Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
16/12/2013 (Nº 46) RELAÇÕES HUMANO-ANIMAL: UMA ABORDAGEM A PARTIR DA PERCEPÇÃO DE VISITANTES DO ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1731 
  

Relações humano-animal: uma abordagem a partir da percepção de visitantes do Zoológico de Brasília.

 

Georgia Maria de Oliveira Aragão

Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC.

georgia.aragao@gmail.com

 

Ricardo Kazama

Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC.

rkazama@cca.ufsc.br

 

Resumo

As relações humano-animal existem desde a origem do homem na terra, no entanto essas vêm mudando de acordo com as necessidades e anseios do homem. Nesse sentido o presente trabalho objetiva abordar a percepção dos visitantes do Zoológico de Brasília- DF sobre suas relações com a fauna silvestre. Onde foi aplicado 64 entrevistas semi-estruturados aos visitantes maiores de 18 anos de idade e que visitaram o zoológico em finais de semana. Sendo observado que os entrevistados têm conhecimento sobre a fauna adquirida através de vivências e emoções através e pelos animais, além disso, foi percebido que o zoológico não foi um meio pelo qual adquiriram informações, no entanto as instituições geram uma expectativa para tal. 

Palvras-chave: fauna, educação ambiental e conservação.

Introdução

Nossas relações com os animais não humanos se configuram de maneira bastante diferente das décadas passadas, o que contribui para a modificação não somente de nossos hábitos, como também o papel dos zoológicos na sociedade atual. Quando os zoológicos surgiram tinham como foco atender exclusivamente as necessidades de seus visitantes. Hoje têm quatro papeis fundamentais: educação, conservação, pesquisa e lazer (SANDERS et al, 2007, ARAGÃO e KAZAMA, 2013).

De acordo coma Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários do Brasil os zoológicos devem promover a educação ambiental, bem como a conservação ex-situ dos componentes da fauna, nos precisos termos da Lei nº 9.795/99, em consonância com os princípios constitucionais previstos no Art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Embora os zoológicos da atualidade tenham como base a conservação, a reprodução de espécies ameaçadas não é a única forma de contribuir para programas de conservação. A educação é fundamental para que programas de conservação vigorem, principalmente em comunidades que têm como habito manter relações diretas com animais da fauna silvestre, como na alimentação, rituais e medicina. Tendo em vista que a educação ambiental que os zoológicos propõem é também itinerante.

Marino (2008) diz que o mais importante é o impacto que estas instituições produzem sobre o público, responsável por influenciar tomadas de decisões que definem o êxito ou o fracasso das políticas públicas conservacionistas. A visitação estimada em cerca de 30 milhões de visitantes por ano demonstra também a importância destas instituições como centros de educação ambiental para a população, aumentando o interesse, cuidado e conhecimento sobre a fauna silvestre (MAGNANI, 2002).

Apesar da mobilização internacional a respeito da conservação da biodiversidade brasileira, a sobrevivência de muitas espécies nativas está sendo ameaçada de muitas formas, dentre as quais podemos citar a falta de conhecimento sobre a vida animal (BIZERRIL, 1999). Reis et al. (1998) relata que a falta de conhecimento leva a baixa valorização e baixa mobilização popular a respeito da conservarão da fauna nativa e é visto como sendo a principal causa de um grande número de mortes de animais e capturas ilegais no país.

Abordagem sobre interação humano-animal

O homem, desde a gênese, tem explorado o ambiente natural com um olhar particularmente atento e interessado para as outras formas de vida animal do planeta (DOTT, 2005). Os seres humanos possuem uma conexão emocional inata com as demais espécies da Terra (WILSON, 1989). Portanto, as relações homem e animais remontam ao início da existência do ser humano na Terra. Desde então, essa interação caracterizou-se pelo domínio, seja inicialmente na caça, ou posteriormente, quando então foram domesticados a fim de que pudessem fornecer alimentos e até para entreter a humanidade.

O homem manifesta sentimentos ambivalentes quanto aos animais, projeta neles ódio, desejo, paixão, medo e temor, atribuem-lhes simbolismos. Essa afirmativa corrobora com Wilson (2002) quando ele trata da biofilia, um dos sentimentos que o ser humano nutre por outros animais, ou seja, a tendência de se ligar emocionalmente a eles. Sendo em parte, instintiva e, em parte, aprendida. O sentimento oposto, a biofobia, reação adversa à presença de outra espécie viva, varia do desconforto ao temor, como na aversão às serpentes e a baratas.

Animais estão presentes em inúmeros contos e lendas de todo o mundo, nos contos brasileiros se pode citar uma infinidade, como: botos e sapos.  No entanto, a vida trouxe a realidade aos contos, onde atualmente vivemos sobre imensa devastação de recursos naturais, inseridos neles os animais não-humanos, quais são usados para diversos fins que vão desde a alimentação até a magia negra. A forma de adquiri-los, geralmente, se dá através do tráfico ilegal.

A principal ameaça à fauna silvestre, segundo Lopes (2002) é a perda de habitat e o tráfico de animais. Essa relação está intimamente ligada com a crueldade com os animais, Lopes (2002) cita o transporte em gaiolas, maletas adaptadas, latas de massa corrida ou tinta, tubos de PVC, bexigas e caixas de madeira, na cintura ou no tornozelo de pessoas, sob a roupa. Enquanto houver interessados em manter animais aprisionados, vai haver tráfico de fauna e maus tratos a animais. Nunca haverá recurso público suficiente para restringir essa prática se não houver uma disposição da sociedade nesse sentido. Constantino (2002) afirma que o combate ao tráfico de animais silvestres depende de fiscalização e repressão, mas principalmente, da mudança de hábitos da população.

Outras formas de interagir com animais se dão através de visitas em zoológicos. Os zoológicos contemporâneos que têm dentre suas funções educar e aproximar as pessoas com os animais, quais muitas vezes procuram esse ambiente por não terem mais opções de observar animais silvestres em vida livre e o pouco ou nenhum contato com a natureza. Pois, os grandes centros urbanos impossibilitam, sendo esses grandes selvas de pedras.

Os animais também estão associados ao homem quando ajudam a entender o comportamento do próprio homem, através de estudos de algumas espécies, como foi relatado por Snowdon (1999):

O estudo comparativo do comportamento com um leque amplo de espécies pode fornecer insights sobre fatores que afetam o comportamento humano. Por exemplo, o muriqui (macaco do sudeste do Brasil) não apresenta agressão aberta entre os membros do grupo social. Nós podemos aprender como minimizar a agressão humana se nós compreendermos como esta espécie evita a agressão (p. 367).

Pode-se observar que a interação do homem com animais variam nas mais diversas formas. No entanto, na atualidade essas formas em sua maioria são negativas, gerando uma pressão sobre a fauna. Com isso, a problemática ética pode ocorrer na criação de animais, no uso dos animais para os mais variados fins, como alimentação, diversão, companheirismo, exibição, exploração da força, pesquisa de interesse comercial, veterinário, humano, militar (HOSSNE, 2008).

Hemsworth (2002) e Coleman (2000) discorrem que através de programas de educação para pessoas que trabalham diretamente com os animais, abordando aspectos da biologia animal, da percepção dos animais e dos humanos em relação ao manejo, e outras questões, como formas de melhorar o ambiente social do trabalho, é possível melhorar as atitudes e comportamentos dessas pessoas e alcançar, com isso, melhorias na produtividade e bem-estar dos animais. Essa afirmativa está voltada para animais de produção, no entanto é uma prerrogativa para todos os animais, visto a necessidade de se pensar em bem-estar de animais de cativeiro e vida livre, silvestres e domésticos.

Procedimentos metodológicos

A proposta foi submetida e aprovada no Comitê de Ética de Pesquisas com Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC (CAAE: 10661612.1.0000.0121) para então serem aplicadas 64 entrevistas semi-estruturadas no Zoológico de Brasília- DF. O público alvo são visitantes de finais de semana e maiores de 18 anos, escolhidos de forma aleatória. O número amostral foi baseado pelo “método de exaustão” (MINAYO, 2003), ou seja, considerando concluída a etapa de coleta de dados após verificar as reincidências nas falas dos entrevistados.

A análise dos dados foi baseada na análise de conteúdo de acordo com Bardim (2012). O que permite ao pesquisador o entendimento das representações que o indivíduo apresenta em relação a sua realidade e a interpretação que faz dos significados a sua volta.

Os dados foram analisados e interpretados através do programa SPSS Statistics 20.0.0 (Statistical Package for the Social Science). Ocorreu a realização de técnicas de estatística descritiva: distribuição de frequência. Dessa forma os resultados então divididos em Perfil dos visitantes e Os visitantes e a fauna, sendo a ultima a categoria de análise, conforme detalhado a seguir.

Resultados e Discussão

Perfil dos visitantes do Zoológico de Brasília-DF

Para entender a percepção dos entrevistados é pertinente analisar o perfil desses. De modo que foi observado que os visitantes entrevistados do zoo de Brasília têm idade entre 18 e 50 anos, onde 61% são do sexo feminino e 39% do sexo masculino. Um estudo realizado por Tribe (2006) em oito Zoológicos da Austrália e Reino Unido tem dados semelhantes, qual mostra que as mulheres têm maior interesse na visitação.

A respeito do grau de escolaridade 39% dos visitantes têm nível médio, 29% nível superior, 12% nível fundamental, 11% pós-graduação e 9% nível técnico. Esses dados se legitimam com a marca que o município atingiu de 0,935 no Índice de Desenvolvimento Humano fator educação no ranking de 2003, valor consideravelmente elevado, em consonância aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Quanto à frequência de visitas ao zoo 88% dizem que não é a sua primeira visita e 12% está indo a primeira vez. Dos que já visitaram o zoológico mais de uma vez 59% fazem a visita pelo menos uma vez por ano, 20% pelo menos duas vezes ao ano e 21% passam em média um ano e meio para ir ao zoológico novamente. Essa análise permitiu entender que os visitantes procuram o zoo com certa frequência, o que corrobora com as pesquisas realizadas por Furtado & Branco (2003a) e Galheigo & Santos (2009a).

Quando se trata da motivação para irem ao zoológico 63% relataram que o principal motivo foi pelo lazer, secundariamente com 14% pela possibilidade de contato com a natureza, 12% para levar os filhos e 11% por questões de educação/ aprendizado. Esses resultados se assemelham aos encontrados por Furtado & Branco (2003b) e Galheigo & Santos (2009b) onde afirmam que mudou muito os motivos de visitação, no passado era por questões de superioridade, pois somente a elite realizava as visitas como questão de status social.

Ao se depararem com os animais 50% disseram que procuram saber se são nativos e os outros 50% dizem que não procuram saber.  A principal fonte de informações sobre a fauna nativa é extraída da TV com 57% das respostas, 23% dizem que o zoológico é sua fonte de informação e 20% buscam na internet. Morris (1990) já dizia que a grande quantidade de informações sobre a vida animal transmitida principalmente pelos documentários televisivos tornou os visitantes dos zoológicos mais sensíveis e preocupados em conhecer e apreciar a vida animal. Essa estatística também reflete o potencial que o zoológico tem de disseminar e incentivar ações de educação no âmbito da conservação da natureza. Dados esses que corrobora com Nunes (2001) qual afirma que devido ao fascínio que as pessoas têm por animais, os zoológicos, através de uma exposição que integre fauna e ecossistemas variados, têm grande potencial podendo ser base de um programa educativo dinâmico e interativo.

Categoria: os visitantes e a fauna nativa.

Para análise da categoria dos visitantes e a fauna foram aplicadas as seguintes questões: i) Que animal você gostaria de ver no zoológico? Por quê?; ii) Qual animal achou mais interessante no zoológico? iii) O que pode ser afetado com a extinção de uma espécie animal? iv) Conhece algum animal ameaçado de extinção? v) O que você acha sobre criar um animal silvestre em casa? Tais perguntam têm como objetivo avaliar a valoração da fauna nativa e a percepção dos visitantes quanto à fauna de modo geral. Das respostas dos entrevistados, para cada questão, surgiram temas que foram inseridos nesta categoria de análise.

i)             Que animal você gostaria de ver no zoológico? Por quê?

A partir da análise para essa pergunta surgiram seis temas, sendo dois deles para o primeiro questionamento e quatro para o segundo. Onde, foi observado que 64% dos entrevistados têm mais interesse em observar animais da fauna exótica e apenas 36% têm interesse pela fauna nativa.

Junto a estas respostas os entrevistados declaram que as suas principais motivações para visualizarem determinadas espécies é a oportunidade que têm em ver o animal de perto, pela beleza, interesse pelo comportamento dos animais e por ser uma espécie ameaçada de extinção, conforme podemos observar no gráfico I.

 

Gráfico I- categoria “os visitantes e a fauna”- resultados da pergunta i Motivação para ver os animais,

Alguns fatores podem ter contribuído para esses dados, dentre eles as metodologias utilizadas em salas de aula para o ensino de ciências. Pois, mesmo o Brasil tendo sido reconhecido como um dos países com maior biodiversidade do mundo Auricchio (1999) diz que a fauna silvestre brasileira, até a década de 90, era esquecida e muito comumente as crianças aprendiam e passavam a gostar mais dos leões do que das onças. Estimativas apontam que a proporção de espécies de todos os grupos conhecidos que se encontram no Brasil, atualmente, esteja entre 8,5 a 11,5% do total da biodiversidade mundial (LEWINSOHN e PRADO, 2002; 2005). Portanto, estratégias e metodologias de ensino se fazem necessário para que estudantes e a população brasileira conheçam e valorizem a biodiversidade existente no Brasil.

Uma visita ao zoológico por grupos escolares pode em algum momento ser vista apenas como uma forma de lazer, no entanto um planejamento pedagógico com objetivos claros e metodologia interdisciplinar pode agregar conhecimento em diversas áreas do ensino atual, especialmente a ciência/biologia. Para que isso ocorra concretamente é necessário que os docentes visualizem a importância desse tipo de abordagem metodológica.

 

ii)            Qual animal achou mais interessante no zoológico?

Para essa pergunta foram trabalhados os mesmo temas da primeira. Seguindo a proposta de analisar que tipo de animal os entrevistados tiveram maior simpatia. No entanto, o resultado foi contrário. Onde, a maioria teve maior interesse pelos animais nativos que encontraram no zoológico (Gráfico II). Isso pode ser por apresentarem o número de espécies da fauna nativa em maior quantidade do que da fauna exótica. Segundo Auricchio (1999), 82% dos animais em exposição nos zoológicos brasileiros são nativos. Isso pode auxiliar em um trabalho sistemático de EA sobre a fauna nativa, incentivando o conhecimento sobre espécies brasileiras e seus biomas.

 

Gráfico II- categoria “os visitantes e a fauna”- resultados da pergunta ii Qual animais achou mais interessante no zoológico?

 

 

Outra possibilidade se dá pelo fato de que a maioria dos animais nativos encontrados no zoológico serem espécies consideradas carismáticas, ou seja, atraem o público, tem um apelo maior, por exemplo, borboletas, araras e macacos.

Têm-se tentado descobrir quais as espécies são de maior interesse pelo público e os resultados mostram que são animais de porte grande, no entanto esses animais têm um auto custo operacional, além de baixas taxas de fecundidade (WHITWORTH, 2012). Esse tipo de pesquisa tem como objetivo manter animais de maior interesse do público, a fim de que o zoológico seja um real atrativo. O autor ainda relata que como esses animais tem custo elevado, outro ponto em debate é a manutenção de espécies raras, na esperança de aumentarem a atratividade e também recursos para conservação dessas.

 

iii)          O que pode ser afetado com a extinção de uma espécie animal?

Três temas foram elencados aqui, com a proposta de avaliar os entrevistados a respeito de questões ambientais mais gerais. Quando indagados sobre a questão 69% dos entrevistados responderam que a extinção de uma espécie pode afetar o equilíbrio ambiental, 23% disseram que pode afetar os humanos e 8% que afetaria outras espécies de animais (Gráfico III).

 

 

Gráfico III- categoria “os visitantes e a fauna”- resultados da pergunta iii O que pode ser afetado com a extinção de uma espécie animal?

Podemos afirmar que o público visitante do zoológico de Brasília tem uma percepção bem definida sobre a questão. Richard e Rodrigues (2001) afirmam que uma vez que uma espécie é extinta sua população não pode ser recuperada, a comunidade em que ela habita se torna mais pobre e seu valor potencial para os seres humanos jamais poderá se concretizar. E apesar de que quando se afeta o equilíbrio ambiental outras espécies também são afetadas, inclusive os seres humanos. As respostas foram de encontro a tal afirmação.

O avanço na conservação da biodiversidade depende do aumento da compreensão pública sobre a relação entre as espécies, o ambiente e as atitudes e ações de cada pessoa. Portanto, trata-se de uma educação interdisciplinar o papel que os zoológicos devem exercer para alcançarem os objetivos de informar e sensibilizar seu público diante das questões ambientais.

 

iv)          Conhece algum animal ameaçado de extinção?

Aqui surgiram três temas, com a perspectiva de estimar o grau de envolvimento com espécies em risco. Quando questionados se conheciam algum animal ameaçado de extinção 44% citaram pelo menos um animal da fauna nativa ameaçada de extinção, 55% citaram mais de um animal e apenas 1% não conheciam nenhum animal ameaçado de extinção (Gráfico IV). Podemos perceber que existe um grau de envolvimento e conhecimento dos visitantes sobre espécies ameaçadas de extinção. Gorayeb (1994) apud Furtado & Branco (2003) sugerem que o tratamento dado aos animais depende diretamente ao grau de importância que esses têm para o ser humano. Essa importância está no sentido emocional, de afeição e carisma, substituindo um pensamento do passado em que o mundo foi criado para o bem do homem e todo o resto seria subordinado as suas vontades.

 

 

 

Gráfico IV- categoria “os visitantes e a fauna”- resultados da pergunta iv Conhece algum animal ameaçado de extinção?

Essa amostra também pode está vinculada pela influência dos meios de comunicação, pois nos últimos anos muitos filmes, documentários e campanhas sobre a fauna nativa têm sido apresentados em nível nacional e internacional. Entre os filmes mais recentes destacam-se Blue (2011), que trata das ameaças à arara-azul-de-lear, e Microcosmos (2005), sobre o universo da microfauna. É uma prática recente, mas que já temos resultados aparentes. A grande quantidade de informações sobre a vida animal transmitida principalmente pelos documentários televisivos tornou os visitantes dos zoológicos mais sensíveis e preocupados em conhecer e apreciar a vida animal (MORRIS, 1990).

         Apesar desse resultado, as espécies brasileiras ameaçadas de extinção ainda são pouco conhecidas pelos visitantes. O Brasil abriga 07 biomas, 49 ecorregiões já classificadas, e incalculáveis ecossistemas. Segundo o IBAMA, é o país com a maior biodiversidade existente, reúne ao menos 70% das espécies vegetais e animais do planeta, e possui a flora mais rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, já descritas; abrigando também, acima de 3.000 espécies de peixes de água doce, 517 espécies de anfíbios, 1.677 espécies de aves, 518 espécies de mamíferos, e pode ter até 10 milhões de insetos, possuindo atualmente 627 espécies ameaçadas de extinção. Embora apresente essa megadiversidade e grande quantidade de espécies ameaçadas, o público citou um número muito pequeno de espécies (tabela I)

 

Tabela 1- Animais ameaçados de extinção citados pelos visitantes.

 

 

Como podemos observar os animais citados são espécies emblemáticas e carismáticas. Em nenhum momento sendo citadas espécies de pequenos anfíbios, por exemplo, que afetam drasticamente um ecossistema quando extintos. Nesse momento os zoológicos deveriam entrar em atividade com seu papel de informação e sensibilização através de programas de Educação Ambiental, através educação não formal. A educação não formal realizada através dos zoológicos permite que os educandos busquem referências podendo interpretá-las e compreende-las (VIEIRA, 2005; VIEIRA, 2007).

O zoológico de Brasília, atualmente, possui um plantel de aproximadamente 1400 animais distribuídos em 247 espécies entre mamíferos, aves, répteis e artrópodes. Destas, 42 estão ameaçados de extinção. Possibilitando interação e sensibilização dos visitantes. Pouca informação sobre animais ameaçados pode ser observada no zoológico de Brasília, se não por pequenas placas que falam o status de conservação. Informações além dessa são se tornam necessárias como, por exemplo, causa da extinção e número aproximado de espécimes. As pessoas precisam conhecer para preservar e/ou conservar.

 

v)        O que você acha sobre criar um animal silvestre em casa?

As respostas para essa análise foram agrupadas em seis temas. Onde, 14% responderam que têm animais silvestres em casa; 25% já tiveram algum animal silvestre em casa; 13% gostariam de ter; 8% disseram que a lei não permite; 13% afirmaram que não é seguro para os animais e nem para o homem ter algum animal silvestre em casa e 28% dizer preferir ver esses animais na natureza (Gráfico V).

 

Gráfico V- categoria “os visitantes e a fauna”- resultados da pergunta v O que você acha sobre criar um animal silvestre em casa?

É natural do ser humano gostar de animais de estimação, mas o comum seriam cachorros e gatos, porem estes não são os únicos. Desde muitos anos animais silvestres são criados em cativeiro, quem não conhece o papagaio da vovó?! E o caminho para isso geralmente é o tráfico de animais silvestres. O qual acarreta em uma devastação contínua, prejudica o equilíbrio ecológico, privando as liberdades humanas, tanto no aspecto ecológico, restringindo o direito a um ambiente ecologicamente equilibrado, a gerações presentes e futuras, quanto à restrição de oportunidades e de uma melhor qualidade de vida (LIMA, 2007). 

Criar animal silvestre sem certificação é crime ambiental. No Brasil, só é permitido manter em cativeiro animais silvestres no caso de  zoológicos, entidades com fins científicos e algumas exceções, desde que possuam autorização do Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - ou da autoridade competente.

Em muitas respostas a impressão foi de que os entrevistados se sentiam intimidados em relatar a verdade e em alguns momentos respostas surpreendentes surgiram, como por exemplo, a de uma estudante de biologia: “Tenho uma iguana, comprei de um senhor em uma cidade do interior de Goiás. Infelizmente só consegui ter uma iguana por esse meio e não posso certifica-la pois corro o risco de apreenderem meu animal e responder por crime ambiental.”

Respostas como essa nos mostram que as pessoas por mais conhecimento que tenham, ainda assim, se arriscam e arriscam a espécies silvestres a entrarem em um processo de extinção, qual muitas vezes é irreversível. O tráfico de animais é especialmente danoso para aquelas espécies mais raras e ameaçadas, como a Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) e o Macaco Prego (Cebus apella).

Outro problema acontece quando as pessoas que criam esses animais de forma irregular enjoam ou se sentem ameaçadas e resolvem abandona-los em locais inapropriados.

Essa problemática pode ter relações culturais, de educação, pobreza, falta de opções econômicas, pelo desejo de lucro fácil e rápido, e por status e satisfação pessoal de manter animais silvestres como de estimação (RENCTAS, 2001).

Os expressivos 28% que gostariam de ver os animais livres na natureza fazem parte de uma mudança que vem acontecendo nas ultimas décadas. Segundo Mergulhão (1997), populações moradoras de metrópoles têm demonstrado uma ampliação da necessidade de aproximação com a natureza. Podemos perceber pelo crescente aumento de visitantes em áreas verdes, como por exemplo, os zoológicos e parques nacionais.

Considerações Finais

Os visitantes do Zoológico de Brasília, como a maioria das pessoas, têm um forte envolvimento com animais silvestres. Seja no conhecimento teórico, seja no convívio com os animais. Nesse caso a interação, em sua grande maioria, é de forma positiva, aonde vão de encontro com os procedimentos e conceitos técnicos encontrados na bibliografia. No entanto, o que podemos inferir é que muito ainda tem que ser trabalhado no que diz respeito ao conhecimento sobre diversidade de espécies ameaçadas. Sendo o zoo um espaço privilegiado por possibilitar o lazer, o aprendizado e a aproximação com os animais, o mesmo deve desenvolver técnicas de educação ambiental mais eficiente a fim de estabelecer o conhecimento e a interação da população com a fauna de forma consciente e sustentável.

Referencias

ARAGÃO, G. M. O.; KAZAMA, R. A função dos zoológicos nos dias atuais condiz com a percepção dos visitantes? Educação Ambiental em Ação, v. 43, p. 21, 2013.

AURICCHIO, A. L. Potencial da Educação Ambiental nos Zoológicos Brasileiros. São Paulo: Publicações avulsas do Inst. Pau Bras. Hist. Nat., n. 1. p.1-48. 1999.                      

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Trad. Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2012.   

BIZERRIL, M. X. A.; ANDRADE, T. C. S. Knowledge of the urban population about fauna: Comparison between Brazilian and exotic animals. Ciência e Cultura Juornal of the Brazilianz Association for the Advancement of Science, Brasília-DF,volume: 51, 38-41p., January/February, 1999.

BRASIL. Portaria nº 118/97, de 15 de outubro de 1997. Dispõe sobre o funcionamento de criadouros de animais da fauna silvestre brasileira com fins econômicos e industriais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 nov. 1997.                                                                          Disponível em: [http://www.ibama.gov.br/fauna/legislacao/port_118_97.pdf].  Acesso em: 19 de fev de 2013.

COLEMAN, G.J. Modifying stockperson attitudes and behaviour towards pigs at a large commercial farm. Applied Animal Behaviour Science, v.66, p.11-20, 2000.

CONSTANTINO, C. E. Delitos Ecológicos. 2ª edição. Ed. Jurídico Atlas. São Paulo. 266 p. 2002.

FIGUEIREDO, L. V. R. Percepção ambiental em uma unidade de conservação de proteção integral. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social/PPGDS, 2011.

FURTADO, M. H. B. C.; BRANCO, J. O. A percepção dos visitantes dos zoológicos de Santa Catarina sobre a temática ambiental. II Simpósio Sul Brasileiro de educação Ambiental, I Encontro da Rede Sul Brasileira de Educação ambiental e I Colóquio de Pesquisadores em Educação Ambiental da Região Sul, UNIVALI/ Itajaí, SC, 2003.

HOSSNE, W. S. Comissão de ética animal. Ciência e Cultura. Vol. 60. N 2. São Paulo. 2008.

GALHEIGO, C. B. S.; SANTOS, G. M. M. Saberes dos visitantes do zoológico de Salvador-ba sobre a fauna nativa e sua conservação. Revista eletrônica Mestrado em Educação Ambiental, v. 23, 2009.

HEMSWORTH, P.H. The effects of cognitive behavioral intervention on the attitude and behavior of stockpersons and the behavior and productivity of commercial dairy cows. Journal of Animal Science, v.80, p.68-78, 2002.

HOSSNE, W.S. "Bioética: princípios ou referenciais?" O mundo da saúde, 30:673-676, 2006.

IBAMA- INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (Brasil). Ecossistemas brasileiros: estudo de representatividade ecológica nos biomas brasileiros. Disponível em: [http://www.ibama.gov.br/]. Acesso em: 04 de mar de 2013.

LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento. Editora Contexto, São Paulo. 2002.

LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Quantas espécies há no Brasil?  Megadiversidade 1 nº1: 36-42. 2005.

LIMA, G. B. L. A conservação da fauna e da flora silvestres no Brasil: a questão do tráfico ilegal de plantas e animais silvestres e o desenvolvimento sustentável. Revista Jurídica, Brasília, v. 9, n. 86, p.134-150, ago./set., 2007.

LOPES, J. C. A. Operações de fiscalização da Fauna: Análise, Procedimentos e resultados. In: animais silvestres: vida à venda. Brasília: Dupligráfica, p. 15- 49. 2002.

MAGNANI, F. Análise do panorama administrativo e operacional dos zoológicos brasileiros. In. XXVI Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil e II Encontro de Zoológicos do Mercosul. Porto Alegre/RS, Anais de SZB, p, 207. 2002.

MARINO, L. M. R. Caracterização e zoneamento ambiental do zoológico municipal de Mogi Mirim – SP. Tese (Doutorado em Ciências) – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2008.

MERGULÃO, M. C. Zoológico: uma sala de aula viva. In: PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educação Ambiental: Caminhos Trilhados no Brasil. Brasília, p.193-200, 1997.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis (RJ): Vozes, 2003.

MORRIS, D. O contrato animal. Rio de Janeiro :Editora Record.. 1990.

NUNES, E. S. Análise do programa de educação ambiental: visita monitorada – desenvolvido no zoológico municipal de Piracicaba. Monografia de Especialização em Educação Ambiental e Práticas Ambientais. Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2001.

REIS, M. L. Anos de registro de animais silvestres recebidos pelo JZB de particulares ou de apreensão: Implicações BA conservação da fauna do Distrito Federal. In Resumos do XXII Congresso Brasileiro de Zoologia, p. 360, Recife, 08-13 de Fevereiro, 1998.

RENCTAS- REDE NACIONAL DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES. 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Animais Silvestres, p. 1-108. 2001.

SANDERS, S.; FEIJÓ, A.G.S. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. In: Congresso Internacional Transdisciplinar Ambiente E Direito, Porto Alegre: PUC RS, 2007.          

SNOWDON, C. T. O significado da pesquisa em comportamento animal. Estudos de Psicologia. Natal. Vol. 4, p. 365-373. 1999.

PNUDE- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atlas de Desenvolvimento Humano 2003.

Disponível:[http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH_Municipios_Brasil_2000. spx?indiceAccordion=1&li=li_Ranking2003]. Acesso em 25 de abril de 2013.

PRIMACK, R. B..; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina: vii, 328p. 2001.

ROMERO, S. (sel.). Contos populares do Brasil. 2. ed. São Paulo: Landy, 2002.

TRIBE, A. Perceptions of zoos: conservation and credibility. School of Animal Studies, University of Queensland. 2006.               

VIEIRA, V.; BIANCONI, L. M; DIAS, M..; Espaços não-formais de ensino e o currículo de Ciências. Ciência & Cultura. v. 57, n. 4, São Paulo Oct/ Dec. 2005.

VIERA, V.; BIANCONI, L. M. A importância do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro para o ensino não formal em ciências. Ciência & Cognição, volume 11, 2007.                                       

WHITWORTH, A. W. An Investigation into the Determining Factors of Zoo Visitor Attendances in UK Zoos. PLoS ONE 7(1). 2012.

WILSON, E. O. Biofilia. Fondo de Cultura Económica, México, D.F., México, 283pp. 1989.

WILSON, E. O. O futuro da vida: um estudo da biosfera para a proteção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

 

Ilustrações: Silvana Santos