Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) INTERCÂMBIO DE INICIATIVAS DE MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS – UMA FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
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Intercâmbio das Iniciativas Promissoras – uma ferramenta de comunicação utilizada pelo ProVárzea/Ibama

 

INTERCÂMBIO DE INICIATIVAS DE MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS – UMA FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

 

 

Marcelo Derzi Vidal1 & Jane Dantas2

 

1Mestre em Ecologia, Analista Ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais - CNPT/ICMBio, Rua das Hortas, 223, Centro, São Luís-MA, CEP: 65020-270, Fone: (98) 3221- 4167 / (98) 8134-5559, marcelo.derzi.vidal@gmail.com

 

2Mestre em Sociedade e Cultura da Amazônia, Jornalista das Indústrias Nucleares do Brasil - INB, Fazenda Cachoeira s/nº, Caetité-BA, CEP: 46400-000, dantas.jane@gmail.com

 

 

Resumo

Ao longo de sete anos o Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea realizou o evento denominado Intercâmbio das Iniciativas Promissoras, momento em que lideranças comunitárias e coordenadores de projetos apoiados, conjuntamente com representantes de órgãos governamentais e não governamentais, apresentaram resultados, avanços e desafios enfrentados durante suas ações de manejo dos recursos naturais em áreas de várzea. O presente artigo faz uma análise do Intercâmbio das Iniciativas Promissoras enquanto ferramenta de comunicação, avalia em que medida possibilitou o diálogo entre as instituições participantes e visualiza a rede de conhecimentos possibilitada. Os resultados deste estudo qualificam o Intercâmbio das Iniciativas Promissoras como uma eficiente alternativa para explicitação de conhecimento tácito oriundo de organizações de base e comunitárias, com consequente aprendizagem e melhoria dos processos de manejo em diferentes regiões da Amazônia.

 

Palavras-chave: ProVárzea, Desenvolvimento Sustentável, Várzea          

 

Introdução

 

A partir da década de 1990, sob o signo da sustentabilidade, o Brasil projeta-se como ponto de referência da cooperação internacional pelas vantagens comparativas que emergem de sua rica biodiversidade, e particularmente a Amazônia torna-se um vasto espaço para investimentos e implementação de programas, projetos e pesquisas voltados para a conservação da natureza e experiências sustentáveis (Silva, 2003).

As ações dos projetos Várzea e Iara, desenvolvidos na região de Santarém (PA), e do projeto Mamirauá, desenvolvido na região de Tefé (AM), introduziram novas estratégias de intervenção, baseadas no trabalho participativo, envolvendo organizações da sociedade civil com instituições públicas e privadas (Ibama, 2002; Santos, 2005).

No ano 2000 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) iniciou a execução do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea), visando fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea, considerada uma das regiões mais vulneráveis da Amazônia, incentivando a participação das populações tradicionais que nela habitam (Ibama, 2002; Vidal, 2008).

O ProVárzea surgiu vinculado ao Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) e teve como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais das várzeas da região central da Bacia Amazônica, com ênfase nos recursos pesqueiros (Ibama, 2002).

Uma das ações para o alcance do objetivo do ProVárzea foi o apoio, por meio do Componente Iniciativas Promissoras, a projetos de manejo dos recursos naturais, sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e ambiental, e que pudessem ser multiplicáveis não somente em outras áreas da várzea amazônica, mas também em outras regiões do país (Vidal e Thomé-Souza, 2008).

No período de 2002 a 2007 o Componente Iniciativas Promissoras proporcionou o apoio técnico e financeiro a 25 projetos (Tabela 1) que desenvolveram sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais em quatro linhas temáticas: manejo dos recursos pesqueiros, manejo dos recursos florestais, fortalecimento institucional e agropecuária (Vidal, 2008). As ações dos projetos apoiados foram desenvolvidas em 39 municípios situados nos estados do Amazonas e Pará (Figura 1).

Para possibilitar maior integração, diálogo e troca de experiências entre os projetos apoiados o ProVárzea realizou, anualmente, o evento denominado Intercâmbio das Iniciativas Promissoras, momento em que técnicos, membros de associações, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos apoiados, conjuntamente com representantes de órgãos governamentais e não-governamentais, apresentaram resultados, avanços e desafios enfrentados durante suas ações de manejo dos recursos naturais em áreas de várzea.

O formato do Intercâmbio das Iniciativas Promissoras incluiu apresentações individuais, trabalhos em grupo por afinidade de temas ou interesses dos participantes, feiras de divulgação de produtos manejados e mesas redondas.

Assim, o objetivo deste artigo é fazer uma análise dos Intercâmbios realizados pelo ProVárzea enquanto ferramentas de comunicação, avaliar em que medida possibilitaram o diálogo entre as instituições participantes e visualizar a rede de conhecimentos possibilitada pelos eventos.

Metodologia

 

Os dados apresentados, analisados e discutidos nesta pesquisa são relacionados às sete edições do Intercâmbio de Iniciativas Promissoras, realizadas no período de 2002 a 2008 nas cidades de Santarém e Mosqueiro, no Pará, e Manaus e Presidente Figueiredo, no Amazonas.

Para alcançar os objetivos da pesquisa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas individuais com representantes das instituições envolvidas em cada evento, buscando informações sobre as atividades realizadas, as dificuldades encontradas e os produtos e avanços obtidos ao longo do desenvolvimento dos projetos.

De modo complementar, a coleta de informações foi também realizada sob a perspectiva da observação participante, enfocando as práticas de manejo, as regras informais, os padrões e as regras sociais apresentadas por cada instituição e como as mesmas compartilhavam estas informações com as demais. Essa metodologia, para estudos dessa natureza, torna possível captar uma variedade de relações e/ou fenômenos que não são obtidos por meios instrumentais como formulários e entrevistas, uma vez que, observados diretamente, na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real (Marconi e Lakatos, 1986).

Foi feita ainda análise dos relatórios técnicos dos sete Intercâmbios realizados, que descrevem as atividades desenvolvidas e identificam os participantes em cada um dos eventos, e, para que se melhor entendesse os avanços, dificuldades e implicações sociais, econômicas e ambientais dos projetos apoiados pelo ProVárzea, foram também analisados relatórios de oficinas de marco zero, relatórios de implementação de atividades e relatórios de avaliações independentes, elaborados desde o início do apoio do ProVárzea às experiências de manejo.

As oficinas de marco zero foram realizadas no início da execução de cada projeto e tiveram como objetivo elaborar indicadores de resultados e impactos, para expressar o real progresso das atividades realizadas e identificar os respectivos marcos zero. Os relatórios de implementação de atividades, por sua vez, forneceram informações quantitativas e qualitativas das atividades desenvolvidas pelos projetos semestralmente, enquanto que as avaliações independentes, feitas por consultores contratados pelo ProVárzea, foram realizadas, ao menos uma vez, ao longo do desenvolvimento de cada projeto analisado.

A realização de documentação fotográfica em cada Intercâmbio auxiliou a ilustrar a efetiva interação entre os diferentes atores durante a realização dos eventos, fazendo com que a integração texto-imagem represente de melhor maneira as possibilidades ocasionadas pelos eventos.

Todos esses dados permitem não somente a coleta de informações em si, mas também a interpretação de informações já existentes, de forma a gerar novos conhecimentos (Vieira et al., 2005). Assim, o uso destas diferentes estratégias permitiu cruzar abordagens processuais em uma abordagem qualitativa, sem tomar a metodologia como um conjunto pré-determinado de regras.

 


Tabela 1. Projetos apoiados pelo ProVárzea e seus respectivos municípios de abrangência.

 

Projeto

Entidade proponente

Municípios abrangidos

Educação Ambiental e Conservação da Várzea em Áreas Indígenas Ticuna do Alto Solimões

Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües – OGPTB

Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá – AM

Manejo Comunitário Participativo dos Recursos Pesqueiros no Setor Maiana

Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Fonte Boa – IDSFB

Fonte Boa – AM

Manejo de Lagos de Várzea da Região de Tefé

Grupo de Preservação e Desenvolvimento – GPD

Alvarães, Maraã e Tefé – AM

Fortalecimento da Organização dos Pescadores da Região do Médio Solimões

Colônia de Pescadores Z-4

Alvarães, Maraã, Tefé e Uarini – AM

 

Consórcio de Uso dos Recursos Naturais da Várzea Através dos Princípios da Sustentabilidade e Co-gestão

Piscipesca Assessoria e Comércio Ltda – PISCIPESCA

Manacapuru – AM

Abelhas e Polinização de Plantas da Várzea

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA

Autazes, Careiro Castanho, Maués, e Alvarães – AM

Melhoria da Cadeia Produtiva Agropastoril

Cooperativa Agropecuária Mista do Careiro da Várzea – COOPVÁRZEA

Careiro da Várzea – AM

Manejo de 10 Espécies de Plantas Para Fitoterápicos e Fitocosméticos Junto às Famílias Ribeirinhas de Duas Comunidades do Município de Manaquirí

Serviço de Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas – SEBRAE/AM

Manaquiri – AM

Projeto Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais da Região de Várzea em Silves

Associação Vida Verde da Amazônia – AVIVE

Silves – AM

Conservação dos Recursos Naturais da Várzea Através do Turismo Ecológico e da Gestão Participativa na Região de Silves

Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural – ASPAC

Silves, Itacoatiara, Itapiranga – AM

Sistema Integrado de Produção Terra-Água

Grupo Ambiental Natureza Viva – GRANAV

Parintins – AM

Implantação do Sistema Agroflorestal nas Restingas de Várzea

Central das Associações Rurais do Município de Parintins – CEDARP

Parintins – AM

Manejo Sustentável de Quelônios por Comunidades do Médio e Baixo Amazonas - Projeto Pé de Pincha

Universidade Federal do Amazonas – UFAM

Barcelos, Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Nhamundá – AM

Faro, Oriximiná e Terra Santa – PA

Reflorestamento de áreas degradadas na região de Ituquí e Ilha de São Miguel

Associação de Mines e Pequenos Produtores e Agricultores de Aracampina – AMPA

Santarém – PA

Centro de Capacitação do Pescador Artesanal

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM

Santarém – PA

Fortalecendo Instituições de Base para a Gestão Participativa dos Recursos Pesqueiros

Colônia de Pescadores Z-20

Santarém – PA

Sistema Alternativo e Sustentável de Recuperação e Produção em Várzeas do Médio Amazonas Paraense

 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA

Santarém, Monte Alegre e Prainha – PA

Fortalecimento da Comunicação e Organização dos Usuários e Instituições ligadas à Gestão do Uso Sustentável dos Recursos Naturais da Várzea

Instituto Amazônico de Manejo Sustentável dos Recursos Ambientais – IARA

Santarém, Monte Alegre, Alenquer, Curuá, Óbidos, Juruti, Oriximiná, Almeirim, Prainha – PA

 

Fortalecer a Organização para o Manejo e Conservação dos Recursos Pesqueiros

Movimento dos Pescadores do Oeste de Pará e Baixo Amazonas – MOPEBAM

Santarém, Terra Santa, Faro, Juruti, Oriximiná, Óbidos, Curuá, Itaituba, Aveiro, Alenquer, Monte Alegre, Prainha, Almeirim, Gurupá e Porto de Moz – PA

Apoio a Iniciativas de Gestão Participativa dos Recursos Pesqueiros

Colônia de Pescadores Z-31

Porto de Moz e Prainha – PA

Manejo Florestal Comunitário Madeireiro em Áreas de Várzea do Distrito de Itatupã

Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Distrito de Itatupã – ATAEDI

Gurupá – PA

Manejo Florestal Comunitário Madeireiro e Não Madeireiro em Áreas de Várzea do Distrito de Itatupã

Associação dos Produtores Agroextrativistas do Alto Jaburú – APROJA

Gurupá – PA

Apoio a Iniciativas Comunitárias de Gestão Integrada dos Recursos Naturais de Várzea

Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha de São Salvador – ATAISS

Gurupá – PA

Manejo Comunitário dos Recursos Florestais e da Pesca em Áreas de Várzea da Ilha de Santa Bárbara

Associação dos Trabalhadores Rurais da Ilha de Santa Bárbara – ATRISB

Gurupá – PA

Manejo Comunitário dos Recursos Florestais e de Pesca em Áreas de Várzea no Município de Gurupá

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE

Gurupá – PA

 

 

 

 

 


 

Figura 1. Municípios abrangidos pelos projetos apoiados pelo ProVárzea.


 

Resultados e discussão

 

Ao longo de suas sete edições, o Intercâmbio das Iniciativas Promissoras promoveu o encontro de 482 pessoas (Tabela 2), realizou o lançamento de publicações e documentários baseados nas experiências dos projetos apoiados (Figura 2), e serviu como espaço de comercialização de produtos oriundos das áreas manejadas, tais como as peças de marchetaria do projeto executado pela FASE, os sabonetes, velas e incensos produzidos pela AVIVE, o artesanato do grupo de mulheres da APROJA, e o mel de abelhas sem ferrão das áreas trabalhadas pelo GRANAV (Figura 3).

Os resultados expressivos das primeiras edições permitiram que em 2005, pela primeira vez ao longo do movimento conservacionista brasileiro, dois projetos governamentais de grande porte que trabalhavam com o manejo de áreas alagáveis na Amazônia, o ProVárzea e o Projeto Manejo Integrado dos Recursos Aquáticos da Amazônia (AquaBio), estivessem reunidos em um evento voltado para a apresentação de informações e troca de experiências. Surgia assim a I Oficina de Experiências no Manejo dos Recursos Naturais em Várzeas e Igapós, realizada concomitantemente ao Intercâmbio daquele ano, união que voltou a acontecer em 2006. Já no Intercâmbio de 2008 o Projeto Corredores Ecológicos (PCE), outra grande iniciativa governamental, participou da organização e implementação do evento.

Com o passar dos anos e o amadurecimento dos projetos, o Intercâmbio das Iniciativas Promissoras consolidou-se como um grande espaço de diálogo de saberes - acadêmicos e empíricos - não mais restrito aos projetos apoiados pelo ProVárzea, nem mesmo delimitado às experiências em áreas de várzea do rio Solimões/Amazonas. O que se estruturou foi um grande fórum de apresentação de resultados, avanços e desafios que atuam sobre o manejo sustentável dos recursos naturais da região amazônica, promovendo assim, a busca de melhores metodologias a serem utilizadas e a replicação de atividades bem-sucedidas. Além disso, o evento transformou-se em um espaço de discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e adequadas ao cenário amazônico. Essa experiência demonstra a diferença entre uma comunicação descomprometida com o interesse social e a realizada de forma crítica e que possibilita a interação, diálogo e aprendizagem das partes envolvidas (Freire, 1977).

As diferentes edições do Intercâmbio das Iniciativas Promissoras foram estruturadas de maneira que, durante os trabalhos, existissem condições para a troca de informações entre os participantes relacionadas à gestão dos projetos de manejo dos recursos naturais, mas, sobretudo para que os participantes pudessem socializar suas experiências e estratégias para a solução de problemas encontrados e de oportunidades de parcerias com outras instituições visando à continuidade dos projetos e atividades que se mostraram bem-sucedidas.

Considerando a necessidade de divulgar e disseminar os inúmeros e importantes resultados gerados pelo ProVárzea, foi preciso direcionar as ações de comunicação por meio de um Plano Estratégico de Comunicação, implementado de 2004 a 2008, que buscou socializar as informações geradas e experiências testadas pelo Projeto. Desta forma, as atividades foram estruturadas por meio de diversos instrumentos de comunicação: website, assessoria de imprensa, publicações técnico-científicas em revistas especializadas, livros, cartilhas, folders, vídeos-documentários e realização de eventos.

 

Tabela 2. Edições realizadas do Intercâmbio das Iniciativas Promissoras.

 

Ano

Evento

Local

N0 de participantes

2002

I Intercâmbio das IPs

Santarém/PA

35

2003

II Intercâmbio das IPs

Santarém/PA

64

2004

III Intercâmbio das IPs

Manaus/AM

74

2005

IV Intercâmbio das IPs

e

I Oficina de Experiências no Manejo dos Recursos Naturais em Várzeas e Igapós

Santarém/PA

92

2006

V Intercâmbio das IPs

e

II Oficina de Experiências no Manejo dos Recursos Naturais em Várzeas e Igapós

Santarém/PA

81

2007

VI Intercâmbio das IPs

Mosqueiro/PA

84

2008

VII Intercâmbio das IPs

Presidente Figueiredo/AM

52

 

 

Figura 2. Lançamento de publicações durante o V Intercâmbio das Iniciativas Promissoras.

 

Figura 3. Comercialização de produtos manejados durante a feira de negócios do VII Intercâmbio das Iniciativas Promissoras.

 

 

 

Neste contexto, a estratégia de comunicação do ProVárzea também utilizou formas alternativas para a democratização do conhecimento como os Intercâmbios das Iniciativas Promissoras, que possibilitaram o encontro face-a-face dos públicos que são os grandes agentes executores de mudanças, funcionando como um canal, e ao mesmo tempo um catalisador, de ações comunicativas no âmbito dos recursos naturais da Amazônia.  Afinal, a comunicação participativa ou horizontal é ponto de partida para a construção de qualquer política socioeconômica e ambiental, nas organizações governamentais e não-governamentais que lidam com os contextos populares (Costa, 2007).

A organização sistêmica desencadeada pelos Intercâmbios das Iniciativas Promissoras se aproxima do conceito de redes adotado por Toro e Werneck (1996) que pontuam que nas redes o poder se desconcentra, por isso também a informação, que se distribui e se divulga; e que a posse do poder não representa o poder concentrado; pois o poder, assim como a informação, é de todos. Esse sentido de desconcentração, distribuição e compartilhamento de informação pode ser observado na Figura 4, que ilustra a interação e troca de experiências entre os projetos apoiados pelo ProVárzea e também entre estes projetos e instituições externas. Crossa (2006) ratifica que o intercâmbio entre pesquisadores, técnicos e comunitários, promovido pelo ProVárzea, permitiu ampliar a visão dos coordenadores de cada projeto, compartilhando horizontalmente conhecimentos e experiências e criando laços de amizades e colaborações que podem se transformar numa rede de projetos no longo prazo.

Os Intercâmbios permitiram também que representantes de órgãos governamentais (como prefeituras e secretarias municipais e estaduais), da sociedade civil organizada (organizações não governamentais, associações e cooperativas) e de instituições de economia mista, repassassem suas experiências no desenvolvimento e apoio a projetos de manejo dos recursos naturais. Nas palavras de Cláudio Picanço (Com. Pess.), do Ministério do Meio Ambiente:

 

“O Intercâmbio das Iniciativas Promissoras é um atalho muito grande para a aprendizagem. Participei dos outros e vejo que a cada edição, os produtos estão mais elaborados e aparecem novidades. Então a gente vê que a coisa está andando” (Cláudio Picanço, Com. Pess. em Vidal e Dantas, 2007).

 

A informação descentralizada foi incorporada por diferentes instituições e assim transformada em conhecimento adequado a cada realidade. Pesquisa realizada por Seabra (2006) aponta que em 50% dos casos o evento ajudou a redefinir ações, promover uma análise mais profunda sobre o desenvolvimento dos trabalhos, ajudando a estabelecer alguns redirecionamentos para o melhor desempenho dos mesmos.

Na abordagem ambiental segundo Leff (2004), o ambiente tem posto a dialogar o estruturalismo com o pós-estruturalismo; a modernidade com a pós-modernidade; o logos científico e a racionalidade econômica, com os saberes populares; a ética com o conhecimento. E é nesse diálogo entre saberes que se vislumbram objetivos como a sustentabilidade e o desenvolvimento.

Assim, o Intercâmbio das Iniciativas Promissoras rompeu barreiras geográficas, sociais e políticas, e promoveu o aperfeiçoamento de metodologias, a replicação de atividades e tecnologias bem-sucedidas, e o fortalecimento da gestão compartilhada dos recursos naturais amazônicos, funcionando como desencadeador de um processo de troca entre comunitários, instituições governamentais e não governamentais.

As experiências mais abrangentes dos projetos apoiados pelo ProVárzea têm propiciado o estabelecimento de parcerias entre instituições de base e órgãos públicos, facilitando o encaminhamento de demandas sociais, econômicas e ambientais das populações ribeirinhas. A estratégia utilizada pelo ProVárzea em promover encontros e fóruns de discussão conseguiu iniciar o intercâmbio do conhecimento popular com o conhecimento científico, reunindo, organizando e conferindo as informações dessas duas fontes e também repassando-os de uma esfera a outra (Vidal, 2010).

 

 

 

 

 


 

 

Figura 4. Perspectiva de redes de interação entre os projetos apoiados e instituições externas (modificado a partir de CROSSA, 2006).

 

 

 

Considerações finais

 

As características geográficas e as grandes distâncias entre os projetos apoiados, somadas à falta de recursos tecnológicos em diversas comunidades, fazem com que as formas de comunicação destinadas à região amazônica também assumam contornos peculiares. Assim, parcerias institucionais, ferramentas de comunicação apropriadas para cada público, preocupação com a gestão dos recursos naturais e diálogo entre os conhecimentos científicos e saberes tradicionais são apenas alguns dos fios que impulsionam e alimentam essa rede de conhecimento. Nesse contexto, o encontro face-a-face possibilitado pelo Intercâmbio das Iniciativas Promissoras desenvolvido pelo ProVárzea surgiu como uma ferramenta para se nivelar conhecimentos e possibilitar a replicação de novas formas de exploração dos recursos naturais a partir dos princípios da sustentabilidade.

Pode-se considerar o Intercâmbio das Iniciativas Promissoras como uma eficiente alternativa para explicitação de conhecimento tácito oriundo de organizações de base, comunitárias e conseqüente aprendizagem e melhoria dos processos em diferentes regiões da Amazônia. Além disso, funciona como elemento de mobilização de outras comunidades e de fortalecimento do diálogo dos saberes em prol do desenvolvimento sustentável da várzea amazônica.

Com o encerramento do  ProVárzea em 2008 oficialmente foram encerrados também  os eventos de Intercâmbio das Iniciativas Promissoras. No entanto, a execução bem sucedida do ProVárzea gerou dentro do IBAMA, e posteriormente no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a criação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica – CEPAM (Vidal, 2010). Com a criação do CEPAM, o governo brasileiro garantiu recursos técnicos e financeiros para a reaplicação e perpetuação do modelo de gestão compartilhada da biodiversidade amazônica e a busca de novos arranjos institucionais para a continuidade deste que se tornou uma importante ferramenta de comunicação e difusão de conhecimentos para o manejo dos recursos naturais.

 

 

Referências bibliográficas

 

Costa, A. L. (Org.). Nas redes da pesca artesanal. Brasília: Ibama, 2007.

 

Crossa, M. M. Relatório Final – Avaliação de sete Iniciativas Promissoras na Linha de Recursos Pesqueiros. Santarém/PA, 2006.

 

Freire, P. Extensão ou Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

 

Ibama. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea: Conceito e Estratégia. Manaus: Ibama/ProVárzea. 2002.

 

Leff, E. As aventuras da espistemologia ambiental. Da articulação das ciências ao diálogo de saberes. Série idéias sustentáveis. Tradução de Gloria Maria Vargas. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

 

Marconi, M. A.; Lakatos, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 1986.

 

Seabra, Y. C. R. O evento como instrumento de comunicação entre projetos ambientais. Manaus, Monografia (Especialização em Gestão de Eventos), Centro Universitário do Norte – Uninorte, 2006.

 

Santos, M. T. Aprendizados do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.

 

Silva, A. L. T. A Amazônia na governança local: o caso do PPG-7. Campinas, Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Universidade Estadual de Campinas, 2003.

 

Toro, J. B.; Werneck, N. M. D. Mobilização Social: um Modo de Construir a Democracia e a Participação. Unicef: Brasil, 1996.

 

Vidal, M. D.; Dantas, J. Troca de experiências proporciona disseminação de atividades bem-sucedidas e aprimoramento de técnicas. Revista Jirau. Manaus: Ibama/ProVárzea, n. 17, p. 11-13, 2007.

 

Vidal, M. D.; Thomé-Souza, M. Iniciativas Promissoras: um caminho para a sustentabilidade na várzea amazônica. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2008.

 

Vidal, M. D. Experiências de manejo dos recursos naturais na várzea amazônica. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2008.

 

Vidal, M. D. Manejo participativo da pesca na Amazônia: a experiência do ProVárzea. Ciência e Natura. v. 32, p. 97-120, 2010.

 

Vieira, P. F.; Berkes, F.; Seixas, C. S. Gestão integrada e participativa de recursos naturais: conceitos, métodos e experiências. Florianópolis: Secco/APED, 2005.

 

Ilustrações: Silvana Santos