Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO DA PARAÍBA SOBRE A PROBLEMÁTICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
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PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO  DA PARAÍBA SOBRE A PROBLEMÁTICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

 

 

Iaponira Sales de Oliveira

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

iapobio@yahoo.com.br

 

 

Fabio dos Santos Massena

Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz

fabiomassena@gmail.com

 

Marta Batista de Melo

Estudante do curso Técnico subsequente em Meio Ambiente

Instituto Federal da Paraíba/Cabedelo

 


 

PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO  DA PARAÍBA SOBRE A PROBLEMÁTICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

 

Iaponira Sales de Oliveira

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Rua: Dr Inácio Mayer 385, Centenário. Campina Grande/PB.

Fone: (83) 3341-1283

iapobio@yahoo.com.br

 

 

Fabio dos Santos Massena

Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz

Professor Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

proffabiomassena@gmail.com

 

Marta Batista de Melo

Estudante do curso Técnico subsequente em Meio Ambiente

Instituto Federal da Paraíba/Cabedelo

 

RESUMO

 

A sociedade contemporânea traz um consumismo desenfreado, definindo como fundamental o “ter” e não o “ser” e consequentemente, a perda da essência do próprio ser humano como ser histórico, a fim de encobrir uma falsa sensação de segurança que o permite imaginar que esforços individuais resolverão os problemas atuais. O descuido em relação à gestão dos resíduos sólidos compreende um dos principais problemas que exigem soluções imediatas, por desencadear vários impactos ambientais, os quais interferem na ciclagem da matéria, no aproveitamento da energia, na qualidade de vida e na sustentabilidade ambiental. Neste sentido a gestão integrada dos resíduos sólidos (GIRS) é vista como modelo para as varias instituições, entre elas as instituições de ensino por desencadear vários benefícios: redução dos impactos ambientais e sociais; motivação para a incorporação da temática ambiental em todas as disciplinas e conteúdos; elaboração de estratégias de ensino e recursos técnico-pedagógicos; e contribuição para a melhoria da qualidade de vida do ambiente, escola. Analisar os benefícios da GIRS implantada no Instituto Federal de Cabedelo/PB, bem como a percepção ambiental da sobre a importância e benefícios desta gestão junto aos educando e educandas do Instituto. Utilizou-se metodologias para analise da percepção ambiental alicerçadas no MEDICC - Modelo Dinâmico para Construção e Reconstrução do Conhecimento voltado para o meio ambiente. Em relação a analise da percepção ambiental as respostas ou manifestações resultaram de percepções, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. A fim de trabalhar a efetivação da GIRS, foi realizados junto ao evento da semana de meio ambiente, palestras e oficinas a fim de sensibilizar a comunidade escolar para a destinação correta dos resíduos pré selecionados e coletados, através do sistema de coleta seletiva. Com este trabalho pode-se observar que a GIRS poderá propiciar o desenvolvimento de metodologias que norteiem as várias áreas do conhecimento, possibilitando a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar, além de sensibilizar para uma mudança de postura frente às questões e atitudes ambientais.

 

Palavras-chave: Percepção ambiental; Resíduos Sólidos; Meio ambiente.

 

INTRODUÇÃO

 

Encarar os problemas ambientais é essencial, pois deles também depende a qualidade de vida da população. É preciso que as pessoas se conscientizem da necessidade de preservar o meio ambiente, pois isto sim trará inúmeras melhorias para a qualidade de vida (ADAMS, 2006).

A problemática do acumulo e destinação correta dos resíduos sólidos torna-se um problema de ordem ambiental, a qual requer uma atenção direcionada a sua resolução. De forma sucinta é possível observar como a forma equivocada do atual sistema de gerenciamento inadequado de resíduos sólidos urbanos em nosso país vem causando diversos problemas sociais, econômicos, sanitários e ambientais na população deixando explícita uma série de fatores negativos.

O texto enunciado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001) corrobora este pensamento ao afirmar que a maior parte dos problemas ambientais é fruto do modelo de desenvolvimento, economia e sociedade, mas que pode ser solucionado com a ação dos cientistas, além do envolvimento da sociedade. Os trabalhos realizados por Silva e Leite (2008, 2009) ciaram o processo de sensibilização da comunidade escolar, no sentido de encontrar alternativas para a problemática dos resíduos sólidos na escola, pois se entendiam que a educação era o principal instrumento para mudar e moldar concepções frente às questões ambientais.

Silva (2002) apontaram para a viabilidade de implantação da coleta seletiva na escola, no sentido de resolver a problemática citada.

O conceito de Resíduos Sólidos de acordo com Brasil (2001) que são todos os resíduos no estado sólido e semissólido que resultam de atividades de comunidades, de origem natural, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços de varrição e de outros serviços provenientes da instalação de controle de poluição, bem como determinados líquidos, cujas particularidades tornam inviáveis o seu lançamento na rede pública. Os resíduos sólidos são classificados em função de suas características e consequentes riscos que podem acarretar ao meio ambiente e á saúde.

Neste contexto o processo contínuo e permanente de Educação Ambiental possibilita a gestão de resíduos sólidos, a qual é constituída das seguintes etapas: sensibilização, seleção, coleta, acondicionamento, armazenamento, aproveitamento, reutilização e/ou reciclagem, planejamento, elaboração de estratégia de ensino e recursos técnico-pedagógicos, divulgação e avaliação.

O Instituto Federal da Paraíba (IFPB) Campus Cabedelo concentra três cursos de nível técnico e médio, o curso Técnico Integrado de Pesca, Subsequente de Pesca, Subsequente em Meio Ambiente e o curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico. Uma das competências do curso Técnico Subsequente em Meio Ambiente é o envolvimento do corpo discente e docente na formulação de ideias e alternativas que melhorem a qualidade de vida.  Entende-se que os estudos na área de Educação Ambiental sejam de fundamental importância para o alcance da Gestão dos Resíduos Sólidos, contribuindo assim com a ampliação dos conhecimentos dos discentes do curso Subsequente em Meio Ambiente. Neste sentido o objetivo principal deste trabalho foi delinear e analisar estratégias para a identificação do modelo de gestão de resíduos sólidos a ser implantado e desenvolvido no Instituto Federal Campus Cabedelo – Paraíba.

 

EDUCAÇÃO E RESÍDUOS SÓLIDOS

 

“Lixo” pode ser empiricamente definido como sendo todos os restos provenientes das ações humanas, considerados pelos seus geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis e que prove dos resíduos domésticos ou industriais.

Pereira Neto (1991) caracteriza os resíduos sólidos urbanos de acordo com sua natureza física observando sua composição gravimétrica; peso específico; seu teor de umidade; sua compressividade ou o seu grau de compactação e finalmente a Produção per capita. Por sua composição química, podendo ser orgânicos e inorgânicos, observado a relação entre carbono/nitrogênio e o teor de matéria orgânica. Deve-se considerar também os teores de cálcio, potássio, cinzas, resíduo mineral total, resíduo mineral solúvel, nitrogênio e gorduras.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, lixo é “qualquer coisa que seu proprietário não quer mais, em um dado lugar e num certo momento, e que não possui valor comercial” (MIRANDA, 1995). Porém a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) classifica e normatiza o lixo como sendo os resíduos oriundos de hospitais, residências, indústrias, entre outros, com as seguintes definições: Resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades industriais, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.

No entanto, observa-se que grande parte de todo o lixo produzido no nosso planeta é constituído de materiais recicláveis que podem facilmente retornar ao mercado como sendo subprodutos através da transformação dos mesmos. Diante da evolução do comportamento humano, em relação aos resíduos sólidos produzidos, faz-se necessário adotar um conceito de lixo no qual expresse apenas a necessidade de descartá-los, quando estes já não puderem mais ser reaproveitados e nem mesmo transformados em novos produtos.

A destinação final dos resíduos sólidos urbanos, principalmente no Brasil é um problema em quase a totalidade de municípios existentes no país, sendo mais facilmente observadas nas grandes cidades, estas se resumem apenas às atividades relacionadas à coleta regular, transporte e seu despejo em locais inadequados sendo, na maioria das vezes, em locais a céu aberto.

Dentre as mais distintas formas de manejo de resíduos sólidos, a coleta seletiva representa o sistema mais adequado para o gerenciamento dos resíduos produzidos por domicílios e empresas de uma determinada localidade. Esta tem por objetivo a separação, na própria fonte geradora, dos materiais que podem ser recuperados, com um acondicionamento diferenciado para cada material ou grupo de materiais CEMPRE (2006).

De acordo com Navarro (2001), a transformação dos resíduos em algo utilizável, além de gerar valor a algo teoricamente imprestável, permite que novos empregos sejam criados e pesquisas na área sejam desenvolvidas, a fim de tornar esta atividade mais rentável e abrangente.

Então, deve-se questionar como abordar este tema com cidadãos adultos, arraigados a velhos hábitos, politicamente desconfiados e descrentes do aparelho de Estado e do mundo empresarial? Como mudar os seus comportamentos? O que é educar adultos para a problemática ambiental?

É necessário partir do princípio de que não há educação sem aprendizagem, ou seja, sem a intervenção, participação dos educandos e educandas; que educar vem do latim educare e significa criar, formar; e que aprender vem do latim apprehendere e significa compreender, agarrar, apossar-se de.

E educar para o ambiente é, em primeiro lugar, dar forma a um cidadão que é sempre uma entidade ativa na compreensão e no apossar-se dessa perspectiva. Em segundo lugar, é aceitar a ideia de que formar cidadãos que são ativos, que têm que compreender e apossar-se dessa nova forma, implica abrir as comunicações, deixar fluir a informação e esperar, aceitando, respostas diferentes, pontos de vista diferentes, e uma gama de conflitos. Ou seja, para educar para o ambiente é necessário montar estruturas de comunicação eficientes entre os cidadãos e os projetos ambientais.

Para a consolidação da coleta seletiva. A educação ambiental é fundamental, pois ela possibilita ensinar o cidadão a reconhecer seu papel como gerador de resíduos, podendo potencializar o sucesso da implantação de um sistema eficaz de coleta seletiva. Ciente do seu poder e dever de separar os resíduos, o cidadão passará a contribuir de maneira mais ativa facilitando a coleta, comercialização e a reciclagem, evitando assim, que seus resíduos sejam desperdiçados ou depositados em locais não apropriados. Sendo assim, antes da implantação de um sistema de coleta seletiva, é necessária a criação de um programa de educação ambiental.

Para Reigota (1995) a inserção de Educação Ambiental efetivamente transformadora pressupõe abordagem crítica e a integração dos diferentes conhecimentos relacionados às questões ambientais, e não a mera transmissão de conteúdos sobre ecologia que segundo Freire (2005) o reconhecimento de uma realidade por si só não corresponde a nenhuma transformação da realidade objetiva, sendo necessária a inserção crítica como forma de ação.

 

PERCEPÇÃO AMBIENTAL

 

A percepção ambiental pode ser definida como o ato de perceber o ambiente em que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo (FAGGIONATO, 2009). Também pode ser definida pelas formas como os indivíduos veem, compreendem e se comunicam com o ambiente, considerando as influências ideológicas de cada sociedade (ROSA, 2002). As respostas ou manifestações daí decorrentes são resultados das percepções, individuais e coletivas, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa, referente ao que significa meio ambiente.

A Lei 6.938/81, Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, define meio ambiente como “o conjunto de condições, leis influencias e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga varias formas de vida” (BRASIL, 1981). Silva (2001), também defende esta visão abrangente do meio ambiente e o conceitua como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.

Segundo Melazo (2005), estes conceitos são mais facilmente intuíveis que definíveis, em virtude da riqueza e complexidade do que encerra, representando o que chamou de noção “camaleão”, pois não se encontra um acordo entre os especialistas sobre o que seja meio ambiente, suas definições exprimem, queiramos ou não, as paixões, expectativas e incompreensões.

A maneira como o ser humano reconhece o meio onde está inserido, a dinâmica de suas interações e as leis que o regem, correspondem à percepção ambiental (SILVA, 2009), que está relacionada a uma série de fatores conscientes e inconscientes da existência humana (GADOTTI, 2008). Segundo Melazo (2005) trata-se de um mecanismo cognitivo, resultante de um conjunto de valores, julgamentos e expectativas relacionadas à vivência com o próprio meio ambiente.

A percepção ambiental é reflexo do processo histórico do individuo, ocorrendo a partir do processamento de informações geradas através do contato com o meio ambiente. Tratando-se, portanto de um processo ativo da mente em resposta a tais experiências em conjunto com as crenças, culturas, valores, fatores sociais, econômicos e educacionais do indivíduo (MELAZO, 2005).

O que vivenciamos hoje, trata-se de uma crise de percepção, recorrente da fragmentação dos aspectos que compõem a sociedade. É necessário, portanto, percebê-los como faces de uma única crise. Há soluções para os principais problemas que afetam a vida na Terra, contudo, é necessária mudança de percepção e de pensamento por parte da sociedade (CAPRA, 2006).

Para isto aponta-se a Educação Ambiental como um instrumento para a mudança de percepção ambiental, conforme citam Silva (2009), Marcomin (2007) e Silva e Leite (2008), na busca da integração entre o crescimento econômico, desenvolvimento social e a conservação dos recursos ambientais, como propõe Melazo (2005).

Não há transformação na sociedade sem que haja o envolvimento do capital social, portanto, o alcance de uma sociedade politicamente e socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente e culturalmente sustentável é indissociável da efetivação da cidadania por parte do ser humano, bem como da compreensão da corresponsabilidade com o ambiente físico e com os seres inseridos neste que vislumbra o repeito às diferenças existentes entre estes e a percepção do próprio sujeito enquanto parte integrante do meio (SILVA, 2009).

A abordagem da Educação Ambiental que preconize a efetivação de seus princípios e objetivos requer a adoção de estratégias como: análise da percepção ambiental dos atores sociais envolvidos no processo de sensibilização e diagnóstico ambiental da localidade em estudo, viabilizando a contextualização e problematização dos aspectos abordados (SILVA; LEITE, 2008). Neste mesmo raciocínio Reigota (1995) aponta o conhecimento das percepções sobre meio ambiente como o primeiro passo para a realização da Educação Ambiental.

Conforme o artigo 2º da Lei 9.795 de 27 de abril de 1999 da Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA (BRASIL, 1999), a Educação Ambiental representa um componente essencial da educação nacional, a qual deve ser exercida de maneira permanente e contínua em todos os níveis e modalidades de ensino da educação formal e não formal. O direito ao acesso à dimensão ambiental encontra-se presente ainda no parágrafo VI do artigo 225 da Constrição Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988), bem como no artigo IX da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, Política Nacional do Meio Ambiente – PNMEA (BRASIL, 1981), os quais convergem ao compreenderem a importância do acesso à Educação Ambiental para o exercício da cidadania em defesa do meio ambiente.

A educação e percepção ambiental despontam como armas na defesa do meio natural e ajudam a reaproximar o ser humano da natureza, garantindo um futuro com mais qualidade de vida para todos, já que despertam maior responsabilidade e respeito dos indivíduos em relação ao ambiente em que vivem (FERNADES, 2003). Não haverá sustentabilidade na ausência de Educação Ambiental e sem mudanças nos modelos educacionais predominantes na sociedade contemporânea. E como já afirmara Paulo Freire ”a educação é uma forma de intervenção no mundo” (FREIRE, 1989).

 

METODOLOGIA

 

Área de Estudo

 

O município de Cabedelo, localizado a 18 km da capital João Pessoa-PB, é uma cidade portuária que tem naturalmente uma vocação marítimo-pesqueira, devido a sua localização, com logística privilegiada para o desenvolvimento da pesca em função de empresas de armazenagem e facilidade do escoamento da produção.

O IFPB foi criado, a partir da integração de duas instituições: o Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (CEFET-PB) e a Escola Agrotécnica Federal de Sousa (EAF Sousa). Ao final de 2008, a Lei nº 11.892 instituiu a Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, possibilitando a implantação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). Este, por meio dos seus campi já em funcionamento nas cidades de João Pessoa, Sousa, Cajazeiras, Campina Grande, Cabedelo, Monteiro, Patos, Picuí e Princesa Isabel.

O campus de Cabedelo foi criado a partir do Plano de Expansão da Educação Profissional, do Governo Federal no ano de 2008 através da Lei 11.892, que institui a Rede Federal de  Educação, Ciência e Tecnologia. Situado provisoriamente na Rua Pastor José Alves de Oliveira, s/n, Centro, o campus oferece os Cursos Técnicos de Pesca (modalidades subsequente e integrado) e de Meio Ambiente (modalidade subsequente) e o Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico.

Cabedelo/PB é uma cidade portuária e tem sua economia baseada em atividades pesqueiras e portuárias. Desta forma, o IFPB – Cabedelo, através de seus cursos, contribui para o desenvolvimento econômico e social desta cidade proporcionando qualidade de vida para a população da região. Disponível em: < http://www.ifpb.edu.br/institucional/historico >, acessado em: 05 Janeiro 2012.

O curso técnico em meio ambiente, existente no IFPB/Cabedelo iniciou suas atividades em setembro de 2009, o número de matriculados desde 2009 até 2012 foram de 406 educandos e educandas.

 

Coleta de Dados

 

O presente trabalho trata de uma pesquisa participante, Thiollent (1998), em que os educandos e educandas foram sensibilizados a partir das atividades desenvolvidas em salas de aula por alunas bolsitas e através de eventos que envolveram toda a comunidade escolar.

Para a coleta de dados foi elaborado um questionário para 50 educandos e educandas do curso de Técnico em meio ambiente, do Instituto Federal da Paraíba, Campus de Cabedelo/PB, com intuito de identificar que destino é dado aos resíduos produzidos pelos mesmos no campus.

Após o resultado dos questionários inicio-se o processo de sensibilização da comunidade escolar, a qual constituiu uma etapa fundamental ao desenvolvimento deste trabalho, alicerçado no MEDICC – Modelo Dinâmico para Construção e Reconstrução do Conhecimento, voltado para o meio ambiente (SILVA M, 2000; SILVA E LEITE, 2000;), o qual tem como base o processo pesquisa – ensino – aprendizagem – ação – transformação, ocorrendo com participação, afetividade, ludicidade e criatividade.

 

RESULTADOS

 

Toda e qualquer atividade humana gera resíduos. Entretanto, a partir da sociedade industrial a quantidade de resíduos produzida começou a aumentar de modo contínuo e superior à capacidade de absorção do meio ambiente. Outra problemática com relação aos resíduos produzidos foi a mudança de sua composição, que anteriormente predominantemente orgânico e passou a ter cada vez mais produtos industrializados. O processo de industrialização segundo Penteado (2010) volta-se prioritariamente para a geração de lucros, desconsiderando questões primordiais referentes ao meio ambiente. Encarar os problemas ambientais é essencial, pois é dele que depende a qualidade de vida da população. É preciso que as pessoas se sensibilizem da necessidade de preservar o meio ambiente, pois isto sim trará inúmeras melhorias para a qualidade de vida (ADAMS, 2006).

            A primeira pergunta foi sobre a percepção ambiental dos educando e educandas. Analisando o questionamento “o que você entende sobre meio ambiente” as respostas foram as seguintes:

 

TABELA 01: Respostas mais frequentes quanto ao questionamento sobre a percepção de meio ambiente dos educandos e educandas do curso Técnico em Meio ambiente do IFPB/Cabedelo.

Resposta mais frequente

Porcentagem

“Tudo que nos redeia”

37%

“Floresta e mares”

28%

“Meio ambiente é nossa casa, nossa escola”.

22%

“Meio ambiente é vida”

13%

Total

100%

 

            

Um trabalho realizado por Souza (2000) com professores e alunos do primeiro ciclo da educação básica, nos mostra que a partir de observações dos encontros pedagógicos e das aulas, objetivando refletir sobre as dificuldades enfrentadas pela educação ambiental dentro dos contextos escolares, seguem dois eixos encontrados nas bibliografias concernentes ao campo da educação ambiental. O primeiro, a constatação de que a ideia da complexidade dos fenômenos ambientais', é uma ideia que não tem, em torno de si, um quadro teórico. O segundo, é que estamos em dificuldade para encontrar uma linguagem ou uma abordagem que nos capacite a falar e compreender as várias dimensões da crise ecológica. A partir destes dois eixos, foi construída uma problemática em torno da limitação compreensiva e da incapacidade discursiva que as sociedades contemporâneas apresentam diante dos complexos fenômenos ambiental problemática esta focalizada nos contextos escolares.

Neste contexto Braga e Marcomin (2008)  afirmam que cada indivíduo, inserido no ambiente, percebe, reage, age e responde diferentemente às ações no e sobre o meio. As respostas ou manifestações resultam de percepções, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender melhor as inter-relações entre o ser humano e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (FAGGIONATO, 2009).

            Outro questionamento dado foi quanto a percepção dos educando e educandas quanto aos problemas ambientais. A maioria afirma que o principal problema ambiental é a poluição, cerca de 65% dos entrevistados, e citam o acumulo de residuos sólidos como a principal causa de problemas de ordem ambiental, sanitária e social. Em segundo lugar vem o desmatamento com 30%, já que eles habitam uma região de mata atlântica e manguezal que vem sofrendo pressões com o desmatamento para a construção de condomínios residenciais. E por ultimo 5% afirmaram que o principal problema é de ordem social e culpam os governantes locais pela falta de assistência e cuidado com o Meio ambiente.

             Através da relação espaço e da interferência do ser humano no meio ambiente, juntamente com características psicológicas e fisiológicas, da cultura de um povo, o ser humano passa a ter a sua percepção do meio ambiente, adquirindo valores positivos ou negativos do mesmo e faz com que ele tenha uma atitude frente aos ambientes que o cerca (ANJOS; CHIARA, 2004).

            E por fim foi questionado o que os educandos entende por resíduos sólidos (Figura 1).

 

Figura 1: Percepção dos educandos e educandas do curso técnico em Meio ambiente do Instituto Federal da Paraíba, campus Cabedelo, sobre resíduos sólidos.

 

Diante desta percepção observa-se que boa parte dos educandos entendem que os resíduos sólidos devem ser reciclados e reaproveitados, diminuído assim o risco de contaminação e poluição local. Para isto faz necessário a efetivação da gestão integrada dos resíduos sólidos, o qual compreende fatores que envolvem desde o trabalho de sensibilização da comunidade escolar até a orientação de como deve ser a destinação correta dos resíduos pré selecionados e coletados, através do sistema de coleta seletiva.

Apesar do IFPB campus Cabedelo apresentar coletores específicos (Figura 2) para a efetivação da coleta seletiva, falta todo um trabalho de sensibilização da comunidade escolar.

 

 

 

Figura 2: Disposição dos coletores da coleta seletiva do Instituto Federal da Paraíba, campus Cabedelo.

               

Para consolidar o trabalho, foi realizado no IFPB a Semana de Meio Ambiente, momento que envolveu toda a comunidade escolar em atividades de reutilização, reciclagem de materias, palestras e seminários minitrados por professores locais. De acordo com Capra (1996) os problemas precisam ser vistos como diferentes facetas de uma única crise, crise eminentemente de percepção. Para este autor, há soluções para os principais problemas ambientais do nosso tempo. Algumas até são simples, mas requerem mudanças radicais nas percepções, valores e pensamentos.

A Educação Ambiental torna-se o caminho viável para mudanças de concepções, frente aos problemas ambientais. As oficinas, workshops, palestras e cursos que abordem a temática ambiental colocam em pratica o que sugere o capítulo 04 da Agenda 21 Global. o qual demonstra a importância da adoção de padrões de consumo sustentáveis, fato propiciado especialmente por meio da realização de Educação Ambiental. Contribuindo para assim para a formação de seres humanos que percebam o meio ambiente como nossa vida; sociedade com gente mais responsável e empenhada em proteger o meio ambiente, fortalecendo a participação e formação de comunidades sustentáveis, (SILVA et al, 2006).

 

Figura 2: Oficinas ministradas na semana de meio ambiente do Instituto Federal da Paraíba, campus Cabedelo.

 

a) b)

c)

 

Foto: a) oficina de confecção de vassoura a partir de garrafa pet. b) oficina de bijuterias a partir de papel reciclado. c) oficina de fabricação de óleo vegetal. 

          

A gestão dos resíduos sólidos na escola é vista como principal alternativa para amenizar os problemas ambientais, por desencadear vários benefícios: diminuição da quantidade de resíduos que chega ao lixão da cidade; redução dos impactos ambientais e sociais; sensibilização da comunidade escolar para necessidade de mudanças de postura e de hábitos em relação ao meio ambiente; motivação para a incorporação da temática saúde em todas as disciplinas e conteúdos; elaboração de estratégias de ensino e recursos técnico-pedagógicos capacitados. Para isto a sensibilização é o ponto chave para efetivação de Educação Ambiental, e esta se torna o meio adequado para se obter à mudança de atitude frente às questões ambientais

 

 

CONCLUSÃO

 

Através da análise dos resultados alcançados no desenvolvimento deste trabalho, pode-se observar que a gestão integrada de resíduos sólidos poderá propiciar o desenvolvimento de metodologias que norteiem as várias áreas do conhecimento, possibilitando a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar.

            A ampliação da gestão para outros segmentos da sociedade poderá ser de grande valia, pois possibilitará a formação de atitudes sustentáveis, consequentemente, Escolas Sustentáveis, tendo em vista a necessidade de melhorar qualidade de vida de todos.

É possível avaliar as mudanças das atividades escolares a partir de ações coletivas propostas pelos alunos e docentes do IFPB – Cabedelo, bem como analisar o uso sustentável destes recursos, contribuindo assim para a formação profissional dos educando e educandas do instituto.

 

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Ilustrações: Silvana Santos