entre o consumo por necessidade e aquele de significado simbólico. O consumo de significado simbólico é aquele pelo qual o cidadão tende a desejar sempre um novo modelo de aparelho ou produto sem ter em vista a sua real finalidade (SUAVE, 2005).

O crescimento populacional leva a um grande crescimento industrial e consequentemente a um crescimento das cidades, acarretando poluição. É inegável que a sociedade contemporânea vê o processo de industrialização como um processo positivo, uma vez que gera desenvolvimento econômico e social, e neste contexto pode ser realmente vista como tal. A grande problemática diz respeito aos recursos naturais que são utilizados como se fossem infinitos e a falta de preocupação com o impacto ambiental que é gerado (GOMES, 2006).

 

3.2 Conceito e Formação do Lixo nas Cidades

 

Os resíduos sólidos urbanos (RSU), mais conhecidos como lixo, constituem uma preocupação ambiental mundial, especialmente em grandes centros urbanos de países subdesenvolvidos. Pouco se conhece sobre as repercussões da disposição desses resíduos a céu aberto na saúde humana e das práticas sanitárias da população em relação a eles. A geração de RSU, proporcional ao crescimento populacional, suscita uma maior demanda por serviços de coleta pública e esses resíduos, se não coletados e tratados adequadamente, provocam efeitos diretos e indiretos na saúde, além da degradação ambiental (D’ALMEIDA, 2000).

O lixo sempre acompanhou a história do homem. Na Idade Média acumulava-se pelas ruas e imediações das cidades, provocando sérias epidemias e causando a morte de milhões de pessoas. A partir da Revolução Industrial iniciou-se o processo de urbanização, provocando um êxodo do homem do campo para as cidades. Observou-se assim um vertiginoso crescimento populacional, favorecido também pelo avanço da medicina e consequente aumento da expectativa de vida (BRANCO, 1983).

Nos dias atuais, com a maioria das pessoas vivendo nas cidades e com o avanço mundial da indústria provocando mudanças nos hábitos de consumo da população, vem-se gerando um lixo diferente em quantidade e diversidade. Até mesmo nas zonas rurais encontram-se frascos e sacos plásticos acumulando-se devido a formas inadequadas de eliminação (IPT/CEMPRE, 1995).

 

3.2.1 Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e sua Relação com a Saúde Coletiva

 

Os problemas relacionados aos resíduos sólidos têm se avolumado nas sociedades contemporâneas, implicando a deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbanos. A degradação do meio ambiente natural não pode ser desvinculada de um contexto que inclui comprometimentos da saúde física, transtornos psicológicos e psiquiátricos, e desintegração social (CAPRA, 2002).

As patologias tais como, doenças infecciosas, degenerativas, cardiovasculares, crises de ansiedade e depressão, síndrome do pânico, dependência química e exacerbação da violência, dentre outras, são os componentes constitucionais de um mesmo fenômeno (CAPRA, 2002)

A Agenda 21 refere que a problemática do lixo remete a uma ampla e necessária discussão sobre saúde coletiva, discussão essa que considera a estimativa de que, no âmbito mundial, aproximadamente 5,2 bilhões de indivíduos – incluindo 4 milhões de crianças – morrem anualmente em consequência de doenças relacionadas ao lixo (BRASIL, 2006).

 

3.2.2 Catadores de Lixo e Riscos Ocupacionais

 

Os coletores de lixo, lixeiros ou garis são definidos como os profissionais encarregados da coleta, transporte e destino final do lixo domiciliar. Ainda de acordo com os mesmos autores, lixo é definido como todo resíduo sólido descartado pela população (VELLOSO, 2006).

Segundo Tolosa e Mendes (1991), considera-se risco ocupacional como sendo uma ou mais condições no trabalho com potencial para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como sendo lesões a pessoas, danos a equipamentos ou estruturas, ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-determinada.

Na coleta de lixo, são comuns acidentes com materiais perfuro-cortantes, como vidro, latas, plantas com espinhos, pregos, espetos e até mesmo agulhas de seringas. As luvas dos trabalhadores geralmente oferecem pouca proteção. Esses materiais acabam por provocar lesões nos trabalhadores, através do contato das sacolas com os membros superiores e inferiores (FUNDACENTRO, 2003).

 

3.2.3 Catadores de Lixo e a Realidade Social

 

O modelo de consumo adotado pela sociedade contemporânea acarreta o esgotamento dos recursos naturais, o agravamento da pobreza e do desequilíbrio, porque pautado na acumulação e no desperdício. Surge daí a expressão “descartável”, que passou a ser utilizada sem muito controle, desencadeando dois processos: de um lado, a quantidade e a qualidade dos resíduos gerados e, por outro lado, frente às políticas econômicas e sociais, uma massa de excludentes, que passaram a se “beneficiar” dessa geração, que é a população de catadores de materiais recicláveis (PORTO, 2004).

A temática apresenta relevância social a partir do elevado número de catadores de materiais recicláveis em todo país. Alguns estudos advertiram que, no final da década de noventa, existiam 45 mil crianças e adolescentes vivendo e trabalhando em lixões (FERREIRA, 2002).

Denomina-se catador de rua a categoria que coleta em sacos de lixo colocados pela população na rua, pelo comércio local ou pelas indústrias, tendo sua própria carroça ou qualquer outro transporte adaptado para carga. Os catadores cooperativados e auto gestionários são aqueles que prestam serviço de coleta seletiva de qualidade, de forma articulada e organizada, gerando trabalho e renda. Estes se organizam nacionalmente no Movimento Nacional dos Catadores, têm apoio de diversas organizações não governamentais e estão articulados em fóruns, buscando consolidar a sua participação nos programas municipais de coleta seletiva (FERREIRA, 2001).

Em face ao alto índice de desemprego, a estratégia de sobrevivência encontrada pela população de excluídos é “coletar lixo” como forma de obter a renda para o próprio sustento. Ao catar e separar os materiais recicláveis, seja em lixões, em ditos “aterros sanitários” ou ainda em usinas de reciclagem por todo país, o catador constitui atualmente um importante elo do sistema de reciclagem (FERREIRA, 2002).

 

3.2.4 Gerenciamento do Lixo

 

Para o Manual de Gerenciamento Integrado (IPT/CEMPRE,1995), gerenciar o lixo é adotar um conjunto articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, com base em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o resíduo sólido municipalurbano. A execução de ações planejadas, de forma racional e integrada, leva ao gerenciamento adequado do lixo, assegurando saúde, bem-estar e economia de recursos públicos, além de ir ao encontro de um desejo maior que é a melhoria da qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

Para ser realizado o gerenciamento do lixo, é necessária a existência de um programa de educação ambiental que contemple a recusa de consumo de produtos com alta capacidade de geração de resíduos, redução do consumo, reuso e reciclagem (IPT/CEMPRE,1995).

O Brasil é hoje uma referência mundial em termos de reciclagem. Atualmente, o país é recordista na transformação de latas de alumínio e apresenta índices elevados de reciclagem de vários tipos de embalagem, principalmente considerando o fato deste processo não ser obrigatório por lei, como acontece em outros grandes países recicladores (GRIMBERG, 1998).

Atualmente, 192 municípios operam essas iniciativas. O Estado de São Paulo apresenta o maior número de programas de coleta seletiva,57 no total. Em seguida, vem o Rio Grande do Sul (42), Santa Catarina (22), Minas Gerais e Paraná (18) e o Rio de Janeiro (9). Apesar do crescimento apontado pela pesquisa, são tímidos os números apresentados pelo país nessa área. Temos 5.561 municípios; portanto, apenas 3,5% desse universo operam programas de coleta seletiva (CEMPRE, 2006).

Pensar a educação ambiental requer uma reflexão sobre os pressupostos dos processos produtivos, das mudanças nos hábitos de consumo, na urbanização sem causar impacto, gerando formas alternativas de produção energética e distribuição de renda. Enfim, criar e estabelecer novos princípios e valores que perpassam pela cooperação e transformação do atual modelo (GRIMBERG,1998).

 

3.3 Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental: Desafio no aumento populacional e formação do Lixo

 

Uma das questões mais abordadas relacionadas ao meio-ambiente é a do desenvolvimento sustentável, uma forma de desenvolvimento econômico que prega que se deve atender às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras (IDEC, 2002).

O desenvolvimento sustentável não diz respeito a abandonar o consumo para preservar os recursos naturais, o que seria totalmente inviável na sociedade atual, mas sim de mudar hábitos e padrões de consumo e produção para suprir as necessidades da população, como moradia, educação, saúde e alimentação, mas também diminuir o desperdício e o consumismo desenfreado (IDEC, 2002).

A educação para o consumo sustentável tem papel fundamental na mudança do paradigma antropocêntrico que prega que o desenvolvimento econômico é mais importante. O grande desafio deste tipo de desenvolvimento é a busca do equilíbrio entre a preservação ambiental e a economia de um país. A dominação e extrapolação devem dar espaço ao zelo, o cuidado e a responsabilidade (GOMES, 2006).

Além disso, a mídia e a publicidade incitam o consumidor a ter sempre um produto novo, jogando fora o anterior e assim aumentando a produção de lixo. Esta crise impõe a necessidade de novos modelos que possam substituir as antigas estruturas vigentes que hoje, encontram-se defasadas. Visa-se atualmente, uma educação que enfatize a ética, a preocupação com o meio ambiente e a responsabilidade (GOMES, 2006).

 

4 METODOLOGIA

 

4.1 Área de Estudo

O estudo foi realizado no distrito de Iraguaçu conhecido como Jericó (coordenadas geográficas: 07° 77' 98" S 38° 02' 44" O), o qual possui uma população de aproximadamente 3.000 habitantes. O distrito pertence ao município de Triunfo - PE (coordenadas geográficas: 7º 50' 17 E e 38º 06' 06" S), que segundo o censo demográfico em 1996 apresentava uma população  de 14.940 habitantes e em 2010, esta foi estimada em 15.006 habitantes. Triunfo está localizado na Zona do Sertão Alto, na Mesorregião Sertão Pernambucano, Microrregião Pajeú, com uma área territorial de 181,4 Km2, limitando-se ao norte com o Estado da Paraíba, ao sul com Calumbi, ao leste com o município de Flores ao Oeste com o município de Santa Cruz da Baixa Verde. Seu clima é Semiárido Quente com temperatura média de 20,4º C e sua vegetação é Floresta Subcaducifólia (IBGE, 2010).

4.2 Coleta de Dados

O trabalho de campo desenvolveu-se no mês de março de 2013. Para o objeto de estudo, reciclagem de resíduos sólidos urbanos, foi realizada uma visita técnica à usina de reciclagem, onde foram identificados como atores sociais, os trabalhadores envolvidos no projeto de reciclagem da localidade. Foram aplicados 6 questionários semi-estruturados (Apêndice A), preenchidos pelo próprio pesquisador, cuja presença permitiu a assistência direta com esclarecimentos de dúvidas. O registro foi realizado através da foto documentação dos equipamentos (Apêndice B) do local de trabalho dos entrevistados, bem como do depósito de resíduos do local de estudo.

 

5RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Foram entrevistados seis operadores do projeto de reciclagem, sendo dois pertencentes ao sexo masculino e quatro ao feminino. Todos os entrevistados possuem idade superior a 30 anos, são casados e naturais de Princesa Izabel- PB, entretanto, sempre moraram na localidade do estudo. Todos concluíram o ensino fundamental e não possuem qualquer outro tipo de formação. Os mesmos possuem outros meios como fonte de renda, além da promovida pela reciclagem.

Segundo os entrevistados, parte do lixo da vila é queimada, enquanto outra é coletada e depositada a céu aberto sem nenhum tipo de monitoramento. Na comunidade não se faz a coleta seletiva, o que de acordo com os entrevistados, facilitaria o processo de reciclagem. No projeto de reciclagem só é reciclado plástico e garrafa pet.

Quando perguntados:

·         Por que a reciclagem é importante?

J. S. S.: “Porque recupera o que achava que era perdido”.

E. M. M. S.: “Porque tira o lixo do mundo”.

J. F. A.: “Porque diminui o crescimento de lixo e reaproveita muita coisa”.

·         Em relação ao ambiente, quais os benefícios trazidos pela reciclagem?

E. M. S.: “Passamos a entender sobre os efeitos da natureza e o lixo interfere nas mudanças climáticas”.

Como enfatizado por Scarlato e Pontin (1992), a prática da reciclagem implica na conscientização da população de como utilizar e ver o lixo não como ameaça, mas como fonte de práticas de prevenção e utilidades. Poupam-se a natureza e os gastos.

Os entrevistados mostraram desconhecer a importância do lixo antes de lidar com ele (Apêndice C), como já havia sido discutido na literatura. Quando questionados a respeito de que, para eles por que o lixo estaria aumentando cada vez mais, as respostas abrangeram amplas afirmações, entretanto, nenhuma relacionada ao aumento do lixo, todavia, quando na sequência a pergunta tornou-se mais explícita, onde só tiveram que afirmar ou negar se o crescimento populacional teria alguma influência no aumento do lixo, 100% dos entrevistados afirmaram que sim.

 

6 CONCLUSÃO

 

Dar um destino adequado ao lixo é um dos grandes desafios da administração pública em todo planeta. Atualmente, compram-se muito mais produtos industrializados do que na década passada, incluindo alimentos e bebidas.

 Alguns municípios, porém, já descobriram como transformar objetos sem valor num grande negócio. O processo de reciclagem em Jericó tem trazido grandes benefícios, contudo esse não é a única fonte de renda para as famílias que participam desse projeto, porém é uma solução economicamente viável.

Os entrevistados demonstraram ter consciência de sustentabilidade além de estarem contribuindo para preservação da natureza. Plásticos e garrafas pet são os materiais reaproveitados. Infelizmente a maior parte do lixo é depositada a céu aberto contribuindo assim, para o aumento da poluição do solo, do ar e da água.
            Há uma carência do envolvimento de pessoas com maior qualificação, uma vez que nenhum dos participantes apresenta ensino superior, e dos órgãos públicos para que esse projeto deslanche de vez.

 

 

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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APÊNDICE A

 

Projeto: O AUMENTO POPULACIONAL E A FORMAÇÃO DO LIXO

Equipe executora: Aline Nunes e Maria das Graças

 

 Data:         /      /2012                                             N° DE ENTREVISTA: ______

 

                                                        QUESTIONÁRIO                            

PARTE 1 – IDENTIFICAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome Completo (iniciais):

Idade:

Sexo:

(   ) Feminino

(   ) Masculino

Naturalidade:

Quanto tempo mora na localidade:

Estado civil:

(   ) Solteiro

(   ) Casado

(   ) Outros:

Grau de Instrução:

(   ) Analfabeto

(   ) Ensino Fundamental I Incompleto

(   ) Ensino Fundamental I Completo

(   ) Ensino Fundamental II Incompleto

(   ) Ensino Fundamental II Completo

Curso de capacitação profissional:

(   )Sim

(   ) Não

Qual?

PARTE 2 – PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO ENTREVISTADO

Qual o destino do lixo de sua comunidade?

(   ) Queima      (   ) Enterra     (   ) Coletado pela Prefeitura    (   ) Coletado pela Cooperativa           (   ) Outros:

A sua comunidade faz a coleta seletiva?

 (   ) Sim                 (   ) Não

Você acha que a coleta seletiva facilitaria o processo de reciclagem?

(   ) Sim                 (   ) Não

Quais os tipos de materiais reciclados no seu trabalho?

(   ) Ferro    (   ) Alumínio      (   ) Plástico     (   ) Madeira     (   ) Outros:

A reciclagem é o seu único meio de renda salarial?

(   ) Sim                 (   ) Não

Por que a reciclagem é importante?

 

Em relação ao ambiente, quais os benefícios trazidos pela reciclagem?

 

O que mudou na sua vida após esse projeto de reciclagem?

 

Antes de trabalhar com o lixo você achava que ele tinha alguma importância?

 

Em sua opinião, por que o lixo está aumentando cada vez mais?

 

Você acha que o crescimento da população influencia de algum modo para o aumento do lixo?

  (   ) Sim                 (   ) Não

 

 

 

 

 

APÊNDICE B

Usina de reciclagem (Foto: NUNES, A.C. F.).

Material que será reciclado (Foto: OLIVEIRA, M.G.).

Cabine utilizada pra guardar plásticos e fazer sua separação (Foto: OLIVEIRA, M.G.).

Máquina de triturar garrafas plásticas (Foto: OLIVEIRA, M.G.).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Máquina para plásticos (Foto: OLIVEIRA, M.G.).

Tanque para lavar os materiais a serem reciclados (Fotos: OLIVEIRA, M.G.).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depósito de lixo urbano coletado no distrito de Jericó-PE (Foto: NUNES, A.C. F.)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

APÊNDICE C

 

Gráfico 1 – Importância do lixo antes de trabalhar com a reciclagem

 

Ilustrações: Silvana Santos