Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) MISOGINIA E ECOFEMINISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA
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MISOGINIA E ECOFEMINISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA

                                     

                                      

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula¹

Glória Cristina Cornélio do Nascimento²

           

 

¹Pesquisador do GEPEA-GEPEC da UFPB/CE; Licenciado em Biologia pela UFPB; ecordula@hotmail.com.

²Mestranda do PRODEMA-UFPB; Licenciada me Biologia pela UVA; gccornelio@hotmail.com.

 

 

 

RESUMO

 

O mundo contemporâneo, em pleno desenvolvimento do século XXI, passa por problemas seculares e até mesmo milenares, incluindo neste paradigma, a problemática enfrentada pela continua perpetuação da misoginia nas sociedades, seja de forma aguda ou atenuada por diversos fatores, e que continua a impor divisas entre os gêneros masculino e feminino. Mas neste processo de resgate da feminilidade, os movimentos feministas colocam a mulher em igualdade de direitos e deveres perante os homens, pondo no mesmo patamar ambos os sexos, para uma formação da identidade humana, no sentido de não discriminatórias e nem exploratória, e assumindo funções e tomando a frente de diversas lutas, não seria diferente quanto aos problemas ambientais que atingem a todos no planeta. Neste processo de busca de qualidade de vida pelas mulheres, incluindo qualidade ambiental e sustentável, temos o ecofeminismo, que há quatro décadas vem colocando a essência feminina na luta pela preservação e conservação dos nossos recursos naturais e, consequentemente, da vida.

 

Palavras-Chave: misoginia; meio ambiente; ecofeminismo.

 

 

A MISOGINIA

 

Segundo a epistemologia da palavra, misoginia significa: ódio, aversão ou desprezo as mulheres (HOLANDA, 2010). Comum em algumas culturas da antiguidade, e ainda presente na idade contemporânea, principalmente nas culturas orientais, a exemplo da China. Colocando-se em uma parábola para valores dos gêneros masculino e feminino, o homem seria a semente e a mulher  o vaso (GARCIA, 2012; VERNANT, 2000), menosprezando seu valor como ser humano e como progenitora, mas, numa visão humanista holostêmica (CÓRDULA, 2012a), poderíamos colocar que a mulher é o vaso, o solo e possui a semente, já o homem contribuiria com uma gota de água para iniciar a germinação da semente.

 

A mulher que emana das fontes e da historiografia da Idade Média vive sob o governo dos homens em uma sociedade fortemente marcada por pensamentos e atitudes misóginos calcados pela cultura clerical dominante. Na sociedade medieval, o papel e o espaço a ser ocupado pelas mulheres eram definidos previamente pelos homens. Elas tinham sua existência determinada pelo controle masculino e estavam sempre sob sua tutela. As esposas, as filhas e as sobrinhas estavam sempre submetidas ao poder do pai, do irmão, do tio ou de qualquer outro homem que assumisse a responsabilidade sobre elas (PEREIRA, 2012, p.01).

 

Na mitologia Grega a primeira mulher fora fabricada a partir da argila úmida, esculpida pelas mãos de Hefesto a pedido de Zeus e inspirada nas deusas do Olimpo. Sua vida e voz foi dada pelo sopro de Hermes , que “dota-a de um espírito de cadela e um temperamento de ladra” (VERNANT, 2000, p.69), nascia Pandora.a mulher passa a ser vista como um entidade portadora da feminilidade, mas mentirosa, enganadora, faleira e que coloca-a como indigna e menosprezada pelo homem. Porém, sempre encontramos nas obras gregas os ideais das entidades masculinas e femininas, não apenas para designação de gêneros, mas como duas essências, duas energias distintas e poderosas. Para eles, o arquétipo feminino representativo, pois assim consideravam a Terra como Gaia, que surgiu a partir de Kháos (Caos), que é o seu oposto. Gaia é nítida, firme e estável (VERNANT, 2000), e isto se contrapõe a condição feminina da mulher, um paradoxo para sobrepujar o sexo feminino.

Durante milênios o valor feminino da mulher foi sempre sobrepujado pela masculinidade do homem, muitas vezes devido, principalmente, ao julgo pela força física do homem que muitas vezes é superior ao do sexo feminino. Na Grécia e na Roma antigas, as mulheres tinham um valor pelo ser feminino e pela capacidade de serem mães, e assim, gerarem os filhos e filhas destes dois impérios (GAL, 1960; CÓRDULA, 2012b). Com o passar do tempo, a vida do homem que era praticamente quase todo o tempo fora do lar, em guerras, no campo, passando há ficar mais tempo dentro do lar com o advento do comércio e das profissões, este tomou posse de sua casa e de tudo que nela há. Com o avançar dos séculos, o papel da mulher na sociedade foi crescendo, principalmente com a revolução feminista ocorrida em no início do século XIX, onde buscavam direitos políticos e sociais igualitários. Porém, até hoje, em pleno século XXI, as mulheres vivem ainda sobre a opressão masculina, que pela brutalidade e força querem dominá-las, tomando inclusive, posse de suas vidas. Atualmente, segundo (MANSO, 2010), 10 mulheres são assassinadas todos os dias no Brasil, por motivos fúteis, e 28% delas morrem em casa (DESIDÉRIO, 2011). No caso da Paraíba, nosso estado, os dados são alarmantes, cresceu 200% o índice de assassinatos (G1, 2012).

Os dados mostram como a crueldade com sexo feminino vem aumentando nas últimas décadas, o que deveria ser ao contrário, uma redução drástica destes índices. Os fatores podem ser dos mais diversificados, porém, banais, que jamais justificariam a retirada de uma vida. O feminismo vem se reascendendo em virtude da valorização feminina em sociedade.

            Um caminho vislumbrado para reverter este quadro, é ainda a educação, incentivando conceitos culturais já esquecidos pela sociedade contemporânea capitalista: afetividade (CÓRDULA, 2012c). Na idade média, na Europa, por volta do século XII, com o advento da educação de cavalaria, cujos ensinamentos permeavam um ideal social, os Cavaleiros desenvolviam qualidade de cortesia e respeito à mulher, aliados a valores de ordem moral, honra e sentimentais (GAL, 1960). Tal fenômeno ocorrido há nove séculos, mostra o poder de uma educação de qualidade permeada de valores sociais, razão pela qual devemos ter urgentemente seu resgate nas escolas, em todos os âmbitos e esferas, para assim, salvarmos nossa humanidade que há muito vem se perdendo no escuro recanto de nossa individualidade egoísta (CÓRDULA, 2012b).

 

 

O ECOFEMINISMO

           

            Como tudo que evolui na sociedade humana, as questões feministas também não seriam diferentes, e acabariam por fazer mais pela sociedade, despontando movimentos de essência feminina, para mudar paradigmas e paradoxos na contemporaneidade. A exemplo distes, temos destaque para o Ecofeminismo, que busca atuar dentro das questões ambientais, em prol de um meio ambiente sustentável (PEREIRA, 2006; GARCIA, 2012).

Dentro desses conceitos e fatos surgiu desde a década de 70 movimentos feministas que esperam da sociedade um maior olhar/cuidado nas questões que envolvem as mulheres e o meio ambiente. O ecofeminismo veio como expressão e sugere a existência de uma estreita relação entre a emancipação das mulheres e a luta pela preservação da natureza (DIAS, 2012). As ideias do ecofeminismo vieram como forma de juntar as formas que estavam fragmentadas por um sistema cartesiano mecanicista dito ao longo dos séculos, e não como forma de expressar só um manifesto feminino, pois não se submete apenas para as mulheres, mas sim, para todos os seres humanos que buscam um maior entendimento com as questões naturais (SALLEH, 1992; GARCIA, 2012). Com isso esse termo foi crescendo com passar dos anos e abordando novas perspectivas em relação à mulher e ao meio ambiente.

 

O Ecofeminismo representa uma mudança de paradigma na condição da vida de dominação seja das mulheres, ou seja, da natureza, uma vez que possuem como objeto a criação de uma comunidade interligada e sem o patriarcado ou outras formas de hierarquia (DIAS, 2012, p.04)

 

Essa nova corrente foi transformada através da interdisciplinaridade entre autoras: teólogas, ativistas, filósofas e espiritualistas. O ecofeminismo não se preocupa apenas com as mulheres mais também com os menos favorecidos, raças, gêneros, etnias, animais e todos que de algum modo vivem sob formas de opressão e dominação por essa matriz com lógica dualista (DIAS, 2012). De algum modo poderemos ver essa nova ideia como forma de superar a crise ecológica em que vivemos, não só pelo aspecto natural mais também social. Levar as civilizações atuais a pensar de maneira igualitária é tentar restabelecer a reconciliação com o natural e todas as formas de vida existentes (SALLEH, 1992). Fazer pensarmos que somos parte de um todo é desfazer o que o sistema socioeconômico, o androcêntrismo levaram séculos para enraizar nas nossas culturas. Isto seria uma das necessidades de todos na atualidade deste cenário tão deletério em que nos encontramos hoje de tentar reduzir as formas de degradação social, marginalização e banalização, em que a mulher está inserida (GARCIA, 2012).

 

 

CONCLUSÃO

 

            Notadamente, vemos o papel da mulher ao longo da história da humanidade, mesmo passado por uma dominação patriarcal machista, vem libertando-se a cada dia, e conquistando seu espaço na sociedade, mudando conceitos, concepções, culturas e dando ao ser humano, sua essência feminina, para trazer luz aos paradigmas enfrentados na idade contemporânea. E, quando assume a frente de questões ligadas a problemática ambiental emergente – o aquecimento global – vemos que sua contribuição é primordial na revitalização de uma sociedade sustentável, com visas a um futuro equilibrado e em consonância com o meio ambiente.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

CÓRDULA, E. B. L. Ser Humano Holostêmico. Cabedelo, PB: EBLC, 2012a, 46p.

 

______. Educação: breve histórico do ensino no mundo e no Brasil. Cabedelo, PB: EBLC, 2012b.

 

______. Homo sapiens affectus: em busca do futuro da humanidade. Cabedelo, PB: EBLC, 2012c, 62p.

 

DESIDÉRIO, M. 28% das mulheres assassinadas no país morrem em casa. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 18 ago. 2011. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/956164-28-das-mulheres-assassinadas-no-pais-morrem-em-casa.shtml. Acesso em: 13 abr. 2012.

 

DIAS, T. L. P. Os Princípios do Ecofeminismo. Disponível em: http://www.nipeda.direito.ufba.br/artigos/pdf/osprincpiosdoecofeminismo.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

 

GARCIA, L. G. Ecofeminismo – a teoria das conexões. Material Didático da Disciplina de Sociedade e Natureza/2012, Mestrado-PRODEMA/UFPB, 48p.

 

G1. Número de mulheres assassinadas cresce 200% na Paraíba, diz ONG. 2012. Disponível em: http://g1.globo.com/paraiba/noticia/2012/03/numero-de-mulheres-assassinadas-cresce-200-na-paraiba-diz-ong.html. Acesso em: 1’3 abr. 2012.

 

HOLANDA, A. B. Dicionário da Língua Portuguesa. 8ª ed. Curitiba, PR: Positivo, 2010.

 

MANSO, B. P. Dez Mulheres São Mortas por Dia no País. O Estado de São Paulo, São Paulo, 03 jul. 2010. Disponível em:  http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,dez-mulheres-sao-mortas-por-dia-no-pais,575974,0.htm. Acesso em: 13 abr. 2012.

 

PEREIA, K. R. S. A Misoginia nos Lais de Marie de France. In: JAIRO CARVALHO DO NASCIMENTO, J. C.; BLUME, L. H. S. III Encontro de História: poder, cultura e diversidade.  Caetité, BA: UNEB, 2006, Anais... Disponível em: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_III/katia_rosane.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

 

SALLEH, A. Ecosocialismo-Ecofeminismo. NUEVA SOCIEDAD, N° 122, Noviembre-Diciembre/1992, p. 230-233. Disponível em: http://nuso.org/upload/articulos/2190_1.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

 

VERNANT, J. P. O Universo, os Deuses, os Homens. São Paulo:Companhia das Letras, 2000, 209p.

Ilustrações: Silvana Santos