Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) RECONHECENDO OS IMPACTOS AMBIENTAIS ENERGÉTICOS: UMA EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA UTILIZANDO UM BLOG E MAPAS CONCEITUAIS
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RECONHECENDO OS IMPACTOS AMBIENTAIS ENERGÉTICOS: UMA EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA UTILIZANDO UM BLOG E MAPAS CONCEITUAIS

 

Beatriz Pinheiro Pinto1 (biappinheiro@hotmail.com)

Carmem Lúcia Costa Amaral2 (carmem.amaral@cruzeirodosul.edu.br)

1 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais,

2 Universidade Cruzeiro do Sul

 RESUMO

O objetivo desse trabalho é relatar uma experiência em sala de aula utilizando um blog como recurso didático para aprendizagem de conceitos de impactos ambientais relacionados com alguns tipos de energia. Participaram dessa experiência trinta e seis alunos do curso de eletrônica do CEFET-MG. Durante um bimestre foram postados textos, links e questões para serem discutidas em fóruns e em sala de aula. A avaliação da aprendizagem desses conceitos foi realizada por meio da construção de mapas conceituais por grupos de alunos. Nos mapas conceituais foram analisados como o aluno estrutura, hierarquiza, diferencia, relaciona e integra conceitos dos vários tipos de impactos ambientais. Em cada mapa observamos que os alunos foram capazes de relacionarem os conceitos dos impactos ambientais evidenciando que o blog é um recurso didático que pode contribuir para uma aprendizagem significativa.

Palavras chave: Blog, Mapa Conceitual, Aprendizagem Significativa.

INTRODUÇÃO

Embora o setor de geração de energia elétrica venha produzindo impactos ambientais e sociais em toda a sua cadeia de produção, as discussões desses impactos tem ficado restrito, muitas vezes, aos representantes dos setores governamentais e empresariais, os quais tomam as decisões que melhor lhes convêm. Uma vez que essas decisões afetam a todos, é importante que todos possam participar, ou pelo menos, opinar a respeito dessas decisões.  Mas, para isso é necessário conhecer as diferentes formas de energia, entender os benefícios e seus impactos no meio ambiente.

Discutir os impactos ambientais gerados na produção de energia é muito importante porque conscientiza os indivíduos quanto às questões como aquecimento global, diminuição da biodiversidade, chuva ácida, empobrecimento do solo, mau uso da água, efeito estufa, resíduos, poluição, entre outros. Além de formar indivíduos críticos, reflexivos e participativos os auxilia a tomar decisões em um mundo em constante desenvolvimento.

Esse desenvolvimento teve como consequência o distanciamento da relação homem natureza em função de suas necessidades de consumo, levando a problemas ambientais (DUVOISIN, 2002).   

No Brasil, por exemplo, essas necessidades de consumo levaram ao aumento per capita de energia elétrica a qual pode provocar danos tanto reversíveis em longo prazo, como irreversíveis à humanidade. Entretanto, como descreve Silva e Carvalho (2002) o suprimento de energia é uma condição básica para o desenvolvimento econômico e social.

De acordo com Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2007) em um cenário de crescimento econômico sustentável é de esperar um grande aumento da demanda global de energia. Nessas condições, a estratégia de expansão da oferta de energia deve considerar, como diretriz, iniciativas na direção do uso mais eficiente.

Desta forma, refletir e incentivar debates sobre o consumo eficiente de energia, bem como suas transformações, suas principais fontes e seus impactos tanto no meio ambiente como nas nossas vidas é uma das nossas funções enquanto professores de Ciências. E para isso precisamos sair do ensino tradicional e encontrar novas formas de ensinar, organizando atividades mais significativas, ou seja, atividades que sejam efetivamente mediadoras mais do que informadoras. Para o desenvolvimento dessas atividades podem ser utilizados diversos recursos didáticos, entre eles um blog.

O blog é uma ferramenta que compõe as tecnologias de informação e comunicação que pode ser utilizado na educação com o objetivo de provocar mudanças e desenvolver habilidades e práticas que promovam um aprendizado mais significativo. Dentro deste contexto, utilizar o blog como espaço de divulgação de atividades abrindo discussões e trocando ideias cria-se um espaço mais dinâmico de aprendizagem (SANCHO; HERNANDEZ, 2006).

Neste contexto, o blog confere ao aluno a responsabilidade da sua aprendizagem, uma vez que ao utilizá-lo terá a oportunidade de descobrir e interpretar novos conhecimentos, facilitando, portanto, aperfeiçoar e reconstruir a maneira como pensa sobre determinados temas que são abordados na sala de aula (SOUSA; SILVA, 2009).

Neste trabalho utilizamos o blog como espaço para debater as questões energéticas e suas interferências no meio ambiente com o objetivo de desenvolver atitudes e valores relativos às questões ambientais e promover uma aprendizagem significativa de conceitos relativos aos diferentes tipos de energia e suas consequências no meio ambiente.

De acordo com Moreira e Massini (2008) aprendizagem significativa concebe a aprendizagem como um processo de significados fazendo com que os conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva do aluno se reorganizem com as novas informações e adquira um significado novo e contribua para a utilização do que é aprendido em diferentes situações.

Ao criar relações entre ideias e conceitos aos já existentes na sua estrutura cognitiva, o aluno consegue tornar esses conceitos mais claros e diferenciados, agregando a eles novos significados e os reorganizando. Nessa reorganização os conceitos mais abrangentes levam a uma reconciliação integrativa, processo fundamental, segundo Moreira (2012) para que ocorra uma aprendizagem significativa.

Qualquer forma de ensinar que vá contribuir para a reorganização dos conceitos deve levar em consideração a importância da interação social do aprendiz no processo de aprendizagem. Essa interação implica na participação dos alunos em tarefas desenvolvidas em equipe e o professor deve levantar discussões, reflexões, recepção e análise coletiva permitindo a melhoria da aprendizagem (MEDINA; SANTOS, 2011).

Para que isso aconteça o professor deve preparar um material que seja potencialmente significativo, o qual segundo Moreira (2010) deve seguir os princípios da diferenciação progressiva e da reconciliação integrativa. Para a diferenciação progressiva, a organização sequencial deve ser desenvolvida dentro da programação dos conteúdos, partindo dos mais gerais até chegar às questões mais específicas.

Para se alcançar a reconciliação integrativa é fundamental promover um verdadeiro “sobe e desce” nas hierarquias conceituais durante o tempo em que as novas informações são apresentadas (NOVAK, 1981).

Um dos recursos que pode ser utilizado para hierarquizar conceitos, contribuir para o aluno integrar, compor e caracteriza-los é a construção de um mapa conceitual (MOREIRA, 2010).

Os mapas conceituais são diagramas que procuram refletir a organização conceitual, ou seja, não busca classificar um conceito, mas sim relacioná-los e hierarquizá-los (MOREIRA, 2010).

Nesse trabalho utilizamos os mapas conceituais como um instrumento de avaliação com o objetivo de obter informações como o aluno relaciona um conjunto de conceitos, ou seja, como ele estrutura, hierarquiza, diferencia, relaciona, discrimina, integra conceitos dos vários tipos de impactos ambientais gerados pelos vários tipos de energia, os quais foram trabalhados no blog.

 

METODOLOGIA

Esse trabalho foi desenvolvido com 36 alunos da 2ª Série do Curso de Eletrotécnica da Educação Profissional Técnica de Nível Médio do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET- MG. A turma foi dividida em seis grupos e durante um bimestre, nas aulas de biologia,  foram postados textos, links e questões envolvendo os diferentes tipos de energia, suas transformações e os impactos ambientais que podem ocorrer em consequência da utilização da energia eólica, fotovoltaica, hidrelétrica e a proveniente do uso de combustíveis fósseis.

Desenvolvemos a organização sequencial dessa atividade dentro da programação do Tópico de Ecologia, partindo de conceitos, origens, tipos e consequências dos impactos ambientais.

Antes de utilizar o blog, explicamos como seriam desenvolvidas as atividades do bimestre e que o instrumento de avaliação seria a construção de mapas conceituais. Para sua construção os alunos utilizaram o CmapTools. Uma vez que esses alunos já tinham trabalhado na disciplina de física com mapas conceituais, solicitamos que construíssem um mapa envolvendo seus conhecimentos sobre impactos ambientais gerados pelos diversos tipos de energia.

Após postarmos no blog textos, links e questões problemas, nas aulas seguintes abríamos discussões envolvendo os tópicos postados e solicitávamos que os grupos organizassem suas ideias e posteriormente as publicassem no blog para a socialização dos seus comentários. Esses comentários passavam por uma moderação antes de serem liberados para publicação. 

Nas duas últimas aulas do bimestre solicitamos aos alunos que trouxessem seu computador para a sala de aula para construírem outro mapa envolvendo os conceitos trabalhados no blog.

 

RESULTADOS

Cada grupo construiu três mapas conceituais, no início, meio e final das atividades postadas no blog. Foram elaborados ao todo dezoito mapas conceituais. Entretanto apresentaremos nesse artigo três mapas elaborados por um único grupo que chamamos de grupo 1.

Para a construção do primeiro mapa utilizamos os diferentes tipos de energia (eólica, fotovoltaica, hidrelétrica, combustíveis fósseis) e suas consequências para o meio ambiente como ponto de partida para a nova aprendizagem.

Em seus mapas observamos que os alunos conseguiram diferenciar cada tipo de energia como renovável e não renovável, apontaram vantagens e desvantagens de cada uma e levantaram algumas consequências para o meio ambiente, como pode ser observado na figura 1.

 

Figura 1 – Primeiro mapa conceitual  construído pelo grupo 1.

 

De acordo com Tavares e Luna (2003) a essência da aprendizagem significativa está em que as ideias sejam relacionadas com os conhecimentos prévios do aluno. Como podemos observar na figura 1, esse grupo, assim como os outros, embora tenham conhecimentos prévios das consequências dos diferentes tipos de energia sobre o meio ambiente, não conseguiu, assim como os outros, associar suas ideias com o conceito de impacto ambiental.

Podemos observar que o grupo apresentou uma elaboração hierárquica dos principais conceitos, mostrando a exteriorização dos significados mentais e subjetivos construídos e assimilados pelos seus componentes.

Notamos também que o mapa da figura 1 ficou muito denso, ou seja,  o grupo escreveu muitas palavras dentro dos retangulos, o que segundo Moreira (2010) não é recomendável, pois pode ser uma maneira de contornar o desconhecimento das relações entre os conceitos.

Para Luchetta (2009) a utilização da explicação do conceito não é proibido, porém, não é recomendável porque desmotiva o observador, perde a qualidade estética e afasta do objetivo central.

Após a análise desses mapas iniciamos as postagens de textos, links e questões no blog e trabalhamos com os diversos impactos relativos às questões energéticas. Em um determinado momento do bimestre solicitamos aos alunos que construíssem um mapa conceitual cujo conceito inclusivo fosse o de impacto ambiental. A figura 2 mostra o segundo mapa construído pelo grupo 1.

 

 

Figura 2 – Segundo mapa conceitual construido pelo grupo 1.

 

Ao analisar a figura 2 observamos que este mapa apresenta uma organização hierárquica do centro para as bordas, onde o conceito de impacto ambiental ocupa uma posição central e está rodeado por outros conceitos a ele subordinados. Percebem que embora seus conhecimentos ainda se apresentaram restrito aos conteúdos  do blog, os alunos associaram as desvantagens citadas no primeiro mapa como impactos ambientais.

Ao observar essa restrição enfatizamos em sala de aula os outros conceitos discutidos no blog. Essa discussão constribuiu para a ampliação desses conhecimentos como foi verificado pelo terceiro mapa construido pelos alunos. A figura 3 mostra o terceiro mapa conceitual construido pelo grupo 1.  

 

 

Figura 3 – Terceiro mapa constrído pelo grupo 1.

Como podemos observar nesse mapa, o grupo mostrou uma melhoria na organização e na ampliação dos conceitos, obedeceram o principio da hierarquia, ou seja,  partiram dos tipos de impactos ambientais, suas origens e chegaram as suas consequências. Fizeram algumas ligações transversais dando mais sentido a alguns conceitos e usaram palavras de ligação, na sua maioria, adequadas.Essas ligações transversais tornam clara a reconciliação integrativa explicitando relações e proposições significativas entre os conceitos dos impactos ambientais.

Ao compararmos os dois últimos mapas podemos observar um aumento significativo no número de conceitos relacionados ao impacto ambiental, refletindo uma forte influência do blog, o qual foi utilizado como material didático.

 

CONCLUSÕES

Os resultados apresentados acima mostraram que o blog pode ser utilizado como um recurso didático e um espaço para divulgar conteúdo, links e levantar discussões nas salas de aula.

O blog contribuiu significativamente na aprendizagem de conceitos relativos aos impactos ambientais tendo em vista que, o número de aulas de biologia é muito reduzido, a utilização do blog auxilia o professor no aprofundamento dos conteúdos propostos, pois permite ao aluno extrapolar os muros da escola.

As atividades desenvolvidas no blog tiveram uma boa aceitação pelos alunos o que evidencia suas preferências por recursos que fujam a rotina monótona da aula expositiva.    

Acreditamos que o blog, como instrumento de divulgação de conteúdos e a construção do mapa conceitual para avaliar o aprendizado  contribuíram para os alunos expressarem suas  ideias demonstrando na evolução de cada mapa com as ligações estabelecidas que conseguem relacionar conceitos atingindo em parte o princípio da diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa promovendo assim um aprendizado significativo.     

 

REFERÊNCIAS

DUVOISIN, I.A. A Necessidade de uma Visão Sistêmica para a Educação Ambiental : conflitos entre o velho e o novo paradigmas. In RUSCHEINSKY, A. et al. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre, Artmed, 2002.

BRASIL. MINESTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2007. Disponível em: < - http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/publicacoes/pne_2030/PlanoNacionalDeEnergia2030.pdf> Acesso em : 08 de ago de 2013.

SANCHO, J.M.; HERNANDEZ, F. Tecnologias para Transformar a Educação. Porto Alegre, Artmed, 2006.

SOUSA, A.J.; SILVA, B.D.  Percepções dos Alunos e dos Professores Face à Integração de Blogues em Contexto Sala de Aula. 2009. Disponível em: Acesso em : 02 de jul de 2011.

MOREIRA, M.A.; ELCIE, F.S.M. Aprendizagem Significativa. São Paulo:Editora Vetor, 2008.

MEDINA, N.M.; SANTOS, E.C. Educação Ambiental. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

NOVAK, J.D. Uma Teoria de Educação. São Paulo:Editora Pioneira, 1981.

MOREIRA, M.A. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. São Paulo: Centauro Editora, 2010.

LUCHETTA, L.H. Mapas Conceituais na Prática Pedagógica. 2009. Disponível em: <www.pucpr.br/eventos/educere/educere 2009/anais/pdf/3544_2193.pdf> Acesso em  30 de jun  2013.

TAVARES, R.; LUNA, G.  Mapas Conceituais: uma ferramenta pedagógica na consecução do currículo. 2008.

 Disponível em http://www.fisica.ufpb.br/~romero/pdf/2008MapasPrincipia.pdf

Acesso em  23 de fev 2013.

 

MOREIRA, M.A.  Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. 2012. Disponível em www.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf. Acesso em  18 de jun 2013.

Ilustrações: Silvana Santos