Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

 

 

 

 

1Anapaula de Paula Cidade Coelho

2Krishna Cesario Alvim de Castro

 

1 Enga Agrônoma, Mestre em Fitotecnica, Especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Profa. IF Baiano Campus Uruçuca, Mestranda em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável. Av. D. Pedro Gomes, 11 - Serra Grande, Uruçuca-BA. CEP 45680.000. 73 9199-1579.  anapaulaifbaiano@hotmail.com

 

2 Psicóloga, Dendê da Serra, Mestranda em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável,  Av. D. Pedro Gomes, 11- Serra Grande, Uruçuca-BA. CEP 45680.000. 73 9914 5069. krishnapsicologa@gmail.com

 

RESUMO

 

Muitos problemas ambientais vêm acontecendo após o avanço tecnológico e populacional da humanidade no Planeta Terra, tendo início com os acidentes ambientais ocorrido na História do homem. Diante disso, surgiu a necessidade de reflexão sobre as práticas sociais em busca do desenvolvimento tecnológico e o consumo dos recursos naturais, neste cenário, surge o conceito de Educação Ambiental (EA) que vem em prol de uma mudança de atitude incluindo os aspectos sociais e as suas relações entre a economia, o ambiente e o desenvolvimento de forma sustentável. Esta revisão mostra o contexto da EA na vida do homem e suas relações. 

 

Palavra-chave: Educação Ambiental; Meio Ambiente; Desenvolvimento

 

 

UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

Tanner (1978) embasou a relevância do estudo na situação ambiental do planeta em seu livro Educação Ambiental afirmando que, ainda na década de 70, pesquisas alertavam para o crescimento populacional exagerado, o êxodo rural e a concentração nos grandes centros urbanos, o crescimento no consumo mundial de energia e de recursos naturais, o aceleramento das espécies em extinção, enfim, para diversas questões que culminaram no alarmante estágio atual.

Dubois (1999), afirmou que com a Revolução Industrial houve o rompimento da união estável entre Sociedade e a Natureza. Atualmente, o Homem vive um momento muito desafiador da História, começando a perceber o esgotamento do modelo de desenvolvimento industrial, de um modo de vida apoiado no consumismo, no imediatismo e no engavetamento dos valores espirituais.

Além do mais, segundo Jacobi (2003) foram vistas ocorrências de graves acidentes na história da humanidade envolvendo usinas nucleares e contaminantes tóxicos de grandes proporções, e estas foram molas propulsoras para debates públicos e científicos sobre a questão dos riscos nas sociedades contemporâneas, iniciando assim, a mudança de escala na análise dos problemas ambientais.

A reflexão sobre atuais práticas sociais se debruça sobre um contexto de degradação permanente do meio ambiente, comprometendo a biodiversidade dos ecossistemas. Neste cenário, enxerga-se a necessidade de articulação em prol de uma mudança de atitudes, com a produção de sentidos sobre a Educação Ambiental (EA). Dentro desta perspectiva, segundo Brandão (2005), é possível pensar na EA incluindo os aspectos sociais e as suas relações entre a economia, o ambiente e o desenvolvimento, pensar localmente/agir globalmente e considerar a vida dentro de um contexto único. 

A Conferência de Tbilisi, em 1977, na Geórgia foi um marco na História da EA. Dias (1994) relatou que neste evento, foram apresentadas como destaque, orientações de que a EA deve considerar o meio ambiente em sua totalidade, em seus aspectos naturais, bem como, aqueles criados pelo homem. Devendo atingir todas as fases do ensino, formal e não formal, levando em conta as questões ambientais do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, observando suas causas, conseqüências e complexidade, desenvolvendo o senso crítico e habilidades para resolução de problemas. 

Para Pelicione (1998), durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi recomendado que a EA devesse ser reorientada a partir de uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável com foco nos interesses sociais, no acesso às necessidades básicas, pensando na preservação da diversidade do Planeta. Neste contexto, as organizações não governamentais reunidas no Fórum Global da Rio-92 formularam o trabalho de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, estabelecendo seus princípios.

Há uma percepção coletiva da necessidade de investir na EA e, consequentemente, de se refletir sobre o tema. A reflexão pode partir do mundo que se almeja, de como o ser humano se coloca neste mundo, delimitando assim os caminhos da EA, devendo ter como princípio básico a felicidade de todos que compartilham o Planeta Terra (Tonso, 2010).

Boff (2000) refletiu sobre a dimensão ética da dignidade humana que aparece quando nos sentimos responsáveis pelo nosso destino, pelo destino de nosso semelhante e o de nossa casa: a Terra. A ética humana aparece quando nos solidarizamos com o outro, com suas paixões, com suas causas. É o que Steiner (1995) denominou como o sentido mais elevado do ser humano: O Sentido do Eu, que reconhece no seu semelhante um ser humano com os mesmos sentimentos e anseios que os teus.

Então, uma EA desejada, é a que inclui também a dimensão política da dignidade humana, aquela que se relaciona com a forma de participação na sociedade. Boff (2000, p.80), afirmou que, o ser humano “vem dotado de uma vontade ontológica de participação”. Sendo assim, só encontra a felicidade quando é coautor das tomadas de decisões que incluem a organização social.

A partir deste pensamento, Boff (2000, p.91) se debruçou sobre a questão social, afirmando que a sociedade deve garantir direitos igualitários de criação, da possibilidade de “exercer sua consciência para estabelecer relações cada vez mais abertas e inclusivas”, e que o ser humano, é criador e livre, e por isso não é refém de suas próprias estruturas, mas sim um agente da mudança na realidade vigente.

Este caminho inovador pode ser o rumo norteador de todos envolvidos com a EA, especialmente nas escolas e no trabalho, sendo bases fundamentais na luta pelos direitos humanos e sua relação com o meio ambiente. Isso é possível quando a EA for incluída em todo o currículo escolar, pois, “a raiz de nosso dilema ambiental, reside no fato de não termos aprendido a pensar ecologicamente” (Tanner, 1978, p.32), enxergamos o mundo pela ótica esquizofrênica da separatividade.

Pensando assim, é possível que nas escolas é possível desenvolver EA através de ações cotidianas, em atividades extracurricular de forma inter ou transdisciplinar ou mesmo pela condição não linear de conhecimento (Tristão, 2010). Toda matéria curricular pode buscar um enfoque ambiental embasado em conceitos e valores que se deseja cultivar nos alunos, utilizando bons textos sobre o tema, mas, pensando sempre que o importante é desenvolver nas presentes e futuras gerações um senso de ética ambiental (Tanner, 1978).  Desde que a participação ativa de professores e alunos na busca pela construção do conhecimento através de pesquisas comunitárias sobre questões como, por exemplo, destino do lixo e poluição do rio local, seja sempre em um ambiente de confiança e liberdade, onde os alunos possam escolher o que querem estudar e buscar seus meios para atingir os objetivos desejados.

A ênfase Local-Imediato X Global-Futurista, considera válida a técnica que leva os alunos a estudarem o meio ambiente local, pesquisando os pontos em desequilíbrio e propondo soluções. O interesse local pode ser ampliado para uma visão global e de longo prazo, levando a percepção de “que o planeta inteiro é um único sistema ecológico, e que o equilíbrio deverá demorar algum tempo até ser atingido, e que depois disso terá que estar em processo perpétuo” (Tanner 1978, p.51).

Pensando em termos metodológicos a EA particularmente sensibiliza a humanidade do aluno que deve, antes de tudo se sentir bem, integrada com a natureza e o mundo que o cerca para aprender a amá-lo, respeitá-lo, defendê-lo com sua vontade, autoestima e conhecimento acumulado. É certo que essa ideia vai de encontro a metodologia do ensino atual que durante anos expõe o aluno a experiências enfadonhas e que “desconsidera seus sentimentos... enfatiza seus erros...pressupõe sua ignorância...limita seu corpo, sua energia e seus sentidos” (McInnis, You are na Evironment, p.72 APUD  Tanner, 1978, p.150 e 151). No entanto a ideia não é nova, uma metodologia livre e respeitosa aos interesses do aluno ganha cada vez mais força no universo acadêmico.

Dubois (1999) defendeu uma EA voltada para o Desenvolvimento Rural Sustentável, enfocando ações mitigadoras para violentos processos de degradação, pensando numa educação envolvendo a juventude rural e as mulheres, evitando posturas radicais. Sempre pensando na principal característica da EA como ação transformadora, crítica, coletiva, complexa, participativa, ativa, subjetiva, não hierárquica e não hegemônica, uma EA que nos conduza a uma construção de nós mesmos como seres políticos, em processo permanente, através da relação com o outro como componentes desafiadores (Brandão, 2005).

Tonso (2010) considerou medidas práticas como ações prioritárias: a coleta seletiva de resíduos sólidos, a proteção de áreas naturais, os mutirões de limpezas de rios e terrenos baldios e a certificação ambiental de processos e empresas.

Enfim, a EA embora possa incluir uma diversidade de matérias, não deve perder seu foco na manutenção do planeta e do sustento sadio dos recursos naturais, em outras palavras, ater-se a ótica do cuidado máximo com a Espaçonave Terra, (Tanner, 1978), devendo ser vista como foco principal para a conservação da biodiversidade e existência da vida humana no Planeta Terra.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACOLI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, n.118, p.189-205, 2003.

BOFF, L. A voz do Arco Íris, Ed Sextante, 2000

BRANDÃO, C.R. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos. Ministério do Meio Ambiente. Município Educador Sustentável. Ed.2, 2005.

DIAS,G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. Gaia, 6ªed.São Paulo, 2000  (9ª,2007)

DUBOIS, J.C.L. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Conteúdo da Palestra apresentada durante “VI Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro”. CREA-RJ, 26-29 de Julho de 1999.

JACOLI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, n.118, p.189-205, 2003.

PELICIONI, M.C.F. Educação Ambiental, qualidade de vida e sustentabilidade. Saúde e sociedade, 7 (2), 19-31, 1998.

STEINER,R. Os doze sentidos e os sete processos vitais. Ed Antrposófica, 1995.

TANNER, R. THOMAS. Educação Ambiental, Summus EDUSP, 1978.

TONSO, S. A Educação Ambiental que desejamos desde um olhar para nós mesmos. Acessado em 01 de setembro de 2010. http://www.projetosustentabilidade.sc.usp.br/index.php/Biblioteca/Documentos/Educacao-Ambiental

TRISTÃO, M.; JACOBI, P.R. Educação Ambiental e os movimentos de um campo de pesquisa. Annablume editora, Ed.1, 2010.

 

Ilustrações: Silvana Santos