Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DA 1ª CIPOMA NO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL, FORA DO CONTEXTO ESCOLAR TRADICIONAL
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A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DA 1ª CIPOMA NO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL, FORA DO CONTEXTO ESCOLAR TRADICIONAL

 

 

·         Amilka Karla de Melo. Estudante de Pedagogia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Endereço: Rua Oticica Lins, 369; Areias; Recife; PE. Fone: 8704-8360/9980-7095. E-mail: karlaufrpe@yahoo.com.br

·         Diana Maria de Santana. Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco. Endereço: Rua 04 de Outubro; 16-A; Madalena; Recife; PE. Fone: 8878-5931/9988-1840. E-mail: djhidjhi@yahoo.com.br

 

RESUMO:

 

Os crescentes problemas ambientais causados pela falta de respeito e cuidado com o Meio ambiente contribuem para que a educação Ambiental venha ganhando visibilidade nos espaços de discussões sobre educação. Dessa forma, órgãos, instituições e projetos são criados o intuito de minimizar os conflitos entre sociedade e natureza. Em Pernambuco, a Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (1ª CIPOMA) desenvolve um papel, fundamentalmente, repressivo, mas também pedagógico, nesse viés.  A pesquisa realizada buscou verificar como é trabalhada a educação ambiental a partir das práticas pedagógicas da 1ª CIPOMA. Para tal, foi escolhida como objeto de análise a exposição realizada na Estação Central de metrô da Cidade do Recife.

 

1.    INTRODUÇÃO

 

            A história da humanidade sempre foi marcada por uma relação um tanto conflituosa com o meio ambiente. De acordo com Dias (1992), há uns cinco milhões de anos os primeiros seres humanos que habitaram o Planeta enfrentaram inúmeras dificuldades e desafios, pois "a natureza era mais poderosa que os homens", e os afetava mais do que era afetada por eles.

            Naquele momento, o conhecimento ambiental era importante por uma questão de sobrevivência. A natureza também foi utilizada como base filosófica. Filósofos como Tales, Anaxímenes e Empédocles, dentre outros, acreditavam que a origem da vida estava nos quatro elementos (água, ar, fogo e terra). 

            A partir da Revolução Industrial, a percepção do ambiente mudou drasticamente e a natureza passou a ser entendida como "algo separado e inferior à sociedade humana", ocupando uma posição de subserviência. O consumo desenfreado dos recursos naturais começou a acarretar a destruição de ecossistemas e a perda da biodiversidade. Daí em diante, os efeitos do consumo inconsequente só pioraram e tomaram proporções globais.

            Dessa forma, fica evidente a importância de sensibilizar os humanos para que ajam de modo responsável e com consciência, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro.

            No final do século XX e início deste século, a Educação Ambiental passou a ser objeto de discussão no campo educacional, despertando o interesse de autoridades políticas, militares e órgãos gestores educacionais. Surge então uma reflexão sobre o papel que essa vertente educacional teria na sociedade, e qual a atuação que cada parte envolvida deveria desempenhar.

            Segundo MORIN (2002, p. 34):

A educação deve construir para a autoafirmação da pessoa e ensinar como se tornar cidadão. Um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade em relação a sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional.

 

                   As colocações de Morin abrem espaço para a seguinte reflexão: educação ambiental e cidadania estão intimamente ligadas. A formação de cada indivíduo deve ser de autoafirmação, gerada pela educação enquanto cidadão e sua responsabilidade com a pátria é o que cria neste indivíduo raízes de identidade nacional.

            Uma educação transformadora envolve não só uma visão ampla de mundo, como também a clareza da finalidade do ato educativo. A Educação Ambiental carrega a responsabilidade de ajudar a formar cidadãos que saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade tanto local como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas suas relações com o ambiente.

            Diante desse contexto, órgãos, instituições e projetos foram pensados com o intuito de contribuir com essa finalidade. Em Pernambuco, a Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (1ª CIPOMA) desenvolve um papel, fundamentalmente, repressivo mas também pedagógico, nesse viés. 

            O objetivo deste trabalho foi verificar como é trabalhada a educação ambiental a partir das práticas pedagógicas da 1ª CIPOMA. Para tal, foi escolhida como objeto de análise a exposição realizada na Estação Central de metrô da Cidade do recife, nos dias 07 a 11 de junho de 2010, pela supracitada Companhia.

 

 

2.    A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SEU ASPECTO LEGAL

 

            Ao apresentar a proposta de Educação Ambiental (EA), é necessário antes definir o que é meio ambiente. Pode-se dizer que este é o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (BERNA, 2004). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Meio ambiente – Saúde) explicam que “por “ambiente” entende-se não apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos inter-relacionados” (1999).

             O homem possui grande responsabilidade sobre o equilíbrio natural e consequentemente as mudanças acentuadas no meio ambiente, quando a utilizam de forma negligente. Com a evolução da espécie humana, houve o desenvolvimento tecnológico e com ele o conforto e a abertura de novos horizontes formando-se maiores leques de objeto de estudo do meio ambiente.

            Com toda a polêmica que vem surgindo nas últimas décadas, em todo o mundo sobre a problemática ambiental e, consequentemente, sobre a EA, a questão não poderia deixar de ser amparada por lei. A Política Nacional da Educação Ambiental – PNEA, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, 27 de Abril de 1999, Lei 9795, “dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências”. 

            A concepção que orienta a PNEA é pautada numa racionalidade ambiental, transdisciplinar, que pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza, mas uma base de interações entre o meio físico-biológico com as sociedades e a cultura produzida pelos seus membros. Em seu artigo primeiro define a educação ambiental como:

 

(...) processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999)

           

            Dessa forma, o Projeto de EA deve ultrapassar os muros da Escola, alcançando a comunidade como um todo. Souza (2000) afirma que o estreitamento das relações intra e extra-escolar é bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o ambiente da escola.

            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Meio ambiente – Saúde) alertam para a importância da educação como agente transformador da relação homem-natureza.

 

(...)fica evidente a importância de se educar os futuros cidadãos brasileiros para que, como empreendedores, venham a agir de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; (1999).

 

            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são instrumentos catalisadores no processo educativo. Apresentam preposições expressas de formas reflexivas na busca de uma melhoria da qualidade da educação brasileira. Os PCNs são, portanto, definidos como “as grandes diretrizes básicas que deverão orientar os processos de ensino-aprendizagem no ensino fundamental” (MEDINA, 2001.p.134).

            Segundo essa visão, é investindo em uma educação conscientizada para os jovens hoje que poderá se mudar o futuro. Pois se bem aplicada, a Educação Ambiental pode levar a mudanças de comportamentos, atitudes e valores que gerariam sérias consequências sociais e naturais.

            

3.    EDUCAÇÃO AMBIENTAL DENTRO E FORA DO CONTEXTO ESCOLAR

           

Se existe inúmeros problemas que dizem respeito ao ambiente, isto se devem em parte ao fato das pessoas não serem sensibilizadas para a compreensão do frágil equilíbrio da biosfera e dos problemas da gestão dos recursos naturais. Elas não estão e não foram preparadas para delimitar e resolver de um modo eficaz os problemas concretos do seu ambiente imediato, isto porque, a educação para o ambiente como abordagem didática ou pedagógica, apenas aparece nos anos 80. Somente a partir desta data os alunos têm a possibilidade de tomarem consciência das situações que acarretam problemas no seu ambiente próximo ou para a biosfera em geral, refletindo sobre as suas causas e determinarem os meios ou as ações apropriadas na tentativa de resolvê-los. (EFFTING, 2007)

 

            Pensando na escola como um ambiente que abriga alunos de vários universos culturais e que o conhecimento de cada um deles torna-se próprio do contexto social no qual estão inseridos, nasce assim à necessidade da educação escolar garantir o nivelamento da aprendizagem no contexto ambiental para todos.

            As escolas são espaços privilegiados para a implementação de atividades que propiciem uma reflexão sobre a relação do homem com o meio ambiente. Para isso, são necessárias atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar (DIAS, 1992).

            A Lei 9795/99, que constitui a política nacional de educação ambiental, tem como um dos seus princípios “pluralismo de ideias e concepções pedagógicas nas perspectivas da inter e transdisciplinaridade”.

            Para que aconteça essa prática integrada, deve existir uma formação continuada dos professores como proposta político-pedagógico efetiva e com constante atualização de conteúdos e práticas pedagógicas, para que não haja estancamentos do processo de ensino aprendizagem, buscando autonomia desses sujeitos de forma coordenada com os objetivos propostos.

            Entretanto, em muitos momentos, a escola acaba por ajudar a manter e reproduzir uma cultura predatória ao ambiente, ou se limita ao mero repasse de informações. Nesse caso, as reflexões incitadas pela Educação Ambiental devem contemplar aspectos que não apenas possam gerar alternativas para a superação desse quadro, mas que o invertam, de modo a produzir consequências benéficas (ANDRADE, 2000).

            OLIVEIRA (2000) afirma que há três principais dificuldades a serem vencidas no processo da efetiva implementação da Educação Ambiental no âmbito escolar:

1. A abordagem pouco ou nada interdisciplinar, sendo necessária que haja uma busca por alternativas metodológicas que modifiquem esse enfoque;

2. A barreira rígida da estrutura curricular em termos de carga horária conteúdos mínimos, avaliação, etc;

3. A sensibilização do corpo docente para a mudança de uma pratica estabelecida, frente às dificuldades de novos desafios e reformulações que exigem trabalho e criatividade.

            Os PCNs avaliam que a EA deve ser trabalhada de maneira interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada área. Também consideram que esse processo deva ser permanente e contínuo. O trabalho deve ser construído com uma visão ampla, levando em consideração não apenas os elementos naturais, mas também os aspectos sociais envolvidos na questão ambiental.

            O processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários.

         Com o intuito de levar às escolas e à comunidade o conhecimento necessário para a construção da cidadania será necessário o envolvimento de diferentes órgãos que asseguram os direitos e deveres de cada indivíduo na sociedade, entre esses órgãos podemos citar a polícia militar, o corpo de bombeiros, a vigilância sanitária, etc. (EFFTING, 2007)

 

            Uma forma de enriquecimento do trabalho pode ser contar com o apoio de órgãos como a 1ª CIPOMA (Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente), que trabalha junto à escola para conscientização da sociedade.

            Muitas estratégias podem ser pensadas para que um projeto de EA seja implantado de maneira eficaz. O desenvolvimento do trabalho em parceria com entidades relacionadas ao tema pode ser uma excelente estratégia para tornar o projeto interdisciplinar, prático e mais atrativo.

 

4.    HISTÓRIA E ATIVIDADES REALIZADAS PELA 1ª CIPOMA

 

            Através do Decreto nº 14.147, de 18 de dezembro de 1989, foi criada e ativada a 1ª CIPOMA (Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente), encarregada do policiamento ostensivo que visa preservar o meio ambiente e atua em consonância com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, instituído em de 18 de julho de 2000. A Companhia atua em todo estado de Pernambuco e no Arquipélago de Fernando de Noronha em parceria com órgãos em defesa do meio ambiente. (PMPE, 2013)

            No desenvolvimento de suas atividades, conta com postos fixos e patrulhas móveis, com isto contribuindo para a preservação do meio ambiente, preservação dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida da população pernambucana.

            No agreste pernambucano, a 1ª CIPOMA atua como o seu efetivo em combate aos crimes ambientais que vem crescendo a cada dia. Para tal atuação, a companhia dispõe de 20 policiais militares com viaturas e motos realizando rondas 24 horas todos os dias.

            Segundo Faria (2013):

São considerados crimes ambientais as agressões ao meio ambiente e seus componentes (flora, fauna, recursos naturais, patrimônio cultural) que ultrapassam os limites estabelecidos por lei. Ou ainda, a conduta que ignora normas ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente.

 

            De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, ou Lei da Natureza (Lei N.º 9.605 de 13 de fevereiro de 1998), os crimes ambientais são classificados em seis tipos diferentes:

·         Crimes contra a fauna:

            “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.”          (BRASIL, 1998)

            Este é o caput do artigo 29 e seus subsequentes buscam inibir outras formas de maus tratos ou destruição de animais, como a pesca ilegal, o tráfico de animais silvestres e etc.

·         Crimes contra a flora:

            “Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção.” (BRASIL, 1998).

            Outros tipos de vegetação protegidas por lei também são amparadas pelos artigos dessa seção.           

·         Poluição e outros crimes ambientais:

            “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.” (BRASIL, 1998).

·         Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural:

            Os artigos que tratam desse tópico, se referem à destruição, inutilização ou alteração de bens protegidos por lei, assim como:

Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida. (BRASIL, 1998).

 

·         Crimes contra a administração ambiental:

            “Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental           .” (BRASIL, 1998).

            Também incorre nesse crime o funcionário que conceder licença em desacordo com as normas ambientais.

·         Infrações Administrativas:

            “Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.” (BRASIL, 1998)

            A 1ª CIPOMA, além de suas inúmeras atividades de preservação do meio ambiente (fauna e flora), também realiza atividades educativas de conscientização, em Escolas e outros locais públicos. A companhia realiza palestras, mostrando de que forma é possível contribuir para preservação do meio ambiente, e apresentando situações em que o homem colabora para a destruição da fauna e flora. Dessa forma, se busca levar a educação ambiental nas comunidades e, principalmente nas escolas, para que, no futuro, muitos crimes ambientais sejam evitados. Assim, entende-se que o trabalho da Companhia, além de repressivo, deve ser também preventivo.

            Essas são algumas das atividades da 1ª CIPOMA:

·         Resgate de animais vítimas do comércio ilegal;

·         Preservação de reservas naturais.

·         Palestras com temas relacionados ao meio ambiente;

·         Atividades externas (passeios ecológicos);

·         Trilhas ecológicas, plantio de árvores;

·         Visitas a Escolas;

 

            Muitos autores ressaltam as potencialidades das atividades de campo. Carbonell (2002), discute que a mente tem a capacidade de aprender e reter melhor as informações quando o corpo interage de maneira ativa na exploração de lugares, enquanto experiências onde o sujeito é passivo tendem a ter impacto de curta duração e atenuam-se com o tempo. Assim, afirma que:

 

São necessários espaços físicos, simbólicos, mentais e afetivos diversificados e estimulantes (...), aulas fora da classe, em outros espaços da escola, do campo e da cidade. Porque o bosque, o museu, o rio, o lago (...), bem aproveitados, convertem-se em excelentes cenários de aprendizagem. (CARBONELL, 2000, p. 88).

 

            Dessa forma, as atividades realizadas pela 1ª CIPOMA podem contribuir de modo significativo com o processo de aprendizado de alunos e da sociedade, em geral. Aliando a teoria à prática, é possível despertar o interesse para esse tema, de suma importância, não só para os discentes, mas também para pessoas de todas as idades e formações. A informação não deve se prender aos muros da Escola e sim chegar aos locais públicos para que todos possam ter acesso. Educação e conscientização são as ferramentas indispensáveis no processo de construção de uma sociedade mais sustentável.

 

5.    EXPOSIÇÃO DA 1ª CIPOMA NA ESTAÇÃO CENTRAL DO RECIFE

 

            O dia cinco de junho foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar as pessoas a fazerem o melhor pela natureza, criando assim o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em Pernambuco, foi criada a semana do meio ambiente, que ocorreu durante os dias 04 de junho a 17 de junho de 2010, em vários locais da cidade.

            O tema da Semana em Pernambuco, promovida pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado (Sectma) foi “Meio Ambiente. Quem cuida pode transformar”. Durante a semana, os municípios de Recife, Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Carpina, Caruaru e Tamandaré apresentaram uma gama de eventos.

            Participam do projeto órgãos como Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), Espaço Ciência, Parque Dois Irmãos e Fundação Gilberto Freyre. Foram apresentadas diversas mostras de vídeos, exposições, peças teatrais, oficinas, mini-cursos, palestras e debates, sempre incentivando a importância da proteção ao meio-ambiente.

            Durante a semana, as organizações realizaram diversas atividades: debate em escolas, ato público, mutirão de reflorestamento de rios, audiências públicas, feiras de saberes e sabores e o plantio de árvores em diversos municípios da Zona da Mata ao Sertão de Pernambuco.

            Durante a abertura do evento, o até então, prefeito João da Costa lançou a Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), projeto que visa a implementar a gestão socioambiental sustentável das atividades administrativas e operacionais do Governo. A A3P é um projeto do Ministério do Meio Ambiente, que possui um papel estratégico na revisão dos padrões de produção e consumo e na adoção de novos referenciais em busca da sustentabilidade socioambiental, no âmbito da administração pública.

            Dentre as diversas atividades realizadas na Semana, ocorreu uma exposição na Estação Central de Metrô do Recife, realizada pela 1ª CIPOMA, durante os dias 07 de junho a 11 de junho de 2010.

            No local, foi montada uma estrutura com painéis, animais empalhados, rede de exposição, objetos apreendidos que foram utilizados para caça de animais, fotos e banners informativos. Os policiais da 1ª Cipoma presentes davam informações e tiravam as dúvidas do público etc, como é possível ver na Figura 01.

 

Figura 1. Explicação sobre a exposição            .

           

            A ação despertou o interesse de muitos transeuntes. Alguns paravam para apenas observar a estrutura, outros, se aproximavam e faziam perguntas. A diversidade de material na estrutura chamava a atenção, principalmente das crianças, que se aproximavam buscando ver os animais. Mesmo sem perceberem, já que não estavam em um ambiente escolar formal, naquele momento, elas estavam aprendendo e vivendo um processo de conscientização. A possibilidade de ter contato com os profissionais que atuam combatendo crimes ambientais, informando sobre a importância da preservação do meio ambiente fortalece esse processo. A figura 02 ilustra um desses momentos.

 

Figura 02.  Visitantes na exposição da 1ª CIPOMA

           

            Ambientes educativos fora das escolas são de grande contribuição na educação e conscientização das pessoas, pois aliam a teoria à prática e fogem à rigidez, hierarquia e padronização, existente na maioria dos locais formais de ensino. Segundo Dias, para que a EA seja introduzida de modo satisfatório no ensino formal, é necessário que ela seja:

(...) um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares globalizantes e da instrumentação dos professores; procurar a integração entre escola e comunidade, objetivando a proteção ambiental em harmonia com o desenvolvimento sustentado. (1992).

 

            A interdisciplinaridade e a contextualização são elementos fundamentais ao processo de construção do conhecimento. Segundo Philippe Perrenoud (2004), a conseqüência de uma prática em que os conteúdos são “depositados” nas cabeças dos alunos de forma desprovida de significado é que eles acumulam saberes, mas não conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais.

            Um aprendizado efetivo somente se constrói a partir das necessidades da vida cotidiana, das emoções e do enfrentamento das situações desafiadoras, com as quais é necessário dialogar.

            Nessa perspectiva, é possível compreender que seja mais importante que o aluno saiba lidar com a informação e não simplesmente, a possua. O aluno precisa saber por que esta aprendendo e ter clareza em relação aos seus objetivos e aos processos de vida fora do contexto escolar.

            Este modelo pedagógico se configura como um processo de construção de uma cidadania emancipatória, na medida em que assegura a apropriação de diversos conteúdos curriculares de forma interdisciplinar, criando possibilidades para a formação de um cidadão participativo e responsável. 

            A partir do momento em que todas as disciplinas forem permeadas pelos conteúdos ambientais e contextualizadas com a realidade da comunidade, a escola ajudará o aluno a perceber a correlação dos fatos e a desenvolver uma visão global do mundo em que vive. Para isso a Educação Ambiental deve ser abordada de forma sistemática, transversal e contínua, em todos os níveis de ensino, garantindo a abordagem de temas voltados para a questão ambiental de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares.

            Durante a semana de exposição a 1ª CIPOMA realizou a apreensão de uma ave silvestre (popularmente conhecida como sabiá). A ave era mantida em cativeiro, sem autorização do órgão de defesa competente, o que fere o Artigo 29 da lei de crimes ambientais (Lei 9.605 de 13 de fevereiro de 1998). Como acontece na prática da Companhia, o animal foi encaminhado para o órgão responsável e o antigo dono, liberado.

            A pena prevista para tal crime é detenção de seis meses a um ano, e multa. No entanto, o parágrafo segundo do mesmo artigo diz que: “No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.” (BRASIL, 1998) Por esse motivo, o antigo dono da ave foi liberado, sem maiores complicações.

            Com esse exemplo, foi mostrada a aplicação prática da lei. É sabido que a criação irregular de animais silvestres é uma prática um tanto quanto corriqueira, uma vez que grande parte da população ainda não tem plena consciência de que esta cometendo um crime ambiental. Por isso é de fundamental importância que a sociedade seja informada e educada sobre essa questão, dentre outras. Ações como essa exposição, facilitam o acesso dos populares à informação. É difícil imaginar que as pessoas, por si só, irão se interessar em pesquisar sobre o tema, na internet ou em bibliotecas. No entanto, quando se há a possibilidade de transmissão de informações em locais públicos, largamente frequentados, como é o caso de uma Estação de metrô, muitos dos transeuntes terão a oportunidade de se educar, enquanto vai ao trabalho ou retorna a casa.

            A UNESCO, logo após a Conferência de Belgrado (1975) definiu os seguintes objetivos da Educação Ambiental:

 

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas com ele relacionados, uma população que tenha conhecimento, competências, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhe permitam trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais, e para impedir que eles se repitam.

 

            Se os cidadãos, principalmente as crianças, forem transformados em pessoas conscientes e sensibilizados a essa nova visão sobre o ambiente, eles próprios se tornarão educadores ambientais em suas casas em seu meio de convívio. Tornando assim esse processo em uma sequência de ações benéficas, a vida, a natureza ao futuro.

            Durante a semana, também ocorreu a visita dos escoteiros, como apresenta a Figura 03.

 

 

Figura 2. Visita dos escoteiros á exposição da 1ª CIPOMA.

 

 

O Escotismo, fundado por Lorde Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, em 1907, é um movimento mundial, educacional, voluntariado, apartidário, sem fins lucrativos. A sua proposta é o desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira, e através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina. (BRASIL, 2013)

 

            O escotismo é um movimento de caráter educacional, no qual os jovens têm a oportunidade de se desenvolverem socialmente de uma forma baseada em valores, respeito, amizade, fraternidade e no amor pela natureza. Um dos artigos da Lei escoteira afirma que o escoteiro deve ser bom para os animais e as plantas. A Lei escoteira é um código de conduta, assumido ao se realizar a Promessa escoteira, onde se retêm os principais valores do movimento escoteiro.

            Paolillo & Imbernon (2009) Apud Silva (2011):

 

(...) identificaram no Movimento Escoteiro “um ambiente no qual ensino formal e não-formal encontram uma linguagem comum e reconhecem no conhecimento científico estratégias de desenvolvimento social e cidadania”, que caracterizam o Movimento Escoteiro como o maior movimento organizado de educação não-formal.

 

            Dessa forma, é possível perceber que o movimento escoteiro pode ter uma imensa contribuição para a Educação Ambiental, constituindo mais uma promissora parceria, que pode ser aproveitada pelas Escolas.  

            No último dia do evento, a Companhia realizou uma distribuição de mudas de plantas para o público que passava no local. O que parece ser um simples ato pode ser de grande ajuda para a arborização da cidade, se as mudas forem plantadas em parques, praças e etc.

            É dessa forma que um projeto de Educação Ambiental é construído: com ações práticas, interdisciplinares, acessíveis e simples. À formalidade da escola, devem ser aliados projetos como este, que despertem o interesse e alcancem, além dos alunos, um público que já não frequenta a escola.

 

6.    CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

            Tão importante quanto quaisquer outras disciplinas a Educação Ambiental constitui-se um importante meio de se pensar conceitos sobre a proteção e conservação do meio ambiente. Para tal, faz-se necessário que as instituições educacionais estejam atentas à temática, trabalhando-a de forma interdisciplinar e continuada.

            Todo tipo de conhecimento, para que seja efetivamente absorvido pelo aluno, precisa ultrapassar os muros da Escola e fazer parte da vivência do discente, dialogar com sua família e comunidade, provar sua importância e utilidade prática. O diálogo com parceiros, integrantes dos diversos meios sociais, pode ser uma boa estratégia para unir a teoria à prática e despertar o interesse dos alunos.

            Este trabalho buscou relatar como o trabalho da 1ª CIPOMA pode contribuir com o ensino de Educação Ambiental, dentro e fora do contexto escolar. A exposição realizada na Estação Central de Metrô do Recife, durante a Semana do Meio Ambiente foi apenas um exemplo de como a Companhia pode auxiliar no processo de conscientização e informação dos cidadãos, alunos ou não.   

            Com relação à Educação Ambiental, muito ainda há de ser feito, tanto na escola quanto na comunidade. Esse trabalho buscou, com o exemplo dado, despertar o interesse pelo trabalho da Companhia e tornar visíveis muitos aspectos que merecem ser aprofundados.

 

 

7.    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4.out/nov/dez 2000.

 

ARANHA, Maria Lucia De Arruda. FILOSOFANDO, INTRODUÇÃO À FILOSOFIA. São Paulo: Moderna, 1993.

 

BRASIL, PCN Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. – 3. ed. – Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC, 1999.

 

_________, Lei Nº 9795 de 27 de Abril de 1999.

 

_________, Lei N.º 9.605 de 13 de fevereiro de 1998.

 

_________, Escoteiros do. Escotismo. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2013.

 

BERNA, Vilmar. Como fazer Educação Ambiental. – 2. ed. – São Paulo, Paulus, 2004.

 

Conferência UNESCO. Educação Ambiental. Belgrado. Sérvia. 1975.

 

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia,

1992.

 

EFFTING, Tânia Regina. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS: REALIDADE E DESAFIOS. 2007. 90 f. Monografia (Especialização) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2007.

 

FARIA, Caroline. Crime Ambiental. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2013.

 

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Ilustrações: Silvana Santos