Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) SENSO PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE TRABALHO COM GRUPOS DE YOGA
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Aluna: Silvia Machado de Castro

SENSO PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

UMA PROPOSTA DE TRABALHO COM GRUPOS DE YOGA

 

Silvia Machado de Castro

Bacharel em Geografia pelo Instituto de Geociências – IGeo da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Mestre em Engenharia Ambiental pela Escola Politécnica & Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Pesquisadora de projeto de extensão da FUJB/UFRJ/PETROBRAS

Discente do curso de Educação Ambiental

Instituto de Pesquisa Educação e Tecnologia – Ipetec,

Universidade Católica de Petrópolis - UCP

smachado2009@gmail.com

 

Denise Alves

Bacharel em Comunicação Social pela Faculdade Anhembi/SP

 Mestre em Comunicação Social pela Universidade de Brasília – UnB

Educadora e Consultora de Reelaboração Corporal e Sensopercepção

Professora de Sensopercepção em Educação Ambiental no

Curso de pós-graduação em Educação Ambiental do

Instituto de Pesquisa Educação e Tecnologia - Ipetec,

Universidade Católica de Petrópolis – UCP

denisepnt@hotmail.com

 

Resumo: Senso percepção tem sido considerado uma atividade complementar em educação ambiental, pois conjuga movimentos físicos e atividades que buscam resgatar a percepção integral do corpo e do meio ambiente, através dos sentidos, da facilitação do diálogo e da participação. São sugeridos exercícios de yoga com foco no revigoramento da visão, antecedendo três roteiros de atividades de sensopercepção para melhorar a compreensão de nossa responsabilidade para com a sustentabilidade ambiental.

Palavras-chave: sensopercepção; educação ambiental; yoga; revigoramento da visão.

 

INTRODUÇÃO

Considera-se como principal missão da Educação Ambiental atuar não somente na formação de uma sociedade sustentável como também contribuir para a mudança paradigmática do modelo de desenvolvimento em vigor.

O indivíduo educado nas questões ambientais reavaliará seus valores e atitudes, compreenderá melhor suas prioridades em relação a si mesmo e em relação à sociedade, à natureza, seus problemas e conflitos. Na verdade, quando o sentimento de pertencimento a algum lugar ou grupo social é despertado, desperta também o sentimento de preservação dos recursos naturais e da vida como um todo.

Assim, é papel da Educação Ambiental cooperar para o desenvolvimento das sensibilidades, formando indivíduos e grupos sociais capazes de discernir entre o que é bom ou ruim em questões ambientais, problematizando e agindo em busca de soluções éticas, justas e sustentáveis, afinal todos buscam viver com saúde e qualidade de vida.

O que falta, então, para que a sociedade atente diária e constantemente para as boas práticas ambientais? Falta um novo olhar sobre o mundo, a realidade e seus problemas, desenvolver os sentidos e apurá-los para perceber o que anda acontecendo com a qualidade de vida? A prática da yoga, que prepara mente e corpo, pode facilitar a introdução de atividades de sensopercepção?

            Este trabalho, através de propostas de roteiros de atividades de sensopercepção e educação ambiental, convida o leitor à reflexão sobre essas questões. 

 

REVISÃO TEÓRICA

            Didaticamente, pode-se dizer que a sensação é o fenômeno gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos oriundos dentro e fora do organismo, capazes de alterar órgãos receptores. Ela acontece no primeiro contato com a realidade, através do uso de um ou mais sentidos que identificam ou qualificam um objeto passível de ser sentido ou palpável. A percepção, por sua vez, corresponde à tomada de consciência do estímulo sensorial. É através dela que o indivíduo organiza e interpreta os estímulos captados pelos órgãos dos sentidos, permitindo identificar objetos e acontecimentos significativos (DALGALARRONDO, 2008a; 2008b).

            Sensopercepção é considerada o fenômeno em que sensação e percepção ocorrem de forma integrada (ALVES, 1995). O estudo da percepção ocorre, principalmente, no campo da psicologia. Existem diversas correntes teóricas que o estudam e geram polêmicas: a fisiológica, a gestaltista, a behaviorista e também a sensório-tônica. A hipótese básica desta última é de que o estado do organismo é parte essencial da percepção, ou seja, há uma equivalência funcional entre os fatores sensoriais e musculares em relação ao produto final da percepção. A Gestalt considera sensação e percepção partes de um processo integrado, uma vez que o fenômeno da sensação não pode ser apreendido a não ser no processo de percepção. Interpreta-se que, ao perceber, o indivíduo não assimila pura e simplesmente a figura que vê, mas o total sistema contextual no qual ela se insere. Nesse sentido, perceber engloba a figura e o fundo, o tema e o campo temático, formas e horizontes, conseguidos apenas em plena consciência (Penna, 1968 apud Alves, 1995). No presente trabalho, adota-se o conceito gestaltista de percepção, o qual já engloba as sensações através de um processo de conhecimento integrado.

            Buscando desvelar a realidade contraditória presente nas relações homem e meio ambiente, a sensopercepção surge como uma nova senda para entender tão complexa relação. As pessoas se comportam no mundo real não a partir de um conhecimento objetivo do mesmo, mas baseadas em suas imagens subjetivas. O elo afetivo que liga o indivíduo ao lugar pode, muitas vezes, gerar ações positivas, negativas ou mesmo indiferença em relação ao mesmo, levando tanto ao cuidado cotidiano como à degradação do espaço vivido com a perda da qualidade de vida (TUAN, 1980).

Com a preocupação de fazer compreender como o ser humano interage com o espaço em que vive e sua participação na construção do mesmo, vale destacar dois conceitos-base da geografia: espaço e paisagem.

Resumidamente, pode-se dizer que “o espaço necessita de uma base material concreta e das formas simbólicas de apreendê-la” (CASTRO, GOMES & CORRÊA, 2012), sofrendo transformação pela ação da natureza e pela intervenção humana. A paisagem, por sua vez, é tudo que se vê, que a visão alcança, além de tudo que se sente/percebe. “Espaço e paisagem são produtos da sociedade e de suas infindáveis e diversas realizações. Diferentes indivíduos, diferentes percepções da mesma realidade” (SANTOS, 1988).

            Definida como sendo o processo de socialização dos indivíduos, a educação tem como objetivo a conscientização do povo, libertando-o para atuar como crítico de seu próprio papel na sociedade (FREIRE, 2001). A Educação Ambiental vem sendo valorizada como uma ação educativa que deveria estar presente, de forma transversal e interdisciplinar, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e sensibilidades ambientais (CARVALHO, 2011), para a formação de um sujeito reflexivo em relação às suas responsabilidades para com a construção de um mundo sustentável. É preciso certa educação do olhar, aprender a ler e compreender o que se passa em volta (BALDASSO & RIBEIRO, 2001) para se apreender o meio ambiente, “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Faz-se necessário exercitar o olhar e sensibilizar as pessoas para que sejam agentes de práticas sustentáveis.

A sustentabilidade integrada incorpora os aspectos social, econômico e ambiental ao considerar ações e estratégias para alcançar o desenvolvimento (OLIVEIRA, 2009). O papel do educador ambiental é fundamental na formação do sujeito ecológico e de uma sociedade comprometida com a preservação do meio ambiente (CARVALHO, 2011).

A yoga é uma prática milenar indiana. Um dos muitos significados atribuídos à palavra ‘yoga’ é o de preparar. A preparação de que trata a prática da yoga diz respeito à adequação das condições do espírito e do corpo, para uma vida mais equilibrada e, portanto, mais saudável. Esse preparar da yoga vem de encontro à proposta para o desenvolvimento de um caminho que leve o indivíduo ao encontro consigo mesmo e com o meio social (STROKOE & HARF, 1987).

 

O OLHO HUMANO

O olho humano, conforme sintetiza Coutinho (2013), é um órgão do sentido da visão que está ligado ao cérebro pelo nervo óptico, de modo que a retina é a expansão diferenciada do tecido cerebral.

A ocorrência de muitas doenças está relacionada com o enfraquecimento de certas estruturas e membranas oculares e dos músculos que controlam os movimentos dos olhos, pelo processo de acomodação da visão, foco e nitidez da imagem, como também pela sustentação.

O movimento e o controle de cada olho são realizados por seis músculos. A acomodação da visão é um processo pelo qual as pupilas podem modificar seu formato ou diâmetro, através do movimento de duas pequenas estruturas musculares, dilatador e constritor, para enxergar objetos próximos ou distantes, de dia ou de noite, permitindo que os olhos obtenham um bom foco da imagem.

Os raios luminosos, que penetram no interior dos olhos através da pupila, são focados na córnea (parte anterior do globo ocular, transparente, cuja forma arredondada e um pouco saliente atua como lente convergente) e no cristalino (pequena lente transparente, biconvexa, situada atrás da íris e diante do corpo vítreo, gelatina semilíquida e transparente) e formam imagem na retina.

A retina contém milhões de células sensíveis à luz, chamadas de cones e bastonetes, as quais convertem a imagem em forma de impulsos nervosos. Desta forma, os olhos controlam a quantidade de luz que deve chegar até a retina, fazendo com que as partículas luminosas formem a imagem no foco preciso, para que o cérebro possa compreender perfeitamente o que está sendo enxergado. Esses impulsos são transmitidos rapidamente pelo nervo óptico ao cérebro. As informações que percorrem através dos dois nervos ópticos são processadas no cérebro, dando origem a uma única imagem combinada.

A saúde dos olhos depende muito da saúde do organismo num todo. A causa dos problemas da visão, como catarata, glaucoma, retinopatias etc., tem raiz no mau funcionamento do organismo. A saúde integral depende de hábitos dietéticos e da prática regular de exercícios físicos saudáveis.

 

EXERCÍCIOS PARA MELHORAR A VISÃO

É grande a diversidade de exercícios para melhorar a visão. Há milênios, eles são praticados por culturas da China, da Índia, do Tibete e do Egito como também por culturas indígenas. Em todas elas, trabalha-se o corpo como um todo, dando-se destaque para uma alimentação saudável e o equilíbrio entre o trabalho e o descanso (NEVES, 2013).

No Ocidente, entre os séculos XIX e XX, técnicas de ginástica ocular, que têm por objetivo fortificar os músculos e ajudar a circulação, foram desenvolvidas e divulgadas principalmente pelo oftalmologista americano Dr. William Horatio Bates, que constatou, dentre outras coisas, que fadiga, ansiedade, concentração, excitação e todas as outras emoções e o estado físico influenciam na visão, ou seja, ela muda de acordo com nosso estado geral. Ele acreditava que a visão pode ser melhorada controlando-se, de forma consciente, o comportamento visual (ZEHMEN, 1986; NEVES, 2013). Outros nomes de destaque no desenvolvimento de técnicas de revitalização da visão são: Meir Schneider e Sylvia Lakeland (NEVES, 2013). Atualmente, técnicas de prevenção de doenças oculares são indicadas por optometristas (DOME, 2008) e terapeutas com formação holística, medicina natural e tradicional (COUTINHO, 2013; NEVES, 2013).

Os movimentos dos olhos atuam no corpo físico, mental e emocional, de modo que o presente trabalho sugere a aplicação de atividades de sensopercepção após exercícios de yoga clássica para o revigoramento da visão, como a Hatha Yoga, que, na Índia, têm servido como uma forma de medicina preventiva para as doenças oftalmológicas desde a infância.

 

EXERCÍCIOS DE YOGA PARA REVITALIZAÇÃO DOS OLHOS: TRÁTAKA KRIVAS

            Neves (2013) explica que a Trátaka, uma das seis práticas de limpeza psico-físicas apresentadas nos principais tratados de Hatha Yoga, consiste em fixar o olhar, sem piscar, em algum objeto ou elemento da natureza. Além dos benefícios na área da saúde ocular, ela pode desenvolver a concentração até um alto grau.

Para praticar os exercícios de revitalização dos olhos, sugere-se seguir os passos apresentados no Quadro 1.

 

Quadro 1 – Sequência de exercícios para revitalização dos olhos

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(*) o mesmo exercício deverá ser feito com o braço direito.

Fonte: adaptado de Coutinho (2013).

 

Esclarecimentos

            Em relação aos passos descritos no Quadro 1, note-se que:

            a) a respiração lenta, profunda e rítmica acalma a mente, combate as tensões, relaxa a musculatura, favorece a concentração, revitaliza a mente e o corpo e melhora a disposição;

b) segundo as leis da física, o atrito gera uma energia calorífica e magnética. As mãos aquecidas e repletas de energia, colocadas em cima dos olhos fechados com as palmas das mãos com os dedos unidos, transferem energia calorífica para os olhos. Relaxar as pálpebras e os globos oculares e respirar de forma lenta e profunda. Repetir o procedimento três vezes;

c) recomenda-se realizar o exercício em ambiente externo, ao amanhecer e em contato com a natureza, frente ao sol. É importante, ao terminar o exercício, piscar rapidamente os olhos, olhando para o nascer do sol, durante um minuto. O relaxamento do corpo deve incluir a musculatura facial;

d) abrindo bem os olhos, procurar obter uma boa imagem e nitidez. Ao mover novamente o braço acompanhando o polegar com os olhos, manter a cabeça para frente. Afastar lateralmente e devagar o polegar do eixo central do nariz. Abrindo os olhos, ajustar a visão, para que possa ter a imagem nítida da unha por todo tempo. A nitidez da imagem é a prioridade do exercício, que objetiva exercitar as estruturas oculares responsáveis por isso. Se perder a nitidez, pare de movimentar o braço e ajuste a visão, para, depois, afastar lentamente o polegar. Descanse o braço esquerdo, repousando o antebraço sobre o joelho. Feche os olhos, pisque algumas vezes, para hidratar e relaxar os olhos, relaxando todo o corpo, respirando de forma lenta e profunda. Idem para o outro braço;

e) mover o polegar transversalmente para cima o máximo que puder;

f) movimento circular amplo dos olhos, cinco vezes, da esquerda para direita, observando atentamente tudo o que estiver ao redor;

g) ao afastar lentamente o polegar, estender o máximo o membro superior. Durante o afastamento e a aproximação do dedo polegar, procurar preservar a nitidez da imagem; e

h) fechar os olhos e tensionar a musculatura da face ao redor dos olhos, como se estivesse fazendo careta, durante doze segundos; depois, relaxar respirando de forma lenta e profunda com os olhos fechados durante alguns instantes.

Ao final desses exercícios, banhar os olhos fechados com água fria algumas vezes, enxugando depois o rosto com uma toalha limpa.

Importante lembrar que, na prática da yoga, algumas posturas que exigem perfeito equilíbrio solicitam a fixação dos olhos em um determinado ponto facilitando a continuidade da postura durante o tempo necessário. O descanso dos olhos e o relaxamento do corpo reduzem as preocupações cotidianas, portanto, o estresse. É sabido que a visão não depende apenas de olhos sadios, pois é o cérebro que comanda os músculos dos olhos e os nervos ópticos através do sistema nervoso, e, por isso, qualquer perturbação do estado emocional e psíquico pode também prejudicar diretamente a visão. Então, uma mente mais calma e centrada e o corpo mais relaxado são imprescindíveis antes de iniciar os próximos passos.

A prática dos exercícios em ambientes fechados requer muita luz e ar.

 

ROTEIROS DE ATIVIDADE

São três roteiros de trabalho: Percurso de vida, Transformações no ambiente, e Sensibilização para a memória e o diagnóstico ambiental. Os dois primeiros focam o desenvolvimento da percepção do ser e sua essência e, o terceiro, a percepção do entorno, do meio ambiente ou espaço em que se vive.

Nas atividades que visam à extensão do olhar, são utilizadas fotos do Rio de Janeiro antigo e contemporâneo. Trabalha-se também com imagens de quadros do pintor belga René François Ghislain Magritte, que, nos anos de 1930, retratou estruturas pictóricas que se repetem (MAGRITTEMUSEUM, 2013; SANTOS, 2006). Dois óleos de Magritte, que fazem parte da série de pinturas La condition humaine, realizadas a partir de um mesmo tema, o real e a representação, mostram uma paisagem vista da janela, que se sobrepõe um cavalete com a tela do pintor e o cavalete, lembrando-nos de que há sempre uma margem de autonomia para, dentro de nossos limites
sócio-históricos, criarmos nossa versão ou visão da paisagem, ou seja, da realidade (CARVALHO, 2011). A terceira obra, La cascade, um quadro com plantas que está sendo absorvido pelas próprias plantas, segue a mesma linha das outras duas. Na verdade, com elas, o pintor questiona a distinção entre a ilusão e a realidade.

Esses roteiros são uma adaptação dos Roteiros 3.1 e 3.2 do livro de Alves (2010).

Importa destacar que a prática de sensopercepção é geralmente antecedida por movimentos corporais. É costume começar com exercícios para os pés, para facilitar a sensação de base, enraizamento, equilíbrio, bem como preparar para a sequência da aula. Esse trabalho repercute em todo o corpo auxiliando a equilibrar as cadeias musculares e refletindo em todos os órgãos internos. Sugestões de exercícios para os pés são encontrados também em Alves (2010).

Percurso de vida.

            Esta vivência pode ser realizada tanto em espaço interno como externo. No caso da sala de yoga, o espaço deve oferecer o conforto que se requer para a atividade.

A finalidade deste exercício é desenvolver um olhar crítico sobre quem somos e o papel que ocupamos no núcleo familiar e na sociedade.

            1 Os participantes devem sentar em tapetinhos, almofadas ou cadeiras.

2 O dinamizador convida a pensarem, durante dois minutos, em si mesmos: suas qualidades, histórias de vida, tarefas e ocupações diárias etc.

3 Os participantes são convidados a escolher um colega, para falar um pouco sobre si mesmos, colocando-se um em frente ao outro. Enquanto um fala, o outro deve somente ouvir e vice-versa.

4 Após alguns minutos, os participantes são convidados a falar, para todo o grupo, sobre o colega com quem partilharam suas impressões pessoais. Desse modo, pode-se ouvir de outrem o que pensam sobre si mesmos.

Observação 1: É comum, no caso de senhoras e mesmo jovens casadas e com filhos, lembrarem, em primeiro lugar, de suas qualidades como donas de casa, mães, esposas etc.

5 Os participantes são convidados a repensarem, por mais alguns minutos, e a falarem novamente sobre si mesmos, uns aos outros.

Observação 2: Principalmente as senhoras, ao repensarem, lembram de qualidades mais pessoais como serem alegres, bonitas, vaidosas, inteligentes, corajosas, fortes etc..

6 Novamente, o grupo se reúne e repete o sugerido no item 4.

O dinamizador deverá enfatizar que esse exercício principia a prática do olhar crítico sobre quem somos. O outro sempre nos vê de um ângulo diferente do nosso.

Transformações no ambiente

            Esta vivência pode ser realizada tanto em espaço externo como interno, como no caso da sala da prática de yoga, desde que bem iluminada e com o conforto que a atividade requer.

            Tem a finalidade de estender o olhar dos participantes, capacitando-os a observar com mais atenção o ambiente ao redor, o que significa desenvolver uma percepção visual que os capacite a ver e olhar uma paisagem de outra forma e por outros ângulos.

            1) Materiais: imagens ou fotografias são usadas nessa atividade, além de papel e lápis.

As fotografias da cidade do Rio de Janeiro selecionadas são dos séculos XX e XXI (Figuras 1 e 2).

 

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Figuras 1 e 2 – Enseada de Botafogo e morro do Pão de Açúcar. Séculos XX e XXI.

 
 

 

 


As imagens selecionadas são três óleos de René Magritte: dois da série de pinturas La condition humaine (Figuras 3 e 4), e o La cascade (Figura 5).

 

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Figuras 3 e 4 – La condition humaine,1933/1935.

 

Figura 5 – La cascade, 1961.

 
 

 

 

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2 Passar as fotos do Rio de Janeiro de diferentes épocas pelos participantes, para, individualmente, registrarem no papel o que vêem de diferente nelas.

3 Distribuir pinturas de René Magritte, para registro individual das impressões no papel.

Observação 1: somos reféns de nossas visões ou conceitos; vemos o mundo por um ângulo particular e parcial; somos como Mister Magôo, do desenho animado, que vê através da pesada lente dos óculos um mundo todo seu e, por isso, comete sucessivos enganos (CARVALHO, 2011). Por isso, se faz necessário um bom exercício para renovar nossa visão do mundo, trocando as lentes velhas por novas, enfim, renovando nosso olhar.

4 O dinamizador deve reunir todos em uma roda, para apresentarem suas observações ao grupo.

Observação 2: neste ponto, é interessante que o dinamizador frise, de forma simples e clara, alguns conceitos importantes: espaço, tempo, paisagem e realidade (Quadro 2).

 

Quadro 2 – Conceitos a serem frisados

 

Quadro2

           

5 O dinamizador pode pedir aos participantes que façam, por escrito, uma avaliação do que apreenderam com essa atividade, para depois discutirem.

 

Sensibilização para a memória e o diagnóstico ambiental

            Esta vivência pode ser realizada na sala da prática de yoga (ambiente interno), como também em uma praça, parque ou mesmo praia (ambiente externo).

            A finalidade é exercitar a capacidade de observação dos participantes para o meio ambiente externo à sala de aula, desenvolvendo um olhar mais crítico para o que os rodeiam, seus elementos naturais e culturais; exercita também a capacidade de memorização.

            1 Não há necessidade da divisão da turma em grupo, de modo que os participantes são convidados a trabalhar individualmente.

            2 O dinamizador convida um de cada vez a chegar perto da janela do recinto e observar o que vê lá fora. Ao voltar, o participante deve escrever em um papel cinco elementos (p.ex.: casa, prédio, árvore, telhado, pessoas, pássaros, jardins, semáforo, carros, qualquer coisa). No caso de ambiente ao ar livre, peça para o participante fechar um pouco os olhos e, ao abri-los, escrever os nomes de alguns elementos no papel.

            Observação 1: o exercício desta prática em ambiente externo tem a vantagem de integrar o indivíduo ao ambiente natural. A janela enquadra a paisagem e o indivíduo torna-se apenas um observador da natureza. O grau de afetividade em relação à natureza pode ser maior em ambiente externo do que no interno, gerando impressões diferentes em cada caso.

            3 Após todos terem feito o mesmo, o dinamizador pede, um a um, que leia o que anotou.

            Observação 2: é interessante fazer o registro ou sistematização das respostas, facilitando a reflexão e o debate ao final do exercício. Nesse caso, pode-se contar com a colaboração do primeiro participante para o registro.

            4 Fazer uma roda para apresentar o resultado do exercício, formando um painel de questões socioambientais, que podem ser levantadas tanto pelo dinamizador como pelos participantes.

Observação 3: o dinamizador deverá lembrar que o olhar que cada um tem sobre a paisagem está relacionado com seu próprio histórico de vida, ou seja, com o conteúdo cultural, afetivo e intelectual do indivíduo. Deve chamar atenção também para questões socioambientais, que configuram e emergem da paisagem observada.

            5 O painel de questões ambientais pode ser enriquecido pelo dinamizador, que apresentará ao grupo alguns problemas socioambientais, seja através de imagens coletadas na Internet, seja por escrito em papéis individuais ou mesmo verbalmente. Essa atividade auxiliará na produção de um diagnóstico da situação ambiental de um lugar, do bairro ou da região em que vivem. Temas sugeridos: sujeira urbana, moradores de rua, poluição aérea, visual ou sonora, a qualidade do serviço de saúde, insegurança nos bairros etc.

            6 Jogos

São propostos três jogos como complementação das atividades deste terceiro roteiro:

            (i) escrever em pequenos pedaços de papel um dos temas sugeridos no item 5 e colar nas costas de cada um dos participantes com uma fita adesiva. Pedir para eles fecharem os olhos e se misturarem, parando logo a seguir formando uma roda. Aquele que estiver atrás deve falar sobre o tema que está colado nas costas do participante da frente;

            (ii) utilizar pequenos trechos de textos pré-selecionados, com temas que abordem questões socioambientais. Distribuí-los para metade dos participantes, que deverão escolher um par. O participante com o trecho lerá para seu par e, este, por sua vez, escreverá num papel três palavras que resumem o trecho lido. Ao final de alguns minutos, os trechos distribuídos deverão ser fixados ou colados num painel ou parede, para que todos leiam. Reservar cinco ou dez minutos para isso. Os papéis com as três palavras serão dobrados e colocados num recipiente e serão retirados como num sorteio, um a um, por participantes escolhidos de forma aleatória pelo dinamizador. Eles deverão descobrir a que tema as três palavras do papel sorteado se refere; e

            (iii) espalhar pelas paredes da sala, se em ambiente interno, ou fixar em árvores com fita adesiva, se em ambiente externo, imagens que representem alguns dos muitos problemas ambientais do mundo moderno, conforme já citados anteriormente. Todo o grupo poderá olhar essas imagens, por alguns minutos, procurando memorizar os temas de que tratam. Depois, colocar uma venda em um participante de cada vez, girando-o sobre seu eixo duas ou três vezes e soltando-o para que busque na parede ou árvore uma imagem. Ele deverá adivinhar sobre o que fala o primeiro tema em que colocar as mãos e todo o grupo deverá ajudar, respondendo certo ou errado, até que acerte.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Em sua obra ‘Emilio ou da educação’, Rousseau (1995), lembra que “o que favorece o bem-estar de um indivíduo, o atrai”. Ele enfatiza que o amor que nutrimos por nós mesmos nos conserva e que, por isso, devemos sempre atentar para nossa própria conservação. Em consequência disso, amaremos o que nos conserva. A natureza com seus riachos, animais, flores, brisa e sol devemos amar como a nós mesmos. Tomar consciência ou perceber quem somos e o que nos rodeia é resultado de práticas diárias.

Os movimentos e posturas de yoga, de fato, ativam o corpo e a mente para o desenvolvimento da percepção do ser humano como um todo. Os exercícios de yoga com foco na visão e no relaxamento do corpo preparam os praticantes para as atividades de sensopercepção. Os roteiros sugeridos, em conjunto com as práticas dessa arte milenar para revitalização da visão, têm essa finalidade: despertar ou renovar o olhar para o que está ao redor, podendo ser introduzidos em núcleos de yoga.

O uso de fotografias estimula uma observação mais meticulosa das diferenças que ocorrem no ambiente em que se vive, estimulando a reflexão sobre a inconsistência das coisas face à ação humana e do tempo; também ajuda a exercitar a memória, gravando elementos da paisagem antes despercebidos.

O uso de imagens do Rio de Janeiro antigo (ou de qualquer outro lugar) ajuda na reflexão sobre espaço e paisagem como algo produzido e transformado pelo ser humano, em outras palavras, passível de mutação para o bem ou para o mal. Perceber o quanto somos responsáveis por essas mudanças é fundamental.

Os quadros do pintor René Magritte auxiliam no desenvolvimento de um novo olhar sobre a natureza e suas formas, visto que sempre existe algo a mais que não percebemos na paisagem, limitados que somos por nosso histórico sociocultural. Ao enquadrarmos as coisas (em telas, molduras, pré-conceitos, lentes etc.), limitamos nosso olhar. Expandir o olhar possibilita ver detalhes que passam despercebidos diariamente.

Entende-se, portanto, que os exercícios para a revitalização dos olhos, praticados em núcleos de yoga, em conjunto com as atividades sugeridas nos três roteiros, podem auxiliar no desenvolvimento dos sentidos e, nesse caso especial a visão, favorecendo uma maior reflexão sobre quem somos e o que podemos fazer pelo outro, pelo lugar onde vivemos e pelo mundo.

 

REFERÊNCIAS

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ALVES, Denise. Olhar perceptivo: atividades de sensopercepção em ações de educação ambiental; caderno de roteiros / Denise Alves e Leide Marques Peralva. Brasília: IBAMA, 2010.

BALDASSO, N.A.; RIBEIRO, C. Sustentabilidade e cidadania: análise geral da região – leitura da paisagem (fichas pedagógicas). Porto Alegre: Emater/RS, 2001.

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CASTRO, Iná; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Olhares geográficos: modos de ver e viver o espaço/Orgs. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico / Isabel Cristina de Moura Carvalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

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DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª. Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008a.

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DOME, Estêvão Fernando. O Estudo do olho humano aplicado à optometria. 4ª. ed. São Paulo: SENAC, 2008.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2001.

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Ilustrações: Silvana Santos