Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) O ENSINO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: DISCUSSÕES DA ÚLTIMA DÉCADA
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O Ensino Educação Ambiental no Brasil: Discussões da Última Década

 

Esp. Sandro Ribeiro da Costa

Especialista em Gestão Ambiental UNICID, Mestrando Biociências UNIC e Professor-Tutor da Especialização em Gestão Pública Municipal -UFMT email-(sandrorcr@gmail.com)

Fone: 065-3615-8517

 

M.Sc. Paulo Augusto Ramalho de Souza

Mestrado em Administração Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS, Doutorando em Administração Universidade Municipal de São Caetano do Sul USCS e Professor da Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT (paramalho@gmail.com)

Fone: 065-3615-8517

 

M.Sc Elisandra Maria Zambra

Mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento Regional - Economia da UFMT. Doutorando em Administração Universidade Municipal de São Caetano do Sul USCS e Professor da Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT(elisandrazambra@gmail.com)

Fone: 065-3615-8517

 

Esp. Jacqueline Rodrigues de Andrade

Especialista em Gestão e Perícia Ambiental e atualmente é docente na Universidade Federal de Mato Grosso UFMT

(jandrade.adm@gmail.com)

Fone: 065-3615-8517

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo: A Educação Ambiental é um instrumento imprescindível para a consolidação de novos modelos de desenvolvimento sustentável, através da qual o indivíduo e a comunidade constroem valores sociais e éticos. Esta pesquisa teve por objetivo identificar e analisar a evolução dos estudos sobre o ensino da educação ambiental no Brasil nos últimos 11 anos. A pesquisa realizada é de caráter exploratório. Deste modo foram analisados os artigos publicados em revistas nacionais especializadas em ensino da educação ambiental no Brasil nos últimos 11 anos, com base nessas publicações sobre o tema Educação Ambiental avaliadas no estrato “A1”, no período de 2001 até 2011. Constatou-se que mesmo as revistas sendo da área de Ensino e Educação pouco tratam da questão, pois dos quase 8000 artigos de 25 revistas nacionais, apenas 74 artigos, ou seja, menos de 1% dos artigos trata da Educação Ambiental e apenas 22 tratam da questão do Ensino da Educação Ambiental, deste modo percebe-se o quanto às pesquisas cientificas ainda são incipientes quando se trata do tema, o que corrobora a importância da implementação de novos trabalhos científicos.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental; Ensino; Consciência Ambiental.

INTRODUÇÃO       

As discussões sobre a educação ambiental no mundo contemporâneo estão relacionadas com temas mais gerais sobre a problemática ambiental que cada vez mais têm feito parte das inquietações dos mais diferentes setores da sociedade. Desde antes da Revolução Industrial, a atividade interventora e transformadora do homem em sua relação com a natureza vem se tornando cada vez mais predatória. A década de sessenta pode ser considerada como um marco quanto à origem das preocupações com as perdas da qualidade ambiental e 1972, um ano histórico para o movimento ambientalista mundial, pois foi quando as primeiras discussões sobre o tema culminaram na Conferência de Estocolmo e muitos outros eventos (SÃO PAULO, 1994).

Segundo Sato (2004), uma primeira definição para a Educação Ambiental foi adotada em 1971 pela Internacional Union for the Conservation of Nature. A Conferência de Estocolmo ampliou sua definição a outras esferas do conhecimento, e a Conferência de Tbilisi definiu o conceito de Educação Ambiental: A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

No País, a preocupação com a qualidade ambiental se manifestou em 1981, com a Lei Federal no. 6.938, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, seguida pela Constituição Federal de 1987, que assegura um ambiente saudável para todos e o Tratado de Educação Ambiental da Rio-92. Mas é na Lei Federal no 9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA), que ficou declarada a implementação da Educação Ambiental em todos os níveis e idades (SATO, 2004).

Ultimamente as questões ambientais vêm sendo discutidas intensamente, devido à preocupação dos ambientalistas e pesquisadores em advertir a sociedade sobre os principais problemas ambientais. Diante disso, a Educação Ambiental vem sendo proposta como uma estratégia para conscientizar os indivíduos de que suas ações são responsáveis pelo comprometimento da sua própria existência, pois como diz Travassos (2001, p. 2), “a fragilidade dos ambientes naturais coloca em jogo a sobrevivência humana”. Essa educação que pode ser realizada dentro do âmbito escolar ou fora dele, demonstra a necessidade de contextualização dos conceitos sistematizados, integrando-os a uma nova prática do conhecimento, levando em consideração, principalmente, a renovação dos currículos escolares. Nesta perspectiva, o currículo não se limita a fazer uma seleção entre os conteúdos disponíveis em determinado momento, ele deve também torna-los efetivamente transmissíveis, convertendo-os em objeto real de ensino. É nesse caso que deve ser destacada a importância do trabalho eficaz do professor, que por meio do currículo efetivado na sala de aula, pode por fim realizar o processo de transposição do conhecimento. A esse respeito, Forquin (1993) assinala que não há ensino possível sem o reconhecimento de certa validade do objeto ensinado pelo professor. Julga que a noção de valor inerente do objeto ensinado está no próprio centro daquilo que constitui a especificidade e singularidade da intenção docente (FORQUIN,1993).

Apple (1982) e Giroux (1986) argumentam a favor desse entendimento do currículo, negando a idéia de passividade dos seus sujeitos, ao apresentar que tanto o professor como aluno possui uma base de conceitos e referências que serão desenvolvidas para sistematizar as experiências educativas e culturais que compõem o currículo. Pode-se afirmar, deste modo, que o currículo integra-se não por um único conhecimento estático e deliberado, mais sim por conhecimento e experiências particulares do professor, do aluno e do meio onde estão inseridos.

Assim, esta pesquisa tem por objetivo identificar a evolução dos estudos sobre o ensino da educação ambiental no Brasil nos últimos 11 anos, com base nas publicações científicas nacionais especificas do tema Educação Ambiental cadastradas no periódico CAPES.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa exploratória é aquela cujo objetivo “consiste numa caracterização inicial do problema, de sua classificação e de sua reta definição” (RUIZ, 2002). Segundo Gil (1999, p. 43) as pesquisas exploratórias buscam “proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”. E segundo Vergara (2009, p.42) “a investigação exploratória não pode ser confundida com leitura exploratória, é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa”.

Os dados foram coletados através de análise bibliográfica em documentos primários (revistas e anais de congressos) que, segundo Chizzotti (2001) são os que contêm informações originais.

Foram analisados os artigos publicados em revistas nacionais, especializadas de ensino e educação no Brasil nos últimos 11 anos, com base nas publicações científicas nacionais especificas sobre o tema Educação Ambiental, avaliadas no estrato “A1” cadastradas no periódico CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Governo Federal, no período de 2001 a 2011. Por meio da pesquisa foram encontradas 25 revistas contendo cerca de 8000 artigos, destes apenas 74 artigos, ou seja, menos de 1% dos artigos trata da Educação Ambiental e apenas 22 tratam da questão do Ensino da Educação Ambiental, isso só vem corrobora a importância da implementação de novos trabalhos científicos.

 

DESENVOLVIMENTO

A Figura 01 apresenta as publicações de artigos em periódicos qualis  A1 Educação & ensino no Brasil nos últimos 11 anos.

    Fonte: Elaborado pelos autores com base na pesquisa.

     FIGURA 01 – Total de Publicações nas Revistas A1 do Extrato Ensino e Educação no Brasil

 

       Por meio da pesquisa foram encontradas 25 revistas contendo cerca de 8000 artigos publicados de 2001 a 2011, dentre estes 74 artigos continham informações relacionadas com à educação ambiental . O que apresenta ainda uma incipiente discursão do tema, pois apenas cerca de 1% dos artigos publicados estão relacionados com a Educação Ambiental e desses poucos somente 22 artigos tratam da questão do Ensino da Educação Ambiental.

A Figura 02 apresenta os temas abordados nos artigos relacionados com a educação ambiental em Periódicos Qualis  A1 Educação & Ensino no Brasil nos últimos 11 anos.

Fonte: Elaborado pelos autores com base na pesquisa.

Figura 02 – Principais Temas Abordados nas Publicações.

 

             A Figura 02 apresenta as diferentes discursões abordadas dentro do tema Educação Ambiental. Constata-se que aproximadamente 35% destes trata de Políticas Públicas e outro relevante percentual trata do Ensino da Educação Ambiental, sendo os temas mais discutidos nos últimos 11 anos. Outros temas também identificados com menor percentual foram  Transversalidade,  Formação de Professores e  Desenvolvimento Sustentavel.

 

DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

A sociedade contemporânea ainda tenta se desvencilhar da visão antropocêntrica de mundo. Visão essa que outorgar o ser humano a dominar a natureza, e dela se utilizar como se a sua existência fosse exclusivamente para satisfazer as necessidades da humanidade. A base natural sempre foi utilizada de modo predatório, sem qualquer preocupação com a preservação da diversidade biológica como um todo. Segundo Morin e Kern (2003, p. 79), “o mito do desenvolvimento determinou a crença de que era preciso sacrificar tudo por ele”. Entretanto, a natureza não pode mais ser vista somente sob o aspecto econômico, como um objeto à disposição do ser humano, mas sim como um todo integrado e indispensável para a continuidade da vida na Terra.

O grande desafio atual é o Desenvolvimento Sustentável, que busca a harmonia entre o desenvolvimento socioeconômico e a preservação do meio ambiente. A busca de tal Desenvolvimento parece por muitas vezes utópica devido a uma grande questão, o aumento do consumo desenfreado dos recursos naturais, como se os recursos fossem infinitos. Pois, como ressalta Locatelli (2000), “ao contrário dos anseios e necessidades do homem, que podem ser consideradas como ilimitados, os recursos naturais disponíveis não o são”.

Nesse sentido, Penna (1999):

Grande parte das questões ambientais e sociais baseia-se no desequilíbrio abastecimento versus demanda. Embora não se sabia com clareza os seus limites, o abastecimento é seguramente limitado, enquanto a demanda pode ser ilimitada. Não há limites intrínsecos à demanda dos seres humanos.

 

O crescimento econômico e o progresso material não podem ser um fim em si mesmo. “O que deveria ser apenas um meio está sendo cada vez mais confundido com os objetivos, que é o desenvolvimento humano, a sobrevivência e o bem-estar presente e futuro da nossa espécie e daquelas que conosco partilham a biosfera” (PENNA, 1999). Já é tempo de perceber que se não houver um ambiente saudável, de nada adiantará um crescimento econômico acelerado ou um grande desenvolvimento tecnológico, haja vista que estes não irão compensar as perdas da qualidade ambiental.

É preciso abandonar o atual modelo de desenvolvimento, que busca apenas o crescimento econômico, e buscar um modelo de desenvolvimento que respeite a natureza e que utilize de modo racional seus recursos. A sustentabilidade não é mero modismo ou uma utopia inalcançável, mas uma necessidade para a sobrevivência do planeta Terra.

 

ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A palavra ambiental, da expressão Educação Ambiental (EA), apenas adjetiva, qualifica um processo mais amplo que é o processo educacional. Desta forma, a EA é uma das dimensões presentes na educação.

Em virtude de que a responsabilidade e o compromisso maior na implementação de processoss de inovação educativa correspondem aos professores, os esforços de capacitação dos Multiplicadores de Educação Ambiental do MEC nos Estados deverão centrar-se nas necessidades e nos problemas que eles apresentam para inicia a inserção do tema nos curriculos.

É possivel imaginar que estas necessidades se localizam na falta de conhecimentos teoricos em relação aos processos de elaboração curricular, planos de aula, programação de unidades ditadicas e ou nucleos tematicos de Educação Ambiental, como manejar metodologicamente os temas transversais, entre outros.

            Os educadores e os formadores ambientais devem desenvolver uma dupla dimensão de sua profissão; serem facilitadores da apredizagem de seus alunos e investigar sua propia atividade profissional.

           O professor deve orientar, facilitar, dinamizar o processo de fazer evoluir os conceitos dos sujeitos do processo aprendizagem. Na concepção individual não existem conhecimentos prontos para serem transmitidos e memorizados, mas sim processos de dinâmica coletiva de reflexão, de negociação e de evolução de significados. O professor há de investigar os processos na aula para ajustar seu planejamento didatico aos fenomenos que nela ocorrem e que cercam seus alunos, não delegando outros (agentes externos, tecnicos em curriculos, administração, livro didatico,orientador pedagogico, etc.) a tomada de decisões na relação o que, como, quando ensinar e como avaliar, devido as inumeras peculiaridades (MEDINA, 1994).

           O curriculo de Educação Ambiental deve ser o resultao de um processo de interação e negociação no qual  os alunos tracem suas experiencias vitais, concepções e crenças pessoais, seus valores, interesses, problemas e expectativas; e no qual o educador contribui com uma visão do conhecimento cientifico e historico social que seria desejvel adquirir, com a bagagem de metodologia e tecnicas pedagogicas e comsua propria experiencia social e proficional, com o conjunto de problematicas e ou potencialidades socio-ambientais que interessa investigar, compreender e construir junto aos educandos (MEDINA, 1996).

              As atividades de Educação Ambiental poderão ser planejadas em conjunto com os alunos e, desta forma, poderam permitir que estes assumam uma importantes parcela na execução dos projetos de Educação Ambiental, responsabilizando-se progressivamente pela realiação de tarefas concretas relativas ao tema e atuando em equipe, exercitando na pratica a importancia da cooperação e do trabalho conjunto.

              Exercitar o  dialogo em aula, incentivo aos alunos a darem suas opiniões, a manifestarrem seus acordos e desacordos, avançando e aprofundando suas concepções, possibilidades a reestruturação dos esquemas cognitivos num processo dinamico crittica das situações concretas do ambiente em que vivem e a procura de soluções criativas que possibilitem entender o papel das intervenções humanas na definição de alternativas de futuro, incentivando sua participação responsavel e comprometida na sociedade (MEDINA, 1996).

 

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM  EDUCAÇÃO AMBIENTAL

             Há uma tendência, cada vez mais preponderante, que admite a existência de acentuado distanciamento entre as áreas de conhecimento e seus correspondentes nos currículos escolares. Assim, segundo essa tendência é possível afirmar-se, sob uma série de aspectos, que a Biologia é diferente da praticada no ensino; a Matemática é diferente da Matemática escolar; a Geografia é distinta da Geografia proposta e desenvolvida na escola. Sob outra ótica, pode-se dizer que cada uma dessas áreas de conhecimento é recontextualizada no ensino (SAVIANI, 1998; CICILLINI, 2002).

Desse modo, no ambiente escolar cada uma das áreas de conhecimento escolhidas para compor o currículo especialmente no Ensino fundamental, primeiramente passa um processo de seleção dos seus conteúdos. Este fica; aquele é excluído; outros nem ao menos são considerados. Após, a seleção cada um dos conteúdos passa por adaptações necessárias, em função dos objetivos da escola, das práticas possíveis, dos recursos disponíveis, disponibilidade e conhecimento do professore, todo esse procedimento de seleção para a construção do currículo não leva em consideração as peculiaridades de cada instituição de ensino que será atendida, o cotidiano e particularidade dos alunos, as tradições existentes, e assim por diante. Além disso, no interior da sala de aula, os diversos procedimentos de ensino adotados pelos professores configuram esses novos conteúdos e com eles os diversos significados das disciplinas escolares.

A situação é perfeitamente conhecida do professor quando, após concluir a sua graduação, começa a lecionar no Ensino Fundamental ou Médio. Tudo lhe parece estranho. Pensa em se valer dos conhecimentos adquiridos durante sua formação e não consegue sequer perceber como faze-lo. Olha para o currículo proposto, o qual deve seguir, e não vê semelhança com o que sabe, aprendeu e pretendia seguir. Somente um tempo depois, se acostuma e se acalma. Adapta-se, é bem verdade.

Considere agora, a situação da Educação Ambiental nas escolas (AMARAL, 2001). Esta deverá tratar do desenvolvimento de uma Educação voltada para a compreensão do Ambiente em sua totalidade proporcionando a compreensão das inter-relações dos diferentes aspectos que envolvem a realidade, sejam eles físicos, humanos, econômicos, sociais, políticos e culturais, permitindo mostrar a importância do ambiente como elemento de realização social e de impulsionar ações mais justas dos homens entre si e com o conjunto da natureza.

O professor tem uma compreensão crítica da educação e da Educação Ambiental; contudo, as situações de aprendizagem relacionadas com a temática ambiental acabam, ainda, muitas vezes, mantendo suas bases fixadas no modelo tradicional de educação.

Apontando para a importância da atividade de pesquisa para melhor trabalhar interdisciplinarmente e para a necessidade do envolvimento com outras instituições, mesmo que os projetos até então implementados, em parte, tenham obtido esta amplitude.

 

TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Considerar a Educação Ambiental como o eixo do conjunto dos temas transversais facilita sua inserção no currículo escolar e atinge os objetivos propostos nos PCN. Em face do surgimento de novos paradigmas científicos, do processo de globalização, de macroproblemas ambientais, da orientação da nova LDB quanto à inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC), a universidade brasileira e as escolas públicas encontram-se perante uma crise quanto a seus objetivos e a sua função e, particularmente, no que se refere à formação de professores e à capacitação de educadores ambientais. Devemos considerar, inclusive, as orientações  do CFE (Parecer no  226/87, quanto ao caráter interdisciplinar), a Constituição Federal, que aponta a Educação Ambiental como obrigatória em todos os níveis, e o Programa Nacional de Educação Ambiental  do Ibama/MEC (1995).

O texto dos PCN reitera que o ensino de Educação Ambiental deve considerar as esferas local e global, favorecendo tanto a compreensão dos problemas ambientais em termos macros (político, econômico, social, cultural) como tambem em termos regionais. Deste modo, os conteúdos de Educação Ambiental integram-se no currículo escolar a partir de uma relação de transversalidade, a fim de imbuir a prática educativa, exigindo do professor uma readaptação dos conteúdos abordados na sua disciplina, o que condiz com resoluções do Conselho Federal de Educação e de conferências nacionais e internacionais, que reconhecem a Educação Ambiental como uma temática a ser inserida no currículo de modo diferenciado, não se configurando como uma nova disciplina.

Segundo Busquets  et al. (1993), os temas transversais devem ser colocados no centro das preocupações sociais e educacionais, por onde é possível transitar os conteúdos das disciplinas formais. Esses temas promoverão significados para a aprendizagem das disciplinas escolares, que devem aparecer como instrumentos culturais de grande importância, para aproximar o conhecimento científico da vida cotidiana. Nesse sentido, a Educação Ambiental deve considerar esses aspectos para ser trabalhada segundo essa abordagem. Os temas transversais, oriundos das problemáticas sociais atuais, para serem mais bem compreendidos, necessitam da abordagem dos mais diferentes campos do conhecimento; por isso, não devem ser tratados por uma única área ou disciplina, a fim de não descaracterizar sua complexidade.

Devemos ter ciência de que o conceito de transversalidade ainda é pouco claro e sua implantação nas práticas pedagógicas exige maiores esclarecimentos metodológicos, assim como novas relações entre os conteúdos. Cascino (1999) reforça essa idéia quando afirma que a concepção de interdisciplinaridade está, em geral, ligada a uma concepção de “colagem” de conteúdos.  O curso de capacitação deve ponderar tais características. Cabe ainda acrescentar que deve haver maior intercâmbio entre os diversos projetos em Educação Ambiental, assim como sua orientação (em termos dos PCN), haja vista a pouca fundamentação teórico-metodológica de muitos deles.

 

POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Para se entender educação ambiental como política pública, é interessante iniciar com os significados dessas palavras, contextualizá-lo na história do ambientalismo, inserindo-o nas agendas dos governos, assim como seus desdobramentos nas áreas da educação formal e não formal.

A palavra política origina-se do grego e significa limite. Dava-se o nome de polis ao muro que delimitava a cidade do campo; só depois se passou a designar polis o que estava contido no interior dos limites do muro. O resgate desse significado, como limite, talvez nos ajude a entender o verdadeiro significado da política, que é a arte de definir os limites, ou seja, o que é o bem comum (GONÇALVES, 2002). Quando entendemos política a partir da origem do termo, como limite de regulação sobre a sociedade, mas de uma regulação lógica entre sociedade- Estado que favoreça a pluralidade e a igualdade social e política.

Deste modo, resgatar a política é fundamental para que se estabeleça uma ética da sustentabilidade resultante das lutas ambientalistas. A educação ambiental origina-se como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e corresponsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais.

Considerando a ética da sustentabilidade e as premissas da cidadania, a política pública pode ser entendida como um conjunto de procedimentos formais e informais que evidenciam a relação de poder e se destina à resolução pacífica de conflitos, assim como à construção e ao aprimoramento do bem comum.

Atualmente, o conceito de desenvolvimento sustentável indica claramente o tratamento dado à natureza como um recurso ou matéria-prima destinada aos objetivos de mercado, cujo acesso é priorizado a parcelas da sociedade que detém o controle do capital. Este paradigma mantém o padrão de desenvolvimento que produz desigualdades na distribuição e no acesso a esses recursos.

Nesse sentido, ao compreender como meta uma educação ambiental para a sustentabilidade socioambiental recuperando o significado do eco desenvolvimento como um processo de transformação do meio natural que, por meio de técnicas adequadas, impede desperdício e enfatiza as potencialidades deste meio, cuidando da satisfação das necessidades de todos os membros a sociedade, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais. A educação ambiental entra nesse contexto orientada por uma percepção ambiental, transdisciplinar, pensando o meio ambiente não como sinônimo de natureza, mas uma base de interações entre o meio físico- biológico com as sociedades e a cultura produzida pelos seus membros. Leff (2001, p. 134) coloca a racionalidade ambiental como produto da prática, ou seja, seria “um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos”.

Essa concepção de educação ambiental foi parcialmente apropriada pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA–lei 9795/99) que em seu artigo primeiro define a educação ambiental como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

A lei existe para ser cumprida ou questionada, de modo que, logo após a promulgação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), foi criada no Ministério da Educação a Coordenação Geral de Educação Ambiental e no Ministério do Meio Ambiente, a Diretoria de Educação Ambiental como instâncias de execução da PNEA. Assim, a educação ambiental insere-se nas políticas públicas do Estado brasileiro de ambas as formas, como crescimento horizontal (quantitativo) e vertical (qualitativo), pois enquanto no âmbito do MEC pode ser entendida como uma estratégia de incremento da educação pública, no do Ministério do Meio Ambiente é uma função de Estado totalmente nova.

A perspectiva de políticas públicas do órgão gestor da educação ambiental, hoje, inclui essas três modalidades. O MEC e o MMA em seus respectivos setores de educação ambiental, pautados pelo ProNEA — Programa Nacional de Educação Ambiental — estão implantando programas e projetos junto às redes públicas de ensino, unidades de conservação, prefeituras municipais, empresas, sindicatos, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, consórcios e comitês de bacia hidrográfica, assentamentos de reforma agrária, dentre outros parceiros.

Certamente, a Educação Ambiental, no âmbito do Estado, enquadra-se naquilo que Bourdieu (1998) denomina “mão esquerda do Estado”, que reúne trabalhadores sociais, educadores, professores e cujas ações são ignoradas pela chamada “mão direita do Estado” (áreas de finanças, de planejamento, bancos). Ao operar na reparação dos danos sociais e ambientais da lógica de mercado, os sujeitos da “mão esquerda” podem, muitas vezes, se sentir equivocados e desautorizados em função das contradições vividas de forma crônica, como falta de recursos, luta pela biodiversidade convivendo com avanço das fronteiras agrícolas por monoculturas ou transgênicos, grandes obras com alto impacto, revisão de antigas conquistas etc. A reforma de Estado, que implica o aumento de sua eficiência, não implica de forma alguma a sua redução, pois em setores da regulação pública como educação e ambiente é clara a necessidade de se ampliar horizontal e verticalmente o Estado brasileiro.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Por meio da pesquisa pode-se identificar que o tema Educação Ambiental ainda é pouco discutido nos periódicos da área de ensino e educação no Brasil, mesmo nesse momento tão critico que o mundo esta diante de inúmeras demandas ambientais.

            Dentro do tema Educação Ambiental as questões abordadas foram Políticas Públicas e Educação Ambiental, Ensino de Educação Ambiental, Formação de Professores em Educação Ambiental, Transversalidade da Educação Ambiental e Economia Sustentável, respectivamente. Mesmo as revistas sendo da área de Ensino e Educação pouca se trata da pratica do Ensino da Educação Ambiental, pois dos quase 8000 artigos de 25 revistas nacionais, destas apenas 74 artigos, ou seja, menos de 1% dos artigos trata da Educação Ambiental e apenas 22 tratam da questão Ensino.

            Com isso, ficou evidente a urgência de novos trabalhos mais específicos, em virtude da relevância da questão do ensino que é um instrumento para a consolidação dos novos modelos de práticas de ensino sustentáveis, com justiça social, visando à melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas.

A busca por processos participativos através das quais o individuo e a comunidade constroem novos valores sociais e éticos, adquirem conhecimento por um ambiente ecologicamente equilibrado em prol do bem comum das gerações presentes e futuras, deve ser o ponto inicial para novas pesquisas relacionadas com as práticas do ensino da educação ambiental.

 

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Ilustrações: Silvana Santos