Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) IMPORTÂNCIA DA SUSTENTABILIDADE NA FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO CIVIL: ANÁLISE DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DE FUTUROS PROFISSIONAIS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

IMPORTÂNCIA DA SUSTENTABILIDADE NA FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO CIVIL: ANÁLISE DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DE FUTUROS PROFISSIONAIS

 

Paula Espindola Lunardelli, Engenheira Civil1; Cristine do Nascimento Mutti2;

Solange Virgínia Galarça Goulart3

 

1Engenheira Civil (UFSC), Diretora de Engenharia da empresa Lupa Construção Planejada, (48)3025-1106, Rua Dom Jaime Câmara, 170, sala 503, Centro

Florianópolis - SC

CEP 88015-120

lunardellipaula@gmail.com

 

2PhD em Construction Management pela University of Reading (Reino Unido), Professora do Departamento de Engenharia Civil (UFSC), (48) 3721 5182, Departamento de Engenharia Civil, Rua: João Pio Duarte da Silva, 205, Córrego Grande
Florianópolis - SC
CEP 88037-000

 cristine.mutti@ufsc.br

 

3PhD em Environment & Energy Programme pela Architectural Association School (Reino Unido), Professora do Departamento de Arquitetura (UFRN), Campus Lagoa Nova, Natal-RN CEP 59072-970

 aasolange@hotmail.com

 

RESUMO

 

A sustentabilidade na construção civil é premissa para o desenvolvimento sustentável, já que o setor é grande consumidor de energia e recursos naturais, assim como grande gerador de resíduos. Para que alternativas sustentáveis sejam cada vez mais frequentes na construção é de extrema importância que os futuros profissionais do setor tenham conhecimento sobre o assunto. O artigo analisa o nível de inclusão do tema sustentabilidade na formação de um grupo de alunos de Engenharia Civil da UFSC. A pesquisa foi realizada através da aplicação de questionários, e análise de resultados com enfoque em: consciência ambiental, conhecimento sobre sustentabilidade e construção sustentável, e importância dada pelos alunos a estes assuntos. Além disso, a pesquisa analisa a abordagem do tema sustentabilidade no currículo deste curso de graduação. Os resultados mostram que a abordagem sobre sustentabilidade no curso era insuficiente. Dentre os 42 alunos avaliados: 25 não tinham consciência ambiental; 28 tinham conhecimento insuficiente sobre sustentabilidade e construção sustentável; 38 não se mostraram preparados para a aplicação de alternativas sustentáveis na futura vida profissional.  Apesar dos resultados negativos, 40 dos 42 alunos mostraram ter interesse sobre sustentabilidade e sua aplicação no setor de futura atuação, o que mostra que instituição de ensino é grande responsável pelos resultados. Este fato evidencia a necessidade de adaptação do curso, visando suprir as carências de informação e conscientização apresentadas pelos alunos.

 

Palavras chave: Educação. Sustentabilidade. Construção sustentável.

 

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de uma sociedade sustentável tem como premissa a inserção dos princípios da sustentabilidade na construção civil, uma vez que o setor é grande consumidor de energia e recursos naturais, assim como potencial gerador de resíduos (SILVA et al., 2003) A evolução do tema sustentabilidade de uma forma geral na sociedade, e especificamente no setor da construção civil, mostra que o tema terá cada vez mais enfoque e importância (JOHN et al., 2001).

Segundo Gutierrez-Martín e Dahab (1998), a educação e a formação são componentes essenciais na dinâmica do desenvolvimento sustentável, especialmente nas engenharias.

A questão da sustentabilidade coloca exigências específicas sobre os engenheiros: que tenham maior conhecimento, além de maior treinamento em técnicas de solução voltadas ao desenvolvimento sustentável (GUTIERREZ-MARTIN; HUTTENHAIN, 2003).

Infelizmente em algumas áreas, o conhecimento, habilidades e práticas dos engenheiros relacionados ao desenvolvimento sustentável são deficientes ou problemáticos. Como resultado, a capacidade dos engenheiros de contribuir para desenvolvimento sustentável de forma eficaz é comprometida (CROFTON, 2000).

Ainda segundo Crofton (2000), este fato sugere que mudanças são necessárias. Tornar a sustentabilidade uma prioridade e integrar suas práticas e preocupações na educação devem ser vistas como ações necessárias.

Segundo Davison et al. (2007), poucas escolas de engenharia fizeram grandes atualizações para os seus cursos e currículos ao longo das últimas décadas.  Só recentemente é que as faculdades começaram a incluir tópicos de engenharia sustentável em seu material, como a avaliação do ciclo de vida, conceitos de energia renovável, e métodos de minimização de resíduos.   A quantidade de tempo necessária para atualizações nos currículos é bastante grande. Estas alterações são normalmente dificultadas em função de os currículos dos cursos já estarem lotados, e pela a falta de um senso de prioridade sobre tais alterações (BOYLE, 1999).

No entanto, a necessidade de mudança é urgente. A formação dos engenheiros neste sentido é de extrema importância, pois se não houver domínio durante a graduação, dificilmente o conhecimento e novas práticas virão da influência de engenheiros mais experientes (DAVISON et al., 2007).

Segundo Sattler (2000), a inserção da sustentabilidade nas práticas construtivas depende da mudança de processos no setor, e são de grande relevância o conhecimento e envolvimento dos profissionais que nele atuam.

Librelotto e Ferroli (2008) reforçam, para que alternativas sustentáveis sejam cada vez mais frequentes na construção é de extrema importância que os futuros profissionais do setor tenham consciência e conhecimento sobre o assunto.  

Portanto, o aprimoramento dos cursos de engenharia civil quanto à educação e conscientização dos alunos é premissa para a formação de profissionais informados e conscientes, capazes de contribuir para a inserção da sustentabilidade no setor da construção (CIB, 2000).

A verificação do conhecimento de futuros engenheiros civis sobre o assunto poderá indicar a tendência do setor quanto à construção sustentável, e incentivar à evolução neste sentido.

O objetivo deste artigo é analisar o nível de inclusão do tema sustentabilidade no curso de graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), através do levantamento da atual estrutura deste curso e análise do perfil de seus alunos quanto a este tema.       No estudo é analisado o nível de inclusão do tema na formação de um grupo representativo deste curso, com base no conhecimento sobre construção sustentável e conscientização ambiental.

 

2. DESENVOLVIMENTO

A pesquisa foi realizada através da verificação da abordagem do tema sustentabilidade no currículo do referido curso de graduação e da análise do perfil de alunos do curso com relação ao tema.

A verificação do perfil dos alunos se deu através da elaboração e aplicação de questionários, e posterior análise de resultados com enfoque em: consciência ambiental, conhecimento sobre sustentabilidade e construção sustentável, e importância dada pelos alunos a estes assuntos.

Além disto, foi efetuada uma verificação da abordagem do tema no currículo do curso, a qual analisa as disciplinas obrigatórias e optativas que abordam o tema sustentabilidade, conteúdo relacionado ao tema e seu grau de aprofundamento.

 

2.1 Definição dos pontos importantes a investigar e seleção da amostra

O estudo busca identificar e classificar o nível de conhecimento e consciência dos alunos, levando-se em consideração a sustentabilidade e a construção sustentável.

Dentro desses dois tópicos foram definidos três grandes grupos de temas de investigação, que caracterizam consciência ambiental, conhecimento dos temas sustentabilidade e construção sustentável, e importância dada a estes; e um grupo de análise que faz o diagnóstico juntamente com os três outros grupos. O objeto de estudo é constituído, basicamente, por alunos de graduação do curso de Engenharia Civil da UFSC. A definição do objeto de estudo foi feita de maneira específica a ser representativo de todo o conjunto.

O grupo analisado é restrito e dividido em dois grupos de 15 e 27 alunos, que cursam, respectivamente, as disciplinas “Sustentabilidade em Edificações (SE)” e “Administração da Construção (ADM)”.

O primeiro grupo - alunos que participam da disciplina “SE” – foi selecionado em função de cursar a disciplina que aborda justamente o tema em questão no trabalho. Têm como característica inicial um interesse no tema, uma vez que optaram pela disciplina, já que esta é uma disciplina optativa – aquela que o aluno não tem obrigação de cursar para concluir o curso.

Já a seleção do segundo grupo – alunos que cursam a disciplina “ADM” – teve como critério a fase do curso a que pertencem. Por fazer parte da oitava fase de um curso composto por nove fases com disciplinas em sala de aula, representa um grupo em estágio final na graduação, refletindo o perfil dos profissionais que o curso forma.

 

2.2 Elaboração do questionário

Os questionários aplicados são divididos em quatro grupos de investigação, e os temas analisados se referem às práticas sustentáveis no dia-a-dia, assuntos básicos de construção sustentável, importância dada a este tema, e aplicação de critérios sustentáveis na futura vida profissional.

O nível de exigência dos questionários é regular, e estes são compostos por doze questões, duas delas abertas e dez objetivas, estas sem restrição ao número de questões a optar, com exceção às com opção afirmativa ou negativa. Em todas estas questões objetivas existe ainda uma alternativa aberta, que dá a possibilidade de outras opções de resposta pelo aluno.

O primeiro grupo (Grupo I) – consciência ambiental – é composto por três questões objetivas, e analisa as atitudes dos alunos quanto à reciclagem do lixo doméstico e consumo de água e energia elétrica em suas moradias.

O grupo de análise de conhecimento sobre sustentabilidade e construção sustentável (Grupo II), é composto por sua vez, por cinco questões objetivas. Estas abordam os tópicos: sustentabilidade, desempenho térmico e eficiência energética de edificações, uso racional de água e certificação de edifícios sustentáveis. As alternativas dentro de cada uma destas questões têm graus de aprofundamento diferentes e analisam o conhecimento de cada aluno.

O grupo que aborda a importância dada ao tema sustentabilidade na construção (Grupo III), verifica o interesse dos alunos quanto à disciplina direcionada ao assunto, e opiniões gerais sobre o tema.

Já o grupo de questões voltado à importância dada ao tema em questão aliada ao conhecimento do mesmo e à consciência ambiental (Grupo IV), visa analisar basicamente o conhecimento de alternativas sustentáveis para edifícios, e o possível emprego destas pelos alunos em um futuro próximo, no papel de engenheiros civis.

O Quadro 1 mostra a divisão dos grupos de análise e as questões relacionadas a cada um deles.

 

Quadro 1 – Grupos de análise e questões relacionadas

Fonte: Lunardelli (2009)

 

2.3 Aplicação de questionários

A aplicação dos questionários foi realizada no início do primeiro semestre letivo do ano 2009, aos alunos identificados anteriormente como objeto de estudo, durante o horário de aula.

Em função de ser um questionário curto, pouco complexo e com questões objetivas em sua maioria, o tempo de aplicação foi relativamente curto, levando em média quinze minutos para encerramento em todas as turmas.

 

2.4 Análise dos dados

A análise dos dados foi feita específicamente para cada grupo de questões.

 

2.4.1 A análise do grupo I – consciência ambiental

A análise deste grupo foi feita levando-se em consideração dois aspectos, reciclagem do lixo residencial e consumo de água e energia elétrica, e o nível de consciência apresentado quanto aos tópicos. A partir das práticas diárias sobre estes temas investigados, os níveis de consciência ambiental foram divididos em nulo, insuficiente ou satisfatório

Com base na combinação destes níveis apresentados os alunos foram classificados como: “Consciente”, aluno que apresenta nível satisfatório de consciência nos dois aspectos analisados; “Pouco consciente”, aluno que apresenta nível de consciência insuficiente em um aspecto e satisfatório no outro; ou  “Não consciente”, aluno que apresenta nível de consciência considerado nulo em qualquer dos aspectos, ou não apresenta atitude com nível satisfatório de consciência em nenhum dos dois aspectos.

Após análise das atitudes de cada aluno, as informações foram agrupadas para análise geral das duas turmas de alunos.

 

2.4.2 Análise do grupo II  – Conhecimento sobre sustentabilidade e construção sustentável

A análise do grupo em questão foi feita inicialmente levando-se em consideração diferentes níveis de aprofundamento das alternativas apresentadas em cada questão. Estes níveis definidos pela autora vão de no mínimo zero a no máximo quatro, numa escala crescente de aprofundamento sobre o tema abordado na respectiva questão.

As alternativas extras (abertas) apresentadas pelos alunos receberam o mesmo critério de avaliação que as alternativas oferecidas pelo questionário. A definição do nível de aprofundamento foi feita através da comparação da alternativa com as fornecidas pela questão e nivelando-a de acordo com a mais relacionada.

Cada questão destas, quando somados os níveis de aprofundamento das alternativas, apresenta um nível máximo de conhecimento. O somatório que vai de zero a quatro resulta em um nível máximo por questão.

Este total é comparado ao somatório apresentado pelas alternativas assinaladas por cada aluno, representando uma porcentagem do total. A partir desta porcentagem o conhecimento apresentado pelo aluno é classificado, questão a questão, como nulo, insuficiente, básico ou avançado. Esta classificação é feita de acordo com o apresentado no Quadro 2.

 

Quadro 2 - Relação de nível de conhecimento e porcentagem total de pontos

Nível de conhecimento

Porcentagem do total de pontos (%)

Nulo

0

Insuficiente

0 < x ≤ 50

Básico

50 < x ≤ 75

Avançado

75 < x ≤ 100

Fonte: Lunardelli (2009)

 

Após a análise de conhecimento aluno a aluno, as informações foram agrupadas para análise geral das duas turmas de alunos.

 

2.4.3 Análise do grupo III – Importância dada ao tema sustentabilidade na construção

A primeira questão deste grupo visa verificar se os alunos teriam interesse em cursar uma disciplina que abordasse o tema construção sustentável, e questionar aos que optam ou já optaram - caso da turma de “Sustentabilidade de Edificações”- qual o motivo para tal. A análise foi feita primeiramente observando quantos alunos optariam pela disciplina, e a partir daí a abordagem de cada justificativa para a participação.

Já a segunda questão em função de ser bastante abrangente, e obter opiniões diversas sobre o tema sustentabilidade, foi analisada com leitura e relação das respostas apresentadas, e os resultados são usados a título de opinião do objeto de estudo sobre o tema.

 

2.4.4 Análise do grupo IV – Importância dada ao tema sustentabilidade na construção aliada ao conhecimento do mesmo e à consciência ambiental

A análise deste grupo é feita de forma específica para cada questão, e analisa os três aspectos anteriores em conjunto, verificando também possíveis atitudes sustentáveis na construção pelos futuros engenheiros.

De maneira similar à análise do grupo II, foram definidos níveis de importância dada ao assunto, aliada ao conhecimento deste, e a consciência ambiental das alternativas fornecidas pelo questionário.

A análise também é feita de maneira similar ao apresentado no item 2.4.2, com níveis da relação destes fatores, que vão de nula, passando insuficiente e básica, até avançada.

 

2.4.5 Análise do perfil do objeto de estudo

A partir dos resultados obtidos nas análises dos quatro grupos, fez-se uma análise geral das turmas de alunos, levando em consideração os aspectos um a um, e posteriormente o conjunto. E destas informações obtidas tirou-se uma conclusão do perfil do objeto de estudo, e a inserção no curso de graduação, dos temas sustentabilidade e a construção sustentável.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Abordagem do tema no currículo do curso

Inicialmente, para a verificação da abordagem do tema no currículo do curso em questão, analisou-se as disciplinas obrigatórias que abordam o tema sustentabilidade: “Função Social e Formação do Engenheiro (FSFE)” e “Conservação dos recursos naturais (CRN)”.

A primeira delas – “FSFE” – é uma disciplina aplicada na primeira fase da graduação, e tem como objetivo introduzir o aluno ao curso e mostrar suas futuras atribuições.

O tema aparece muito superficialmente, apenas quando se aborda a função do engenheiro na sociedade, e o compromisso com o desenvolvimento sustentável não é o único enfoque.

Já a disciplina “CRN” é aplicada na segunda fase de disciplinas do curso, e os temas abordados nesta vêm a colaborar com o papel de conscientização ambiental e tem potencial para gerar grande influência na formação pessoal do engenheiro.

Em contrapartida, a formação profissional relacionada à construção sustentável é menos influenciada pela aplicação da disciplina. Em função de o plano de ensino não abordar as iniciativas sustentáveis aplicáveis na construção civil, esta se torna menos informativa e eficaz quanto a este aspecto.

A crítica não reduz a importância das disciplinas no currículo do curso, apenas julga insuficientes na formação de um profissional informado e consciente quanto ao tema sustentabilidade.

O fato de serem as duas únicas disciplinas obrigatórias que abordam o tema sustentabilidade e não se mostrarem suficientes é um indício de que o curso não forma, em geral, profissionais devidamente capacitados quanto a este aspecto.

Em contrapartida, iniciativas focadas na sustentabilidade já vêm aparecendo através da implantação de disciplinas optativas, que já agregam bastante valor a este aspecto dentro do curso.

Duas delas, “Controle do Desperdício na Construção Civil” e “Desempenho Térmico das Edificações”, são iniciativas de grande importância e interesse dentro do tema sustentabilidade na construção, mas são pontuais. A primeira tem como enfoque a fase de execução da obra, apresentando apenas aspecto sustentável dentro desta fase, e a segunda de mesma maneira, mas levando-se em consideração a fase de projeto.

A terceira delas, que representa um passo muito grande do currículo no foco da sustentabilidade e teve sua implantação no primeiro semestre de 2009, é a disciplina optativa “Sustentabilidade em Edificações”. Esta disciplina já apresenta uma abordagem bem ampla e ao mesmo tempo específica do tema.

Esta tem como objetivo principal ampliar a discussão sobre sustentabilidade ligada à construção civil, e abrange os seguintes temas: análise conceitual,,, uso e ocupação do solo, materiais construtivos e a sustentabilidade, e energia embutida e ciclo de vida útil. Na segunda unidade aborda temas relacionados à arquitetura sustentável: eficiência energética, qualidade do ambiente interno, uso racional de água, uso de recursos renováveis e gerenciamento de resíduos.  Por fim, discute as certificações de edifícios, políticas públicas no país e etiquetagem de eficiência energética em edifícios comerciais.

Observa-se a partir do plano de ensino, que a disciplina apresenta maior enfoque em alternativas e consequentemente na fase de concepção. Assim verifica-se a necessidade de maior aprofundamento nas demais fases de um projeto: execução – principalmente, por ser a área de atuação de grande parte dos profissionais -, uso e manutenção, até a demolição.

Estas três disciplinas optativas são de extrema importância para a formação do profissional capacitado quanto ao tema sustentabilidade. Entretanto, são de caráter optativo, contribuindo à formação de apenas uma parcela dos alunos. Pode-se concluir, portanto, que o curso em questão apresenta carência quando o assunto é a sustentabilidade na construção civil.

 

3.2 Análise do objeto de estudo

Para verificação da inserção dos temas sustentabilidade e a construção sustentável no curso, analisou-se o objeto de estudo quanto à: consciência ambiental, o conhecimento sobre o assunto e interesse pelo tema, e se posteriormente como profissional o aluno aplicaria a sustentabilidade na construção.

 

4.2.1 Análise de consciência ambiental

A consciência ambiental aparece como primeiro aspecto necessário para a formação de um profissional voltado à sustentabilidade, já que contribui tanto em questões básicas de sua vida pessoal, quanto como profissional na opção por medidas mais sustentáveis.

Através da análise de atitudes quanto à reciclagem e consumo de água e energia, conclui-se que a formação que o curso dá quanto à consciência ambiental de seus alunos e futuros profissionais é insuficiente.

A Figura 1 mostra que apenas 3 dos 42 alunos pesquisados, que neste estudo representam o curso de graduação em Engenharia Civil da UFSC, apresentam-se conscientes ambientalmente.

 

Figura 1 – Nível de consciência ambiental geral dos alunos

Fonte: Lunardelli (2009).

 

3.2.2 Análise de conhecimento

As iniciativas sustentáveis na construção civil se mostram cada vez mais incidentes, e se tornarão cada vez mais frequentes e eficientes se os profissionais que atuam no setor tiverem conhecimento e optarem por tais iniciativas.

O nível que se objetiva neste aspecto é sempre o “avançado”, uma vez que, o nível de abordagem do questionário é básico. Parte-se da premissa de que alunos com um nível de conhecimento razoável do assunto atingiriam pontuações na faixa mínima de 75% do total.

Considera-se ainda que o índice “básico” não satisfaz a expectativa de conhecimento dos alunos. É identificado como básico justamente por representar um mínimo de conhecimento apresentado pelo aluno. E os níveis, “insuficiente” e “nulo” por sua vez, são considerados representantes de um grau muito baixo de conhecimento.

 

a) Avaliação da turma I - “Sustentabilidade em Edificações”

A análise desta turma quanto ao conhecimento, apresentada na Figura 2, mostra que 5 alunos têm nível de conhecimento insuficiente, 8 deles conhecimento básico, e  apenas 2 alunos apresentam o nível desejado de conhecimento, o avançado. Conclui-se, portanto, que é necessário o aprimoramento do conhecimento do tema de pelo menos 13 dos 15 alunos.

 

Figura 2 – Nível de conhecimento dos alunos da turma I

Fonte: Lunardelli (2009).

 

b) Avaliação da turma II - “Administração da Construção”

O nível de conhecimento desta turma, apresentado na Figura 3, também se apresentou muito baixo. Nenhum aluno da turma apresentou o nível de conhecimento desejado, o “avançado”, e a parcela representante dos alunos de conhecimento “básico” por sua vez é de apenas 4 dos 27 alunos. A partir daí chega-se à conclusão de que a educação do tema para a turma é imprescindível.

 

Figura 3 – Nível de conhecimento dos alunos da turma II

Fonte: Lunardelli (2009).

 

c) Avaliação do nível de conhecimento objeto de estudo

Na análise deste aspecto decidiu-se não analisar as duas turmas em conjunto. Como o conhecimento é um aspecto ligado diretamente à quantidade de disciplinas assistidas e tempo de permanência no curso, e principalmente por ser a turma mais representativa dos alunos que o curso forma, definiu-se dar enfoque à turma II.

Este grupo de alunos apresenta nível de conhecimento muito abaixo do necessário. Apesar de a amostra analisada ser muito pequena, o resultado é um indício de que o curso não prepara adequadamente seus futuros profissionais quanto aos temas sustentabilidade e construção sustentável.

 

3.2.3 Análise da importância dada ao tema

 

A importância dada aos temas sustentabilidade e construção sustentável tem foco na formação profissional dos alunos. Como já abordado anteriormente, o maior envolvimento do aluno com o tema traz vantagens tanto para o próprio engenheiro quanto para a sociedade.

 

a) Análise da opção pelo estudo da disciplina e motivos para tal

Os alunos da turma I já optaram pela disciplina, portanto analisou-se a quantidade de alunos da turma II que também optariam por esta. Somando-se aos alunos que já optaram, 40 dos 42 alunos optariam ou já optaram pela disciplina.

A partir destes dados conclui-se que o nível de importância dada ao tema construção sustentável pelo objeto de estudo é alto. Analisaram-se em seguida os motivos alegados para a opção pela disciplina.

Os motivos mais alegados pelos alunos em ambas as turmas foram: a importância do tema para a construção civil e a tendência e consequente necessidade de mercado. A frequência com que estes aparecem representa, em conjunto, mais de 80% dos motivos apresentados pelos alunos.

O resultado mostra que os alunos já reconhecem a necessidade de conhecimento do tema construção sustentável em suas atividades, como futuros engenheiros civis.

 

b) Análise dos comentários gerais

Dezenove dos quarenta e dois alunos analisados emitiram opiniões gerais sobre o tema e sobre a iniciativa da pesquisa. Dezesseis dos dezenove comentários são positivos quanto à construção sustentável, e apenas três deles negativos.

Dentre os aspectos positivos estão: assunto em alta no mercado, importância em função da preocupação com o meio ambiente, a necessidade de mais ênfase ao tema no curso, e ainda a idéia de que a disciplina voltada à sustentabilidade deveria ser obrigatória dentro do curso.

Os aspectos negativos citados são: a educação do tema através de uma disciplina com enfoque à construção sustentável não é necessária, e a inviabilidade econômica da construção sustentável, o grande obstáculo criado por profissionais em relação à sustentabilidade.

Apesar das opiniões negativas, em geral o objeto de estudo mostra ter interesse pelo tema e reconhecer a necessidade do conhecimento deste. Os alunos mostram ainda consideração ao objetivo geral do trabalho: a importância da educação voltada à sustentabilidade em cursos de graduação em engenharia civil.

 

3.2.4 Análise da importância dada ao tema sustentabilidade na construção aliada ao conhecimento do mesmo e à consciência ambiental

Este bloco de análise teve como objetivo observar como os alunos agiriam na futura condição de profissionais em relação à sustentabilidade na construção. Os resultados mostram que, nas duas turmas, nenhum aluno obteve o nível esperado, apenas 4 alunos obtiveram o nível básico, e os 38 restantes nível insuficiente.

Conclui-se a partir daí que o despreparo em relação a conhecimento, consciência ambiental e consequente importância dada ao tema é expressivo. O objeto de estudo se mostra despreparado para atuação neste enfoque na vida profissional.

Este dado é preocupante, já que o setor da construção está se voltando à sustentabilidade e suas alternativas, e um profissional que não tem esse tipo de envolvimento tem a tendência a se tornar ultrapassado e até desqualificado.

Além disso, sabe-se que o desenvolvimento de uma sociedade sustentável depende da inserção da sustentabilidade no setor da construção, e esta por seguinte, do envolvimento dos profissionais que nela atuam.

 

3.2.5 Discussão das análises

Os resultados mostram que a abordagem sobre sustentabilidade no curso precisa ser aprimorada: dos 42 alunos analisados, 25 não têm consciência ambiental, 28 têm conhecimento insuficiente sobre sustentabilidade e construção sustentável, e 38 não se mostram preparados para a aplicação de alternativas sustentáveis na futura vida profissional. 

A consciência ambiental em geral não faz parte do perfil do grupo. Partindo do fato de que os alunos fazem parte de uma instituição pública, estes deveriam ter maior dedicação ao bem da sociedade, e dentro do tema da sustentabilidade, isto vem a partir da conscientização ambiental.

Sabe-se que esta consciência não é formada unicamente em um curso de graduação, já que deve ser abordada principalmente desde as fases iniciais da educação, seja como aluno ou indivíduo. Mas apesar disso, esta educação tardia deve, de alguma maneira, afetar os futuros profissionais.

Os dados também mostram que o conhecimento dos alunos quanto à sustentabilidade e a construção com este propósito também é bastante baixo. Isto vem principalmente do fato de o curso não oferecer, até o momento de início da pesquisa, uma disciplina que tivesse este enfoque.

Pode-se afirmar ainda que mesmo que a disciplina já fosse oferecida anteriormente, provavelmente o nível de conhecimento dos formandos do curso não seria muito diferente, já que por ser de caráter optativo, apenas uma parcela dos estudantes participaria desta disciplina.

O perfil de profissionais que o curso forma levando-se em consideração a postura em relação à construção sustentável também se mostrou pouco desenvolvido. Este aspecto está ligado às duas considerações anteriores que abordam a consciência ambiental e conhecimento do tema do trabalho, e suas justificativas de ocorrência.

A principal restrição por parte dos profissionais e dos estudantes do ramo da construção vem da justificativa do fator econômico. Este obstáculo pode ser ultrapassado através da conscientização ambiental, defendendo a idéia de que o objetivo econômico não deve ser o único; e do aprofundamento do conhecimento do tema, informando que já existem alternativas economicamente viáveis.

Apesar dos resultados negativos, o objeto de estudo em geral apresenta uma característica muito importante para a adequada formação pessoal e profissional quanto ao tema: 95%(40 dos 42) dos alunos mostram ter interesse sobre sustentabilidade e sua aplicação no setor de futura atuação.

A partir dessa motivação vinda dos alunos, conclui-se que as atitudes para tornar apropriada a formação com este enfoque devem ser tomadas pela instituição de ensino. Neste caso é principalmente representada pelo curso de graduação em Engenharia Civil, e também pela própria Universidade Federal de Santa Catarina, que já deve incentivar medidas sustentáveis.

 

4. CONCLUSÃO

As análises apresentam a extrema necessidade de expansão e aprimoramento das iniciativas com este enfoque neste curso. A pesquisa evidenciou a necessidade de adaptação do curso, visando suprir as carências de informação e conscientização apresentadas pelos alunos.

Indica-se, para tanto, que sejam realizadas algumas alterações, partindo da adequação de disciplinas existentes, para que uma parcela seja de caráter obrigatório, e que abordem os aspectos social e econômico, além do ambiental.

Além disso, indica-se que o curso aborde através de alguma disciplina a sustentabilidade em todas as etapas de um projeto: concepção, execução, uso e manutenção, até a demolição.

O departamento do curso apresenta grande potencial e evoluída estrutura quando o assunto é sustentabilidade. Possui laboratórios e iniciativas de pesquisa de grande importância e professores capacitados. Considera-se, portanto, que a divulgação do tema no curso de graduação deveria ser maior, para que os reflexos nos futuros engenheiros civis sejam mais expressivos.

A pesquisa pode servir de base para a análise do nível de inclusão do tema em demais cursos de graduação em Engenharia Civil. Desta forma pode contribuir para o aprimoramento destes quanto à educação e conscientização dos alunos, e consequentemente para a formação de profissionais capazes de contribuir para a inserção da sustentabilidade no setor da construção.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ilustrações: Silvana Santos