Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL COMO NECESSIDADE COMPETITIVA: UM ESTUDO DE MULTICASOS EM EMPRESAS DE SERVIÇOS
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL COMO NECESSIDADE COMPETITIVA: UM ESTUDO DE MULTICASOS EM EMPRESAS DE SERVIÇOS

 

Autores: 1.Yasmin Gomes Casagranda

(Administradora e Mestranda em Administração pela UFMS. Bolsista da CAPES. E-mail: yasmin_casagranda@yahoo.com.br).

2. Leonardo Francisco Figueiredo Neto

(Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Doutor em Engenharia da Produção pela USP. E-mail: lffneto@gmail.com).

3. Alvaro Costa Jardim Neto

(Administrador e Mestrando em Administração pela UFMS. Bolsista da CAPES. E-mail: alvarocosta_adm@hotmail.com).

4. Valdecir Cahoni Rodrigues

(Professor da Universidade do Oeste Paulista. Mestrando em Administração pela UNIP. E-mail: prof.cahoni@hotmail.com).

 

 

 

Resumo:

 

A sustentabilidade é cada dia mais evidente dentro da sociedade, sendo de grande importância para nós e para as próximas gerações. Projetos vêm sendo colocados em prática e alternativas são buscadas e nesse contexto surgem as estratégias ambientais empresariais como uma nova ótica. A pesquisa realizada teve enfoque em como essas ações estão sendo colocadas em prática por empresas de serviços. Para tanto, foram utilizadas pesquisas bibliográficas, documentais e entrevistas com responsáveis de três empresas do setor de serviços que atuam dentro do território brasileiro. As entrevistas foram realizadas de forma direta com gestores responsáveis pelas práticas sustentáveis dentro de cada uma das empresas. Resultados mostraram que apesar de terem ações sustentáveis amplamente divulgadas, não são todas as empresas estudadas que incorporaram isso aos seus objetivos principais divulgados, tais como sua missão, visão e valores.

                                    

Palavras-chave: Estratégia. Empresa. Serviço. Responsabilidade. Meio ambiente.

 

1. Introdução

 

O meio ambiente constitui objeto de muitas discussões quando se refere à sua preservação. Dentre elas, há o desafio de crescer economicamente e frear sua destruição de forma sustentável no longo prazo. Seiffert (2009) destaca que o novo contexto tem implicado uma mudança do paradigma social, onde antes a preocupação ambiental era considerada como “modismo”, agora se tornou uma necessidade de sobrevivência.

Na concepção de Lutzenberger (1990), vivemos em uma sociedade do consumo que favorece uma minoria em detrimento de uma maioria, ou seja, as classes dominantes nos países desenvolvidos e nos países subdesenvolvidos concentram os privilégios e as vantagens para si, deixando nas mãos dos que não têm posses os inconvenientes dos custos ambientais e sociais.

Mesmo medidas tomadas pelas autoridade, Araujo (1979) afirma que a ocorrência de fontes díspares de poluição ambiental, desde deficiências na coleta do lixo à existência de usinas atômicas, torna mais notável questão das interdependências das políticas ambientais e o problema com sua coordenação.

Assim, observando as mudanças climáticas, problemas ambientais e o papel que as empresas vem contribuindo para o aumento destes fatores, o presente artigo busca em seu objetivo apresentar o contexto da Sustentabilidade e contextualizá-la com a realidade empresarial atual.

 

2. Impactos Ambientais e Sustentabilidade

 

De acordo com as observações de global elevação do ar e da temperatura dos oceanos, gelo e neve derretendo em grande escala e o aumento no nível dos oceanos, o aquecimento global não é um equívoco, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).

O IPCC é desenvolvido pela Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas (PNUMA) para o Meio Ambiente em 1988 com o objetivo de fornecer informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para facilitar o entendimento das mudanças climáticas.

No ano de 2007 foi divulgado em Paris, na França, o Relatório de Novos Cenários Climáticos, aprovado pelo IPCC e pela ONU sobre as mudanças climáticas e divulgado na Conferência Latino-Americana sobre o Meio Ambiente e Responsabilidade Social, descrevendo processos de entendimento do aquecimento global e das mudanças climáticas de forma a mostrar os fatores humanos e naturais para as devidas modificações no planeta.

Margulis (1996) define impacto ambiental como a alteração na saúde e no bem-estar do homem, podendo ser positiva ou negativa, incluindo o bem-estar dos ecossistemas de que depende a sua sobrevivência.  O autor cita, ainda, que essa alteração resulta de um efeito ambiental quando o mesmo está relacionado à diferença entre a qualidade do meio ambiente com ou sem a mesma ação.

O bem-estar da humanidade começou a ser discutido pelos países ao redor do mundo no final da década de 70 quando o assunto ganhou destaque em debates e foi realizada a 1ª Conferência Mundial sobre o Clima, ocorrida em Toronto, no Canadá em 1988. Foi nesse encontro com a ONU cria o IPCC. Universidades, empresas de consultorias e projetos, institutos de pesquisa, órgãos públicos e organismos internacionais se envolveram nesse desafio, diz Macedo (1995).

Uma década mais tarde, as conseqüências da desestabilização climática tornaram-se nítida e cientificamente percebidas ao redor do globo, trazendo a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) que, até os dias atuais, fornece bases científicas da área para os tratados internacionais. O primeiro relatório do IPCC foi concluído na década de 90, possibilitando que um tratado internacional fosse negociado mediante a criação de um Comitê Intergovernamental de Negociações que tinha ordens para elaborar A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), tratado criado em 1992 e que entrou em vigor em 1994 com 192 países signatários com o objetivo de manter negociações de conotação ambiental..

Após a Conferência surge o Protocolo de Quioto, que se tornou a principal referência de ação ambiental a nível mundial com mecanismos de flexibilização, Regulamentações do Protocolo de Quioto com o objetivo de facilitar os países desenvolvidos a atingirem suas metas de redução de emissões. São eles: Comércio Internacional de Emissões, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e Implementação Conjunta.

Os países desenvolvidos que aderiram ao tratado tem a meta de redução de 5,2%, em média, com relação ao que emitiam em 1990 de gases poluentes e tem prazo entre 2008 e 2012 para cumprir com essa meta.

Já os países em desenvolvimento não têm que seguir uma meta e sim ajudar na redução dessas emissões, através de projetos registrados que comercializam Certificados de Emissões Reduzidas (CERs), Certificados emitidos como resultado dos mecanismos de flexibilização..

Esses projetos, segundo Seiffert (2009), são na maioria baseados em alternativas novas de energia e que impactem em menor nível, quantitativo e qualitativo, ou produzam combustíveis com base em matéria orgânica e podem envolver uso de energias alternativas.

Outro viés com enfoque nas questões de sustentabilidade é baseada nos conceitos de Savitz (2006) denominada Triple Botton Line (3BL), ou seja, o tripé da sustentabilidade. O autor sugere que as empresas observem, para medir seu sucesso no desenvolvimento, não somente os aspectos econômicos, mas também questões ambientais e sociais.

Barbieri (2010) complementa os estudos de Savitz com uma explanação sobre o significado do tripé da sustentabilidade, argumento sobre suas partes em separado:

Dimensão social – preocupação com os impactos sociais das inovações nas comunidades humanas dentro e fora da organização (desemprego; exclusão social; pobreza; diversidade organizacional etc.); dimensão ambiental – preocupação com os impactos ambientais pelo uso de recursos naturais e pelas emissões de poluentes; dimensão econômica – preocupação com a eficiência econômica, sem a qual elas não se perpetuariam. Para as empresas essa dimensão significa obtenção de lucro e geração de vantagens competitivas nos mercados onde atuam. (BARBIERI, 2010; grifo dos autores)

 

Para Veiga (2010), devido a uma evolução que ainda irá demorar algum tempo para ser entendida, o termo sustentabilidade serve para todos que desejam exprimir ambições de continuidade, durabilidade e perenidade.

 

3. Necessidade Competitiva Empresarial

 

A inserção de uma problemática ambiental no nível institucional leva a um contínuo debate da questão, que envolve um senso comum, de que as medidas de proteção ambiental não foram desenvolvidas para impedir o crescimento, mas sim para que sejam cumpridas as avaliações de custo/beneficio ambiental, levando à novas regulamentações mais restritivas, afirma Seiffert (2008).

Os autores Andrade e Tachizawa (2008) afirmam que quanto antes as organizações começarem a enxergar a sustentabilidade como um desafio principal e uma oportunidade competitiva, maiores serão suas chances de sobrevivência no mercado.

Alguns autores estudam maneiras de a empresa desenvolver uma estratégia sustentável para a melhoria da organização como um todo. Savitz (2007) sugere que para que esses projetos sejam colocados em prática ela avalie determinados aspectos organizacionais, como as políticas da empresa, suas operações e o setor no qual ela está inserida.

Para que se possa fazer o estudo da necessidade competitiva do setor sustentável é importante que seja explicitado a definição de Vantagem Competitiva. Segundo Porter (1985), uma Vantagem Competitiva surge do valor que uma organização é capaz de criar para os clientes finais em contraversão ao custo que é demandado para que a mesma possa ser criada. Portanto, o autor esclarece que o desenvolvimento de uma vantagem competitiva é essencial para a existência de uma empresa. É importante que hajam preocupações estratégicas ligadas a todos os setores, pois com uma visão sistemática das estratégias tornam-se possíveis análises aprofundadas da situação na qual a empresa se encontra.

Um modelo que pode ser observado para a elaboração de um plano estratégico voltado a sustentabilidade é apresentado por Coral (2002), sugerindo atender alguns itens, entre eles a vantagem competitiva, para assim determinar que a empresa possui determinado nível de Sustentabilidade Empresarial. A Figura 01 conota tais pontos.

 

 

 


 

Figura 01: Modelo de Sustentabilidade Empresarial para cada uma das dimensões

Fonte: Adaptado de Coral, 2002

 

A temática da Sustentabilidade Empresarial tem sido, então, vista pelas empresas como, além de outras, uma oportunidade de desenvolver uma vantagem competitiva sobre as outras empresas do mesmo setor, visando a melhor visão de valor do que é ofertado. Estratégias regulares passaram a dar lugar a estratégias empresariais de conotação ambiental, que favorecem o marketing das empresas preocupadas com os clientes que cada vez mais exigem produções e oferta de serviços livres de ações impactantes ao meio ambiente.

Através dessa pratica de estratégia administrativa é possível desenvolver-se um diagnóstico atualizado, conhecer-se os pontos fortes e fracos internos da empresa, assim como as ameaças e oportunidades externas pertinentes da mesma, para Shenini (2005).

Dentro desse panorama, o autor Tachizawa (2006) define que as práticas da administração terão como principal objetivo se preocupar com a responsabilidade ambiental das produtividades, qualidade e serviço ao cliente. O autor continua, ainda, explicitando que o futuro é caracterizado por essas práticas em demanda cada vez maior, sendo então necessidades competitivas e não mais vantagens competitivas.

 

4. Metodologia Aplicada

 

A abordagem metodológica desse estudo é a estratégia de Levantamento também conhecida como survey, que segundo Martins e Theóphilo (2009) é indicada para análise de fatos e descrições. Dessa maneira vai ao encontro do objetivo da pesquisa, que visa contextualizar a sustentabilidade com a realidade empresarial. 

Esse estudo está baseado ainda na definição de Vergara (2006) acerca dos atributos da pesquisa, podendo esta ser caracterizada quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, foi uma investigação explicativa, visando esclarecer quais as contribuições da expansão do conceito de sustentabilidade empresarial. Quanto aos meios, teve a utilização das pesquisas bibliográficas, buscando dados secundários.

A pesquisa foi exploratória e descritiva, para Hair Jr. (2005); Collis (2005) e Malhotra (2011) é um estudo voltado para a descoberta, pois engloba um tema que dispõe de poucas informações e foi estruturada, especificamente criada para que seja capaz de medir as características descritas em determinada questão de pesquisa.

Para a coleta dos dados primários foram escolhidas três empresas do setor de serviços. Dentro dessas empresas foram entrevistados os gestores responsáveis pelo setor de sustentabilidade através de um roteiro que consistia das seguintes perguntas abertas:

1)    Como as questões das mudanças climáticas e da sustentabilidade são tratadas pela empresa? Em qual nível gerencial da organização (departamento ou área) elas são tratadas? As ações de redução dos impactos ambientais podem ser consideradas parte da estratégia competitiva da empresa?

2)    Quais ações são desenvolvidas pela empresa na redução dos impactos ambientais? Há a participação de todos os colaboradores? Como essas ações são divulgadas aos clientes e/ou sociedade?

3)    Qual deveria ser a posição das empresas que ainda não tem ações ou conscientização com relação aos impactos ambientais causados pelas mudanças climáticas? 

Após os dados coletados, foram todos transcritos e analisados para que as informações mais importantes fossem destacadas para a composição do trabalho, seguindo o critério do pesquisador.

 

1.   Resultados

 

Para esse capítulo foram entrevistados os gestores responsáveis pelo setor de sustentabilidade de três empresas de serviços que atuam no Brasil e estão posicionadas nos seguintes setores: distribuição de GLP (gás de cozinha), serviço de telefonia e distribuidora de livros. Além disso, são explicitadas informações sobre as empresas, retiradas de seus sites eletrônicos.

 

5.1 A empresa 1

 

A empresa:

Pertencente a um grupo de empresas e começou a distribuindo cerca de uma tonelada de GLP por dia nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Foi conquistando, cada vez mais, maiores parcelas do mercado e hoje distribui gás em 19 estados e no Distrito Federal, estando entre as seis maiores distribuidoras de gás liquefeito do Brasil.

Visão: Ser reconhecida como uma empresa preocupada com as necessidades de seus clientes e a excelência de atendimento, como referência em eficiência administrativa, conduta ética e responsabilidade social.

Missão: Engarrafar e distribuir GLP, para atender às necessidades de energia de um número crescente de pessoas e empresas, com qualidade e a preço justo. Respeitar o meio ambiente, ser leal com seus parceiros.

Valores: Satisfação e segurança do consumidor. Ética e respeito na relação com concorrentes e parceiros. Valorização dos empregados: reconhecimento, oportunidades e desenvolvimento profissional. Cumprimento da legislação vigente. Responsabilidade social e ambiental; respeito às comunidades circunvizinhas, desenvolvimento de projetos socioculturais, respeito ao meio ambiente.

 

Dados da Entrevista:

A empresa já é considerada como uma empresa voltada à preservação do meio ambiente desde a sua fundação, em 1955. Desde esse tempo já eram observados os impactos que a distribuição do seu produto poderia causar e quais benefícios ambientais o mesmo trazia. Na mesma época chegou-se à conclusão que um botijão de gás de 13 kg equivale ao corte de 10 árvores para cocção de alimentos em fogão a lenha.

A mesma é signatária do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para estimular as empresas e organizações a adotar rotinas sustentáveis e com responsabilidade social, desde 2003.

Integrante do Caring for Climate, plataforma lançada no Pacto Global para as organizações preocupadas com as mudanças climática e que buscam soluções sustentáveis.

Em 2009, passou a ser signatária de mais uma iniciativa global, Copenhagen Communiqué on Climate Change, conferência realizada em Copenhagen, na Dinamarca, em 2009 com o aquecimento global como tema principal. Foi destinada a discutir as metas de redução de emissões, proposta pela Universidade de Cambridge e liderada pessoalmente pelo Príncipe Charles do Reino Unido.

Todas as iniciativas parte da postura da empresa são tratadas pela Diretoria e pelo Comitê de Sustentabilidade Empresarial, formado por um representante de cada departamento da empresa, como o objetivo de uma gestão sustentável, capaz de interligar o imperativa econômico às necessidades socioambientais.

Uma das principais iniciativas da empresa traz a proposta de viabilizar o monitoramento das emissões de CO2 nas operações de logística, que têm participação muito significativa no conjunto operacional da organização. Além disso, é politica interna da empresa trocar a frota a cada três anos.

Outra iniciativa visa a utilização da ferramenta Ticket Carbon Control, ferramenta utilizada para calcular a quantidade de gases emitida por veículos., baseada nos índices do Programa Brasileiro GHG Protocol, programa Brasileiro que estimula organizações a serem membros, calculares e divulgares suas emissões. Tal programa realiza o gerenciamento do consumo de combustíveis (renováveis e não renováveis) e o cálculo dos índices de Gases de Efeito Estufa (GEE), aplicados na frota da empresa. Como próximo objetivo a empresa visa estender o programa às frotas terceirizadas e dos seus revendedores.

A empresa entende que a educação constitui alicerce fundamental para o desenvolvimento profissional de seus colaboradores e de seu negócio. Para incorporar princípios de sustentabilidade em sua gestão, desenvolveu o Programa de Capacitação em Sustentabilidade Empresarial, criando uma ferramenta de e-learning, destinada a todos seus colaboradores, visando a colaboração de todos para as iniciativas sustentáveis.

Todas as ações socioambientais são divulgadas através do Relatório de Sustentabilidade, elaborado e publicado anualmente, de responsabilidade do Comitê de Sustentabilidade Empresarial da empresa, seguindo as melhores práticas de elaboração e relato da Global Reporting Initiative (GRI), empresa não-governamental com sede em Amsterdã, na Holanda, com o objetivo de disseminar mundialmente diretrizes para que as empresas elaborem voluntariamente relatórios de sustentabilidade, e certificado por auditoria externa.

Para a organização, as empresas que ainda não se conscientizaram devem adotar uma nova maneira de fazer negócios, obedecendo aos princípios do desenvolvimento sustentável, estabelecendo padrões éticos de relacionamento com seus funcionários, clientes, fornecedores e acionistas, com a comunidade em que atuam, com o poder público e com o meio ambiente.

 

5.2 A empresa 2

 

A empresa:

A empresa, antes conhecida por nome diferente do atual, foi criada em 2002 com o objetivo de ser a telefonia móvel da empresa da região e em 2007 tornou-se uma marca única oferecendo todos os serviços telecomunicações. O que era uma exploração dos serviços somente em uma região do país, atualmente ocorre em todo o território nacional.

Visão: Ser reconhecida, pelos clientes e pela sociedade, como a melhor e mais completa prestadora dos serviços objeto de sua missão e pela sua conduta ética e socialmente responsável.

Missão: Prestar serviços de telecomunicações, informações e entretenimento, com soluções inovadoras, competitivas, globais e com qualidade, que satisfaçam às necessidades dos clientes, buscando sempre maximizar resultados para os acionistas, colaboradores e sociedade.

Valores: Nossa razão de existir é maior do que a prestação de serviços de telecomunicações. É a busca da excelência e da inovação. Estimulamos a insatisfação com o hoje, de forma a buscar permanentemente a satisfação do cliente e, consequentemente, o crescimento e a liderança no mercado.

 

Dados da Entrevista:

A empresa tem consciência de suas ações e as planeja com o objetivo de ser exemplo de uma empresa sustentável. O gerenciamento da sustentabilidade é tratado pela Diretoria de Governança Coorporativa e todos os colaboradores e unidades da empresa no país participam do desenvolvimento de atividades, processos, negócios e operações que visem a sustentabilidade.

As partes que a empresa considera que são as maiores interessadas nessas ações são os stakeholders, pois são públicos relevantes para a companhia; indivíduos que assumem algum tipo de risco, direto ou indireto, tais como fornecedores, credores, governos e organizações não governamentais; e os públicos estratégicos, tais como são considerados os acionistas, funcionários, a comunidades e os clientes.

A organização utiliza uma pesquisa através da intranet interativa da empresa com o objetivo de saber qual meio de transportes é utilizado pelos colaboradores e qual a distância das residências dos mesmos até a empresa. Com esses resultados são feitos os cálculos de emissões de gases do efeito estufa dos funcionários e são incluídos, também, na responsabilidade da empresa.

Dentre as ações de sustentabilidade realizadas poder ser citadas a coleta de baterias; programa de eficiência energética e ações para redução do consumo de água e energia; coleta seletiva nas unidades; e utilização do chamado “envelope vai e vem”, que consiste nos envelopes de comunicação interna que contém 12 espaços de remetente e destinatário e que somente são descartados após todos serem utilizados, reduzindo a necessidade de novos.

A divulgação de todas as ações ocorre através do relatório anual de sustentabilidade que é divulgado para a sociedade e aos integrantes da carteira da empresa no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBOVESPA, Bolsa de valores, mercadorias e futuros de São Paulo.

Na visão da organização, da mesma forma como a empresa atua com responsabilidade, praticando ações sustentáveis voltadas para seus processos, envolvendo colaboradores e todos que estão na sua cadeia produtiva, as demais empresas também deveriam ter esse posicionamento. Ações sustentáveis devem ser comuns a todos, adotando-as em prol do nosso planeta. A empresa acredita que todas as outras podem fazer um pouco e com responsabilidade.

 

5.3 A empresa 3

 

A empresa:

Atua no Brasil com três linhas de produtos. A primeira são livros e publicações para o ensino superior, a segunda são produtos para o ensino dos idiomas inglês e espanhol e a terceira é responsável pela área de periódicos e obras de referência.

Visão: Liderar a transição de soluções impressas para soluções digitais customizadas de alto valor agregado, de acordo com as necessidades de nossos clientes, aproveitando a sinergia entre nossos negócios e oferecendo produtos e serviços inovadores que não possam ser igualados por nossos concorrentes.

Missão: Queremos ser a empresa da qual os clientes se lembram em primeiro lugar, que nossos atuais e futuros colaboradores nos vejam como um local de trabalho estimulante e na qual os investidores tenham satisfação em deter participações.

Valores: Integridade, Comprometimento, Responsabilidade, Respeito, Colaboração.

 

Dados da Entrevista:

É uma empresa global, que tem dentro de seu leque de empresas outras organizações, que têm como missão o cuidado com o planeta e todos os recursos inseridos no mesmo.

Portanto, a organização desenvolve diversas ações que visam contribuir com o meio ambiente: Selo Carbon Free, selo que certifica se determinada atividade teve suas emissões inventariadas e compensadas; coleta seletiva do lixo no escritório da empresa; utilização de canecas de porcelana em substituição aos copos plásticos no escritório para os funcionários e visitantes; a impressão consciente e apenas com uso de papel proveniente do bagaço da cana de açúcar e desenvolvimento de website social com dicas de sustentabilidade.

Como medida de maior impacto a empresa está envolvida com o controle da emissão de gases na atmosfera. Para cada livro que é produzido é feito um estudo do seu nível de poluição atmosférica e quantidade de árvores utilizadas para a impressão do livro e necessárias para a mitigação dos danos. Dentro da realidade observada nos estudos, são replantadas essas árvores imediatamente após o lançamento da obra.

Todos os setores estão envolvidos sustentavelmente e dentre esses os principais responsáveis e que se mostram a frente das ações sustentáveis são os de Recursos Humanos, Marketing, Editorial e Diretorias.

Na visão da empresa há uma grande preocupação dos seus consumidores em saber quais a fontes de recursos foram utilizadas para a produção e clara preferência por empresas que se dedicam a ações ambientais e de conscientização. Dentro dessa realidade, a empresa acredita, ainda, que não deve haver o repasse desses custos adicionais para o consumidor final.

 

5.4 Sumarização dos resultados

 

As três empresas pesquisadas têm ações ambientais dentro das suas instalações e fora delas. Mesmo com projetos sustentáveis em prática, apenas a Empresa 1 tem na sua visão, missão e valores o explícito interesse em mostrar para a comunidade que tem preocupação como meio ambiente e sua preservação.

As Empresas 2 e 3 são notavelmente mais novas nos seus respectivos mercados, o que pode impactar na decisão de não terem determinados objetivos ambientais na sua visão, missão e valores.

Duas das três empresas entrevistadas fazem a divulgação dos seus projetos e ações em prática em relatórios disponibilizados ao público, além do site da mesma. Dentre essas, a Empresa 2, conta com a participação no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBOVESPA, que divulga os resultados também para os acionistas e interessados. Já a Empresa 3 faz a sua divulgação através o site e de informativos que constam na quarta capa de todas as suas publicações.

As opiniões acerca da nova realidade empresarial e de qual deve ser a posição ideal das organizações frente às mudanças climáticas e as ações ambientais foram similares e complementares nas três entrevistas.  Dentre as respostas são principais as ideias de que as empresas devem adotar uma nova visão do que são os negócios e implantar ações sustentáveis favorecendo o planeta com a melhor utilização de seus recursos. O quadro 2 sumariza todas as informações coletadas de cada uma das empresa.

 

Quadro 1: Dados dos estudos de caso

 

Empresa 1

Empresa 2

Empresa 3

Atuação

Nacional

Nacional

Internacional

Tempo de atuação no mercado

55 anos

10 anos

5 anos

Visão

Ser reconhecida como uma empresa preocupada

Ser reconhecida como a melhor e mais completa prestadora dos serviços

Liderar a transição de soluções impressas

Missão

Engarrafar e distribuir GLP

Respeitar o meio ambiente

Prestar serviços de telecomunicação

Garantir o desenvolvimento sustentado da empresa

Ser a empresa da qual os clientes se lembram em primeiro lugar

Valores

Satisfação e segurança do consumidor, Ética e respeito, Valorização dos empregados, Cumprimento da legislação, Responsabilidade social e ambiental

Busca da excelência e inovação

Integridade, Comprometimento

Responsabilidade, Respeito, Colaboração.

Nível Gerencial Responsável

Diretoria e Comitê de Sustentabilidade Empresarial

Diretoria de Governança Coorporativa

Diretorias, Editorial, Marketing e Recursos Humanos

As ações são consideradas estratégia?

Sim

Sim

Sim

Ações realizadas

Monitoramento das emissões de CO2, Troca de frota a cada três anos, Utilização do Ticket Carbon Control.

 

Cálculo das emissões de CO2, Programa de eficiência energética, Ações de redução no consumo de agua e energia, Envelope “vai e vem”.

 

Coleta seletiva, Utilização de canecas de porcelana, Impressão consciente, Uso de papel proveniente do bagaço da cana de açúcar, Desenvolvimento de website social, Replantio de árvores.

Todos os colaboradores são envolvidos?

Sim

Sim

Sim

Como é feita a divulgação?

Relatório de Sustentabilidade

Relatório Anual de Sustentabilidade

Site da empresa e na quarta capa das publicações

Qual deveria ser a posição de outras empresas?

Adotar nova maneira de fazer negócios

Adotar ações sustentáveis em prol do planeta

Maior preocupação em saber quais as fontes de recursos foram utilizadas

Fonte: Elaborado pelos autores

 

6. Conclusões e Recomendações

 

As entrevistas mostraram que as empresas de serviço têm conhecimento de que necessitam ter em seus processos programas de redução de emissões e de preservação ao meio ambiente, porém os fazem como resultado de benchmarking. O que vem ocorrendo são organizações pioneiras em projetos sustentáveis que servem como exemplo para outras e assim são disseminados os projetos.

Como parte da conclusão foi notado que as empresas utilizam as ações sustentáveis como parte da sua estratégia de atrair o público que se mostra preocupado com tal situação global, visto que em uma das empresas um dos setores responsáveis pelo gerenciamento desses projetos é setor de marketing.

Como apenas uma das organizações tem explícitos em sua missão, visão e valores a preocupação com o meio ambiente e nota-se, ainda, que corresponde à empresa com maior tempo de atuação no mercado, surge o questionamento acerca das empresas mais recentes, pois as mesmas já deveriam estar engajadas com ações sustentáveis desde seu início e estruturadas nos preceitos iniciais de sua criação.

Do modo como foram respondidos os questionamentos das entrevistas deixa claro essa preocupação da aplicação de estratégias de marketing para a divulgação do que vem sido feito em sites das empresas, relatórios e, no caso da editora, impressões em todas as publicações feitas pela mesma.

Futuras pesquisas poderão aprofundar-se no tema e analisar como essas estratégias são vistas pelo público, em que proporção elas tem sido aplicadas da maneira correta e qual a real contribuição desses projetos para a mitigação dos impactos que vem sendo causados ao meio ambiente.

Fica evidente que a preocupação com o meio ambiente está disseminada na maioria das organizações. Porém, é importante que essa preocupação venha entrelaçada com ações conjuntas entre todos os elos da cadeia produtiva para que o efeito de preservação e reabilitação seja de maior impacto.

Enquanto as empresas fazem seu papel e se adequam à nova realidade, esse encargo não deve ficar somente dentro do ambiente organizacional. Os colaboradores, que dentro da organização estão engajados nas ações ambientais, devem levar para dentro de suas famílias projetos e mudanças relacionadas para que o resultado positivo sobre o meio ambiente possa ser cada vez mais notório em escala global.

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos