Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) O USO DA ÁGUA EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE CURITIBA E O CONSUMO RESPONSÁVEL
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Introdução

 

O USO DA ÁGUA EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE CURITIBA E O CONSUMO RESPONSÁVEL

Leticia Knechtel Procopiak - Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento, email: leprocopiak@utfpr.edu.br

Gregorio Jedyn - Especialista em Metodologia Científica, e-mail: gjedyn@utfpr.edu.br

Rubens Takahashi - Especialista em Planejamento e Governança Pública, email: takahashi@utfpr.edu.br

 

 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Departamento de Química e Biologia, Laboratório de Educação Ambiental e Ensino de Ciências

Rua Deputado Heitor de Alencar Furtado, 4900, bloco C, Curitiba, CEP 81.280-340

 

Resumo:

O uso da água exige grandes volumes para atender às necessidades da população, sendo irregular a distribuição no Brasil. Para evitar o desperdício e o mau uso da água é importante gerir este recurso adequadamente e é necessário que as pessoas o consumam moderadamente. Assim, este trabalho objetivou: a) Levantar dados de consumo de água em uma escola da rede municipal de ensino de Curitiba; b) Levantar a ocorrência de situações em que possam ocorrer desperdícios de água na escola; c) Analisar de que forma água é gerenciada na escola; c) Levantar de que forma o público alvo da escola: alunos, professores e funcionários utilizam a água na escola e nas suas casas e d) Propor metas possíveis para o alcance da melhoria ambiental da escola em relação ao uso racional da água. Para tal, foi selecionada uma escola municipal de Curitiba, na qual foram realizadas observações das condições, da quantidade e do tipo de equipamentos hidráulicos e entrevistas com os alunos, professores e funcionários sobre seu consumo de água em suas casas e na escola. Os dados foram analisados quantitativamente e indicaram que os desperdícios de água ocorrem tanto na escola como nas casas dos entrevistados. A escola também possui equipamentos hidráulicos que não economizam água e alguns deles apresentam vazamentos. Neste caso é possível trocá-los por aqueles que são economizadores. No entanto, a maioria dos entrevistados concorda em reduzir o consumo e o desperdício e indicam a Educação Ambiental como alternativa para reduzir o consumo e o desperdício.

 

Palavras-chaves: consumo de água, escola pública, gestão de recursos hídricos.

 

1. Introdução

A água, além de ser fundamental para a manutenção da vida no nosso planeta, é importante no controle do clima, na diluição e remoção de poluentes e resíduos, na geração de energia, na navegação, na agricultura, entre outros, e apesar de ser um recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico, é um recurso escasso e finito. Embora 71% da superfície terrestre sejam cobertos por água, grande parte desta é salgada. Do total do volume da água do nosso planeta, apenas 2,5% é de água doce, e deste, apenas 0,75% pode estar disponível ao ser humano (AMBIENTE BRASIL, 2013). A distribuição dessa água na superfície terrestre não é uniforme e com o aumento da demanda, cada vez maior, a previsão é de que até 2025, dois terços da população mundial sofrerão as consequências da falta de água (ONU, 2012). Há várias razões para carência deste recurso, a principal delas é a má administração, que causa desperdício e poluição.

A água tem sua aplicação diversificada, tanto na qualidade e quanto na quantidade, e é necessário um grande volume para atender às necessidades da população. Como exemplo, o uso na indústria e no comércio, que a utiliza no processo de esfriamento de motores e limpeza, o uso na agricultura para a irrigação, o consumo doméstico, na higiene e manuseio de alimentos, represamentos de rios, para gerar energia, além de esporte, lazer e turismo. O multiuso da água contribui para o desperdício e para a sua deterioração pelo mau uso.

O Brasil, embora possua uma riqueza hídrica, não está excluído deste cenário, pois a distribuição de água é irregular, e desproporcional entre os locais povoados e as fontes de recursos naturais disponíveis. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA, 2012), a análise dos corpos hídricos de áreas urbanas no Brasil, dos 135 pontos monitorados, 47% são considerados péssimos ou ruins em termos de qualidade de água, resultado da elevada urbanização nessas regiões e da pouca coleta e tratamento de esgotos domésticos.

Uma das maneiras de se evitar o desperdício e o mau uso da água consiste em gerir este recurso adequadamente. Assim, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades” (BRASIL, Lei nº 9433/97, Art. 1º, Inciso VI).

A legislação brasileira estabelece ao cidadão os requisitos quanto ao manejo e consumo da água, porém, é importante ressaltar que somos usuários e gestores, por isso devemos utilizar a água com a elevada consciência e praticar o consumo responsável. A lei nº 9433/97 estabelece o uso que garanta à atual e às futuras gerações as provisões necessárias deste recurso. O Brasil possui elevada taxa de desperdício e distribuição irregular da água o que contribui para a necessidade de aprimoramento da gestão de recursos hídricos no país (ANA, 2002)

Segundo Costa e Teodósio (2011) existem seis tipos de maneiras de consumo, quais sejam:

1) Consumo Responsável: o consumidor se responsabiliza pela ação de consumir em todos os seus aspectos. É responsável pelo cuidado do planeta a partir dos indivíduos.

2) Consumo ético: defende uma não agressão à natureza e um posicionamento ético das empresas, substituindo o modelo de consumo atual.

3) Consumo solidário: diz respeito à relação entre os consumidores e fornecedores, contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária.

4) Consumo consciente: aplicação da metodologia na ética e na responsabilidade socioambiental, escolha dirigida do consumidor.

5) Consumo verde: o consumidor além de buscar melhor qualidade e preço dos produtos, inclui a questão ambiental na sua escolha.

6) Consumo sustentável: avalia a sustentabilidade do recurso consumido sem prejuízo das necessidades das gerações futuras. Garante a satisfação das necessidades básicas e fornecem melhor qualidade de vida, reduzindo o uso de recursos naturais.

Os estados brasileiros vêm tentando resolver o problema da escassez de água e uma das iniciativas diz respeito ao que o governo do Estado de São Paulo vem desenvolvendo para diminuir o impacto dos déficits de água na capital e região metropolitana, pois as fontes de águas estão cada vez mais distantes da capital e isso pode ocasionar um conflito intermunicipal. Para suprir a demanda, o Governo Estadual de São Paulo criou o Programa: Uso Racional da água em escolas, que busca estimular e envolver a sociedade e os órgãos públicos no uso racional da água. (SABESP, 2013).

Em Curitiba e Região Metropolitana, a garantia da água para atender a estas regiões até aproximadamente 2050 em quantidades máximas depende da utilização de novos mananciais, pois os atuais são insuficientes na capacidade de produção de água em grande quantidade até o referido ano (SANEPAR, 1999). A procura excessiva e uso demasiado de água apontam para investimentos em novos mananciais no futuro próximo em Curitiba e região metropolitana. É necessário ressaltar que é importante a conscientização de todos em relação à diminuição de desperdício, o reuso da água e o uso responsável para garantir a continuidade deste recurso para as futuras gerações.

Wandscheer (2003) afirma que o valor pago pela água consumida corresponde apenas ao serviço de captação e tratamento, e o valor recebido pelo fornecedor é muito baixo para que possa haver significativos investimentos nesta área. Isso representa um custo relativamente baixo que é repassado ao consumidor, o que pode contribuir de certa maneira para um maior gasto do recurso por parte da população. Isso torna necessária a aplicação de ações de sensibilização ambiental e relação ao consumo consciente do recurso escasso: água.

Além do consumo consciente, é necessária a atenção quanto às condições de uso dos equipamentos hidráulicos, pois quando estes se encontram sem manutenção, é possível que ocorram vazamentos ou mesmo o design destes equipamentos podem  contribuir para o desperdício da água. Yoshimoto et al. (1999) afirmam que é importante a manutenção dos equipamentos hidráulicos para a diminuição do consumo de água.

Uma das formas de se sensibilizar o cidadão para as questões ambientais relativas ao consumo de água é realizar atividades educacionais nas escolas, uma vez que as crianças serão os cidadãos do futuro. Furriella (2001) destaca que os incentivos educacionais voltados ao consumo sustentável podem ser realizados em todas as disciplinas dos currículos escolares, desde o ensino, fundamental médio ao nível superior. Assim, diversas escolas têm desenvolvido projetos cujo tema central é o consumo consciente da água. Como exemplo tem-se o projeto criado nas escolas australianas (2000 escolas) que envolveu ações práticas e cujos resultados geraram surpresas gratificantes, pois ocorreu uma efetiva redução de até 60% no consumo de água (resíduos de até 80% e energia de 20%) (PROGRAMAS CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2013).

Outro projeto de grande êxito foi adotado na cidade de Tóquio, através do método de detecção e reparo eficiente de vazamento de água, fez com que o desperdício fosse reduzido pela metade nos últimos dez anos. A queda foi de 150 milhões para 68 milhões/m³ de água (CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2013).

Desta forma, tanto ações educativas de sensibilização, como de reparação e manutenção de equipamentos voltados ao uso reacional da água pelo consumidor são importantes para garantir a continuidade deste recurso.

Assim, o presente trabalho objetivou: a) Levantar dados de consumo de água em uma escola da rede municipal de ensino de Curitiba; b) Levantar a ocorrência de situações em que possa ocorrer desperdício de água na escola; c) Analisar de que forma água é gerenciada na escola; c) Levantar de que forma o público alvo da escola: alunos, professores e funcionários utilizam a água na escola e nas suas casas e d) Propor metas possíveis para o alcance da melhoria ambiental da escola em relação ao uso racional da água.

3. Metodologia

            A escola amostrada está situada no município de Curitiba e pertence à rede municipál de ensino. No período da manhã a escola possui 22 turmas, totalizando 680 alunos, na faixa etária de 13 a 16 anos. À tarde possui 22 turmas e 588 alunos, na faixa etária entre cinco e dez anos. À noite a escola oferece EJA (Educação de Jovens e Adultos) contendo cinco turmas, 100 alunos cuja com a faixa etária variando de 15 a 70 anos. A escola ainda possui dois laboratórios, 120 professores, seis pedagogos, 17 funcionários, quatro cozinheiras, dez trabalhadores em serviços gerais e quatro funcionários que trabalham na Direção da escola.

            Após a seleção da escola, visitas foram feitas ao local com o objetivo de realizar o levantamento de dados: questionários com os alunos do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e EJA e funcionários da escola. O questionário foi adaptado daquele desenvolvido por Pinto (2008) e continha questões a respeito de: 1) Frequência dos entrevistados em relação ao gênero; 2) Escolaridade do pai; 3) Escolaridade da mãe; 4) Percepção do consumo de água nas casas dos entrevistados; 5) Consumo de Água na Escola; 6) Duração de banho em casa; 7) à ocorrência de vazamento nas residências dos entrevistados; 8) à ocorrência de vazamento na escola; 9) Se mantinham ou não torneiras abertas durante a escovação de dentes; 10) Periodicidade semanal de uso de máquina de lavar roupas em casa; 11) Lavagem Semanal das calçadas; 12) Lavagem das calçadas na escola; 13) Periodicidade mensal de lavagens dos carros dos entrevistados; 14) Maneiras de lavagem dos carros e 15) disposição dos entrevistados em reduzir o consumo de água.

Visitas de observação também foram realizadas para checar as condições de uso da água, além de levantar os tipos dos equipamentos hidráulicos que são utilizados na escola e buscar a ocorrência de possíveis vazamentos de água.

            Os dados referentes ao consumo de água da escola também foram levantados com base nas contas de água da companhia de saneamento pelo período de onze meses (agosto de 2011 a junho de 2012).

Os dados obtidos foram analisados quantitativamente.

 

 

4. Resultados e discussão

            Foram entrevistados os alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos, n=10); alunos do nono ano do Ensino Fundamental (n=10) e servidores da instituição (n=10). Em relação ao gênero, a maioria dos entrevistados era do sexo feminino (58% - EJA; 70% - alunos do nono ano e 60% - servidores) (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Frequência dos entrevistados em relação ao gênero.  EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

Em relação à escolaridade dos pais dos entrevistados, observou-se que a maioria (58%) dos pais dos alunos da EJA possui Ensino Fundamental. Em relação aos alunos do 9º ano, (30%) dos pais concluiu o Ensino Médio. Quanto aos servidores, seus pais possuem em sua maioria o Ensino Superior completo (33%) e pós-graduação (33%) (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Escolaridade dos Pais dos entrevistados. EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino. Sendo as siglas EF: Ensino Fundamental, EM: Ensino Médio, ES: Ensino Superior, PG: Pós-Graduação, EFI: Ensino Fundamental Incompleto, EMI: Ensino Médio Incompleto, ESI: Ensino Superior Incompleto e N: Nenhuma.

            Quanto à escolaridade das mães destaca-se a classe dos servidores com 66% de nível Superior, ao contrário das mães dos alunos da EJA que 22% não possuem nenhuma formação escolar. Já, 30% dos alunos do nono ano afirmou que suas mães possuem o Ensino Médio, e 33% dos alunos da EJA afirmou que suas mães concluiu o Ensino Fundamental (Gráfico 3).

 

Gráfico 3 - Escolaridade das mães: EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição. Sendo as siglas EF: Ensino Fundamental, EM: Ensino Médio, ES: Ensino Superior, PG: Pós-Graduação, EFI: Ensino Fundamental Incompleto, EMI: Ensino Médio Incompleto, ESI: Ensino Superior Incompleto e N: Nenhuma.

Os entrevistados foram questionados em relação ao consumo de água em suas casas e a maioria dos alunos do nono ano e servidores afirmaram que o consumo é alto (60% em ambos os casos). Já, os alunos da EJA, 70% afirmaram que o consumo é baixo e 10% que é muito baixo (Gráfico 4). A percepção e a variação do consumo de água nos domicílios apontam uma possível relação com o grau de instrução de ensino.

Gráfico 4 – Percepção do consumo de água nas residências dos entrevistados. EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

            A percepção dos entrevistados em relação ao consumo de água na escola apontou que 80% dos alunos da EJA e 44% dos servidores consideram alto o consumo da água, 33% dos servidores e 30% dos alunos do nono ano consideram o consumo de água muito alto na escola. Em relação aos alunos do nono ano, 50% consideram o consumo baixo e 20% dos alunos da EJA considera o consumo muito baixo (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Consumo de Água na Escola. EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

            Em relação ao número de banhos, 90% alunos da EJA, 100% dos alunos do nono anos e 100% dos servidores afirmaram tomar até dois banhos diariamente. Apenas um aluno da EJA (10%) afirmou tomar de três a quatro banhos diários. Em relação à duração dos banhos, a maioria leva de seis a dez minutos (alunos da EJA – 50%, alunos do nono ano e servidores - 40%) (Gráfico 6).

Gráfico 6 – Duração de banho EJA; 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

            Quanto ao fato de deixarem as torneiras das pias abertas durante a escovação de dentes, 90% (n = 10) dos alunos do nono ano 100% (n = 10) dos servidores afirmaram que deixam a torneira fechada durante este processo. No entanto, um aluno da EJA (10%, n = 10) afirmou deixar aberta a torneira durante a escovação.

Em relação à ocorrência de vazamento nas residências dos entrevistados, 60% (n=6) dos servidores responderam que não existe vazamento, porém, 2.2% dos servidores mencionaram a ocorrência de vazamento “sutil” em suas residências.  Os alunos da EJA (90%, n=9) e alunos do nono ano (70%, n=7) responderam que não existem vazamentos em suas residências.

Em relação aos vazamentos na escola, 100% (n = 10) dos alunos do nono ano não os perceberam, já 70% (n = 10) dos servidores e 75% (n = 8) dos alunos da EJA afirmaram desconhecer os vazamentos de água na escola.

As famílias dos alunos e servidores amostrados (EJA: 90%, 9ºano: 100% e Servidores: 100%) possuem máquinas de lavar roupas em suas casas. Em relação ao uso da mesma, 20% dos servidores e alunos do nono ano usam a máquina com periodicidade de quatro vezes por semana e (EJA: 33%, 9ºano: 30%, e Servidores: 40%), nas três categorias foi apontado que a máquina de lavar é utilizada em média de duas a três vezes por semana (Gráfico 7).

 

Gráfico 7 – Periodicidade semanal de uso de máquina de lavar roupas em casa. EJA Educação de Jovens e Adultos; 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

 

Quanto ao fato de os indivíduos amostrados possuírem ou não calçadas em suas casas, todos os alunos do nono ano (n=10) afirmaram que as possuem. O mesmo se deu para 80% (n=10) dos servidores e 50% (n=10) dos alunos da EJA. No entanto, as calçadas são lavadas quatro vezes ou mais por semana apenas dois (29%, n = 7) dos alunos da EJA (29%, n= 7), enquanto que a maioria dos entrevistados afirmou lavar a calçada apenas uma vez por semana (EJA: 57%, n = 7; alunos do nono ano: 70%, n = 10 e servidores: 88%, n = 10).

Em relação à percepção das lavagens das calçadas na escola, apenas um aluno da EJA respondeu que a mesma é lavada apenas uma vez por semana, 50% dos alunos do nono ano responderam que a calçada é lavada três vezes por semana, enquanto 33% dos servidores afirmaram que a calçada é lavada três vezes por semana e 30% dos alunos do nono ano afirmou que a calçada é lavada quatro vezes ou mais (Gráfico 8).

 

Gráfico 8 – Periodicidade de lavagens semanais da calçada da escola. EJA educação para jovens e adultos, 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

Possuem carro na família, 75% (n=8) dos alunos da EJA, 80% (n=10) dos alunos do nono ano e 75% (n=10) dos servidores. A maioria dos entrevistados afirmou que o carro é lavado apenas uma vez por semana (67% dos alunos da EJA, 38% dos alunos do nono ano e 63% dos servidores). No entanto, 25% dos alunos do nono ano e 13% dos servidores afirmaram que lavam os carros quatro vezes por semana (Gráfico 9).

Gráfico 9 – Periodicidade mensal de lavagens dos carros dos entrevistados. EJA (Educação de Jovens e Adultos); 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

            O gráfico 10 abaixo mostra que a prática do uso da mangueira para a lavagem de carro continua alta 33% dos alunos da EJA, 50% os alunos do nono ano e 17% afirmaram que ainda lavam o carro desta maneira. No entanto, a maioria dos entrevistados (50% dos alunos da EJA, 50% dos alunos do nono ano e 50% dos servidores) afirmou que manda lavar o carro em serviços especializados como posto de gasolina ou lava car.

Gráfico 10 – Maneiras de lavagem dos carros. EJA; alunos para educação dos jovens e adultos, alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

Em relação à disposição dos entrevistados em reduzir o consumo de água, a maioria (88%, n = 4 dos alunos da EJA, 100%, n = 8 dos alunos do nono ano e 100%, n= 8 dos servidores) afirmou ter consciência da relevância do uso adequado da água e deseja contribuir em diminuir o seu consumo.

Quando questionados em relação à maneira de reduzir o consumo da água, a maioria dos entrevistados (alunos do nono ano: 88%, servidores: 75%) afirmou que a Educação Ambiental seria a melhor opção. Em relação aos alunos da EJA, 43% acreditam que a tecnologia auxiliaria na redução do consumo de água, os demais afirmaram não saber qual a melhor forma (Gráfico 11).

Gráfico 11 – Maneiras que ajudariam a reduzir o consumo de água. EJA; 9º. ano: alunos do nono ano do Ensino Fundamental e servidores da instituição de ensino.

Além dos dados obtidos com os questionários, foi possível levantar na escola pública amostrada: 40 vasos sanitários dentre os quais, apenas um possui válvula de descarga economizadora de água, três vasos sanitários estavam interditados, 21 torneiras convencionais e 26 torneiras com fechamento automático, uma torneira estava com problema de vazamento de água, ou seja, estava gotejando. Na escola também foram registradas a ocorrência de um chuveiro convencional, um bebedouro e dois mictórios.

Dados referentes à leitura do hidrômetro mensal, fornecido pela companhia de saneamento do município, foram levantados e contatou-se que não houve grandes alterações do consumo de água na escola ao longo de onze meses (Quadro 1). Foi registrada apenas uma pequena diminuição no período de férias em janeiro e fevereiro. Porém, esta redução não foi tão grande porque a escola mantém atividades para a comunidade externa neste período.

Quadro 1. Histórico do hidrômetro da escola amostrada segundo o consumo mensal (volume em m³).

08/11

09/11

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11/11

12/11

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428

 

O sistema hidráulico da escola apresenta defasagem em função do tempo de uso e inadequação de muitos equipamentos, pois conforme mencionam Grisham e Fleming (1989), os vazamentos nas residências e nos edifícios ocorrem geralmente nas bacias sanitárias e torneiras. Ressalta-se a importância do gestor, colaborador para auxiliar na economia de água em um prédio público como a escola, pois, uma torneira com desgaste, gotejando durante um dia, gasta cerca de 6 a 32 litros de água por dia, dependendo da freqüência de gotas por minuto. Durante um mês, este valor pode chegar perto de 1000 litros (OLIVEIRA, 2002).

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) são necessários aproximadamente 110 litros diários de água para atender as demandas básicas de higiene e consumo de uma pessoa. Porém, um cidadão brasileiro pode vir a consumir diariamente cerca de 200 litros de água por dia (SABESP, 2013).

Nas residências é o banheiro que apresenta o maior gasto de água, sendo o melhor local para a instalação de equipamentos economizadores de água (GRISHAM e FLEMING, 1989). Porém isso não ocorre somente em domicílios, nas instituições públicas, o uso do banheiro é intenso e vazamentos ou o mau uso da água nestes ambientes contribui muito para o desperdício deste recurso.

É importante a reflexão sobre de novas alternativas sustentáveis como o reuso de água, quando a potabilidade não é exigida como a captação de água de chuva em cisternas para lavar calçadas, regar plantas, reuso da água nos vasos sanitários. Também é necessária a colaboração dos usuários no seu uso racional, que promoverá a economia nos valores das contas de água e auxiliará na preservação da água tratada, pois garantirá a demanda e contribuirá para combater o desperdício deste recurso.

            Os aparelhos que regulam a vazão da água podem ser adaptados em todos os tipos de torneiras, vasos sanitários e chuveiros, em modelos antigos ou novos tornando-os automáticos. A sua instalação é feita sem estragos sem quebrar pisos ou paredes. O adaptador econômico contém um dispositivo automático programado para interromper o fluxo de água caso ultrapasse a quantia de água programada.

            Uma torneira convencional com o adaptador contribui para a economia de água. O mesmo vale para chuveiros e vasos sanitários. Segundo Oliveira (1999), a utilização de equipamentos economizadores visa reduzir o desperdício da água, porém sem interferir no conforto e/ou higiene do usuário, ou mesmo sem causar riscos à sua saúde.

            É possível melhorar o desempenho na economia da água e redução de vazamentos e desperdícios da escola estudada com inserção de adaptadores econômicos (baixo custo) como torneiras automatizadas, implantação de cisternas para captar água de chuva e reuso das águas para fins não nobres (lavar calçadas, regar plantas, descarga do vaso sanitário).

Os dados obtidos com os questionários revelam que a maioria dos usuários da escola possui a consciência e sabe o valor dos recursos hídricos. Porém, não são todos os envolvidos com a escola que possuem real consciência de quão importante é a água como recurso natural. Cabem ainda, várias ações de Educação Ambiental para ajudar a sensibilizar a comunidade escolar para minimizar este problema.

A educação contribui para a construção de consciência, individual e coletiva, em relação aos problemas ambientais e é na Educação Ambiental que se encontra o ponto de partida para uma tentativa de se conscientizar os jovens em relação ao consumo sustentável dos recursos naturais. Conforme aponta Zaponi (2002) apud Vimiero (2005, p. 14) “a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é a condição necessária”.

 

5. Considerações Finais

            O presente estudo mostrou que o desperdício de água ainda ocorre tanto na escola como nas casas dos entrevistados, embora grande parte deles esteja disposta em colaborar na sua redução. A maioria dos entrevistados aponta para a Educação Ambiental como uma possível alternativa para se reduzir o desperdício.

            Foi registrado que a escola ainda possui equipamentos hidráulicos que não economizam água e alguns deles apresentam vazamentos. Neste caso é possível trocar os equipamentos por aqueles que são economizadores, além de enfatizar a Educação Ambiental na escola, que pode contribuir para reduzir os valores da conta de água, e também estaria ajudando a formar cidadãos conscientes das questões ambientais. Desta forma, a escola poderia até economizar na conta, o que naturalmente reverteria em mais verba para ser utilizada pela escola para fins educacionais, melhorando gestão escolar.

 

6. Referências

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ANA, Agência Nacional das Águas, 2002. A Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil. Brasília.

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BRASIL. Lei Federal nº 9.433. Governo Federal. Diário Oficial da União, 8 de janeiro de 1997.

CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO PARANÁ. Desperdício de água no Brasil, 2013. Disponível em:< http://terrarica.cismae.com.br/noticia-ver.php?id=2> Acesso em outubro de 2013.

 

COSTA, D.V.; TEODÓSIO, A.S.S. Desenvolvimento sustentável, consumo e cidadania: um estudo sobre a (des)articulação da comunicação de organizações da sociedade civil, do estado e das empresas. RAM, Revista de Administração Mackenzie, v. 12, n. 3, Edição Especial, São Paulo, SP, 2011. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Walter Bataglia (Ed.), p. 114-145.

 

FURRIELLA, R. B. Educação para o consumo sustentável. ciclo de Palestras sobre meio ambiente: Programa conheça a educação do CIBEC/ Inep-Mec/Sef/CDEA, 2001. Disponível em: Acesso em novembro de 2013.

GRISHAM A., FLEMING. W. M. LONG. Term options for municipal water conservation. Jorunal of the American water works Association 81 (3): 33 1989.

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OLIVEIRA, L. H. Metodologia para implantação de programa de uso racional de água em edifícios. 1999. 344f. Tese de Doutorado - Escola Politécnica da USP, São Paulo.

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ONU – Organização das Nações Unidas. Fatos sobre água e saneamento, 2012. Disponível em: , Acesso em outubro de 2013.

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YOSHIMOTO, P.M. GONÇALVES, O. M. SILVA, S. M. N. OLIVEIRA, L. H. Implementação das ações de redução de consumo de água no complexo Hospitalar-Hospital das Clínicas/SP. 1999.

 

Agradecimentos

 

            Os autores agradecem à Direção da escola amostrada, bem como a todos os alunos e funcionários que responderam a esta pesquisa. Um agradecimento especial à Patrícia Zeni de Sá que auxiliou no contato com a escola.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos