Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NO REFEITÓRIO DE UMA DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM RECIFE-PE
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AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NO REFEITÓRIO DE UMA DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS EM RECIFE-PE

Clayton de Vasconcelos Pereira1

Arthur Vinicius de Oliveira Marrocos de Melo 2

 

1-     Estudante do Curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Técnica Regional. Rua Gervásio Pires Nº 693- Soledade, Recife – PE. CEP 50050-070. E-mail: edlaine_lethicia@hotmail.com.

2-     Mestre em Biologia Animal – UFPE. Professor da Prefeitura de Barreiros e de Igarassu Email arthur_marrocos@yahoo.com.br

 

RESUMO

Percebe-se que hoje em dia existe uma grande quantidade de alimentos e um grande descarte. Este estudo teve como objetivo identificar a quantidade de restos e sobras de alimentos em uma distribuidora de produtos farmacêuticos em Recife – PE. Os resíduos e as sobras foram pesadas antes de serem jogados no lixo num período de 5 dias úteis (segunda a sexta-feira). Foi avaliado as quantidades per capita de alimentos enviados pela empresa terceirizada de alimentos ao centro do estudo (distribuidora), a quantidade que é consumida, com a média de consumo diário dos funcionários em cada refeição, e a quantidade descartada. Verificaram-se ainda pontos que precisam ser revistos, bem como medidas mitigadoras, a fim de evitar tamanhos desperdícios. Foi percebida uma grande quantidade de desperdício no local. Concluímos que é necessário ser realizado atividades de conscientização dos funcionários para a geração de menos resíduos.

Palavras-chaves: Descarte, restos de alimentos, sobras, consumismo.

INTRODUÇÃO

            A questão da fome no nosso país resulta da pobreza gerada pela enorme desigualdade social (CARVALHO FILHO, 1995). De acordo com Vaz (2006) desperdiçar é o mesmo que extraviar o que pode ser aproveitado para benefício de outrem, de uma empresa ou da própria natureza. A produção diária mundial de alimentos é suficiente em quantidade para alimentar toda a população do planeta, no entanto muitos sofrem com a fome evidenciando que o principal problema é o acesso, e não a falta de alimentos. 

            A cultura do desperdício se incorporou de tal forma à vida brasileira que nada de concreto é feito para reverter os números absurdos do que se perde que fizeram do País o campeão mundial de desperdício (FINANCENTER, 2007). Leite (2001) afirma que desperdício é fator negativo persistente da economia brasileira, com características próprias e diferentes das apresentadas pelos outros obstáculos ao desenvolvimento econômico anteriormente examinado.

Cálculo feito pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de estado de São Paulo mostra que o Brasil joga no lixo o equivalente a R$ 12 bilhões em alimentos por ano, quantidade que poderia servir para alimentar cerca de 30 milhões de pessoas, ou oito milhões de famílias por um ano. O desperdício de alimentos se inicia na colheita e não para até chegar ao consumidor, que também é responsável por uma grande porcentagem do mesmo. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), do total de desperdício no país, 10% ocorrem na colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores (DIAS, 2003).

             Num país onde mais de 30 milhões de pessoas estão abaixo da linha da pobreza, desperdiçar é acima de tudo antiético e um desrespeito à cidadania (FINANCENTER, 2007). Observando as considerações acima e a grande quantidade de restos e sobras de víveres que se destinam diariamente ao lixo, em contraposição a carência de muitas famílias, foi proposto este estudo, com o objetivo de verificar e amenizar as ocorrências dos desperdícios, na forma de restos de alimentos, numa distribuidora de produtos farmacêuticos em Recife – PE.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado em uma distribuidora de produtos farmacêuticos em Recife-PE, durante cinco dias úteis do mês de abril de 2013, foram analisados os restos e sobras de alimentos no refeitório da empresa. A empresa em estudo possui 78 funcionários divididos em dois turnos, mas foram avaliados 74 funcionário, pois quatro estavam de férias no período de estudo, ainda foram contabilizados sete colaboradores terceirizado, que também se alimentam no refeitório da empresa. Foi verificada com a empresa responsável em fornecer a alimentação, a quantidade per capita de alimentos por funcionários por dia, a fim de temos base para o cálculo dos valores numéricos do descarte sobre a média do desperdício.

            O serviço de alimentação é prestado por uma empresa terceirizada, que serve no primeiro turno (das 07:00 hs às 16:48 hs), café da manhã e almoço, e no segundo (das 17:00 às 02:48 hs) jantar e ceia, essa é uma pratica muito comum realizada pelas empresas e autorizada pelos órgãos competentes.

            Para analisar o peso dos alimentos descartados, foi utilizada uma balança mecânica analógica, da marca Camry, com capacidade de até 120 kg. Todos os orgânicos foram despejados dentro de sacos próprios para lixos, que mediam 90x113 cm, 0,006 de espessura, com capacidade para 200 litros. Para haver uma melhor concentração do peso, colocamos os sacos dentro de um cesto para roupas, que é utilizado como lixeiro no refeitório, com dimensões 415x365x620mm, com capacidade para 50 litros, da marca Plasvale. O processo de pesagem de alimentos desperdiçados foi efetuado todos os dias do período de estudo, sistematicamente. Para realizar a pesagem real do descarte foi desconsiderado to peso total o valor de 300g, referente ao peso do cesto plástico e os dois sacos de lixo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A quantidade de alimentos enviada ao refeitório da empresa é o equivalente em média a 1,040 kg por funcionário, isso no almoço e no jantar diariamente, sendo esse valor dividido peça porção de alimentos (Tab. 1).

Tabela 1. Quantidade Per Capita de alimentos servidos a uma funcionário, na visão da empresa responsável em fornecê-los).

Tipo de alimentos

Peso de alimento por pessoa (em gramas)

Feijão

0,050g

Arroz

0,060g

Macarrão

0,070g

Carne com osso

0,300g

Guisado

0,200g

Carne grelhada

0,180g

Salada crua

0,080g

Salada cozida

0,100g

Total

1,040Kg

 

A porção diária por pessoa encontra-se acima da média de consumo individual, tanto no almoço como no jantar, pois segundo Salas et al. (2009) e Marques (2011) a quantidade em média consumida diariamente por uma pessoa adulta em cada uma dessas refeições, varia entre 500 a 795g. Podemos perceber que existe uma quantidade de 245 a 540g sendo oferecida a mais aos funcionários analisados, pode parecer pouco, porém quando convertido em porcentagem, temos em média 24 a 48% a mais do que o consumo considerado normal, sendo essa quantidade a mais um forte agravante para o desperdício alimentar no local. De acordo com Silva Júnior & Teixeira (2013) questões como o número de comensais, o cardápio do dia e até mesmo a estação climática, devem ser considerados antes de ser definida a quantidade de alimento a ser preparada, a fim de evitar sobras. Tudo para evitar situações desperdiçadoras.

            Levando em consideração a quantidade de alimentos enviados para uma pessoa e a quantidade de funcionários que se encontraram na empresa nos dias de estudos foi contabilizado 81,120Kg diário de alimento fornecido.

            Verificamos que o dia que ocorreu mais desperdício foi na segunda feira com um percentual de 41,1% de desperdício totalizando 36,600Kg e o dia que houve menos desperdício 31,7% totalizando 25,700Kg (Tab. 2) podemos perceber que a quantidade de desperdício é muito alta, pois poderíamos alimentar uma média de 29 funcionários que conseguiríamos alimentar com a “sobra” ou “desperdício”

Tabela 2. Quantidade de alimento utilizado e descartado diariamente. DS= Dia da Semana; QTA= Quantidade total de Alimentos; QD=Quantidade Desperdiçada; PDD = Porcentagem do Desperdício ao Dia.

DS

QTA

QD

PDD

Segunda-feira

81,120kg

36,600kg

41,1%

Terça-feira

81,120kg

31,600kg

38,9%

Quarta-feira

81,120kg

31,300kg

38,6%

 

Quinta-feira

81,120kg

29,400kg

37,4%

Sexta-feira

81,120kg

25,700kg

31,7%

 

            Tomando como base os cálculos de desperdício diário dos alimentos da empresa e uso de alimentação, podemos afirmar que a quantidade de alimentos consumidos na segunda-feira foi de 44.520kg (58,9%), na terça-feira 49.520kg (61,1%), na quarta-feira foi de 49.820kg (61,4%), quinta-feira 51.720kg (62,6%) e na sexta-feira 55.420kg (68,3%), destacamos que o dia onde ocorre a menor quantidade de consumo de alimento foi na segunda feria e o dia onde houve a maior quantidade de consumo foi na sexta feira, não foi avaliado os motivos que influenciaram essa diferença de consumo nos dias da semana, sendo observado apenas os dados quantitativos do consumo de alimentos no período de estudo (Tab. 3).

Tabela 3. Descrição das quantidades de alimentos utilizados diariamente e o percentual de desperdício diário. DS = Dia da Semana, QAC = Quantidade de Alimentos Consumidos e PAC = Percentual de Alimentos Consumidos.

DS

QAC

PAC

Segunda-feira

44.520kg

58,9%

Terça-feira

49.520kg

61,1%

Quarta-feira

49.820kg

61,4%

Quinta-feira

51.720kg

62,6%

Sexta-feira

55.420kg

68,3%

           

A média de consumo de alimentos por pessoa na distribuidora de produtos farmacêuticos em analise, varia entre 571 a 711g ao dia, este resultado estar dentro da média afirmada por Salas et al. (2009) e Marques (2011), apresentada logo após a tabela 1. Esta conclusão é tomada mediante da proposta de divisão da quantidade mínima consumida, nos dias do estudo, (44.520kg) e da quantidade máxima (55.420kg), pela quantidade de funcionários pertencentes à empresa.

            Foi verificado neste estudo que a maior parte do desperdício provém das sobras de alimentos, e não dos restos, pois segundo Salas et al. (2009) resto é o alimento distribuído e não consumido, e sobra é o produzido e não distribuído. Observando este fato, podem ser propostas medidas para amenizar a perca desses víveres, a mais plausível é a distribuição de maneira calculada, para se evitar o máximo de desperdícios. Outra forma viável é o reaproveitamento das sobras (não falamos dos restos, pois estes devem ser manipulados de maneira legal pelo responsável em produzi-los), na preparação de outros pratos quentes. Antes da refrigeração e do congelamento é recomendado o reaquecimento do alimento até atingirem 74ºC, devendo-se aguardar atingir 55ºC na superfície do produto, para então poder ser congelado. Se for destinado à refrigeração, a temperatura deve ser reduzida de 55 a 21°C em 2 horas e atingir 4ºC em 6 horas, sendo reaproveitado em, no máximo, 24 horas, como prato quente (ABERC, 2003).

            Este procedimento pode ser adotado pela empresa responsável em fornecer alimentos à distribuidora de medicamentos, fazendo do feijão, arroz, macarrão verduras e legumes em sobras, pratos quentes, por exemplo, sopa, que poderá ser servida ao primeiro turno no café da manhã, ou ao segundo, na ceia. Esta ação reduzirá os gastos com o pão e seus acompanhamentos, e trará mais opções saborosas e nutritivas para os funcionários da empresa, podendo assim diminuir custos efetivos com alimentação e o menor descarte de material na natureza, gerando menos impacto ambiental e desperdício alimentar, já que muitas pessoas passam fome no nosso país.

 

CONCLUSÃO

            O desperdício de alimentos que ocorre nesta distribuidora de produtos farmacêuticos é de certa forma preocupante, tendo em vista que se trata de duas empresas privadas, interligadas, (que pagam pelo serviço de alimentação, no caso da distribuidora, e também pelos insumos e seus processos de preparação e transporte, no caso da terceirizada de alimentos), que aparentemente estão alheias ao fato do extravio de víveres, que querendo ou não, é sobrevivência descartada e receita (R$) indo para o lixo.

            Calculando o total do desperdiçado nos cinco dias de estudo, iremos obter um resultado de 154.600kg de alimentos jogados no lixo, uma média de 30.920kg ao dia. Isso aplicado a 1 mês (que equivale a 22 dias trabalhados na empresa), obteremos um resultados de 680.240kg de desperdícios. Abrangendo esta conta para um ano trabalhado na empresa, teremos 8.162.880kg. Podemos classificar isto como uma problemática e assunto sério para ser corrigido, uma vez da discrepância que há no mundo e propriamente no Brasil, onde 30 milhões de pessoas estão abaixo da linha da pobreza. Sugerimos uma discussão, acerca do assunto, entre as parte envolvidas da distribuidora e da terceirizada, para chegarem num consenso e frear esta “agressão” ambiental, econômica e social.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABERC – Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. Manual de

práticas de elaboração e serviço de refeições para coletividades. 8, p.120, 2003.

CARVALHO FILHO, J.J... A produção de alimentos e o problema da segurança alimentar. Estudos avançados. 24, pp.173-193, 1995.

DIAS, M.C.. Comida jogada fora. Correio Brasiliense. Disponível em: . Acesso em : 12 Abr.  2013. 2003.

FINANCENTER. O Efeito do Consumismo. Disponível em: Acesso em: 11 Abr. 2013. 2007.

LEITE, E. O.. A monografia jurídica. Revista dos tribunais. 5, 2001.

MARQUES, G.. Superinteressante. Disponível    em:<http://super.abril.com.br/alimentacao/hora-almoco-638173.shtml>. Acesso em: 17 Abr. 2013. 2011.

SALAS, C.K.T.S.; SPINELLI, M.G.N.; KAWASHIMA, L.M.; UEDA, A.M..Teores de sódio e lipídios em refeições almoço consumidas por trabalhadores de uma empresa do município de Suzano,SP. Revista de nutrição. 3, (22). 2009.

SILVA JÚNIOR, E.A.; TEIXEIRA, R.P.A.. Manual de procedimentos para utilização de sobras alimentares. Disponível em: . Acesso em : 09 Abr. 2013. 2013.

VAZ, C.S.. Restaurantes – Controlando custos e aumentando lucros. LGE. Brasília. 2006.

 




Ilustrações: Silvana Santos