Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dicas e Curiosidades
04/06/2014 (Nº 48) DICAS PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS
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DICAS PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

As atividades educacionais desenvolvidas por projetos são muito importantes e normalmente apresentam excelentes resultados, principalmente quando estes são bem planejados, pois o planejamento é um importante ítem a ser considerado para todo e qualquer projeto que se queira promover. Muitas vezes há uma grande dificuldade para colocar as ideias no papel, e um roteiro pode ser muito útil, lembrando que não se trata de uma receita pronta, mas apenas uma direção. Por isso, a revista Educação Ambiental em Ação selecionou este artigo para compartilhar, que apresenta um roteiro básico para quem quiser elaborar um projeto:

 

ROTEIRO BÁSICO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Gutemberg de Pádua Melo

 

A Educação Ambiental precisa responder ao desafio ambiental contemporâneo, difundindo a compreensão dos problemas ambientais e alternativas para uma mudança radical dos valores da sociedade atual que resulte numa transformação que assegure a própria sobrevivência da espécie humana e da vida em todos os seus aspectos.

Na elaboração de Projetos de Educação Ambiental, a perspectiva de  mudanças  desse  quadro  de  crise  ambiental  deve  nortear  todos os  esforços,  considerando-se  a  crise  ambiental  que  atinge  as  mais diferentes esferas da vida do ser humano e do planeta. A educação ambiental deve, portanto,  ter compromisso  por meio de suas ações, com uma nova ordem humanista e civilizatória, explicitando uma nova visão de mundo. 

Para tanto, os Projetos de Educação Ambiental devem voltar-se para a busca de novos modelos de ação e exploração dos recursos naturais, visando alcançar as metas do desenvolvimento sustentável, objetivando, voltamos a reafirmar, uma mudança radical nas relações entre os homens e destes com o meio ambiente.Planejar não deve ser um pensar desvinculado da realidade e da intervenção sobre ela, objetivando alcançar mudanças construtivas. No entanto planejar não é agir e agir não é planejar. Agir significa intervir na realidade e planejar significa refletir criticamente sobre a ação, pois o planejamento enquanto processo de tomada de decisões, exige, antes de mais nada, conhecimento da realidade.

O planejamento não é um ato isolado que precede a ação, mas um ato permanente que precede, acompanha e continua após a ação, sendo um processo contínuo de tomada de decisões que se manifesta como: previsão-reflexão antes da ação, revisão-reflexão durante a ação e avaliação-reflexão após a ação.Assim, o planejamento deve permitir, ainda, um processo partici-pativo em todas as etapas, desde o momento da formulação, decisão e operacionalização das ações, buscando estabelecer instrumentos de comunicação, documentação e devolução dos resultados de ações e atividades.

PLANEJAR: O QUE E PARA QUÊ?

No  caso  específico  da  educação  ambiental,  torna-se  evidente  a necessidade cada vez mais premente de intensificar ações nessa área, diante  do  conjunto  dos  problemas  que  caracterizam  a  degradação ambiental e deterioração da qualidade de vida de uma maneira em geral. 

As  ações  educativas  frente  às  grandes  questões  ambientais, devem voltar-se para a defesa dos direitos de cidadania, na busca de melhores condições de qualidade de vida, pois as condições de miséria e de pobreza de grandes contingentes populacionais, exigem soluções imediatas  e  ações  integradas  que  visem  reverter  o  quadro  atual  dos grandes  problemas  ambientais  como  a  poluição,  desmatamento, efeito  estufa,  buraco  na  camada  de  ozônio,  chuvas  ácidas,  extinção de  espécies,  esgotamento  dos  recursos  naturais  renováveis  e  não renováveis, etc. 

Dessa forma a educação ambiental deve aprofundar a compreensão de conceitos centrais tais como: homem, natureza, cidade, ambiente; procurando vincular a temática ambiental ao aspecto social e vice-versa, unindo teoria e prática, articulando o geral e o local, trabalhando-se a educação  ambiental  em  uma  perspectiva  socioambiental,  planetária, voltada para o saber e o fazer, dentro de um enfoque humanista, porém evitando-se o antropocentrismo.

Os  projetos  desenvolvidos  devem  visar  o  resgate  ambiental  eda  dignidade  do  ser  humano,  dos  valores  essenciais  para  uma  vida  digna, procurando estimular referenciais cooperativos que levem a uma mudança de comportamento e atitudes, visando o fazer junto para o bem comum. 

No que diz respeito à ação dos educadores junto às comunidades envolvidas, o trabalho deve reverter para a comunidade local, seguindo os princípios da cooperação e sustentabilidade, a fim de que ela possa dar continuidade aos projetos. Para tanto, os projetos deverão partir das necessidades reais das comunidades, buscando uma definição local de qualidade de vida a partir das referências culturais das populações envolvidas.

No  que  se  refere  às  estratégias,  metodologias  e  recursos utilizados  para  atingir  resultados  positivos,  o  objetivo  deverá  ser  o envolvimento  de  todos  os  atores  sociais  na  condução  das  questões ambientais, desde a fase do diagnóstico dos problemas, até a etapa de implementação dos projetos. É necessário atuar na perspectiva da co-responsabilidade, da cooperação e das parcerias entre educadores, instituições, população, enfim, de todos os setores envolvidos. 

Só  uma  construção  coletiva  possibilitará  a  aplicabilidade  e  a sustentabilidade dos projetos. As metodologias devem ser diferenciadas de acordo com as características regionais, tanto do meio ambiente, como das populações e comunidades. Além disso, as metodologias devem  levar  em  conta  também,  outros  aspectos,  como  faixa  etária,gênero,  etc.  na  perspectiva  de  obter  uma  participação  efetiva  dos segmentos sociais envolvidos.

 

ORIENTAÇÕES TÉCNICAS PARA ELABORAÇÃO  DE PROJETOS

 

Buscar  solução  para  um  determinado  problema,  este  é  o propósito básico de qualquer projeto, portanto, a primeira coisa a fazer para  a  formalização  de  uma  proposta  de  projeto  é  a  definição  com clareza do problema, das características que o contextualizam e das alternativas possíveis para sua solução, ou seja, a definição da nova situação desejada. 

Ao se conceber a nova realidade que se pretende ver implantada, há  necessidade  de  haver  clareza  de  propósitos  e  prognósticos fundamentados na análise e na reflexão crítica da realidade. 

O  planejamento  visa  a  superação  das  diferenças  da  situaçãoproblema para a situação desejada. As ações, meios ou seqüência de atividades a serem empreendidas para a busca de objetivos e metas definidas, implicam a necessidade de recursos, (humanos, materiais e orçamentárias) e arranjos organizacionais e de gerência.

Para a formalização de projetos de Educação Ambiental, devese observar as seguintes etapas ou seqüências para sua elaboração e apresentação finais:

Identificação  do  Projeto -  Deve  envolver  todos  os  elementos indispensáveis  à  sua  imediata  codificação,  entre  tais  elementos  são indispensáveis os seguintes:

- Título do Projeto

- Órgãos responsáveis

-  Coordenador

-  Executor

-  Período de execução (datas de início e término)

-  Localização: sede e área de abrangência.

- Justificativa –  Espaço  para  informar  sobre  a  problemática  ambiental a ser abordada pelo programa de educação, caracterizando- se  sua  relevância  e  a  possibilidade  de  solução  alternativa.  É  na justificativa que é apresentado a legitimação do propósito intencionado, portanto as informações devem ser mostradas em termos de análise, sob o ponto de vista social, político, econômico e ecológico frente aos pressupostos da educação ambiental.

- Objetivos - Define as intenções do projeto e é um referencial para se avaliar os trabalhos a serem realizados. Deve-se ter um objetivo geral, que deve ser apresentado com clareza, e tantos objetivos específicos quantas  atividades  tenham  que  existir  para  se  chegar  à  finalidade proposta. Quanto maior clareza se tem na definição dos objetivos, maior facilidade haverá para se estabelecer as estratégias de operacionalização e os instrumentos para alcançar as metas estabelecidas.

- Metas - A fixação de metas permite determinar quantitativamente os  resultados  esperados  frente  às  expectativas  estabelecidas  pelo conjunto  dos  objetivos  propostos.  Será  pela  análise  detalhada  dos passos  operacionais  que  se  conseguirá  estabelecer  a  seqüência  de atividades necessárias para a consecução dos objetivos específicos, que  em  seu  conjunto  comporão  a  finalidade  maior,  explicitada  pelo objetivo geral. Assim, as metas devem refletir momentos estratégicos da seqüência de atividades, como possibilidade de resultados eficazes, passíveis de quantificação.

- Estratégia  de  Operacionalização -  Trata-se  do  detalhamento  dos  instrumentos  necessários  e  da  busca  de  condições  adequadas como forma de viabilizar as intenções definidas no projeto. Usar os meios  disponíveis  ou  explorar  condições  favoráveis,  com  vistas  a alcançar  objetivos  específicos,  caracterizam  estratégias  adequadas para  finalidades  determinadas.  As  articulações  políticas  e  entre as  instituições,  suporte  técnico,  cursos  de  capacitação,  troca  de experiências,  sistematização  de  informações,  previsão  de  situações, são  exemplos  de  algumas  estratégias  específicas.  É  pela  definição da  sequência  de  atividades  que  se  poderá  visualizar  as  estratégias adequadas para a consecução das ações, metas e objetivos.

- Conteúdos  Temáticos -  Ao  se  definir  a  situação-problema a  ser  trabalhada,  deve-se  buscar  estabelecer  o  conjunto  de  temas gerais e expressivos que requer situações relevantes sobre a questão. Através desses temas e que será obtida a formulação conceitual, com elementos  de  conteúdo  que  permitirão  o  tratamento  interdisciplinar como  abordagem  que  as  questões  ambientais  exigem.  Nesses termos, os projetos em educação ambiental nos permitem o tratamento crítico reflexivo que caracteriza as diferentes vertentes, em que a ação educativa pode fornecer aportes substantivos à solução do problema, sem os quais, as possibilidades que oferecem os diferentes planos de prevenção e recuperação do ambiente deteriorado, veriam-se restritos às soluções imediatas, sem incidir, suficientemente, na transformação qualitativa da problemática correspondente.

- Metodologia -  O  tratamento  interdisciplinar  que  deve  ser dado  às  questões  ambientais  pressupõe  alternativas  metodológicas que  exigem  iniciativa  e  criatividade.  A  estratégia  de  problematização da questão permite uma abordagem crítico-social dos conteúdos que fornecem caminhos diversos. É necessário que se formulem atividades articuladas entre si, de modo que todas, em seu conjunto, coadunemse para a consecução dos objetivos propostos.A determinação de gerar processos participativos, com a busca de alternativas de soluções adequadas e deliberações de encaminhamentos tomadas  em  conjunto,  envolvendo  os  personagens  afetos  à  questão  e interessados é o primeiro passo para acertar o caminho devido.Abrir possibilidades de participação, com discussão em torno de problemas-desafio, onde o indivíduo busque alternativas de soluções, é relevante. Coordenar e gerenciar esse processo, buscando instrumentos adequados,  nos  momentos  apropriados,  envolve  sensibilidade  e capacidade  de  comunicação,  frente  ao  desafio  de  levar  adiante  as ações e atividades a serem implementadas..

- Cronograma -  A  estimativa  de  tempo  para  a  realização das  atividades,  em  cada  etapa  do  processo,  deve  ser  pensada cuidadosamente. Se por um lado não se pode deixar de fazer esse controle, por outro lado também não se deve ser muito rígido, pois sempre ocorrem alguns imprevistos. É pertinente avaliar o tempo estimado  para  o  desenvolvimento  de  cada  atividade,  para,  em termos  de  planejamento,  estipular  tempo  para  as  ações.  Essas previsões  devem  ser  apresentadas  em  um  quadro,  atualizado  a cada etapa do desenvolvimento do projeto, constituído numa tabela de cronograma de atividades.

- Recursos- Para cada atividade diferenciada, os recursos devem ser especificados: sejam recursos humanos, técnicos, materiais e financeiros, necessários  para  desenvolver  as  ações  programadas.  Previstas  as necessidades  para  cada  uma  das  atividades,  deve-se  agregar  todas elas, por elementos de despesa, isto é, organizar por elementos comuns a todas as atividades, totalizando cada um deles. Essa totalização para cada  elemento  de  despesa  deve  ter  totais  parciais,  obedecendo  às atividades cronogramadas, de tal forma que faça coincidir cronogramas de despesa, por elementos, com o cronograma de atividades. Exemplo: em um dado mês estão previstas a s atividades X, Y, Z e para cada uma delas necessitamos os recursos x, y, e z para o elemento de despesa, materiais de consumo, assim, teremos a discriminação de necessidades e  gastos  em  materiais  de  consumo,  correspondente  às  atividades previstas. Isso feito mês a mês, para todas as atividades e elementos de despesas, caracteriza uma tabela de cronograma orçamentário.

- Avaliação e Acompanhamento- Em qualquer projeto, é sumamente importante a averiguação da execução adequada das decisões tomadas no processo de implementação das ações/atividades. A avaliação implica a verificação da ação sobre o objeto, suas conseqüências e resultados, bem  como  a  identificação  e  formulação  de  medidas  corretivas  ou preventivas. O acompanhamento representa a observação e análise da evolução dos fatores previstos ou não, na consecução das atividades/ações, frente às transformações esperadas, conforme as metas e os objetivos  definidos.  O  acompanhamento  tanto  quanto  a  avaliação exigem um processo de monitoramento das atividades e ações, como  elemento básico de organização para implementação de projetos.

 

Fonte: http://www.ibama.gov.br/phocadownload/cnia/6-nocoeseduamb.pdf

In: MELO, Gutemberg de Pádua. Educação ambiental para professores e outros agentes multiplicadores/ João Pessoa: Superintendência do IBAMA na Paraíba, 2007. 60 p.

 

Ilustrações: Silvana Santos