Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) O SER HUMANO COMO SUJEITO ECOLÓGICO NA VISÃO DOS ALUNOS DO CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO DO IFTM
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O SER HUMANO COMO SUJEITO ECOLÓGICO NA VISÃO DOS ALUNOS DO CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO DO IFTM – CAMPUS UBERLÂNDIA

 

 

Valéria de Freitas Guimarães Nehme

Profa. Dra. do Instituto Federal do Triângulo Mineiro

Câmpus Uberlândia

Fazenda Sobradinho s/n – Zona Rural – Cx. Postal 1020 –

CEP: 38.400-970

(34)3233-8860

Uberlândia-MG

 

Descrição: https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif Maria Beatriz Junqueira Bernardes

Profa. Dra. Instituto de Geografia/UFU

Av. João Naves de Ávila, 2121 - Câmpus Santa Mônica

CEP: 38408-144

(34) 3239-4221

Uberlândia - MG

 

 

 

RESUMO

 

O Instituto Federal do Triângulo Mineiro – Campus Uberlândia (MG, BRASIL) - está trabalhando com um projeto de coleta seletiva cujo objetivo é implantar um Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos em seu câmpus, contemplando a redução de geração na fonte, a separação dos resíduos recicláveis descartados e a destinação final adequada. Sendo assim, este trabalho teve o objetivo de conhecer a percepção que os estudantes dessa instituição têm acerca de todo esse processo. Será que nossos estudantes percebem a intrincada relação entre consumismo e geração de resíduos? Investigou-se como cada indivíduo pode contribuir com o desafiador processo de redução de resíduos.

 

Palavras chave: Resíduos, percepção ambiental, coleta seletiva.

 

 

 

 

  1. Introdução

A educação está diretamente ligada à produção de sentidos e valores. Busca-se por meio dela orientar de maneira decisiva as gerações atuais para que estejam preparadas para as incertezas do futuro. Trabalhando com pensamento complexo e aberto às indeterminações, às mudanças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir, será possível promover novas leituras e interpretações do mundo, configurando novas possibilidades de ação.

No contexto da educação, a escola aparece como coadjuvante importante no processo ensino-aprendizagem. Destaca-se como o espaço onde são estabelecidas diferentes relações em que os seres humanos, sujeitos sociais e históricos confrontam saberes.

Conhecer o contexto social dos alunos, as características do grupo como um todo é de fundamental importância para o processo de ensino-aprendizagem. A partir delas, o educador poderá trabalhar valores, conceitos, linguagens e atitudes.

À Escola compete, portanto, capacitar o aluno para não apenas "mover-se na sociedade", seguindo "o que e como deve se sentir e fazer", mas, mover-se para ter condições de modificar esse mesmo ambiente, o que só pode acontecer com a ressignificação dos sentidos, com a reconstrução das "normas e regras" prescritas.

Devido à crescente degradação do meio ambiente e à consequente queda na qualidade de vida, nota-se uma preocupação global com o futuro do nosso planeta. Prevalece em nossa sociedade o pensamento de que a natureza pode ser conhecida e conquistada pela metodologia científica, como também, definida de maneira completamente independente do homem e separada dele. Tal postura, assumida pela humanidade, demonstra a falta de conhecimento sobre a importância da conexão entre a sociedade e a natureza.

Leff (2001) afirma que, na história humana, todo conhecimento sobre o mundo e sobre as coisas está condicionado pelo contexto geográfico, ecológico e cultural. Para este autor, a transição para uma sociedade sustentável só será possível se houver investimento na educação, pois a escola é um espaço social e o que nela se faz, se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Dessa forma, considerando a importância da temática ambiental, a escola deverá oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, as ações humanas e suas consequências para si mesmo, para sua própria espécie, para os outros seres vivos e para o ambiente. Por isso, incluir projetos que enfatizem a temática ambiental nas escolas é de suma importância para que os jovens desenvolvam uma percepção ambiental, que propiciará a busca de soluções para os problemas ambientais locais.

Segundo Tuan (1980), na percepção ambiental da paisagem estão intrínsecos os laços entre o meio ambiente e a visão de mundo do homem. A percepção ambiental é individual e, no processo de interação, há uma variedade de elementos que a integram. O autor define a percepção como a resposta dos sentidos aos estímulos externos e como atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem ou são bloqueados. O que percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura.

Sendo assim, este trabalho teve como objetivo identificar as percepções ambientais dos estudantes do curso técnico em informática integrado ao ensino médio em relação ao projeto de coleta seletiva e também investigar se eles se percebem como sujeitos ecológicos dentro e fora da instituição de ensino; pretendeu-se, também, identificar que atitudes adotam no dia-a-dia que demonstram sua preocupação com meio ambiente.

 

2 . Educação Ambiental: revendo conceitos

 

A Educação Ambiental – por suas origens e configurações diversas – transcende o universo escolar. É praticada em vários espaços sociais e políticos: por entidades e organizações governamentais e não governamentais, por instituições de ensino e por empresas. Esta afirmação suscita uma rápida reflexão sobre as questões que envolvem o homem e suas relações com o meio ambiente, objetivando uma convivência equilibrada, consequentemente sustentável.

Conforme as referências dos parâmetros Curriculares Nacionais e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação Ambiental na escola tem por objetivo formar cidadãos que se defrontem com a problemática do meio ambiente e se esforcem por compreendê-la, sendo capazes de assumir pontos de vista críticos, preocupando-se com o destino coletivo e se posicionando diante dos desafios do mundo. Nesse contexto, para cidadãos conscientes, tratar de meio ambiente passa a ser uma tarefa inerente ao cotidiano.

Destarte, a principal função do trabalho com o tema meio ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. Esse é um grande desafio para a educação.

Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso.

Com base nesses princípios, a adoção de abordagens participativas, por meio de elaboração e execução de projetos educacionais, é fundamental para o soerguimento sociopolítico, cultural e ecológico das comunidades locais. A valorização de culturas regionais, a atenção dada a opiniões de pessoas locais e o respeito à diversidade de ideias podem ser a chave para um efetivo envolvimento comunitário. Trata-se, em última análise, de uma nova ética com perspectivas de um mundo mais harmônico dependente da instauração de novos valores.

A verdadeira eficiência se traduz na aplicação da educação ambiental em todos os níveis do ensino visando à disseminação de uma cultura estruturada em princípios de equidade social e sustentabilidade ambiental. Informar não é o bastante, porém a tomada de consciência, por meio de práticas de sensibilização e estímulo, mostra-se imprescindível para a transformação de atitudes  e valores. Este pensamento se completa a partir de ações educativas eficazes que induzam a uma ação positiva e conjugada de esforços.

A Educação Ambiental torna-se, a cada dia, um instrumento eficaz para o comprometimento dos cidadãos com a melhoria da qualidade ambiental e da qualidade de vida.

Maturana e Varela (2001) afirmam que o fenômeno de conhecer está diretamente ligado à experiência e este processo, pelo qual o indivíduo constrói o seu conhecimento, é pessoal, individual e subjetivo. O conhecimento não é somente absorvido da forma em que se apresenta no mundo. A ação ou a experiência ocorrem de maneira circular, dentro da estrutura humana e o ato de conhecer é que faz surgir um mundo.

A cada dia, estamos cientes de que a manutenção da vida sobre a Terra é um desafio que se impõe à coletividade e não apenas ao ciclo restrito dos governantes e dos servidores públicos. Contribuir para manutenção da qualidade ambiental de nossas comunidades tem se tornado um compromisso dos brasileiros que, gradativamente, vêm incorporando a Educação Ambiental ao elenco de suas preocupações com a própria sobrevivência.

Assim, no contexto atual, a Educação Ambiental emerge como responsabilidade social dos órgãos públicos, das empresas e escolas como um campo de estudos, vivência e ações voltadas para a criação de condições indispensáveis para que os homens e as comunidades sejam estimulados a contribuir para melhoria de suas condições de vida.

A Educação Ambiental aponta para reflexões sobre a práxis social, que é o processo de (re)construção e movimento da sociedade fundamentada em valores, no sentido econômico e na dinâmica do trabalho. Trata-se de uma situação complexa, pois os valores estão cada vez arraigados no consumo e na acumulação do capital. Para que a Educação Ambiental desempenhe o seu papel, é necessário que ocorra uma mudança na cultura associada a transformações sociais e econômicas.

O espaço natural vem passando por várias transformações,  causando danos que, para muitos, parecem ser irreparáveis, pois as atitudes são as de quem está diante de uma Terra com recursos infinitos. Hoje vivemos uma “crise ambiental”, que se revela nos problemas socioambientais já citados anteriormente e que tem colocado em risco a qualidade e a existência de vida na comunidade planetária. Para minimizar esses problemas, são necessárias mudanças nas práticas de consumo.

Infelizmente, as questões ambientais não estão limitadas às transformações provocadas pelos seres humanos na natureza, estão relacionadas ao próprio espaço construído, que constitui o espaço artificial e urbano onde as questões sociais, como o desemprego, a desigualdade social, o analfabetismo, são responsáveis pela qualidade de vida da população.

A educação ambiental deve consolidar-se como uma filosofia de educação, presente em todas as disciplinas existentes e possibilitar uma concepção mais ampla do papel da escola no contexto ecológico local e planetário contemporâneo. A escola, os conteúdos curriculares, os educadores e educandos são colocados em uma nova situação, não apenas relacionada com o conhecimento, mas, sim, com o uso que fazemos dele, pois é importante para promover a nossa participação política cotidiana.

As questões ambientais passam a fazer parte do cotidiano e do processo de formação das classes operária e popular, não no sentido de somente preservar a natureza, mas para que todos se conscientizem da importância do meio ambiente saudável tanto em sua particularidade como amplitude, pois considera que todo cidadão tem o direito de trabalhar em condições dignas.

A escola deve contribuir para que as pessoas que sofrem diferentes formas de exclusão e discriminação encontrem um “espaço” para que possam escrever sua própria história. Se cada indivíduo fizer a sua parte, o mundo ficará melhor, pensar globalmente, agir localmente é o lema dos ecologistas no mundo inteiro. A preocupação com a crise ambiental levou à organização de uma a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1984, a qual desenvolveu estudos sobre os avanços dos processos de degradação ambiental e sobre a eficácia das políticas ambientais para enfrentá-los. Em 1987, a referida comissão apresentou um relatório intitulado: “O Nosso futuro comum” contendo a definição de Desenvolvimento Sustentável entendido como processo que permite satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atuação das gerações futuras.

            Sorrentino (2002) salienta que o conceito de desenvolvimento sustentável apresenta duas tendências; a primeira, que enfatiza a preservação da biodiversidade, conservação dos recursos naturais, desenvolvimento local, diminuição das desigualdades sociais - utilizando tecnologias, políticas compensatórias e certificado verde, essa tendência, além de ser  fragmentada, apresenta soluções para a lógica de mercado. A segunda tendência apresenta a necessidade da inclusão social, da participação social na tomada de decisões e da promoção de mudanças culturais nos padrões de felicidade e desenvolvimento, com a compreensão da totalidade das causas de  não-sustentabilidade e da crise civilizatória, mas é preciso avançar.

            Sabe-se que a educação para a formação de valores sustentáveis ocorre para além da escola. Mas é necessário construir um paradigma curricular para recuperar o modo humano autêntico de relação com o mundo natural para enfrentar de modo direto os desafios ecológicos com os quais nos deparamos. (GADOTTI, 2009).

            Leff (2006) afirma que a crise ambiental surge como uma problemática social e ecológica generalizada de alcance planetário, que atinge todos os âmbitos da organização social, os aparelhos de Estado e todos os grupos e classes sociais. Essa situação implica uma  articulação ampla e complexa de reorientação e transformação do conhecimento e do saber, das ideologias teóricas e práticas dos paradigmas científicos e das práticas de pesquisa.

            O crescente reconhecimento da crise ambiental aponta para discussões sobre a dimensão ambiental. A crise ambiental necessita de gestão das relações da sociedade humana com a natureza e de espaço propício a uma educação ambiental que tem como meta a crítica à sociedade vigente; nesse sentido, é necessário nos preparar epistemologicamente para a construção de uma sociedade sustentável. (GUIMARÃES, 2004).

            Diante do exposto, Philippi; Maglio (2005) salientam que os governos devem implementar a política de gestão  mediante a definição de estratégias, ações, investimentos e providências institucionais e jurídicas, com  o propósito de garantir a qualidade do meio ambiente, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. Cabe ressaltar que o conceito de gestão ambiental tem caminhado em direção a uma perspectiva de gestão compartilhada entre os diferentes agentes envolvidos e articulados em diferentes papéis e com a participação social no sentido de formular, implementar e avaliar políticas ambientais a partir da cultura, da realidade e  da potencialidade de cada região e conforme os princípios da sustentabilidade.

A dimensão ambiental (TRISTÃO, 2004) vem se configurando como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação profissional e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar.

A crise ambiental envolve a Educação Ambiental para a sustentabilidade como um  processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações para transformação social e humana e para a preservação ecológica. Desse modo, é necessário repensarmos o nosso modo de vida. Nossas atitudes individuais refletem, muitas vezes, um consumo exagerado de supérfluos, resultando em acúmulo de resíduos no ambiente.

.

 

3. Resíduos sólidos: da geração ao tratamento e impactos na saúde

A produção de resíduos sólidos faz parte do cotidiano do ser humano. Não se pode imaginar um modo de vida que não gere resíduos sólidos. Devido ao aumento da população humana e à concentração dessa população em centros urbanos, são nítidos os problemas causados pela crescente produção de resíduos sólidos. Isso tem como principal explicação, o modo de vida baseado na produção e no consumo.

Resíduo pode ser definido como o material que não tem mais valor econômico para seu possuidor, ou ainda é simplesmente tratado como “lixo” para a maioria das sociedades. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1987), considera resíduos sólidos como:

 

[...] resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam de atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, comercial, agrícola, de serviços de varrição. Incluem-se também os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou que exijam para isso soluções técnicas e econômicas inviáveis. 

De qualquer modo, os resíduos constituem-se como subprodutos das atividades humanas, com características específicas, definidas geralmente pelo processo que os gerou. Os materiais que são descartados, mas ainda podem ter alguma utilidade, deixam de ser resíduos e tornam-se matérias-primas secundárias. Por último, existem os rejeitos, que equivalem a todos os resíduos que não têm aproveitamento econômico por nenhum processo tecnológico disponível.

Segundo Phillippi Jr; Aguiar (2005), os resíduos sólidos são classificados de acordo com sua origem, sendo que os principais tipos são: domiciliares, industriais, comerciais, serviços de saúde, serviços de transporte, sólidos de construção civil. Independentemente de sua origem, devem passar por uma série de operações para que tenham manejo e destinos ambientais e sanitários seguros.

Quando manejados inadequadamente, o “lixo” oferece alimento e abrigo para muitos vetores de doenças, especialmente roedores como ratos, e insetos como moscas, baratas e mosquitos. Atualmente está bastante esclarecida a relação entre a proliferação de certas doenças e o manejo inadequado de resíduos sólidos.

O sistema de gerenciamento de resíduos sólidos em ambiente urbano envolve uma série de atividades, desde o acondicionamento e armazenamento, serviços de coleta e transporte, até o tratamento e a disposição final.

Para tanto, o tratamento dos resíduos sólidos procura modificar suas características como quantidade, toxidade e patogenia, de forma a diminuir os impactos sobre o ambiente e a saúde pública. E, as alternativas tecnológicas são aplicadas de acordo com as características particulares da composição dos resíduos, do município ou região e dos recursos disponíveis.

No caso dos resíduos sólidos domiciliares, compostos principalmente por vidros, plásticos e matéria orgânica, a maioria dos municípios brasileiros, destina-os a aterros adequados ou não, sem tratamento prévio. Sobre isso, sabe-se que existem diversas iniciativas de reciclagem, de compostagem e de outras medidas que, por enquanto, ainda representam uma quantidade pouco significativa de tratamento destes resíduos.

Para os resíduos industriais, comerciais, de serviços de saúde e de construção civil, o melhor destino dado a eles envolve um gerenciamento integrado. Esse tipo de gerenciamento consiste na prática de utilizar diversas alternativas para solucionar o problema dos resíduos sólidos, de tal forma que o conjunto tenha sustentabilidade econômica, ambiental e social.

De acordo com Phillippi Jr. (2005), a forma mais comum de abordar esse sistema integrado, inclui mudanças de padrão de consumo e a prática de priorizar os “3 Rs” e, para alguns autores, existe ainda um quarto “R”, que juntos significam: Reduzir, Reutilizar, Reciclar, e Recuperar. Essas medidas colaboram para diminuir a geração de resíduos e para a minimização de seus rejeitos, por meio da reutilização, da reciclagem e da recuperação destes subprodutos.

É importante destacar que os resíduos oriundos de serviços de saúde, devem receber um tratamento especial, já que apresentam um elevado potencial de contaminação por agentes patogênicos. Nesse sentido, devem ser devidamente acondicionados, a coleta deve ser realizada frequentemente e o tratamento precisa ser feito de acordo com suas características. Os resíduos patogênicos também necessitam de um tratamento que vise à eliminação dos micro-organismos causadores de doenças (tratamentos como incineração, autoclavagem, micro-ondas, aplicação de cal e desinfecção química).

Além de tudo isso, é importante destacar que a decomposição dos resíduos e a formação de lixiviados podem levar à contaminação do solo e de águas subterrâneas com substâncias orgânicas, micro-organismos patogênicos e inúmeros contaminantes químicos presentes nos diversos tipos de resíduos.

Desse modo, entende-se que a questão do “lixo” é um dos problemas urbanos de maior preocupação para os órgãos gestores municipais, estaduais e federais, já que envolvem políticas públicas voltadas para o saneamento do meio, vigilância em saúde ambiental e vigilância epidemiológica, ou seja, medidas de saúde pública. Após as considerações apresentadas, apresentamos a pesquisa.

 

4.    A percepção dos estudantes do curso técnico em informática

 

A pesquisa sobre percepção ambiental foi realizada com 50 alunos do curso técnico em informática integrado ao ensino médio do Instituto Federal do Triângulo Mineiro - Campus Uberlândia, MG em 2013. A metodologia de pesquisa é qualitativa, com a definição da amostra por conveniência.

Dos 50 sujeitos pesquisados, 12 (24%) eram do sexo feminino e 38 (76%) do sexo masculino. Em relação à faixa etária, os estudantes possuíam entre 14 e 18 anos, sendo 5 (10%) com 14 anos; 25 (50%) com 15 anos; 8 (16%) com 16 anos; 11 (22%) com 17 e apenas 1 (2%) com idade de 18 anos. Os alunos se encontram na faixa etária apropriada para cursar o ensino médio. A pesquisa de caráter quantitativo e utilizou como instrumento de medida um questionário semiestruturado composto por seis questões.

            As respostas expressam as percepções dos adolescentes a cerca do meio ambiente. Sauvé (1997) classifica a concepção de meio ambiente em seis categorias: como natureza, como um recurso, como um problema, como um lugar para se viver, como biosfera e como um projeto comunitário.

Dessa forma, baseando-se nessas categorias, quando questionados sobre o que é meio ambiente, 24 alunos (48%) apresentaram uma concepção de meio ambiente como local em que vivemos e também como um conjunto de tudo o que está a nossa volta, ou seja, têm uma visão em que não se enfocam aspectos ecológicos, ou seja, o homem é excluído deste conceito. Esta visão demonstra que existe uma carência de conhecimento sobre a introdução do homem no que chamamos de meio. Ressaltando o que afirma Quintas (1995) “o homem pensa e age como se estivesse fora da natureza”. As demais concepções podem ser visualizadas na tabela 1:

 

 

Tabela 1- O que é meio ambiente?

Respostas

Ocorrências

%

Local em que vivemos

24

48%

Conjunto de seres vivos, natureza e vida

15

30%

Tudo o que está a nossa volta

5

10%

Tudo aquilo que podemos ver ou sentir

1

2%

O que faz o mundo sobreviver

1

2%

As praças, ruas, escolas e outros

1

2%

Tudo

1

2%

As coisas boas do mundo

1

2%

Não Respondeu

1

2%

Total

50

100%

FONTE: Trabalho de campo realizado em 21/05/2013

 

O meio ambiente deve ser compreendido como tudo o que cerca o ser vivo exercendo influência sobre ele, além disso, é indispensável para a sua sustentação. Nele incluem solo, clima, recursos hídricos, ar, nutrientes e os outros organismos. É constituído pelo meio físico e biológico e também pelo meio sociocultural e pela sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pela sociedade.

A outra questão diz respeito ao projeto de coleta seletiva realizado no IFTM – Campus Uberlândia. Indagamos se o aluno saberia relacionar quais benefícios esse projeto nos proporcionaria. As respostas (tabela 2) demonstram que os alunos reconheceram a importância de acondicionar o lixo nos locais corretos, pois apreciam ambientes limpos. A reciclagem foi apontada com maior número de citação (30%). Esse resultado demonstra o interesse dos alunos em participar do projeto. No entanto, não devemos nos esquecer de que mais importante do reciclar é reduzir o consumo.

 

Tabela 2 - Benefícios da coleta seletiva no ambiente escolar

Respostas

Ocorrências

%

Reciclagem

15

30%

Ter um ambiente limpo

11

22%

Não sabem

11

22%

Melhorar a qualidade de vida

3

6%

Reduzir a produção de lixo

3

6%

Jogar o lixo no local correto

3

6%

Não Respondeu

3

6%

Melhorar o lixo

1

2%

Total

50

100%

FONTE: Trabalho de campo realizado em 21/05/2013

 

A terceira questão investigou as ações que praticadas pelos sujeitos pesquisados demonstram preocupação com o meio ambiente (tabela 3).

 

Tabela 3 - O que você faz de concreto que demonstra sua preocupação com o meio ambiente?

Respostas

Ocorrências

%

Jogar lixo no lixo

22

51%

Coleta Seletiva

12

28%

Reduzir o consumo de água

5

12%

Não poluir o meio ambiente

2

5%

Nada

2

5%

Total

43

86%

FONTE: Trabalho de campo realizado em 21/05/2013

 

Foi possível constatar, por meio das respostas a aquisição, de novos valores e atitudes, por parte dos estudantes. Vinte e dois alunos (51%) jogam o lixo no lugar adequado. É significativa também a quantidade de alunos que afirmaram realizar a coleta seletiva (28%) e também reduzir o consumo de água (12%). No entanto, dois alunos, (5%) responderam que não ‘fazem nada porque o meio ambiente onde vivem não proporciona nenhum incentivo’. Segundo eles, a maior parte das pessoas não demonstra nenhum interesse.

            Na quarta questão, os alunos foram solicitados a sugerir ações que contribuem para reduzirmos a quantidade de lixo que produzimos (tabela 4).

 

Tabela 4 - Que sugestões você daria para reduzirmos a quantidade de lixo que produzimos?

Respostas

Ocorrências

%

3Rs (Reduzir, Reutilizar, e Reciclar)

20

40%

Autoconsciência

16

32%

Coleta Seletiva

6

12%

Consumir apenas o necessário

3

6%

Compostagem

1

2%

Economizar

1

2%

Combater o aquecimento global

1

2%

Não sabem

2

4%

Total

50

100%

FONTE: Trabalho de campo realizado em 21/05/2013

 

 

            Os estudantes demonstram claramente que foram motivados a participar do projeto de coleta seletiva no campus Uberlândia, pois 20 (40%) citaram a pedagogia dos 3 Rs. Alguns já se encontram em um nível interessante de tomada de consciência, pois declaram que devemos consumir somente o necessário.

 

5.    Considerações

 

Os sujeitos dessa pesquisa são estudantes do curso técnico em informática integrado ao ensino médio do Instituto Federal do Triângulo Mineiro – Campus Uberlândia, MG, portanto já concluíram o Ensino Fundamental, e estão em busca de uma complementação dos conhecimentos já obtidos e também de inserção no mercado de trabalho. No decorrer da discussão e por meio das respostas obtidas, ficou evidente que o conceito de Meio Ambiente não está bem definido para alguns estudantes, melhor dizendo limita-se aos aspectos naturais. No entanto, com relação ao significado dele para a sua vida demonstraram o seu real papel e o que fazem de concreto demonstra preocupação com ele, apesar de serem ações ainda pouco abrangentes.

A complexidade ambiental envolve múltiplas dimensões e, portanto, a Educação Ambiental precisa ser trabalhada de forma interativa com as mais variadas áreas do conhecimento. Um dos seus objetivos é desenvolver uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos, ou seja, incentivando a participação individual e coletiva na preservação do equilíbrio do ambiente. Nesse sentido, a defesa da qualidade de vida está diretamente ligada ao exercício da cidadania.

O grande desafio então é estabelecer novo pacto para construir a cultura ecológica, buscar a compreensão da natureza e sociedade como dimensões inter-relacionadas. A educação ambiental destaca-se, então, como uma necessidade urgente, que deve possibilitar ao estudante assumir posições diante dos problemas que surgem em seu espaço de vivência, e levá-lo à tomada de consciência com relação às responsabilidades sociais, para que tenha subsídios para efetuar as mudanças necessárias na sociedade da qual faz parte.

As diferentes condições vivenciadas pela população, como a destruição de ecossistemas, a contaminação crescente da atmosfera, solo e água, bem como o aquecimento global são alguns exemplos de impactos decorrentes das ações humanas sobre o ambiente, são riscos advindos de processos produtivos passados e presentes, como a disposição inadequada de resíduos industriais, a contaminação de mananciais de água e as más condições de trabalho e moradia. Esse conjunto de fatores configura-se como riscos à saúde advindos de condições ambientais adversas.

Gerir ambientalmente significa intervir no meio ambiente como objetivo de recuperá-lo e protegê-lo, significa atuar sobre unidades espaciais complexas constituídas pela interação dos diferentes elementos, fatores, atores e interesses convergentes e permeados de conflitos.  Nesse sentido, diante dos inúmeros desafios, Leff (2001) reforça que o princípio da sustentabilidade surge no contexto da globalização como a marca do limite e o sinal que reorienta o processo civilizatório da humanidade. Surge como uma resposta à fratura da razão modernizadora e como mediadora em busca de uma nova racionalidade produtiva, fundada no potencial ecológico e em novos sentidos de civilização a partir da diversidade cultural do gênero humano.

 O caminho a ser percorrido em busca da sustentabilidade pressupõe investigação científica, aplicação, nisso consiste o envolvimento de questões políticas e a participação social, articulação de saberes, entre outros.

O saber ambiental é a alternativa à crise, o reconhecimento da complexidade que envolve as relações entre sociedade e ambiente (LEFF, 2002). A Educação Ambiental, nesse contexto, desempenha importante papel como articuladora de todos os seguimentos da sociedade, pois ela é uma filosofia de educação que perpassa por todas as áreas conhecimento e exige reflexões acerca da problemática ambiental e também acerca da educação. Novos valores e atitudes devem ser adotados para despertar, em cada indivíduo, o sentimento de pertencimento, participação, solidariedade e responsabilidade na busca de respostas locais e globais para a crise que enfrentamos.

 

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GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. 6.ed. São Paulo: Peirópolis, 2009.

 

GONÇALVES, C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2002.

 

GUIMARÃES, M.  A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004.

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2002.

 

_____________. Epistemologia ambiental. Tradução: Sandra Valenzuela. Orth. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

 

LOUREIRO, C. F. B., LAYRARGUES, P. P. , CASTRO, S. de C. (orgs) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

 

LAYARGUES, P. O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental. LOUREIRO, F.; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002, 179-220.

 

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Ilustrações: Silvana Santos