Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
10/09/2018 (Nº 45) ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO EM VISITAÇÃO A UMA TRILHA NA ÁREA DA ONG PANGEA NO PARQUE METROPOLITANO DE PITUAÇU, SALVADOR-BAHIA
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1630 
  

 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO EM VISITAÇÃO A UMA TRILHA NA ÁREA DA ONG PANGEA NO PARQUE METROPOLITANO DE PITUAÇU, SALVADOR-BAHIA

 

 

Autores: 1.Vanessa Ribeiro Matos (Bióloga, Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade, Especialista em Gerenciamento Ambiental, Mestre em Botânica, Doutoranda em Botânica na Universidade Estadual de Feira de Santana. email: vanessamatos18@yahoo.com.br). 

2.Luciene Oliva (Professora das series iniciais, Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade. email: lucieneoliva@hotmail.com).

 

Resumo: O presente estudo analisa a Percepção Ambiental de estudantes da rede pública de ensino durante visitação a uma Trilha Ecológica na área da ONG PANGEA. Foram acompanhados três grupos escolares distintos durante o trajeto da Trilha observando-o alguns pontos. Também foram aplicados dois Roteiros de Entrevista com alguns estudantes onde se procurou relacionar os conhecimentos prévios dos alunos com os possivelmente adquiridos através das atividades proposta no local de estudo. Os dados obtidos nessa pesquisa são preocupantes ao levar em conta que o referido estudo foi realizado numa cidade de abrangência da Mata Atlântica.

Palavras – chaves: Mata Atlântica- Percepção Ambiental-Trilhas Ecológicas

 

 

1.    Introdução

 

O período em que o planeta encontra-se é marcado por profundas transformações que desencadeiam desequilíbrios ambientais, afetando a qualidade das águas, do ar, alterando o clima mundial, sendo responsáveis pela redução dos habitats, consequentemente alterando a diversidade biológica e a qualidade de vida da população mundial (FURTADO & BRANCO, 2003).

A Mata Atlântica brasileira possui uma grande riqueza biológica, e foi apontada juntamente ao lado de outras 33 regiões do planeta como Hotspot, ou seja, uma área prioritária para conservação da biodiversidade em todo mundo (PINTO et al, 2006). Extremamente heterogênea em sua composição, a Mata Atlântica, que estende-se de 4° a 32° S do Brasil, cobre um amplo rol de zonas climáticas e formações vegetais e subtropicais (MANTOVANI, 2003). A exploração predatória fez com que hoje em dia restasse apenas 8% de sua extensão original (PINTO et al, 2006).

O uso da percepção sobre os elementos constituintes do meio ambiente, os quais não ficam restritos apenas aos aspectos biofísicos, mas também ás inter-relações e interdependência dos seres que estão inclusos num determinado espaço é uma importante estratégia na prática de Educação Ambiental (BARRETO et al, 2007). A percepção ambiental pode ser definida como sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que está inserido aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente ás ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são resultados das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamento e expectativas de cada pessoa (FERNANDES et al, 2004).

A Educação Ambiental atua como modelo de intervenção educativo para discutir questões ambientais de forma dinâmica, abordando aspectos ambientais e sociais, pois o homem constrói seu conhecimento através da interação com outras pessoas. A escola deve instigar os estudantes a buscar informações e intervir positivamente sobre os diversos aspectos presentes em seu cotidiano (BARRETO et al, 2007).

Frente a essas questões, o referido trabalho tem como principal objetivo analisar a percepção ambiental de estudantes da rede pública de ensino durante uma visitação a uma trilha existente na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu. Mas especificamente pretende-se: Aplicar formulários avaliativos aos estudantes durante chegada e após percorrem a trilha; Relacionar o conhecimento prévio do estudante sobre Mata Atlântica com o adquirido (ou não) após participarem das atividades promovidas pelo PANGEA; Contribuir para melhoria e aperfeiçoamento da trilha e das atividades realizadas pela equipe ambiental do PANGEA; Despertar nos estudantes o senso crítico e a percepção ambiental; Sensibiliza-los a contribuírem para a manutenção da conservação de áreas de Mata Atlântica.

 

2.    Material e métodos

 

2.1. Área de estudo

 

            O Parque Metropolitano de Pituaçu (PMP), localizado no município de Salvador compreendido entre as coordenadas geográficas 12°56’S e 38°24’N (ALVES et al, 2005), foi criado por meio do Decreto Estadual N° 23.666 de 04 de Setembro de 1973 possui atualmente 425 hectares apresentando expressiva área verde (SOUZA & MOTA, 2006).

            O parque é considerado uma Unidade de Conservação, sob o Decreto Municipal N° 5158, sendo uma das maiores unidade de conservação de Mata Atlântica dentro de área urbana na região Metropolitana de Salvador. Possui uma vegetação Ombrófila densa e formações vegetais de restinga (formando um ecótono. Apesar de ser um fragmento remanescente secundário de Mata Atlântica, em estágio de regeneração inicial, médio e avançado, sofre diversas ações antrópicas, como por exemplo, atividades de pesca clandestina, lançamento de esgotos na lagoa, destruição da mata ciliar, trafego intenso de moradores e introdução de animais silvestres (ALVES et al, 2005).

            Na área do referido parque está instalada a ONG PANGEA. O PANGEA – Centro de Estudos Socioambientais é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público, de utilidade pública municipal e estadual, criada em 1996 por profissionais de diversas áreas preocupados em desenvolver ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e justiça social. A instituição possui uma extensa trajetória na execução de projetos no âmbito da cooperação internacional (União Européia, Ministério das Relações Exteriores da Itália, Região Lombardia - Itália) executando programas de caráter sócio-ambiental no Brasil. A missão do PANGEA é contribuir para a construção de uma sociedade sustentável, identificando, propondo e implementando soluções integradas para problemas sociais, econômicos e ambientais.

            O Centro de Educação Ambiental e Protagonismo Juvenil é um espaço de discussão e análise das diferentes abordagens pedagógicas do fazer educacional, diretamente ligadas ao tema do meio ambiente. Dessa forma, são identificados os elementos favoráveis ou desfavoráveis que fundamentam a inserção da dimensão ambiental nos currículos escolares. O CEAP-PANGEA é o primeiro centro de educação ambiental de Salvador. Um espaço multimídia, com 40.000 m², situado no Parque Metropolitano de Pituaçu. Onde estudantes, professores e profissionais da área ambiental têm à disposição uma das maiores reservas de Mata Atlântica da cidade. Uma oportunidade para aprofundar conhecimentos relacionados à educação ambiental e estar bem perto dos temas que, quase sempre, só se tem acesso através de livros e vídeos.

            As atividades no CEAP-PANGEA estão voltadas para estimular a mobilização da comunidade em torno dos temas socioambientais, a pesquisa ecológica e a troca de informações. O espaço e os equipamentos encontram-se disponíveis para cursos e oficinas: Auditório para apresentação de vídeos, palestras e seminários; Laboratório de energia alternativa; Trilhas ecológicas – os passeios ecológicos são coordenados por um guia - orientador (ambientalista, biólogo ou ecólogo) que dá explicações sobre a vegetação no parque e os animais da região; Biblioteca; Sala de informática (com computadores interligados aos principais centros de educação ambiental do mundo).

            A trilha interpretativa da Mata Atlântica é composta por dois roteiros, sendo o primeiro a Trilha da Lagoa com 344 m de extensão e o segundo a Trilha da Mata com 671m de extensão, totalizando mais de 1km de trilha dentro da área urbana de Salvador, com dois mirantes de observação da flora e da fauna.

 

2.2. Procedimentos metodológicos

 

            Essa etapa da pesquisa foi dividida em duas partes: Observação e Entrevistas.

 

2.2.1 Observação

 

            Durante a execução da trilha acompanharemos os alunos e os seguintes pontos serão observados:

  • Se eles perguntaram algo ao guia ou a professora durante a trilha.
  • Se algo durante a trilha despertou interesse em algum aluno ou no grupo.
  • O que o guia ambiental falou durante o percurso da trilha.
  • Se os alunos tocam em alguma coisa: planta, animal ou solo.

As escolas eram divididas em 3 grupos onde cada pesquisadora acompanhou um grupo, os quais eram acompanhados pelo guia do PANGEA, fazendo anotações durante o trajeto da Trilha.

 

2.2.2 Entrevista

 

            Como instrumento avaliativo foi elaborado dois roteiros de entrevistas, os quais foram aplicados aos estudantes de escolas públicas de Salvador.

            O Roteiro de Entrevista 1 foi aplicado antes dos estudantes terem qualquer contato com as informações dadas no local. Dessa forma pode-se observar o conhecimento prévio dos mesmos. Nesse roteiro procurou-se saber qual a noção dos estudantes sobre a Mata Atlântica.

            O Roteiro de Entrevista 2 foi aplicado após terem assistido um vídeo informativo e percorrido a trilha local. Nessa etapa procurou-se observar se os estudantes conseguiram captar algum conhecimento sobre Mata Atlântica..

            As visitas realizadas para execução dessa pesquisa aconteceram em três dias distintos, no dia 25 de Setembro de 2008, no dia 29 de Setembro de 2008 e no dia 09 de Outubro de 2008, no período da manhã. Todas as três escolas escolhidas eram estaduais e da cidade de Salvador e os estudantes eram do ensino médio. Os estudantes para responderem aos instrumentos avaliativos foram escolhidos aleatoriamente. Para isso os pesquisadores explicaram sobre a pesquisa e perguntou-se quem gostaria de participar da mesma. O nome das respectivas escolas e dos estudantes foram mantido em sigilo por questões éticas. Por isso chamaremos as respectivas escolas de: Escola A, Escola B e Escola C. Os nomes dos estudantes avaliados não foram citados na pesquisa.

 

3.    Resultados e Discussão

 

3.1  A trilha do Pangea

 

A Trilha analisada nessa pesquisa possui uma área de Mata Atlântica secundária onde pudemos notar espécies animais e vegetais desse bioma. É uma área relativamente conservada se comparada com o restante das áreas do Parque de Pituaçu, mas mesmo assim notou-se no decorrer da trilha, que há um desgaste e degradação na área.

            Há placas sinalizadoras em algumas espécies vegetais onde se pode notar um pequeno texto explicando a origem e o nome das respectivas espécies. A equipe ambiental do PANGEA antes de percorrer a trilha com os estudantes exibiu um vídeo explicativo sobre a formação de Florestas (O Vídeo Globo Ciência-Floresta 1 que faz parte da coleção Maleta do Meio Ambiente do canal Futura) o qual desperta no estudante a curiosidade em relação a área que visitarão a seguir. Eles também possuem outros vídeos educativos (Um do programa do Canal Futura Meu pé de que? E outro que fala sobre Aquecimento Global), dependendo do tempo que cada escola pode permanece na ONG, pois algumas têm que retornar ás 11 horas, os guias passam esses vídeos e depois ainda fazem uma dinâmica utilizando algumas palavras promovendo uma atividade lúdica.

            Os três guias estão devidamente habilitados a fazerem esse tipo de atividade. Dois são estudantes de Biologia e o outro é Técnico em Meio Ambiente. Segundo a coordenadora o PANGEA recebe 4 escolas por semana. Além disso, a mesma nos informou que de 15 em 15 dias há uma manutenção na trilha para retirar possíveis sujeiras e reparar algum dano.

 

3.2 Analise das observações feita durante a trilha

 

            A Trilha é um ambiente propício a Educação Ambiental, em que o conhecimento se torna uma experiência de vida. Em cada toque e observação o estudante amplia seu aprendizado, compreendendo melhor o mundo em que vive (BEDIN, 2004).

            Durante o decorrer das Trilhas observou-se que os referidos guias já possuem um roteiro específico. As espécies vegetais citadas são sempre as mesmas, com as mesmas observações. São poucas as espécies animais mostradas pelos mesmos, contudo percebemos que a Trilha é pobre em animais, por se tratar de uma área em recuperação e por ainda estar constantemente degradada pela população local. Mas, foi notado pela Trilha a presença de aranhas, formigas, pássaros, mas os guias não se apegavam a eles, os mesmos eram avistados pelos próprios estudantes.

             De acordo com Silva (1996): “A Trilha é a maneira mais adequada para que cada visitante conheça e aprenda a respeito de ambientes específicos, dos ciclos naturais, do solo, e das condições climáticas, assim como das plantas e animais que ai se encontram”.

            Como observado na pesquisa, os guias do PANGEA deveriam seguir a orientação dita por Silva (1996), tentando englobar no seu roteiro explicações sobre clima, solo e animais locais e não somente ficar restrito as espécies vegetais.

A Trilha do PANGEA é bem sinalizada. Onde nota-se curiosidade sobre algumas espécies vegetais, como em relação a Biriba, de onde se extrai a madeira para produzir o Berimbau, instrumento usado no ritual da Capoeira, uma expressão cultural brasileira. Mas, há erros também nessas placas os quais deveriam ser devidamente e urgentemente consertados, como em relação à placa da origem do Dendezeiro.  De acordo com o texto explicativo, escrito na placa, essa espécie seria nativa oriunda da África. Mas, se uma espécie é nativa está explícito que a planta nasceu naquele lugar, ou seja, se fosse o caso o Dendezeiro teria sido originado do Brasil e não da África. Não sabe se houve erro na escrita ou se o biólogo que descreveu a espécie realmente se confundiu, pois o Dendezeiro é uma planta oriunda da Costa Ocidental da África. 

            Notou-se que todos os guias se preocupam com a conservação e manutenção do local. Antes de todas as Trilhas falaram sobre não jogar lixo, sobre não arrancar nenhuma planta e nem tocar em nenhum dos animais que poderiam aparecer. Quando uma área é legalmente estabelecida como de proteção, devem-se criar instrumentos para manejar corretamente esse local para que a diversidade biológica da área seja mantida (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Por isso é importante que os guias do PANGEA sempre reforcem os estudantes sobre manter a Trilha limpa e sobre os cuidados com as espécies animais e vegetais do local, mantendo assim a área em estado de boa conservação para que outros estudantes e visitantes possam conhecer.

            Um ponto importante na didática do PANGEA foi a exibição do vídeo, antes dos estudantes percorrem a Trilha, assim eles tiveram acesso a algumas informações as quais despertaram neles a curiosidade de observar atentamente o local que visitarão. Durante o trajeto alguns estudantes questionavam os guias a cerca de questões observadas no vídeo como, por exemplo, em relação à idade das árvores onde uma aluna explicou que de acordo com o vídeo era estabelecida através dos anéis no tronco da árvore.  Outro ponto interessante foi a discussão final da Trilha ao lado da Lagoa de Pituaçu, onde os guias resumiram brevemente a importância de conservar o ambiente em que vivemos e de áreas como essa que acabaram de visitar, dando como exemplo negativo a Lagoa altamente poluída quase sem vida, e de como eles poderiam modificar esse quadro quando adquirirem uma consciência ambiental.

            A Educação Ambiental e Biológica são instrumentos significativos na tomada da consciência ambiental, onde promove reflexões sobre a relação homem e meio ambiente. A Interpretação Ambiental busca informar e sensibilizar as pessoas para compreender as problemáticas relacionadas ao ambiente em que vivemos pretendendo que dessa forma promovam hábitos sustentáveis de uso dos recursos naturais (BEDIM, 2004).

            Das escolas analisadas na pesquisa há uma enorme diferença entre os estudantes que estão matriculados em escolas as quais deveriam fazer uso de uma mesma grande curricular.  A Educação Ambiental deve fazer parte do dia a dia do estudante promovendo um aprendizado ecologicamente correto modificando suas atitudes negativas contribuindo para melhoria do meio ambiente em que vivem. Mas, nota-se que os estudantes não têm acesso às informações a respeito do ambiente em que vivem. Muitos não estão nem ai para os problemas, levaram a atividade de visitação da Trilha como um brincadeira qualquer, mas alguns estão interessados. Faltam mecanismos para que eles possam encarar esse desafio. Uma das escolas, a Escola B, por intermédio e interesse de um grupo de professores montou uma equipe ambiental na escola, e podemos observar que os alunos que integram esse projeto adquiriram uma consciência ambiental que os diferem dos demais estudantes das outras escolas publicas. É evidente a importância de se educar os futuros cidadãos brasileiros para que, como empreendedores, venham a agir de modo responsável e com sustentabilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro (MEC, 2000).

 

3.4 Analise dos roteiros de entrevistas

Durante a pesquisa realizada com três escolas públicas de Salvador, que frequentaram a Trilha Ecológica da área o PANGEA, foi entrevistado 30 estudantes do ensino médio, sendo tanto do sexo masculino como feminino. Na Escola A havia o mesmo número de alunos do sexo masculino e do sexo feminino, sendo 5 de cada gênero. Na Escola B, entrevistamos 8 alunas e 2 alunos, enquanto que na Escola C, 6 alunas e 4 alunos. Podemos notar que o gênero feminino predominou na pesquisa.

Esses estudantes entrevistados eram de diferentes faixas etárias. A faixa etária que predominou na pesquisa foi a de 18 anos, que está no intervalo de idade comum para alunos do ensino médio, onde tivemos 10 alunos com essa idade. Tivemos um representante com 27 anos e dois com 15 anos. Notamos que há uma diferença de idade entre estudantes que frequentam a mesma série. Sendo, a maioria dos estudantes com idade superior a série em quer estudam.

Em Salvador, são poucas as áreas onde se observa a Mata Atlântica. Á área da Paralela onde essa pesquisa foi realizada, ainda se pode desfrutar de pequenos fragmentos dessa mata. Um dos objetivos nesse trabalho era saber se os estudantes conseguiam reconhecer o bioma Mata Atlântica. Como pode ser observado na Figura 1 abaixo:

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 1. Repostas em relação à fisionomia da Mata Atlântica dadas pelos estudantes que participaram da pesquisa realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

            Relacionaram-se duas questões dos Roteiros de Entrevista. Para notar se mesmo depois de visitarem uma área de Mata Atlântica e de tudo que foi dito pelos Guias do PANGEA, se os alunos conseguiam reconhecer esse bioma. Antes da trilha a maioria dos alunos (22 estudantes) informou que a Mata Atlântica seria a Figura A, alternativa correta, mas tiveram alunos que confundiram dando como resposta Savana (1 estudante), Figura B, Pantanal (3 estudantes), Figura C, Floresta Temperada (3 estudantes), Letra E, e  Cerrado (1 estudante), Letra F.  A Escola C foi a que mais acertou essa questão. Os 10 estudantes informaram a sentença correta.

Quando os alunos retornaram da Trilha novamente foi perguntado qual das figuras eles reconheciam como a Mata Atlântica. Apenas 14 estudantes informaram a letra correta, já 10 alunos informaram que seria a Letra E, ou seja, a fisionomia seria a da Floresta Temperada. Pela Figura que representa essa fisionomia ter destacado as Briófitas, e pelos Guias terem enfatizado esse organismo durante a Trilha, esse pode ter sido o motivo do aumento das respostas dessa alternativa. Houve um aumento também na alternativa E, a fisionomia do Cerrado, onde 5 estudantes consideraram essa alternativa como correta, pela área visitada estar em estado de recuperação, e pela vegetação estar seca, sendo assim esses fatos podem ter influenciado essa resposta.

            É inaceitável que pessoas que moram numa cidade rodeada por essa fisionomia vegetal não consigam reconhecê-la. Além disso, a Mata Atlântica deveria estar presente no currículo das escolas. E uma das perguntas do Roteiro de Entrevista (1) era a respeito deles terem estudado esse assunto na escola. Dos 30 entrevistados apenas 6 alunos informaram que não haviam visto esse assunto em sala de aula, enquanto que 24 informaram positivamente. Então isso não seria motivo para eles não conhecerem o tema

Outra questão abordada foi a respeito deles já terem frequentado áreas de Mata Atlântica. A maioria dos entrevistados, 17 alunos, informaram nunca terem ido anteriormente numa área de Mata Atlântica, enquanto 13 alunos responderam positivamente. Ressaltando que todos moram em Salvador, uma região rodeada por esse bioma.

Além disso, foi abordado em outra questão se esses estudantes moravam em áreas próximas a Mata Atlântica. Dos 30 estudantes que responderam aos Roteiros, 19 alunos informaram que não moram próximos a áreas de Mata Atlântica enquanto que 11 responderam positivamente. Como já foi dito anteriormente, a cidade de Salvador, é uma região sobre influencia desse bioma, sendo assim, as pessoas que vivem nessa cidade vivem em área de Mata Atlântica. Contudo, ficou claro nessas respostas que a maioria dos entrevistados desconhece esse fato.

            Alguns dos entrevistados afirmaram terem visto o assunto Mata Atlântica em sala de aula, outros disseram que vivem em áreas próximas a Mata Atlântica, enquanto que alguns informaram que já visitaram locais com Mata Atlântica. Então isso indicaria que esses alunos conseguiram localizar as áreas de abrangência desse bioma no Brasil, mas de acordo com a Figura 2 a maioria dos alunos, (51%), acha que a Mata Atlântica estaria na Amazonas, ou seja, no Norte do país, confundido esse bioma com o bioma Amazônico, que é uma fisionomia vegetal totalmente diferente. 25 % dos entrevistados informaram corretamente a sentença, levantando em consideração mais de uma região do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 2. Localização da Mata Atlântica segundo os estudantes que participaram da pesquisa realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

Outro ponto importante da pesquisa era saber se os estudantes conseguiam reconhecer algumas espécies vegetais típicas da Mata Atlântica. Vale ressaltar que essa pergunta foi feita antes deles percorrem a Trilha. Na Figura 3 abaixo pode ser observado às respostas dos estudantes.


Figura 3: Espécies vegetais citadas como nativas do bioma atlântico pelos estudantes antes de participarem da trilha realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

O Pau-Brasil é a planta que originou o nome do Brasil. Foi bastante comercializada pelos colonizadores e hoje em dia se encontra em risco de extinção. É uma espécie nativa da Mata Atlântica, ou seja, não se encontra em outra região do país ou fora daqui. Dos entrevistados 32% conseguiram reconhecer essa espécie como de áreas do bioma Atlântico. O Cajueiro é outra espécie nativa de Mata Atlântica, mas apenas 24 % dos estudantes informaram que essa planta existe nessa área. O Pinheiro é uma espécie vegetal típica do hemisfério norte, não é uma espécie nativa da Mata Atlântica, mas 19% dos entrevistados afirmaram que sim. O Eucalipto é uma espécie nativa da Oceania, mas 25% dos estudantes afirmarem se tratar de uma espécie nativa da Mata Atlântica. Ambas as espécies têm um alto valor comercial por isso, houve a introdução delas no Brasil, e hoje em dia existem exemplares em áreas de Mata Atlântica, porém é importante ressalta que se trata de espécies introduzidas.

            Também procurou saber se os alunos conseguiam reconhecer espécies animais típicas da Mata Atlântica. Vale ressaltar que essa pergunta também foi feita antes deles percorrem a Trilha. Na Figura 4 abaixo podemos observar as respostas dos estudantes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 4. Espécies animais citadas como nativas do bioma atlântico pelos estudantes antes de participarem da trilha realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

Várias espécies vivem no bioma Atlântico estando algumas delas em perigo de extinção como o Mico-Leão-Dourado e a Arara Azul. E atualmente há projetos que visam proteger essas espécies.  Dos estudantes entrevistados 18% reconheceram o Macaco e a Aranha com animais da Mata Atlântica, já 19% afirmaram que as Formigas são animais encontrados no bioma Atlântico, enquanto que 21% apontaram os Pássaros como animais de áreas de Mata Atlântica. O Leão e a Zebra são animais típicos da savana africana. Não existem livres em outras fisionomias vegetais, apenas pode ser encontrados em outras regiões presos nos Zoológicos. Contudo, 3 % dos estudantes afirmaram que esses animais ocorrem em áreas de Mata Atlântica. Já 17% afirmaram que existem fungos em áreas de Mata Atlântica, o que está correto, mas a pergunta era quais desses animais encontrariam na Mata Atlântica, Fungo não é um animal. Os fungos são um vasto grupo de organismos classificados em um reino denominado Fungi, o que os diferencia totalmente dos animais. Essa alternativa foi colada de propósito para saber se os alunos conseguiam notar esse erro, o que foi notado por uma pequena maioria. Era de se esperar que um número maior de alunos notasse o erro, mas a maioria não optou pela alternativa não por saber que fungo não é um animal, mas por achar que não há fungos na Mata Atlântica.

Após os estudantes percorrem a Trilha procurou-se abordar no Roteiro de Entrevista (2) se os mesmos conseguiram absorver ou aprender um pouco do que foi explicado pelos Guias durante o trajeto. Na Figura 5 abaixo pode ser observado às respostas sobre as espécies vegetais observadas na trilha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 5. Espécies vegetais observadas durante a trilha e lembradas pelos estudantes que participaram da pesquisa realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

 

Os estudantes conseguiram lembrar várias espécies citadas pelos Guias.  Sendo que o Cajueiro, 18%, o Dendezeiro, 15% e o Licuri, 13%, foram às plantas mais lembradas pelos alunos. Já a Samambaia e a Espada de São Jorge, 1%, foram às plantas menos citadas por eles na entrevista. Outro ponto foi saber se conseguiam lembrar as espécies animais observadas durante a Trilha. Na Figura 6 abaixo segue as respostas a essa pergunta.

 

 


 

Figura 6. Espécies animais observadas durante a trilha e lembradas pelos estudantes que participaram da pesquisa realizada na área da ONG PANGEA no Parque Metropolitano de Pituaçu Município de Salvador-Bahia em Setembro/Outubro de 2008.

 

Por fim, procurou-se saber se os alunos acharam que a área visitada estava em boa estado de conservação. Dos 30 entrevistados, 19 informaram que não acham que a área estava conservada, pois foram observadas algumas árvores caídas, trilhas abertas pela população, e algumas sujeiras. 11 alunos informaram que mesmo com esses problemas a área está conservada, já que conseguiram observar várias espécies vegetais e animais. O ponto em comum de todos os entrevistados foi em relação a terem apreciado a Trilha e a experiência. Alguns nos informaram terem a partir dessa vivencia uma nova visão em relação aos problemas ambientais e de como simples gestos podem contribuir para manter áreas como essa da ONG PANGEA.

            A Educação e a Percepção Ambiental fornecem ferramentas que ajudam a reaproximar o homem da natureza, garantido um futuro com mais qualidade de vida para todos, despertando uma maior responsabilidade dos indivíduos em relação ao ambiente em que vivem (FERNANDES et al, 2004).

 

4.    CONSIDERAÇÕES FINAIS

            O Meio Ambiente vem sofrendo interferência do homem há algum tempo, mas ultimamente a sociedade vem se preocupando com os danos causados ao ecossistema. As áreas verdes que ainda restam no país são protegidas e nelas são criadas organizações as quais visam à conservação e manutenção dessas áreas. E a maneira mais eficaz é através da divulgação das idéias sustentáveis pela Educação Ambiental.

            Os jovens são os principais públicos alvos da Educação Ambiental. Através dos seus ensinamentos espera-se que eles adquiram uma percepção ambiental e busquem ferramentas para manter e divulgar a conservação do Meio Ambiente.

            A escola é o local onde os jovens deveriam aprendem. Mas, ultimamente devido aos problemas do sistema educacional brasileiro, os alunos estão terminando o ensino médio sem ter uma noção dos problemas que os cercam. Percebemos através dessa pesquisa que os estudantes não conseguem reconhecer o mundo a sua volta, e não estão cientes dos problemas que afetam o ambiente em que vivem. Não conseguiram entender que a Mata Atlântica que tanto falamos durante as entrevista e pela Trilha Ecológica esta presente no seu dia-a-dia. Afinal, a cidade onde moram é rodeada por esse bioma, mesmo estando bastante isolado.

            Deveriam ser criadas mais locais na cidade onde estudantes e cidadãos pudessem ter um contato maior com a natureza e principalmente com as práticas sustentáveis. Criando assim um vinculo homem-natureza, podendo dessa forma passar os conhecimentos adquiridos adiante, para quem sabe num futuro temos cidadãos mais consciente que vivam em favor da conservação do ambiente.      

 

 5.        REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

 

            ALVES, A.O et al. 2005. Estudo das Comunidades de Aranhas (ARACHNIDA: ARANEAE) em Ambiente de Mata Atlântica no Parque Metropolitano de Pituaçu- PMP, Salvador, Bahia. Revista Biota Neotropica V5 (n1a). Salvador, Bahia.

            BARRETO, L.H et al. 2007.  A idéia de estudantes de ensino fundamental sobre plantas. Revista Brasileira de Biociência v.5 jul., p.711-713. Porto Alegre, RS.

            BEDIM, B P. 2004. Trilhas Interpretativas como instrumento didático à Educação Biológica e Ambiental: Reflexões. In: BIOED 2004 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON BIOLOGY EDUCATION, SUSTAINABLE DEVELOPMENT, ETHICS AND CITIZENSHIP. Rio de Janeiro,RJ.           

            FERNANDES, R.S et al. 2004. Uso da Percepção Ambiental como Instrumento de Gestão em Aplicações ligadas ás Áreas Educacional, Social e Ambiental. Revista Preservação: O Meio Ambiente no Espírito Santo. Ano I, n° 2. Vitória, ES.

            FURTADO, M.H.B. C; BRANCO, J.O. 2003. A Percepção dos Visitantes dos Zoológicos de Santa Catarina Sobre a Temática Ambiental. In: II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental, 2003, Itajaí. Anais... Itajaí: UNIVALI-SC.

            MEC. 2000. Secretária de Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente. Brasília, DF.

             MONTAVANI, W. 2003.  A degradação dos biomas brasileiros. In: W.C. Ribeiro (ed). Patrimônio ambiental brasileiro, p.367-439. Universal. São Paulo, SP.

            NAGATA, E. 2006. A Importância da Educação Ambiental como Ferramenta Adicional a Programas de Conservação. In: Biologia da Conservação: Essências, p.563-581. Rima. São Paulo, SP.

            NETO, E..M ; MANTOVANI, W. 2003 Estudo das relações entre fragmentos, corte seletivo e estrutura de comunidades arbustivo-arbóreas em remanescentes florestais da região de Una, Bahia, Brasil. In: Congresso da Sociedade de Ecologia do Brasil, Fortaleza. Anais do Congresso da Sociedade de Ecologia do Brasil. Fortaleza : Editora da Universidade Federal do Ceará, 2003. p. 223-225.

            PINTO, L.P et al. 2006. Mata Atlântica Brasileira: Os Desafios para Conservação da Biodiversidade de um Hotspot Mundial. In: Biologia da Conservação: Essências, p.91-112. Rima. São Paulo, SP.

            SILVA, L.L. 1996. Ecologia: manejo de áreassilvestres. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria,176p.

SOUZA, G.B; MOTA, J.A. 2006. Valoração econômica de áreas de recreação: o caso do Parque Metropolitano de Pituaçu, Salvador, BA. Revista Economia, v32 n.1 (ano 30), p 37-55, jan/jun. UFPR. Salvador, Bahia.

            http://www.pangea.org.br, acessado em 18 de Agosto de 2008.

 

Ilustrações: Silvana Santos