Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/04/2021 (Nº 47) O QUE AS CRIANÇAS PENSAM SOBRE O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES?
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O QUE AS CRIANÇAS PENSAM SOBRE O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES?

João Fabrício Mota Rodrigues [fabriciorodrigues303@gmail.com]

Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas (UFC) e Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFC)

Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal do Ceará – (NUROF-UFC)

Av. Humberto Monte, s/n - Pici, Bloco 902 - CEP 60455-970- Fortaleza – CE

Telefone: (85)33669801

Raquel Crosara Maia Leite [raquelcrosara@hotmail.com]

Graduada em Ciências Biológicas (UFU) e Doutora em Educação (UFSC)

Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira

Rua Waldery Uchoa, 01 – Benfica – CEP 60020-110 – Fortaleza - CE

 

Resumo

Este trabalho objetiva analisar o que as crianças de uma escola brasileira pensam sobre o comércio ilegal de animais silvestres, depois de terem participado de uma atividade de educação ambiental. Ao final, discutimos formas alternativas para cobrir este tema nas escolas. As intervenções pedagógicas foram realizadas em três turmas de 7ª série do ensino fundamental. No final destas atividades, os alunos fizeram uma atividade sobre o que eles quisessem destacar sobre o tráfico de animais silvestres. Essas produções foram analisadas segundo a análise de conteúdo convencional e foram devidamente classificadas. Sessenta e um alunos fizeram a atividade. A maioria das produções realizadas enfocou a proibição do tráfico. Os alunos desenvolveram muitos slogans, e percebeu-se grande influência dos meios de comunicação em seu conhecimento. Recomendam-se outras atividades que relacionem a escola e este tema, assim como possibilidades de melhorar futuras atividades de educação ambiental sobre o tema tráfico de animais silvestres.

 

Palavras-chave: Biodiversidade, comércio ilegal de animais silvestres, educação ambiental, escola.

 

Introdução

O tráfico de animais silvestres é um problema mundial que guia a diversidade em direção à extinção (Yi-Ming et al., 2000; Renctas, 2001; Zahler et al., 2004; Alacs & Georges, 2008; IBAMA, 2008; Zhang et al., 2008). Ela é uma prática antiga na história do Brasil, que gera muitos lucros para seus praticantes (Renctas, 2001). O Brasil é responsável por cerca de 10% do dinheiro envolvido mundialmente no tráfico de animais silvestres, o que corresponde a aproximadamente dois bilhões de dólares (Renctas, 2001; Notman, 2004). Milhões de animais silvestres são mortos e maltratados nessa atividade que busca apenas o lucro (Notman, 2004). O tráfico também causa danos indiretos à vida silvestre, devido ao desbalanço ecológico causado pela retirada irresponsável dos animais de seus habitats naturais, sendo um dos grandes responsáveis pela redução no número de espécies, perdendo apenas para o desflorestamento (Ribeiro & Silva, 2007).

Carneiro et al. (2009), Skrabe & Medina (2009) e Rodrigues & Leite (2013) mostraram que a educação ambiental pode ser uma ferramenta importante para combater o comércio ilegal de animais silvestres. Atividades de educação ambiental objetivam ajudar as pessoas a alcançar a sustentabilidade através do desenvolvimento de idéias que misturam valores econômicos / políticos / sociais / ecológicos (Tilbury, 1995; Bonnet, 2002). Desenvolver o pensamento crítico é crucial nessas atividades, pois essa perspectiva de transformação pode gerar grandes mudanças em muitos níveis da sociedade (Mogensen, 1997; Bonnet, 2002; Loureiro, 2007). As pessoas que conhecem os problemas ambientais e suas causas tendem a causar menos impacto à natureza do que aqueles que não têm essa informação (Latorre & Miyazaki, 2005), mostrando, assim, que discutir essas questões com o público é necessário.

É importante que as atividades de educação sejam seguidas por algum tipo de avaliação, a qual permite acessar se os objetivos iniciais da atividade foram atingidos (Tomazello & Ferreira, 2001). Carneiro et al. (2009), por exemplo, avaliaram os resultados obtidos de uma campanha contra o tráfico de animais silvestres desenvolvida pelo IBAMA em algumas escolas. Observou-se que as crianças não sabiam com clareza diferenciar os animais nativos dos exóticos e que elas representaram com maior frequência o grupo das aves. O trabalho ainda reforçou a necessidade da realização de mais campanhas de educação ambiental a fim de dar continuidade ao combate daquele comércio ilegal por meio da ação conscientizadora do público mais jovem.

Este trabalho objetiva analisar o que as crianças de uma escola brasileira pensam sobre o comércio ilegal de animais silvestres, após terem participado de uma atividade de educação ambiental. Especificamente, procura-se responder às seguintes perguntas: 1) O que é que as crianças de uma escola brasileira pensam sobre o comércio ilegal de animais silvestres? 2) Será que uma atividade de educação ambiental pontual pode promover visão crítica em crianças sobre o comércio ilegal de animais silvestres? No final, também são discutidas formas alternativas para abordar esse tema nas escolas.

 

Metodologia

A mesma apresentação sobre o comércio ilegal de animais silvestres foi realizada pela mesma pessoa (autor principal do manuscrito) para três turmas de 7ª série do ensino fundamental na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, em setembro de 2010. Essas atividades foram realizadas nas aulas de Ciências e estavam relacionadas ao projeto "Semana do Meio Ambiente", organizado pela escola. As apresentações duraram 40 minutos e foram desenvolvidas no software Microsoft Power Point ™. Elas foram divididas igualmente nos seguintes temas: conceito de animal silvestre, tráfico de animais silvestres, os impactos do tráfico, soluções e como adquirir legalmente um animal silvestre. Em cada tópico, as crianças foram convidadas a participar, explicando seu ponto de vista e dando exemplos relacionados aos assuntos abordados. Mais detalhes sobre o desenvolvimento da atividade podem ser encontrados em Rodrigues & Leite (2013).

No final da apresentação, os alunos foram convidados a desenhar ou escrever algo sobre o tráfico de animais silvestres. Desenhos foram autorizados porque as ilustrações são muito importantes para as crianças, e uma grande quantidade de informação é transmitida pelos desenhos (Cox, 2005). Essa atividade era opcional, portanto, apenas os alunos interessados realizaram-na. Os alunos, bem como a instituição de ensino, foram devidamente informados sobre a pesquisa científica que seria desenvolvida com base nesse trabalho. Nenhum dado de identificação pessoal (por exemplo, nome, idade) foi coletado dos alunos.

Para a análise dos dados, foi realizada uma análise de conteúdo convencional (Hsieh & Shannon, 2005), utilizando-se os principais conceitos das atividades entregues dos alunos como códigos para formar categorias e subcategorias da análise. Devido ao uso dos desenhos, o uso tradicional da contagem de palavras (Krippendorff, 1980; Graneheim & Lundman, 2004) não foi possível. Os conceitos foram obtidos a partir dos dados (uma análise de conteúdo indutivo), uma vez que não há uma teoria desenvolvida sobre este tema (Elo & Kyngäs, 2008). As subcategorias foram definidas após uma observação prévia do material, e ambos os autores concordaram com elas.

 

Resultados

O projeto atingiu 91 alunos, mas apenas 61 produções foram obtidas e avaliadas. Alguns alunos fizeram apenas desenhos, outros usaram imagens com slogans, como "proteger a natureza", ou textos mais elaborados, enquanto outros se manifestaram apenas por textos. Alguns alunos fizeram pequenas histórias em quadrinhos na atividade solicitada e textos com bons argumentos para a discussão do tema, enquanto outros fizeram produções simples.

Segundo a análise de conteúdo convencional, foram encontradas duas categorias e cinco subcategorias (Tabela 01). O número de produções em cada subcategoria é apresentado na Tabela 02.

 

Tabela 01: Resumo da análise de conteúdo convencional realizada utilizando as atividades entregues pelos alunos das três classes. Palavras entre aspas na parte “Códigos” são exatamente as palavras e expressões usadas pelas crianças. Palavras fora de aspas na parte “Códigos” são conceitos ou generalizações extraídas das atividades.

 

Tema

Tráfico de Animais Silvestres

Categoria

Relacionados

Não-relacionados

Subcategoria

Proibição

Representação

Informação

Solução

Não-relacionado

 

Códigos

-Desenhos com tarjas de proibição

 

-Pedidos de proibição

-Animais enjaulados

-Prisão de vendedores

Venda de animais

-Estatísticas do tráfico de animais silvestres

-Consequências ecológicas

-Relação homem-animal

-“Resolver”

-“Solução”

-“Não comprar animais traficados”

-“Proteja a natureza”

-Desenhos de animais isolados

-Representações da natureza

 

 

Tabela 02: Número de atividades entregues pelos alunos das três classes, divididas em cinco subcategorias de acordo com a análise de conteúdo convencional realizada.

 

 

Proibição

Representação

Informação

Solução

Não-relacionado

Turma A

9

5

2

0

2

Turma B

5

2

7

1

3

Turma C

3

8

5

3

6

Total

17

15

14

4

11

 

Houve um equilíbrio entre "Representação do Tráfico", "Proibição" e "Informação". Enquanto isso, o grupo "Soluções" teve menos atividades em relação aos outros grupos. Muitos estudantes entregaram materiais considerados não-relacionados ao tema do tráfico de animais. Apesar deste agrupamento por semelhanças das produções, houve grande diversidade de abordagens dentro do mesmo grupo. Esta diversidade será descrita abaixo.

Nas produções classificadas como "Proibição", que foram as mais abundantes (28%), os alunos representaram principalmente cenas de tráfico com listras indicando a proibição. Alguns deles fizeram slogans simples, enquanto outros usaram argumentos para explicar por que a proibição é importante. Maus-tratos de animais traficados, direito à vida e à ilegalidade desse comércio foram os principais argumentos utilizados pelos alunos em favor da proibição.

Nas produções classificadas como "Representação do tráfico", a maioria dos alunos representou vários táxons de animais enjaulados. As aves foram os animais mais representados pelos alunos deste grupo, seguidos por mamíferos e répteis, semelhantes aos resultados obtidos por Carneiro et al. (2009). Os alunos também representaram cenas em que pessoas ligadas a esse comércio ilegal eram presas, outros mostraram o longo caminho percorrido pelo animal desde a sua captura na natureza até chegar ao comprador. Desenhos de vendedores oferecendo animais também estavam presentes. Casos de tráfico comumente transmitidos pelos meios de comunicação também foram muito presentes nas atividades, como, macacos bêbados para parecerem dóceis, cobras e macacos transportados em sacos, dentre outros. A maioria das produções deste grupo foi composta por desenhos, sejam isolados ou com textos.

Nas produções classificadas como "Informações", algumas abordaram os aspectos ecológicos do tráfico de animais selvagens e os problemas criados por este comércio ilegal na natureza. Outros trabalharam com números e estatísticas do tráfico. Outros enfocaram a relação entre o homem e os animais, enquanto outros apontaram apenas alguns conceitos aprendidos na aula.

As atividades classificadas como "Soluções" foram poucas, mas tinham idéias bem desenvolvidas. Dois exemplos de soluções formuladas por estudantes visavam resolver o problema do tráfico de animais silvestres de uma forma mais abrangente e a longo prazo, considerando as questões sociais possivelmente incluídas nesse comércio ilegal. A conscientização das pessoas sobre a existência e a extensão desse comércio ilegal foi o caminho escolhido pelos outros dois exemplos de soluções.

Finalmente, as produções classificadas como "Não-relacionado", em geral, eram representações da natureza ou de alguns animais, sem apresentar idéias relacionadas ao comércio ilegal de animais silvestres.

 

Discussão

Muitos estudantes do grupo "Proibição" que fizeram desenhos incluíram uma mensagem solicitando a denúncia das atividades do tráfico, mostrando que eles entenderam a importância da denúncia como forma de tentar reduzir e acabar com este comércio ilegal. A facilidade na produção de atividades relacionadas à proibição seria outra possível explicação para a alta frequência desse grupo. A mídia, por exemplo, muitas vezes produz campanhas de educação ambiental nesse formato de slogan. No entanto, não se deve subestimar o potencial das crianças supervalorizando esta última hipótese.

Segundo Ribeiro & Silva (2007), as aves são os animais mais visados pelo comércio ilegal por sua beleza, e a maioria desses indivíduos (70%) é destinada ao mercado brasileiro. No estado do Rio Grande do Sul, de 1998 a 2000, 3.797 espécimes de pássaros transportados ilegalmente foram apreendidos pelo IBAMA e outras instituições de fiscalização (Ferreira & Glock, 2004). Segundo esses autores, essas aves eram principalmente pássaros e papagaios, e dezoito espécies não eram listadas na avifauna do estado.

O hábito de criar aves em gaiolas é comum no interior do Brasil e também nas cidades (Gama & Sassi, 2008; Licarião et al., 2013). Durante a realização da atividade, alguns alunos disseram que criavam esses animais em casa ou que algum parente da família o fazia. Essa cultura popular de criar animais silvestres em casa é mais um fato que reforça a importância da realização de atividades de educação ambiental como esta desenvolvida. Os alunos também mostraram apreço por animais conhecidos como "maus", tais como cobras. Os artigos publicados pela mídia que procuram desmistificar esses répteis e programas regionais de educação ambiental podem ser responsáveis por esses resultados positivos.

Ao desenharem um animal enjaulado ou comercializado, era possível observar que o aluno compreendia o que é o tráfico e que ele traz problemas para os animais, devido à forma como eles faziam as ilustrações (o vendedor tinha um rosto de "cara mau", e os animais pareciam "tristes"). Em algumas produções mais elaboradas, ficou evidente que os alunos estavam cientes dos efeitos do tráfico de animais para a natureza, para os animais e para os vendedores.

No grupo "Informações", deve-se enfatizar a influência da educação ambiental informal sobre os estudantes, ou seja, como eles aprendem através da mídia e do dia-a-dia. Mariga (2006) discutiu a importância da educação ambiental informal para formar cidadãos críticos e ativos conscientes dos problemas ambientais. De acordo com Falk (2005), a maior parte do aprendizado ambiental é obtida fora da escola, de uma forma de aprendizado de livre escolha, em que as pessoas escolhem o que desejam aprender e a fonte deste conhecimento. Assim, programas de televisão e outras fontes amplamente distribuídas de informação podem desempenhar papel importante na educação ambiental sobre o comércio ilegal de animais silvestres. No entanto, é interessante notar também o uso de expressões como "Bem, eu aprendi ..." em alguns dos papéis entregues neste grupo, pois ajuda a perceber a influência da apresentação sobre o conhecimento dos alunos.

As produções deste grupo permitiram distinguir superficialmente os alunos que apenas absorveram e utilizaram conhecimentos da apresentação, daqueles que foram capazes de utilizar as novas informações de forma crítica, atingindo um dos principais objetivos da educação ambiental (Mogensen, 1997; Loureiro, 2007). Uma informação importante e, provavelmente, nova para os alunos foi a consciência de que o comprador de um animal ilegal também é responsável pela manutenção do tráfico de animais silvestres. Ela foi muito presente nas produções, reforçando novamente a influência da apresentação dos resultados.

O grupo "Solução" foi menos representado que os outros, o que não era esperado, pois quando uma pessoa participa de uma atividade de educação ambiental que busca gerar senso crítico, espera-se que ele procure maneiras de resolver o problema discutido (Stapp et al., 1969, Jacobi, 2005). No entanto, as soluções mostraram os problemas sociais relacionados ao tráfico e preocupações com a sustentabilidade dessas atividades, o que é consistente com as novas abordagens da educação ambiental (Tilbury, 1995; Bonnet, 2002; Sauvé, 2005), mostrando o pensamento crítico esperado. Generalizações não podem ser feitas com relação ao pequeno número nesta subcategoria, porque muitas produções classificadas em outros grupos possuíam idéias que poderiam ser indiretamente enquadradas como soluções. Afinal, a solicitação frequente de proibição no grupo "Proibição", por exemplo, é uma tentativa de resolver este comércio ilegal. A principal diferença entre essas soluções indiretas e as classificadas no grupo “Soluções” foi o nível de aprofundamento teórico, o qual foi superior nestas.

Possíveis causas do aparecimento de trabalhos não-relacionados podem ser falha metodológica e falta de atenção dos alunos. Quanto à metodologia, a proposta de realizar a atividade foi dada de modo muito aberto, a fim de não limitar os pensamentos dos alunos e deixá-los expressarem verdadeiramente o que eles consideravam mais importante ou a parte que mais gostavam. No entanto, as propostas abertas também permitem a ocorrência de mal-entendidos, o que provavelmente ocorreria com menor freqüência nas propostas mais fechadas. O assunto ou o modo como ele foi abordado também pode não ter agradado a todos, causando desinteresse dos alunos e, consequentemente, essas atividades não-relacionadas.

 

Conclusão

Este estudo enfatizou a importância de discutir alguns temas que são normalmente negligenciados nas salas de aula. Comércio ilegal de animais silvestres é um problema mundial, que é mais forte nos países com grande biodiversidade, como o Brasil (Yi-Ming et al., 2000; Renctas, 2001; Zahler et al., 2004; Alacs & Georges, 2008; Zhang et al., 2008). No entanto, os alunos, em geral, não discutem esse problema em sala de aula, e eles têm que aprender sobre assuntos como esse em outros lugares. Por isso, sair um pouco dos currículos fechados estabelecidos pelas escolas pode ser importante para enriquecer o conhecimento dos alunos sobre temas mais amplos e relacionados ao dia-a-dia (Rodrigues & Leite 2013).

Tendo em vista a gravidade do problema mundial do tráfico ilegal de animais silvestres, o desenvolvimento de ferramentas para tentar resolver esta situação é prioridade para a conservação da biodiversidade. A fortificação das leis relacionadas ao tráfico é um método citado por muitos autores (Zahler, 2004; Zhang et al., 2008). Isso é uma parte importante na luta contra essa atividade. No entanto, as leis severas podem ser inúteis se a população não tem conhecimento sobre as reais causas e consequências do tráfico de animais.

Este assunto também poderia ser trabalhado de forma multidisciplinar, em que os professores poderiam ajudar os alunos a desenvolver uma pequena pesquisa sobre o tema e fazer apresentações para a escola e para a comunidade. Esses projetos fariam os alunos perceberem que esse problema está mais próximo deles do que eles pensam, pois as feiras de animais ilegais e práticas erradas em relação ao tráfico são comuns no dia-a-dia. Além disso, essas atividades ajudariam os alunos de outras maneiras diferentes: eles iriam desenvolver competências relacionadas à apresentação em público e ao trabalho em equipe e expandiriam o conhecimento do tema para a comunidade, ajudando a reduzir o comércio ilegal de animais silvestres em uma escala local. Finalmente, a organização de atividades de educação ambiental com as crianças é importante para ajudá-los a desenvolver o pensamento crítico, que seria aplicado em todas as situações que eles enfrentarão em suas vidas.

Finalmente, as crianças que participaram da atividade estavam cientes sobre o comércio ilegal de animais silvestres e apresentaram conhecimento diversificado sobre o tema. Apesar de pontual, a atividade de educação ambiental apresentou bons resultados, e alguns alunos apresentaram a visão crítica esperada. Atividades de longa duração podem ter resultados melhores do que os encontrados neste estudo, uma vez que mais tempo seria útil para deixar as crianças pensarem melhor no tema. Atividades semelhantes futuras podem trabalhar com a aplicação de perguntas sistemáticas no papel no início da atividade, de modo a facilitar a comparação das idéias dos alunos antes e depois da apresentação. O uso de questionários fechados, provavelmente, diminuiria a quantidade de produções não-relacionadas entregues, mas eles podem inibir a criatividade dos alunos também.

 

Agradecimentos

Nós agradecemos a dois revisores anônimos que fizeram importantes comentários para este manuscrito.

 

Referências

 

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Ilustrações: Silvana Santos