Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Breves Comunicações
16/12/2013 (Nº 46) PROPOSTA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA GEOGRAFIA À PRÁTICA INTERDISCIPLINAR
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PROPOSTA DE AÇÃO

PROPOSTA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA GEOGRAFIA À

PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

 

 

 

Luciane Vanessa Mendes Horst – Luciane_vanessa@yahoo.com.br

UNICENTRO  - Universidade Estadual do Centro-Oeste

 

 

 

A discussão sobre a gravidade dos problemas ambientais tem assumido cada vez mais relevância. Desta forma, a sensibilização e conscientização dos sujeitos quanto aos impactos negativos vindos principalmente a partir da ação antrópica é de extrema urgência. Neste sentido, insere-se o trabalho da Educação Ambiental, instigando a formação de uma população  consciente de seu papel enquanto cidadão diante do meio que vive. A escola e a prática pedagógica do professor tem grande responsabilidade neste processo, pois podem proporcionar uma (re)reconstrução de saberes e ações. Os conteúdos da Geografia são pertinentes ao trabalho em  Educação Ambiental, propiciando a criticidade nos estudantes. Contudo, destaca-se a importância da prática interdisciplinar neste processo, há já vista que ela pode ser  favorável na promoção de uma leitura de meio ambiente mais ampla e dinâmica, favorecendo a sensibilização e compromisso ambiental pelos alunos. Indicamos portanto neste trabalho, uma ação pedagógica a ser desenvolvida, buscando favorecer positivamente a mudança de atitudes com relação ao meio de vivência.

 

A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear a respeito das questões ambientais, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre as formas de conhecimento. A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador, demandando novos saberes para apreender os processos sociais cada vez mais complexos e os ricos ambientais que se intensificam.

A produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações dos processos naturais, sociais, culturais, econômicos e  políticos, incluindo a análise do papel dos diversos atores envolvidos nas questões ambientais, numa perspectiva que valorize um novo olhar para esta temática. 

 

Adiantamos ao leitor que nossa lente vai procurar captar a questão por outro ângulo: o socioambiental. Nesse ponto de vista, a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação e co-pertença, formando um único mundo. (CARVALHO, 2004, p. 36)

 

Nesta perspectiva, defendemos o exercício de uma prática pedagógica que explore esta dimensão da EA, a dinâmica constante de relações que  constituem este processo, de forma a compreender a realidade holisticamente, os nexos que estão por trás do que enxergamos, considerando que todos são sujeitos e não meros expectadores desta dinâmica.

É oportuno trabalhar os conteúdos no contexto da cidadania, explorando a vida pessoal, a experiência e observação  do estudante em seu meio de vivência.  E, assim, tornar mais próxima a ação destes sujeitos perante os problemas detectados.

O método, que neste caso, pode servir tanto ao processo científico, de produção de conhecimento e/ou de ensino, é o dialético. A partir de seus pressupostos, baseia-se  a prática da interdisciplinaridade, que permite  um novo olhar para as situações, de modo a analisa-las e compreende-las em seus distintos aspectos.

Portanto, o que propomos, de acordo com exposto e,  considerando a temática de nossa pesquisa, é um estudo de Educação Ambiental, que assuma um enfoque socioambiental  e interdisciplinar do lugar que se vive, entendendo as coisas que acontecem num tempo e num espaço próprios, de modo que o aluno problematize a permita-se agir frente às situações desfavoráveis de sua realidade.

 

 Aprendendo a pensar o espaço, a partir do lugar, poderemos descobrir o mundo, tendo a possibilidade de construir com os alunos um método de análise espacial que favoreça a construção da cidadania. (CALLAI, 2000, p. 132)

 

O estudo do lugar pode, no princípio, ter uma certa relutância por parte dos estudantes, mas a partir do instante que eles sejam levados à coletar dados, informações, a refletir sobre sua realidade, construindo seus saberes, o processo de aprendizagem torna-se significativo a eles. Conseqüentemente, a participação dos sujeitos na busca por soluções ou transformações no seu meio torna-se  maior.

Sugerimos a estruturação de uma aula em movimentos, no qual haja a interação entre os alunos, entre estes e professores e entre os profissionais das diferentes disciplinas escolares, através da argumentação, da investigação e do registro de atividades. A observação, formulação de problemas, hipóteses e  o debate também devem ser considerados.

Neste sentido, trata-se de desarraigarmo-nos de um ensino positivista, superando a fragmentação do conhecimento e estudando uma realidade em sua multiplicidade de aspectos, onde saberes de diversas áreas estão concretizados. É uma prática que permite ao aluno perceber-se parte da complexidade da realidade social, política, econômica, natural e cultural de um espaço. Tem como ponto de partida e de chegada o real e o vivido, o pensado e refletido.

A Concepção Educacional de Paulo Freire (1996) parece ser muito propícia para estes estudos, pois instiga a dimensão dialógica de cada um dos sujeitos com a realidade. A partir de problematizações, vindas desta “realidade concreta” e, percebendo-se como ser no mundo, construindo sua  identidade e representações,  o estudante é desafiado a superar as situações cotidianas que não são favoráveis.

É uma prática de ensino que permite ao aluno perceber-se parte da complexa teia de relações que o cercam, auxiliando para   fim da dicotomia sociedade/meio.

O ponto de partida para este fazer pedagógico pode dar-se com a seleção de temas geradores, os quais podem ser abordados interdisciplinarmente, estudando a realidade em sua dimensão holística. Favoreceríamos, desta maneira, a desfragmentação do saber e um novo olhar frente às questões ambientais, atendendo a proposta dos PCN’s (1998), que defende o tratamento da EA como um tema transversal.

Individualmente, é importante que os alunos reflitam e registrem as imagens, as representações, a forma como interpretam suas histórias e vivências no lugar. Trazer à tona a leitura e a percepção que os indivíduos têm de seu meio,  pautada na historicidade de cada um, pode auxiliar no entendimento do grupo sobre as diretrizes do trabalho de educação ambiental

Sugerimos que, divididos em grupos, os estudantes explorem o contexto histórico do bairro a que a escola pertence, entrevistando antigos moradores, convidando os avós para uma conversa na escola, procurando documentos,  edições de jornais, fotografias, dentre outros materiais que retratem  o passado deste espaço, para que possam, então, compara-lo ao presente, compreendendo a dinâmica do meio.

A partir de entrevistas com os atuais moradores, poderão conseguir dados de aspectos como áreas de lazer, saneamento básico, transporte coletivo, destinação dada ao lixo doméstico, segurança policial, desemprego, ou seja, dos mais diferentes aspectos que se relacionam à temática ambiental. Com os resultados, os alunos poderão discutir, depois de construírem gráficos e tabelas e analisarem estatisticamente os dados obtidos, quais os problemas de maior relevância para a população e para eles próprios.

As indústrias e as relações de trabalho também são um ótimo tema para pesquisa, compreendendo quais os benefícios e malefícios que proporcionam para o bairro, que tipo de poluição acarretam, qual o tratamento por elas dado aos resíduos, por que estão localizadas naquele espaço.

A partir destas explorações,  dentre tantas outras que podem ser feitas, os grupos poderão aprofundar-se em um determinado tema, construindo maquetes, cartazes, textos, gincanas, teatros, gráficos, etc, sendo estes discutidos com toda a classe e até entre toda a comunidade escolar.

A participação dos profissionais das diversas disciplinas, neste contexto, é essencial na troca de informações e de procedimentos teóricos/metodológicos. Por isto, estes também devem estar motivados com o trabalho e bem preparados teoricamente a respeito das questões ambientais e interdisciplinares  para que a prática realizada atinja os objetivos desejados.

Segundo Guimarães (1995) na execução do plano de ação, o educando elabora uma nova forma de entendimento da prática social, na qual atuará conforme sua compreensão do meio, então modificada pelo conhecimento do mesmo.

Com os pressupostos descritos, cremos que os estudantes poderão refletir criticamente sobre como cada um pode mudar seus gestos e atitudes, criando novos valores diante da relação ser humano/ambiente, bem como promover ações coletivas ou inerentes ao poder público, na busca por qualidade de vida.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CALLAI, H. C.; CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.). Estudar o lugar para compreender  o mundo. In: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto  Alegre: Mediação, 2000. p. 83-92.

 

GUIMARAES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998 b.

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.

 

Ilustrações: Silvana Santos