Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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20/09/2003 (Nº 6) ANÁLISE CRÍTICA DAS POLÍTICAS SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL
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ANÁLISE CRÍTICA DAS POLÍTICAS SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

PRADO, L.R1. & PRADO, R.M2.

1 Graduanda em Pedagogia, Universidade São Luis, Rua Floriano Peixoto, 839, 14870-370, Jaboticabal-SP.

2 Prof.do Dep. Solos e Adubos, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus Jaboticabal, Via de Acesso Paulo D. Castellane, s/n., 14870-000, Jaboticabal-SP. E-mail: rmprado@fcav.unesp.br

 

Resumo - Este artigo tem por objetivo fazer uma análise crítica sobre a educação ambiental no Brasil. Para isso, abordaremos as deficiências em relação a essa temática e sugerimos práticas educativas como resoluções. Pois foi lançado no Brasil, a pouco mais de cinco anos os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), que possui em um dos temas transversais a Educação Ambiental. No entanto, até hoje são poucas as escolas que trabalham com essa transversalidade, e menor ainda é o número de professores que conseguem fazer com que a educação ambiental possua caráter interdisciplinar. Diante desse contexto, mostraremos que é possível admitir um novo conceito de educação ambiental, ou seja, uma educação sustentável, visando maior desenvolvimento da sociedade nos aspectos econômicos, sociais e ambientais. Partindo de uma educação articulada com a realidade de seus educandos e sua vida cotidiana.

Palavras-chave: educação ambiental, Parâmetros Curriculares Nacionais, desenvolvimento social, interação meio ambiente e cultura escolar.

 

INTRODUÇÃO

 

                        A questão ambiental nos últimos anos, tem sido amplamente discutida em várias áreas do conhecimento, uma vez que a sociedade moderna foi despertada devido ao avanço da destruição dos recursos naturais do planeta. Uma das formas para o combate à destruição da natureza é a conscientização da sociedade sobre  esta temática, buscando soluções para paralisar a destruição e ainda, inverter a situação com ações de recuperação do meio ambiente. Uma das ferramentas disponíveis, de baixo custo e com efeito  duradouro, é a inclusão da educação ambiental de forma adequada, inserida nas escolas do ensino fundamental e ensino médio. Para que os objetivos da educação ambiental sejam atingidos, é necessário o uso adequado desta ferramenta, com ações acertadas de ensino-aprendizagem, partindo dos vários segmentos da sociedade, ou seja, do governo, do setor privado e das ONGs. Para isso, são necessários estudos sobre as técnicas que estão sendo utilizadas nas escolas sobre a questão da educação ambienta,l e, propor, na medida do possível, as  soluções para que a formação do aluno permita-lhe ser um cidadão consciente, e disseminador e formador de consciências acerca da importância de preservar-se o meio ambiente, ajustado com o desenvolvimento da sociedade nos aspectos econômico e social.

Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo analisar os diversos aspectos da educação ambiental,  e como esta pode ser trabalhada nas escolas de maneira agradável e significativa para com os alunos do ensino fundamental e médio Ilustraremos uma experiência de pesquisa relatada, reforçando a importância de  posicionarmos-nos a favor da preservação do meio ambiente. Assim, buscar-se-á mostrar como vêm sendo produzidos e utilizados, no cotidiano das escolas, suas interações com a cultura escolar e seus efeitos sobre a aprendizagem dos alunos.

DESENVOLVIMENTO

É sabido, que a Educação Ambiental no Brasil não foi assunto que obteve prioridade pelos governantes ou órgãos públicos.

                        Desde a década de 60, vem ocorrendo queda na qualidade de vida do homem, sendo a degradação ambiental grande responsável por esse fato. Porém, como os governantes não tomavam atitudes em relação a esse problema, a sociedade civil  encaminhava-se à procura de soluções. Foi então que em março de 1965 na Conferência de Keele, na Grã-Bretanha, educadores concluíram que a educação ambiental deveria ser trabalhada na escola, estando presente na vida dos cidadãos. No mesmo ano, fundou-se, naquele país, a Sociedade de Educação Ambiental, iniciando um movimento direcionado à Ecologia. Assim, elaborou-se um manual para professores, Um lugar para viver, sendo considerado um clássico da literatura internacional sobre Educação Ambiental.

                        Porém no Brasil, nenhuma medida oficial sobre Educação Ambiental havia sido tomada até então.

                        Apesar do descaso para com os problemas ambientais do país, na década de 70, algumas propostas foram elaboradas para a implementação da Educação Ambiental nos currículos escolares da rede de ensino brasileira.

                        A Fundação Educacional do Distrito Federal e a Fundação da Universidade de Brasília, em convênio com o SEMA, realizaram um curso de extensão para profissionais de ensino de primeiro e segundo grau, envolvendo quarenta e quatro instituições escolares, com o treinamento de quatro mil pessoas. Estava previsto para os próximos anos um projeto centrado num currículo interdisciplinar. No entanto, por falta de recursos financeiros e uma política direcionada para a execução da Educação Ambiental, essa proposta não foi efetivada.

                        No ano de 1981, foi publicada a Lei 6.938, que estava voltada para a política  nacional do meio ambiente. Foi a primeira conquista de grupos ambientalistas, porém a educação ambiental continuou restrita a questões ligadas à natureza (extinção de animais, poluição dos rios, devastação da natureza, etc.). Não se pode negar que esses temas são importantes, mas é preciso que se discutam, também, as questões sociais, econômicas e políticas do país.

Apesar desse descaso para com os problemas ambientais, a partir do ano de 1998 foi apresentado às escolas publicas brasileiras os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Governo Federal (Ministério da Educação),  enfocando como um dos Temas Transversais propostos - Meio Ambiente.

Essa foi a primeira ação do governo para a implantação da Educação Ambiental na rede pública de ensino, como explicitado no volume 9 dos (PCNs):

                        "...O trabalho de aluno deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio..."

                        "...Neste sentido, as situações de ensino devem se organizar de forma a propiciar oportunidade para que  aluno possa utilizar o conhecimento sobre o meio ambiente para compreender sua realidade e atuar sobre ela..

                        Os parâmetros encontram-se de forma aberta e flexível; por isso, podem ser adaptados à realidade de cada região, sendo um instrumento útil no apoio às discussões pedagógicas, elaboração de projetos, nos planejamentos das aulas, na reflexão da prática educativa e análise de material didático. Entretanto, podemos verificar que existe uma preocupação por parte dos educadores em desenvolver um projeto pedagógico, ou seja, matérias que devem ser trabalhados durante o ano letivo e muitos deles não conseguem inter-relacionar a Educação Ambiental aos conteúdos curriculares e isto ocorre porque o conceito de Educação Ambiental não está bem definido entre os educadores, orientadores e/ ou coordenadores das instituições escolares.

                        De acordo com GUATTARI (1990), só a "ecosofia", uma articulação entre o que considerou "os três registros ecológicos" - meio ambiente físico, relações sociais e subjetividade humana -, é que pode dar conta das questões ambientais.

                        Portanto, a educação ambiental, trabalhada de maneira adequada pelos professores, não enfocando as noções que ficam restritas somente ao ambiente, mas sim trabalhando esse tema com a interdisciplinaridade poderá contribuir e muito para recuperar e preservar os recursos naturais e melhorar a qualidade de vida da população.  A Educação Ambiental, remetendo ao sentido maior da educação, estimula a percepção do educando para ser cidadão, para viver o amor concreto, pois  ensina com amor, incentiva o estudo sério dos nossos graves problemas socioambientais, além de levar o educando à busca autêntica de valores sociais e pessoais.

                        De acordo com TANNER(1978), a educação ambiental pode ter um caráter multidisciplinar, isto é, estar integrada a todas as matérias presentes no currículo escolar. Além disso, pode ser ensinada em todos níveis escolares atingindo, assim, desde o jardim de infância, até o último ano de escolaridade.

                        O problema da falta de articulação das disciplinas com o meio ambiente nas escolas devem-se, possivelmente, à distinção entre o que é ideal e o que real, isto é, a Educação Ambiental acaba sendo tratada isoladamente como parte de uma disciplina.

                        MEYER (1991) afirma que, ao considerar a educação ambiental como uma disciplina, estará contrariando o que a comunidade científica vem discutindo a respeito desse assunto. O autor diz que essa temática necessita de um enfoque interdisciplinar em que estejam congregados profissionais de diversas áreas do conhecimento.

                        Em razão disso, a Educação Ambiental não pode ficar restrita somente à escola e tampouco, limitar-se a uma disciplina. Professores e alunos devem levar essa temática para o conhecimento da comunidade para que, de uma forma global, possamos intervir na solução dos problemas ambientais.

                        No plano Nacional, temos a Lei 6938/81 que dispõe sobre os fins, mecanismos de formulação e aplicação da Política Nacional de Meio Ambiente. Em seu décimo princípio estabelece que:

                        "Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacita-la para participação ativa na defesa do meio ambiente."

                        Por outro lado a Constituição de 1988 em seu artigo 225, parágrafo primeiro diz que:

                        "Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

                        Na verdade, quando se trata da questão da educação ambiental,  está se falando no processo de resgate da ética, da cultura, e da política. Se a educação quer cumprir o seu papel como formento crítico, formador/despertador da consciência, politizador,  terá de reinserir em sua história em sua cidade, em seu meio, o educador como sujeito capaz de interagir com um ambiente, já que este está diretamente interligado à vida do educando. Trata-se de uma inserção sócio-ambiental que dá sentido maior à vida humana, porque age para construir uma sociedade melhor, justa e com qualidade de vida (FREIRE, 1992).

                       

CONCIENTIZAÇÃO DE ALUNOS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Educação ambiental além das paredes da escola

Com intuito de ilustrar algumas práticas do ensino de Educação Ambiental na rede de ensino público, serão apresentados alguns exemplos de experiências realizadas em escolas no interior do Estado de São Paulo.

Uma maneira que os professores de Língua Portuguesa, encontraram para a realização do ensino desta temática em suas disciplinas, foi trabalhando com oficina de teatro.                  

É importante ressaltar que o aluno não é obrigado a participar da oficina teatral, porém ele participará das pesquisas e passeios a parques e praças  e receberá o mesmo conteúdo de ensino sobre a educação ambiental, que o grupo participante da oficina.

No início do projeto, os alunos participaram de leituras em jornais, revistas, telejornais e assistiram a vídeos, em que abordados  temas a respeito da Educação Ambiental, tais como: cólera, dengue, poluição crescente nos rios e no mar, coleta de lixo, reciclagem, situação do ar, áreas verdes em perigo, erosão, proteção da fauna e flora. Além disso, realizaram-se  observações sobre as conseqüências dessa situação para os moradores da cidade.

                        Logo após á leitura, essas crianças expressaram o que sentiram a partir de tudo que presenciaram, por meio de textos, redações e poesias.

                        O aprendizado e a reflexão sobre as questões ambientais não ficam restritas apenas ao momento em que os alunos estão na escola , ao voltarem para casa, o trabalho deve ter continuidade, envolvendo várias discussões acerca do meio ambiente.                  Dessa maneira, os alunos poderão escrever o que entendem por problema ambiental, desde o quintal de casa até os problemas referentes à cidade, ao país e ao mundo.

                        Por meio desse programa, os alunos têm a oportunidade de reclamar a deterioração do meio ambiente e propor soluções para a melhoria do mesmo.

                        Assim, a Educação Ambiental é trabalhada a partir da própria realidade vivenciada pelos alunos, fazendo com que reflitam, questionem e formulem questões sobre o ambiente que os cerca.

                        Logo após essas reflexões, os alunos participaram de  uma peça teatral, cujo  tema principal foi o meio ambiente.

                        Para a montagem do palco e das roupas que foram usadas  no teatro, usamos caixas de papelão, retalhos de tecido, garrafas pet, papéis em geral; enfim, uma infinidade de materiais que seriam jogados no lixo.

                        Neste modelo de trabalho, toda a comunidade ajuda direta ou indiretamente na educação ambiental. É um trabalho em que não somente os alunos aprendem a trabalhar em grupo e ser cooperativos, mas toda a comunidade também.

                        Entretanto, essa forma de transmissão de conhecimentos faz com que os alunos tenham uma participação ativa daquilo que está sendo ensinado, e conseqüentemente, os resultados  serão  mais significativos, pois   o educando poderá sentir-se parte integrante daquilo que está sendo ensinado.

ARISTÓTELES (1992, p. 35) afirmava que aprendemos as virtudes quando as praticamos, o que significa dizer: sem o exercício constante, vivenciado na realidade humano-social, as lições, os ensinamentos, os modelos, as prescrições perdem efetividade.

Desse modo, estamos ensinando essas crianças não somente a ler e escrever, mas também a desempenharem o papel de cidadãos e fazendo com que desenvolvam o sentimento de solidariedade e responsabilidade.

 

CONCLUSÕES:

                        Este trabalho teve por objetivo analisar os diversos aspectos da educação ambiental para o ensino fundamental e  médio.

                        Pode-se perceber que vários países, em diferentes momentos,  preocuparam-se com essa questão, com soluções para  abordar essa temática ambiental.

                        O Brasil não se preocupou em abordar com seriedade esse assunto, ou seja, a Educação Ambiental ainda não recebeu a atenção que merecia.

                        Nesse contexto, pode-se inferir que a Educação Ambiental não deve ser tratada como uma disciplina, mas  deve ser pensada de modo interdisciplinar como foi mostrado nos PCNs, envolvendo todas as áreas do conhecimento e ainda abrangendo todos os níveis escolares.

                        Salienta-se, ainda, que a Educação Ambiental não está relacionada apenas à natureza, mas também às relações sociais, políticas, econômicas e culturais da humanidade.

                        Por fim, embora no Brasil venham sendo tomadas medidas voltadas para a Educação Ambiental, sabe-se que há muito ainda para  fazer-se, e que não somente os governantes, mas também,  cada um de nós como educadores e cidadãos, que vivemos em sociedade  conscientizar-nos de que é preciso preservar a natureza e respeitar o próximo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. 2a ed. Brasília: Editora da UnB, 1992.

FRARE, José Luiz. A vida pede uma chance. In: Revista Nova Escola. (55) p.10-17, São Paulo: 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

GUATTARI, F., 1990. As Três Ecologias. Campinas: Papirus Editora.

MEC. A IMPLANTAÇAO DA EDUCAÇAO AMBIENTAL NO BRASIL,1998.Brasília, 137p.

IBAMA. Educação para um Futuro Sustentável - uma visão transdisciplinar para uma ação compartilhada. Brasília, IBAMA & UNESCO, 1999, 118p.

MEYER, M. A. A. Educação Ambiental: uma proposta pedagógica. IN: Em Aberto (49) p. 41 - 45, Jan./Mar. 1991.

TANNER, R. T. Educação Ambiental. Traducão SCHLESINGER, G. São Paulo: SUMUS E EDUSP, 1978.

Ilustrações: Silvana Santos