Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
16/12/2013 (Nº 46) ENTREVISTA COM DANIELA MACHADO DA LUZ PARA A 46ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO
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ENTREVISTA COM DANIELA MACHADO DA LUZ PARA A 46ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO

 

Por Bere Adams

Apresentação:  Tive a oportunidade de conhecer a nossa entrevistada Daniela Machado da Luz, futura administradora de empresas, que atualmente tem 17 anos, por uma rede social, a partir de um convite que recebi para curtir a página “Programa Mais Educação”, e começamos a trocar ideias. Fiquei impressionada com a sua postura diante da responsabilidade como educadora, com a riqueza das suas práticas e com o seu entusiasmo. Não demorou em me decidir que a convidaria para ser minha entrevistada, e ela aceitou. Daniela é de Campo Novo/RS, e agora vamos saber um pouco mais dessa jovem exemplar:

Bere Adams – Daniela, é um imenso prazer tê-la como entrevistada desta edição da Educação Ambiental em Ação. Para começar, fale um pouco sobre sua trajetória de vida.

Daniela – Olá Bere, o prazer é meu. Admiro seu trabalho e é uma honra ser entrevistada por alguém como você. Bom, nasci em maio de 1996, na cidade de Campo Novo, noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Estudei o Ensino Fundamental e Médio em escola pública. Minha família é de origem humilde e toda a vida meus pais e avós lutaram para conquistar tudo o que temos hoje. Moro no interior da cidade, em Povoado Turvo (mais conhecido como Vila Turvo). Até o final deste ano (2013) se Deus permitir eu e meu irmão vamos morar na cidade devido à necessidade ao acesso ao trabalho e estudo. Minha mãe tem 51 anos e é funcionária pública do estado há quase 24 anos. Em casa, ela cuida de meu avô e olha que isso eu estou observando muito, porque ela tem muita paciência com ele. É exemplo. Sempre vejo o que ela faz a ele e digo a mim mesma: “Um dia cuidarei de vocês também, mãe! É merecimento!”. Meu pai tem 42 anos e trabalha, há mais de 10 anos, em uma olaria em Sitio Bindé, também no interior da cidade e tenho um irmão de 21 anos. Meu avô materno mora conosco e tem 94 anos, ele ainda me surpreende com tanta memória e sabedoria.

Entrei para a escola com quatro anos, estudei por dois anos na pré-escola, porque a idade certa seria entrar com cinco. Logo que me formei no Ensino Fundamental, com treze anos, na metade do outro ano comecei a dar aulas de informática na mesma escola, ganhando R$ 60,00 mensais. Mesmo recebendo pouco, trabalhei sem reclamar e me dediquei a ensinar as crianças. Fiquei lá por três anos e atualmente trabalho na Escola Municipal de Ensino Fundamental Campo Novo, no Programa Mais Educação, em turno integral, onde dou aula de Língua Estrangeira – Inglês, Robótica Educacional, Informática, Dança, Teatro e comecei recentemente o Jornal Escolar, entre outras atividades. Dou aula para duas turmas por dia. O salário ainda é baixo, mas não me importo. Busco sempre aprender mais. Tudo é aprendizado e isso é algo que ninguém compra com dinheiro nenhum e nenhum ladrão rouba. Tudo é crescimento.

Bere Adams – O baixo salário é um dos tantos “nós” que existem em nosso sistema educacional, infelizmente, mas nessa hora, a vocação fala mais alto por uma postura ética e digna para com as crianças, que não têm culpa e nem consciência desta situação. Estar atuando com: Língua Estrangeira – Inglês, Robótica Educacional, Informática, Dança, Teatro, Jornal Escolar, e ainda outras atividades revela que você é uma pessoa bastante ativa e versátil, qual é a sua formação?

Daniela - Durante meus 14 anos fiz um curso sobre Gestão Empresarial, onde concluí um curso completo de secretariado. Aprendi a língua inglesa por influência de uma professora do 1º ano do Ensino Médio, que se tornou minha melhor amiga. Não sou totalmente fluente, pois, por aqui há poucos com quem posso conversar e trocar informações, e às vezes até me esqueço de algumas palavras. Mas, tudo o que sei sempre me dediquei e sempre digo que gosto de desafios, porque é isso que me move. Certa vez, no meu 1º ano do Ensino Médio, a minha professora de religião nos passou uma atividade onde tínhamos de citar três sonhos que realizaríamos no ano, então, todos falaram alto, cada um de sua classe, e na minha vez eu disse, referindo-me ao terceiro sonho: “Quero aprender inglês” e um colega meu, que eu nem conhecia, disse atrás de mim “Ahhh, duvido!” Então, eu me calei. No final do ano eu estava ensinando a música “Imagine” de John Lennon para esse mesmo colega e para a turma, para uma apresentação da escola toda.

Bere Adams – E o que mais te inspira, o que te move, e como tu te percebes, como pessoa que busca fazer a diferença?

Daniela - Comecei a ler muitos livros - cheguei a ler quase um livro a cada um dia e meio. Nunca gostei muito de ir a festas, baladas. Não sou nenhuma antissocial, nem alguém que se exibe pelo que sabe. Apenas falo que tenho alguns talentos - porque devemos um dia ser descobertos. Não me considero nenhuma gênia, nerd, filósofa ou garota super inteligente, como alguns de meus amigos falam. Tudo o que aprendi foi pela curiosidade. Tenho sede de conhecimento e de informação. Comecei a escrever um livro: “Quando pessoas boas entram em nossas vidas...”. E quando me declarei escritora, deu o maior comentário entre as pessoas. Hoje, ainda estou em cima do muro em relação à publicação, pois, escrevi não sobre a minha adolescência, amigos, relacionamento, fé e amadurecimento espiritual, mas sim, sobre estes assuntos como comentário e consciência de uma adolescente. Meus pais sempre me ensinaram os valores da vida e me deram a real educação que hoje vejo que alguns pais são falhos nessa missão. Sou evangélica e desde metade do ano faço parte do grupo de jovens da igreja que eu frequento.

Bere Adams – E qual foi a influência da sua trajetória educacional ao que você é hoje?

Daniela - Fui líder da minha turma do 3º ano do Ensino Médio, sempre assumi que fui chata e polêmica em questão de liderar a turma. Renunciei, no final do ano, mas sei que naquela escola a minha imagem ficou marcada para sempre. Criei amizades com diretores e professores que nunca vou esquecer. Alguém importante foi a minha professora de Português, que além de professora, foi uma incrível amiga fora e em sala de aula, que me incentivava a escrever. Até ganhei um concurso de redação municipal de Educação Fiscal e dei o meu troféu de 1º lugar pra ela guardar. Quando eu tiver 25 anos prometi a ela que iria buscar. Ela aceitou. Fiz com ela, também - e com o diretor da escola - o programa na rádio comunitária da cidade, quando toda a sexta-feira íamos falar sobre informações e prestações de contas da escola. Entrei para a faculdade com 16 anos e hoje, com 17, estou cursando Administração de Empresas na Faisa Faculdades, na cidade de Santo Augusto, porém, ainda trabalho no Programa Mais Educação.

Bere – O que, para ti, foi mais significativo em todo seu aprendizado?

Daniela - Sou grata a Deus por tudo, pelas pessoas que me cercam sendo elas boas ou más, porque aprendo com todas. A cada dia há 1 milhão de coisas novas para aprender. Nossa boa vontade, também, é o que pode nos mover. Agradeço a minha família por sempre me auxiliar e criticar em muitas das minhas ações. Meus pais são um verdadeiro presente de Deus e eu sou um verdadeiro presente de Deus para eles. Hoje sou o que sou porque eles me deram educação e exemplo. Tive muitas influências, mas eles estão em 1º lugar.

Toda e qualquer pessoa pode ser inteligente, e muitas vezes, merece este reconhecimento, pois, hoje, para mim, é raro quem estuda muito e demonstra que sabe algo e tem respeito pelos outros. Mas, não é considerado inteligente aquele que humilha as pessoas ao mostrar que sabe mais que todo mundo. Acho espetacular a frase de Socrátes “Só sei que nada sei.”.

Bere – E sobre o curso de Administração, qual é a sua expectativa?

Daniela - Sobre a Administração, acredito que, como futura administradora, devo mostrar que sou competente e que demonstro vontade e disponibilidade em trabalhar, mas não devo mostrar tudo o que sei. Gosto muito de surpreender. Sempre tenho algo novo escondido, e quando isso é mostrado ao público é incrível a sua reação. Acredito que tudo é uma questão de estratégia, de saber a hora de falar, de saber o momento certo, de tomar decisões. Hoje, tenho apenas 17 anos, mas no futuro, se Deus permitir, vou ser uma grande administradora de alguma empresa porque de minha vida acredito que já sou. Agradeço as escolas pelas oportunidades, pelas experiências. No interior, atualmente, a internet é mais acessível, a escola trabalha com o meio ambiente e tem acesso a muito mais informação e a comunidade toda cresce. Tenho orgulho de ser de Campo Novo e de ter vivido minha infância e parte da adolescência na Vila Turvo.

Bere – Fale-nos um pouco sobre o ofício de dar aulas, como você se sente, e dê-nos algum exemplo.

Daniela - Os alunos são incríveis e só quem dá aula sabe como um professor se sente ensinando todos os dias, tendo várias atividades a mais para fazer. É prazeroso ver o aluno aprendendo, a criança crescendo. Sempre pensei comigo que o Programa Mais Educação é aonde dou aulas motivacionais, como numa empresa. Não é à toa, pois, serei administradora. Preciso motivar meus alunos. Certa vez, estávamos em uma aula de dança com vinte e poucos alunos, e os meninos começaram a brigar e um dizer ao outro que era mais forte. Então, eu desliguei a música e eles se calaram. Eu disse: “Façam já a fila dos fortões aqui na minha frente. Vamos, quem se considera o mais forte, venha!” Então, apenas um menino e as meninas ficaram sentadas. Uns 8 meninos me acompanharam até a porta da sala aonde eu chamei o 1º da fila e disse: “Venha comigo até aqui fora!” e o levei até o pátio onde tinham dois pneus, um em cima do outro, pesados (eu que me considero “fortinha” fiz força para ergue-los). E todos na fila estavam entusiasmados pelo fato de se considerarem fortões e que mostrariam que eram. Então, pedi para que todos pegassem os pneus e os levassem até a sala de aula para que todos vissem o quanto de forças eles tinham. Os alunos tinham entre 7 e 11 anos. Pois, bem! Um por um, foram indo e iam me dizendo “Ah, professora, é muito pesado, não consigo!” Outro: “AHHHH! Que raiva! É muito pesado!”, e outro ainda: “Desisto disso daqui, é muito ruim!” E assim foi... E depois de todos entrarem na sala de aula, gostei do que um disse: “Confesso, não tive força para levantar os pneus! Pronto, falei!” De volta na sala, eu fiz a pergunta: “Quem é o mais forte aqui? Quem trouxe os pneus para a sala de aula?” E eles se calaram. Eu realmente dei uma lição neles porque hoje, as crianças estão aprendendo umas com as outras a humilhar o colega, ou seja, qualquer pessoa. Eu disse: “Nunca mostrem desnecessariamente a força que vocês realmente possuem, a não ser quando for preciso! Espero que vocês entendam que sempre teremos de lutar por nossos sonhos, e que sempre teremos algo para nos atrapalhar, mas lutem, nunca desistam, se façam de surdos quando alguém disser que vocês são incapazes de realizarem o que querem. E, o mais importante, vocês são uma turma, uma grande equipe. Repitam comigo: SE EU NÃO CONSEGUIR, EU VOU TENTAR DENOVO. SE EU TENTAR DE NOVO, VOU CONSEGUIR!” E depois de ter conversado muito com eles, eu liguei a música de novo e me surpreendi, porque veio até mim no meio da aula um menininho de 6 anos e uma menina de 11 os quais me trouxeram até a sala os pneus e me falaram “Ué, somos fortes professora, mas juntos! Não somos uma equipe?”. Quase parei a música de novo, mas eles estavam tão animados e concentrados que deixei, pois vi que aprenderam a lição, e até hoje me lembro disso com eles. Hoje, como professora, vejo que ainda há muitos “pneus” lá fora e tomam chuva, sol e até granizo, mas nunca alguém os retira desse tempo e os coloca na sala, que é o seu lugar. Os alunos são crianças que o professor deve motivar, para que seus sonhos não adormeçam. Acredito que, como futura administradora, já estou liderando não só uma, mas duas empresas: a da minha própria vida e a do meu trabalho. Não posso perder o foco, devo sempre me alimentar de informação e conhecimento para que eu não pare de pensar diferente. Legal a história dos pneus, não é? Aprendemos até com isso hoje em dia, mas as pessoas se sentem tão pressionadas com a questão da administração do tempo que não possuem tempo para admirar o que há ao seu redor, que é a natureza em primeiro lugar e os detalhes que nos proporcionam algo que muitos o têm como sonho, de tão difícil que acham que é de se encontrar: a nossa própria felicidade. E não há segredo para se encontrar essa felicidade, basta viver no mundo com o modelo do seu mundo, sendo você mesmo(a), sem se importar se os outros gostam ou não do seu estilo, da sua roupa, do seu sapato... Encontrar a felicidade é também, logo de manhã, no acordar, saudar até um cãozinho que encontrar na rua, dar um bom dia acompanhado de um sorriso para cada pessoa, mesmo não as conhecendo. Isso já é fazer o bem. É ser feliz!

Bere – São experiências simples, Daniela, mas que revelam grandeza e muita profundidade. Gostei muito da experiência dos pneus, ainda mais quando os dois pequenos foram, juntos, busca-los, isso daria para fazer uma boa história infantil. E do que mais você gosta de fazer?

Daniela - Amo fotografar e amo estudar a leitura da bíblia. Quero fazer cursos superiores, mais tarde e se possível, dos mesmos. Fotografo tudo o que Deus fez, seus detalhes que quase ninguém percebe. Sei que Ele me deu talento para isso. Estou, também, aprendendo a tocar violão, muitas vezes sozinha, mas também às vezes com ajuda de uma amigo. Sou canhota e tenho um tanto de dificuldade. Já pensei o quão difícil é ser canhoto, mas pensei “Estou aprendendo violão, a ponta dos meus dedos já estão ardendo de treinar, mas o bom e ótimo é que não prejudica a minha escrita.” Deus acerta tanto que surpreende agente!

Amo falar em público, mas em decorrência de minha experiência dando aula na Escola Municipal Campo Novo, durante um ano e alguns meses e fazendo faculdade comecei a sair pouco e ficando mais em casa, assim, me tornei um tanto introvertida. Mas, sou muito comunicativa. Gosto de conhecer pessoas novas, que me ensinem algo, mesmo elas não sabendo disso.

Quando tenho um projeto ou um trabalho para apresentar a alguém, eu primeiro busco a opinião de outra pessoa. Na maioria das vezes, mostro a meus alunos que me dizem “Legal, profe!” ou/e: “Nossa, profe, você fez certo pra mim...” E, até mesmo: “Ah, profe, não gostei disso, mude aqui, tente fazer um pouco diferente!”. Gosto de ouvir os outros, qualquer um, pois, aprendi que aprendo sempre com qualquer um. Isso é muito benéfico e por um lado maléfico porque algumas pessoas entendem como “Se exibir” ou “Só mostra porque sabe”, mas, eu realmente escolho a dedo a quem mostrar o que faço. Eu, a cada dia que acordo, me sinto a mil, com a cabeça cheia de ideias. Vou trabalhar e compartilho com a minha chefe e até mesmo com os alunos os quais dou aula.

Bere – Como você planeja as suas aulas?

Daniela - Minhas aulas, já que meu trabalho é em turno integral, planejo bem diferente. Quem planeja as aulas comigo são meus alunos, claro sempre tenh algo a passar para eles, mas, dialogamos juntos em quase toda a aula, cantamos, pintamos, e sempre, a cada dia há uma nova lição.

Bere – O que você acha da Educação Ambiental e como você trabalha com seus alunos, as questões ambientais?

Daniela – Ok, o tema Educação Ambiental é um tema muito discutido. Eu às vezes penso comigo, como pode haver “Educação Ambiental”? O meio ambiente é vida, não consigo acreditar que o homem precisa ser educado para saber respeita-lo e/ou dar-lhe o devido valor. Mas, cada um possui sua consciência e usa como quer ou até onde vai o seu limite.

A situação é que estamos em um mundo com um sistema tão acelerado, que o homem não tem tempo nem para si mesmo, nem para cuidar do essencial que é a natureza. Há pessoas que se perguntam: “Onde está a felicidade?” “O que é ser feliz?” e não se dão por conta que estão acomodados neste sistema que causa tanta dor de cabeça. E o tempo passa rápido, muito rápido que atropela qualquer um. Por isso, acredito que se deve tirar um tempo em cada dia para cuidar do meio ambiente, cuidar de si mesmo porque o resto é resto.

Em minhas aulas, trabalho com meus alunos o que é cada disciplina, porém, trabalho também o mais importante, a motivação da vida. O programa Mais Educação é minha segunda empresa. Digo a eles: “Plantem arvores e quando crescerem terão aonde estacionarem seus carros ou aonde tomarem um bom chimarrão”. Falamos rindo, mas é assim... O resultado não é rápido, mas, se ficarmos parados, esperar dia após dia, aí é que nada vai pra frente mesmo. O negócio é agir hoje, aproveitar o presente, esverdear este mundo onde as fumaças estão tomando conta.

Bere – Você vê relação entre Administração e meio ambiente? Se sim, quais; e se não, por quê?

Daniela – Sim. As pessoas que trabalham em empresas são as que mais “batem cabeça” no dia a dia. O profissional da Administração vive constantemente bombardeado pela exigência do consumidor, novas metas e objetivos a conquistar e sempre há novas estratégias a se planejar. Hoje, boa parte das empresas optam pelo serviço sustentável, que não prejudicam tanto o meio ambiente. Mas penso que sempre haverá uma guerra, porque a natureza precisa continuar vivendo e a exigência do mercado faz com que o foco da sustentabilidade saia da cabeça do administrador, mas, quase todos são conscientes de que a natureza deve estar em primeiro lugar. As pessoas vão deixando, deixando pra mais tarde... até que quando não verem mais o verde a sua volta vão se dar conta de que o ‘mais tarde’ se tornou tarde de mais e que nosso planeta implora por socorro. Catástrofes e tragédias naturais acontecem e triste é que quase ninguém sabem começou tudo isso.

Bere – O que é, para você, a sustentabilidade ambiental e se você fosse desafiada a trabalhar este conceito com seus alunos, qual seria o ponto de partida?

Daniela – Sustentabilidade é busca pela restauração completa da vida. É estar ao lado de alguém indefeso e sensível que luta pela sobrevivência. Sustentabilidade é conscientização. Meus parabéns a quem é consciente e a quem luta pela valorização do verde.

Trabalhar sobre meio ambiente aqui seria uma maravilha. A cidade é pequena, porém, cheia de árvores, nada como cidade grande com muito barulho. Os pequenos iriam amar. Teríamos tantas ideias, que é difícil pensar no ponto de partida, mas com certeza conscientizarmos a nós mesmos primeiro é fundamental, depois a cidade como palestras, trabalhos feitos pelas próprias crianças... e aí verificaríamos o feedback mais tarde. Aqui é um lugar perfeito para se trabalhar sobre vários temas, apenas precisamos investir. Só isso, saber investir!

Bere – Você diz que lê muito e procura manter-se sempre bem informada, o que é ótimo. Como passar isso para os alunos, principalmente em se tratando de Educação Ambiental?

Daniela – Nas aulas da tarde principalmente - não é sempre - começamos a aula vendo a previsão do tempo. Uma vez eu disse: “Gente, amanhã vai chover amanhã, manhã tarde e noite.” E um aluno me perguntou: “Mas, oh, professora e de dia?” A classe toda riu, mas, penso que a questão é fazer com que o professor, hoje, motive seu aluno e o transforme em uma pessoa que saiba o valor da vida e o valor do planeta. Como, mostrando o motivo de ainda estarmos vivos, o que uma árvore provoca no mundo e qual a importância de plantarmos várias delas. Como professora, devo agir mostrando o quanto antes o que é o “Meio Ambiente” para nós e qual sua função. Não importando quem meu aluno será no futuro, mas, com a consciência de que sempre precisará do meio ambiente.

Bere – O que é, para você, Educação Ambiental, e qual a sua importância na atualidade?

Daniela – Educação ambiental é conhecer, analisar e estudar o meio ambiente. Sua importância hoje é fundamental. As pessoas estão vivendo em um nível elevado e estão deixando de lado o que realmente importa. Mas, porque tudo isso? Porque produzindo, levantando indústrias sobre isso e aquilo gera lucro, dinheiro e o ser humano quase nem tem uma ‘quedinha’ por dinheiro. Mas, do que vale ter muito dinheiro e não ter um lugar saudável para se morar? Tudo tem seu lado benéfico e maléfico, por isso, se faz necessário separar cada coisa. Saber focar no essencial, o que nos faz bem.    

Bere - Deixe-nos, para reflexão, uma frase, um pensamento, ou uma mensagem:

Daniela – Ok. Ei você que lê esta entrevista agora, não pense que você não pode ser alguém talentoso. Não acredite que você não tem talento, faça-se de surdo quando isso acontece, porque se muita gente tem inveja é porque muita gente quer estar em seu lugar. Busque sempre inovar a sua primeira empresa: A sua própria vida.

Conheça o que a vida tem de melhor a oferecer, o que é gratuito. Conheça o que homem nenhum cobra que é a humildade, felicidade, amor, entre outros sentimentos que são únicos a qualquer um e transforme-os em ação para com as pessoas. Não complique tanto, deixe acontecer.

Cuide do lugar onde você mora, cuide do meio ambiente. Faça o que ninguém faz, seja a pessoa que você acha que o mundo precisa. Faça o bem a quem não te dá nada em troca. Seja feliz do seu jeito, mantenha o foco em seus objetivos e acredite que tudo é aprendizado. Nunca tenha vergonha de quem você é ou de onde você veio. Que Deus proteja nosso meio ambiente e a cada um que o preserva. Deus esteja conosco! E se você acha que não sabe nada, ore, que Deus te mostra o que você tem de melhor. Aposto que você verá que tem amigos, uma família e mais um monte de oportunidades para ser feliz novamente. Não desista! Forte abraço a todos!

Bere – Daniela, em nome da equipe da revista, eu te agradeço por esta gostosa entrevista, que traz, em suas respostas, uma experiência de vida tão clara com apenas 17 anos, onde a sensibilidade que salta aos olhos, e a força de vontade são destaque em suas ideias, lições, objetivos e ações, como pessoa e como educadora. Foi realmente um prazer poder te conhecer melhor e compartilhar com nossos leitores e nossas leitoras, Muito obrigada! Bere Adams e equipe da Educação Ambiental em Ação

 

Ilustrações: Silvana Santos