Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Trabalhos Enviados
10/09/2018 (Nº 45) PANORAMA DA COLETA SELETIVA EM JI-PARANÁ: PERSPECTIVAS SOBRE A IMPORTÂNCIA NAS ESCOLAS
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1613 
  
PANORAMA DA COLETA SELETIVA EM JI-PARANÁ: PERSPECTIVAS SOBRE A IMPORTÂNCIA NAS ESCOLAS

PANORAMA DA COLETA SELETIVA EM JI-PARANÁ: PERSPECTIVAS SOBRE A IMPORTÂNCIA NAS ESCOLAS

 

Vinicius Alexandre Sikora Souza. Engenheiro Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR, mestrando em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. E-mail: vass1000@hotmail.com

Rhayanna Kalline Nascimento. Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: rhayannakalline@hotmail.com

Harrison C. S. Cesar de Souza Coltre. Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR. E-mail: harrison_sc@hotmail.com

Kismara Butzke. Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: kismarabutzke@hotmail.com

Angélica Salame. Engenheira Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: angel_salame@hotmail.com

Felipe Augusto Galvão Nascimento. Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: felipe_agn@hotmail.com

Aline Santos. Engenheira Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: aline_straub7@hotmail.com

Gabriella Nazário Viana. Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: gabriellanazarioviana@hotmail.com

Ronei Silva Furtado. Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: wayneronei@hotmail.com

Rafael Almeida Felisberto. Engenheiro Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. E-mail: rafael.hilana@hotmail.com

Alex Mota Santos. Graduado em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, doutorando em Ciências e Tecnologias do Ambiente, Especialidade em Planejamento Ambiental pela Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade do Algarve e doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. Professor Assistente do Departamento de Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Rondônia, Campus Ji-Paraná. E-mail: alex.unir@yahoo.com.br

 

 

RESUMO

O artigo revela o panorama sobre a coleta seletiva nas escolas da cidade de Ji-Paraná. Assim, buscou-se verificar a percepção dos alunos e professores sobre a importância da coleta seletiva no ambiente escolar. Para que os objetivos fossem alcançados selecionou-se aleatoriamente 10 escolas estaduais, 2 municipais e 3 escolas privadas. A partir dos resultados encontrados identificou-se que a coleta seletiva está presente na maioria das escolas, porém ainda é insuficiente a conscientização dos alunos sobre o tema. Em síntese observou-se que 95% dos estudantes entrevistados revelaram que o lixo pode ser reaproveitado. Sobre o aprendizado acerca do tema, 34,45% dos alunos informaram que receberam informações na sala de aula, 24,26% pela televisão e 11,98% pela família.

 

Palavras-chave: Resíduos sólidos, Ambiente escolar, Percepção ambiental

 

INTRODUÇÃO

            No Brasil a educação pública e privada de ensino está compreendida entre o 1° ano da educação básica e a 3ª série do ensino médio. Tal instrução tem por objetivo propiciar as crianças e aos adolescentes pleno acesso aos recursos de conhecimento e cultura relevantes para a conquista de sua cidadania. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s estão inclusos neste processo os domínios do saber e as preocupações contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde, com a sexualidade e com questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade (BRASIL, 1997).

            De acordo com Sforni (2004), a finalidade do ensino é que o pensamento conceitual seja utilizado como uma operação dentro de uma ação mais complexa ou de uma tarefa particular, proporcionando aos alunos auxílio para enfrentar o mundo atuando de forma mais participativa, reflexiva e autônoma. Neste contexto se insere o dever de todo cidadão em proteger e cuidar do ambiente, através de ações participativas, que são importantes para a sustentabilidade ambiental. Faz parte dessa abordagem a coleta seletiva, uma importante atividade que objetiva reduzir, reciclar e reaproveitar os resíduos sólidos produzidos pela população.

            A escola, por ser difusora de conhecimentos e formadora de opiniões, deve estar preparada para abordar e apresentar meios simples e práticos para enfrentar a problemática do lixo através do desenvolvimento de atividades que propiciem reflexão, participação e, acima de tudo, comprometimento pessoal e mudança de atitudes para com a proteção da natureza (ALENCAR, 2005). Assim, fazem parte desses procedimentos as formas para a manutenção da limpeza da escola, destacando a aplicação da coleta seletiva no ambiente escolar.

Neste contexto, a cidade de Ji-Paraná possui 30 escolas no âmbito estadual, 15 municipais e 16 particulares, compondo deste modo a atual estrutura e funcionamento do sistema educativo nacional. Partindo dessa realidade, torna-se relevante conhecer como estão sendo tratadas, ministradas e assimiladas pelos alunos deste município as questões contemporâneas que fazem parte dos PCN’s, tal como as questões ambientais, dando ênfase para a coleta seletiva.

Tendo em vista a necessidade do conhecimento da coleta seletiva, principalmente por parte dos estudantes, o intuito desse trabalho é verificar a percepção dos alunos sobre a importância da coleta seletiva no ambiente escolar do município de Ji-Paraná, Rondônia. Tal tarefa busca averiguar se as metas de ensino estabelecidas pelo governo federal estão sendo alcançadas, bem como, se os alunos estão recebendo tais instruções indispensáveis nas suas formações.

 

METODOLOGIA

A pesquisa abrangeu escolas municipais, estaduais e privadas, foi realizada na zona urbana do município de Ji-paraná, que se localiza na região centro-leste do estado de Rondônia, região norte do país. A cidade possui aproximadamente 116.610 habitantes, considerada segunda maior população do estado de Rondônia (IBGE, 2011).

Segundo pesquisa junto a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e a Representação de Ensino/Secretaria do Estado da Educação (REN/SEDUC) foi possível identificar 76 escolas, sendo 30 estaduais, 15 municipais e 16 particulares. A partir da identificação selecionou-se 30% de cada categoria de forma aleatória (FIGURA 1).

Descrição: D:\Documentos\Faculdade\2011\UNIR\012011\Disciplinas\Metodologia.Científica\mapa escolas.jpg

Figura 1. Mapa da distribuição espacial das escolas selecionadas.

Observou que não há dados oficiais sobre o quantitativo de alunos na rede privada de ensino. Assim, o critério para escolha das escolas desta categoria ocorreu por meio de julgamento. Neste sentido, foram escolhidas as escolas que possuíam todas as séries pesquisadas e com o maior número de alunos. A partir dos critérios acima referidos definiu-se: 10 escolas estaduais, 2 municipais, 3 privadas.

 As séries abordadas foram as de 3° ao 5° ano (ensino fundamental I), 6° ao 9° ano (ensino fundamental II), 1° à 3° série (ensino médio), totalizando uma amostra de 2.273 alunos. As séries iniciais (1º e 2º ano do ensino fundamental I) não foram abordadas já que as crianças estão em fase de alfabetização e poderiam não compreender os questionários.

 

Instrumento de coleta de dados

Foram elaborados quatro diferentes instrumentos de coleta de dados, na forma de questionários. O primeiro destinado a pesquisa com crianças do 3° e 4° do ensino fundamental I foi elaborado utilizando-se de figuras para ilustrar as respostas (FIGURA 2)

Figura 2. Exemplo do questionário ilustrado – Questão 1.

O segundo questionário foi estruturado para os alunos que cursam do 5° ano do ensino fundamental I ao 3° série do ensino médio. Este segundo instrumento apresentou as mesmas perguntas, porém sem imagens, além disso, duas das perguntas foram subjetivas. As questões subjetivas tratavam sobre o que é coleta seletiva e qual a sua importância.

O terceiro questionário foi elaborado especificamente para os docentes presentes nas classes em que a pesquisa foi realizada. O questionário para o professor abordou questões como, qual a sua formação acadêmica, qual o seu grau de informação sobre coleta seletiva e sobre os programas ambientais desenvolvidos na escola que atua.

O quarto questionário foi destinado aos coordenadores das escolas, com os mesmos temas abordados no questionário dos docentes, porém com maior detalhamento. Incluiu neste questionário a pergunta: Os professores trabalham educação ambiental nas salas de aula? Para que desta forma, possa haver comparação entre as respostas dos professores e coordenadores. Caso na escola não houvesse um coordenador eram repassados aos responsáveis com mais informações sobre a instituição, geralmente o supervisor ou diretor.

Após a aplicação dos questionários, os dados foram transcritos em formato digital e utilizados para a criação de um banco de dados. Posteriormente ocorreu a análise dos dados, inferindo sobre a percepção sobre coleta seletiva nas escolas no município de Ji-paraná. Na Tabela 1 estão descritos as escolas e a quantidade de alunos amostrados em cada categoria de ensino.

 

 

Tabela 1. Escolas selecionadas para a pesquisa, com as modalidades de ensino abordadas e respectivas quantidades de alunos amostrados.

 

ESCOLAS

Fundamental I

Fundamental II

Médio

TOTAL

E. E. E. F. M. Aluízio Ferreira

 

 

 

28

23

28

23

21

18

24

165

E. E. E. F. Beatriz F. da Silva

25

31

32

24

22

34

20

 

 

 

188

E. E. E. F. M. Edilce dos S. Freitas

18

25

23

19

17

32

29

17

12

17

209

E. E. E. F. M. Gonçalves Dias

 

 

 

35

27

21

29

29

19

36

196

E. E. E. F. M. Janete Clair

40

*

30

38

30

32

31

38

22

27

288

E. E. E. M. Jovem G. Vilela

 

 

 

 

 

 

 

36

28

31

95

E. E. E. F. M. Juscelino Kubitschek

25

22

26

24

27

25

26

29

21

18

243

E. E. E. F. Osvaldo Piana**

21

25

20

 

 

 

 

 

 

 

66

E. E. E. F. São Pedro

30

26

27

 

 

 

 

 

 

 

83

E. E. E. F. Tancredo de A. Neves

24

30

33

19

22

17

21

 

 

 

166

E. M. E. F. Adão V. Lamota

28

29

30

 

 

 

 

 

 

 

87

E. M. E. I. E. F. Jandinei Cella

24

30

30

 

 

 

 

 

 

 

81

C. E. Adventista de Ji-Paraná

 

 

 

29

22

21

16

28

26

17

159

C. E. Adventista de Rondônia

23

12

10

 

 

 

 

 

 

 

45

CEDUSP

19

22

20

14

24

30

13

21

22

14

199

TOTAL

277

252

278

230

214

240

209

219

168

184

2273

 

*não havia turma na escola.

**segundo os responsáveis pela coordenação da escola, desde 2010 são oferecidas vagas na modalidade fundamental I e fundamental II, porém este dado não estava de acordo com as informações dos órgãos competentes.

 

 

Os valores percentuais dos resultados foram obtidos apenas em relação aos alunos que responderam todas as perguntas. As questões que foram marcadas com mais de uma resposta foram excluídas da análise.

Além dos critérios supracitados foram desconsideradas as respostas dos alunos que afirmaram desconhecer o conceito coleta seletiva. Excluíram-se, por este critério, as seguintes questões: O que é coleta seletiva; qual a importância da coleta seletiva; meio pelo qual o aluno aprendeu sobre ela; e se a escola possuía ou não este tipo de coleta.

Os critérios adotados favoreceram a análise das respostas em separado, dos alunos, dos professores e coordenadores. Assim foi possível estabelecer a análise comparativa do entendimento da coleta seletiva por categoria pesquisada. Também foi verificado a relação entre a presença (ou ausência) da coleta seletiva e algumas respostas com intuito de entender um pouco a realidade do ambiente escolar.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram organizados em três grupos: alunos, professores e escola. No questionário dos alunos, na pergunta 1 (o que você ou seu responsável faz com o lixo da sua casa?) o resultado revelou que dos 2273 alunos, 90,67% deixam o lixo para ser coletado pela prefeitura, 151 alunos (6,64%) responderam que queimam o lixo.

Ainda de acordo com a primeira questão, menos de 2% dos alunos responderam que enterram o lixo ou o jogam em terreno baldio, além dos 34 alunos (1,5%) que não responderam. O expressivo número de alunos que deixam o lixo para ser coletado nos mostra que a maioria mora em uma localidade onde a coleta de lixo do município é executada. Já em relação às outras respostas há duas possíveis interpretações: a primeira é que o baixo número de alunos que enterram, queimam ou jogam em um terreno baldio não tem o serviço de coleta de lixo no bairro. Porém, também se pode dizer que os mesmos não devem ter conhecimento necessário para não dispor os seus resíduos de forma irregular.

A Figura 3 nos mostra que cerca de 95% dos alunos têm consciência de que os resíduos de suas casas podem ter alguma utilidade.

Figura 3. Conscientização sobre a reutilização, reaproveitamento ou reciclagem do lixo.

 

Com bases nesses dados conclui-se que toda a difusão de informação que atualmente há sobre esse assunto vem apresentando resultados, observados através do nível de conscientização dos alunos. Mas isso não significa que seja suficiente, pois ainda há alunos que não possuem tal conhecimento.

Na terceira questão (“Seu (sua) professor (a) já conversou com você sobre coleta seletiva?”). O resultado apontou que dentre os 2.273 alunos, apenas 27,26% responderam sim, que algum professor já conversou com eles sobre coleta seletiva. Esse dado revela que a escola não está cumprindo seu papel de discutir a importância da coleta seletiva, já 1.609 alunos, 70,79%, responderam que nenhum professor conversou com eles acerca do tema. Como conteúdo transversal é possível constatar que os professores tem dado pouca importância ao assunto.

Na questão quatro (“Você sabe o que é coleta seletiva do lixo?”), dentre os 2.273 alunos, o expressivo número de 73,82% responderam que sim, que sabem o que é a coleta seletiva. Esse dado revela que apesar dos professores não estarem trabalhando esse assunto de forma adequada, como revelado na questão acima, os alunos estão recebendo conhecimento em outras fontes. A minoria correspondente, 24,81% dos alunos respondeu que não sabem o que é coleta seletiva, esse fato pode estar relacionado a diversos fatores, dentre o que mais se destaca seria a falta de interesse acerca deste assunto.

            As questões de 5 a 8 apresentaram cerca de 1.678 respostas, pois foram consideradas somente as respostas positivas (sim) para a questão quatro. Ressalta-se que as respostas subjetivas (aplicadas aos alunos do 5º ano do ensino fundamental em diante) foram classificadas de acordo com seis categorias pré-estabelecidas: coleta comum, coleta para reciclar, reciclagem, educação ambiental, separação de latinha, não soube definir.

Analisando a Figura 4, notou-se que a maioria dos alunos (35,88%) disse que a coleta seletiva é o ato de executar a coletar para a reciclagem, mostrando que entendem a coleta seletiva como uma forma de separação do lixo que posteriormente será levado à reciclagem. 28,13% dos alunos relataram que a coleta seletiva é a própria reciclagem, ou seja, não dão destaque ao fato do lixo ser disposto de forma segregada, mas apenas à reciclagem em si; 12,16% destacaram a coleta seletiva como a coleta comum executada pela prefeitura, 3,87% descreveu a coleta seletiva como educação ambiental, ou seja, uma ação de conscientização para a destinação correta dos resíduos. Dois grupos não apresentaram respostas, 11,86% dos alunos não souberam definir o que era a coleta seletiva e 7,03% simplesmente não responderam a questão. Além da minoria de 1,07% que respondeu que a coleta seletiva é o ato de separar “latinha” para a venda, ato comum atualmente.

Figura 4. Significado de coleta seletiva para os alunos.

 

Esta análise concorda com o estudo de Bringhenti (2004), pois tal autor ressalta a existência de carência de informações sobre coleta seletiva, o que tem levado técnicos e pesquisadores do setor a apontar a necessidade de se buscar padronização na apresentação de experiências, que são fundamentais para comparações e análises, que possa subsidiar à implantação de novos programas, o planejamento e à execução de políticas e ações mais adequadas para o setor.

Em relação à questão seis (FIGURA 5), é perceptível que a maioria dos alunos apresenta um pequeno entendimento em relação à importância do ato de executar a coleta seletiva. Das crianças que responderam, 22,65% descreveu a importância da coleta seletiva como uma forma de diminuir o desperdício, 16,39% dos alunos relatou que a importância da coleta seletiva encontra-se na ajuda ao ambiente, 11,80% disse que é importante, pois ajuda a manter a cidade limpa, 7,33% acredita que a coleta seletiva é importante pois ajuda a evitar doenças. Duas categorias não apresentaram respostas, 8,22% respondeu em branco ou de forma irregular e o número considerável de 18,71% não soube definir qual era a importância.

 

Figura 5. Importância da coleta seletiva.

 

Esses dados revelam que este grupo apresenta noções referentes à coleta seletiva, mas que muitas vezes estes são explicitados em seu inconsciente com intuito de limpeza e não de um conjunto de procedimentos objetivando a reciclagem (VILLAR et al., 2008). Assim, verifica-se a importância que os alunos de Ji-Paraná sejam inseridos em projetos que conceituem a proposta da coleta seletiva do lixo como uma ação educativa que visa investir numa mudança de mentalidade, tornando-se um elo para trabalhar a transformação da consciência ambiental (FELIX, 2007). 

Observa-se na Figura 6 que a maioria dos alunos, 34,45% aprenderam sobre coleta seletiva por meio da sala de aula, mostrando que a escola tem um papel importante na educação ambiental. A televisão também se mostrou importante fonte de conhecimento sobre a coleta seletiva para os alunos, representando 24,26% do total. Além da família, que também se destaca como um instrumento de aprendizado sobre coleta seletiva (11,98%). 3,10% dos alunos disseram aprender sobre a coleta seletiva através de amigos, 4,83% disseram aprender com revistas e/ou jornais e apenas 1,07% dos alunos disseram aprender através da internet. As respostas em branco ou que foram preenchidas de forma irregular contabilizaram 341 alunos (20,32%). Situação semelhante descreveu Santos e Macedo (2008), ao relacionar os multimeios pelos quais os estudantes obtinham informações e conhecimentos sobre temáticas ligada ao meio ambiente, onde conseguiram evidenciar que a escola, a internet e os jornais são os mais freqüentes veiculadores de questões ambientais.

            Portanto, verifica-se que a escola possui um papel fundamental quanto à formação de cidadãos participativos e conscientes as questões ambientais. Sendo a TV outra contribuinte para esta formação. Como afirma Fernandes et al. (2007), as mídias de comunicação coletiva como a TV devem atuar de forma complementar e interligada na conscientização ambiental.

 

Figura 6. Obtenção de conhecimento através dos meios de comunicação.

 

Na questão 8 (Sua escola possui coleta seletiva?), dentre os 1.678 alunos, 463 alunos (27,59%) responderam que há coleta seletiva, enquanto que 1.150 alunos (68,53%) responderam que não. Com base nessa resposta não se pode dizer com precisão sobre a real situação das escolas em relação à aplicação da coleta seletiva, porém é perceptível que a maioria dos alunos não apresenta opinião favorável sobre essa aplicação já que desconhecem as práticas referentes à coleta seletiva no estabelecimento que estuda.

 

Professores

Ao fazer a análise sobre o significado da coleta seletiva para os professores, observou-se que a maioria (84%), disse ser uma coleta para reciclar e apenas 5% não soube definir. Os resultados são demonstrados na Figura 7.

 

Figura 7. Significado da coleta seletiva para os professores

 

Em relação aos projetos e programas sobre a coleta seletiva, 32% dos professores disseram não ter conhecimento do assunto, e 35% responderam que há alguma atividade ou projeto relacionado à coleta seletiva no ambiente escolar. Sendo que de 9 professores entrevistados, responsáveis pela coordenação de projetos na escola, apenas 3 responderam que há algum programa ou projeto de coleta seletiva sendo aplicado.

Dentre as atividades desenvolvidas nas escolas que estão relacionadas à aplicação da educação ambiental, encontramos o projeto Comissão do Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA), que visa à melhor gestão dos recursos naturais e a diminuição dos impactos ambientais gerados pelas suas atividades através de uma nova forma de organização na escola e baseia-se na participação de estudantes, professores, funcionários, diretores e a comunidade (NASCIMENTO et al., 2008). Além disso, há também produção de texto, palestras, comemoração da semana do meio ambiente, projetos de artesanato, reutilização do vidro (Projeto ‘O Vidro em Nossas Vidas’), reutilização do óleo vegetal (RECICAJI), pontos de coleta de garrafas pet entre outros. Portanto, dos 62 professores entrevistados, 11 responderam que não há nenhum projeto relacionado à educação ambiental na escola e 22 não souberam responder.

Esse dado revela certa falta de informação e interação entre os professores. Tal percepção ocorreu para as escolas particulares e públicas, esta última ocorre com maior freqüência. Acredita-se que a falta de movimentação em prol de atividades interdisciplinares seja devido ao fator tempo, já que muitos professores acabam sendo sobrecarregados com as aulas, e não se interessando com atividades extracurriculares ou com projetos de outros professores.

No que diz respeito à influência dos professores em relação aos alunos é visível a semelhança das respostas sobre a definição da coleta seletiva. Atendendo os mesmos critérios utilizados para classificar as respostas dos alunos, os dados mostraram que tanto para estes como para os professores a opção que mais representa o significado de coleta seletiva é a categoria coletar para reciclar. Isso porque como já visto anteriormente foi quantificado como sendo 36% das respostas (alunos) e 84% (professores) para essa categoria. Essa situação revela a influência da relação professor-aluno no processo de aprendizagem. Neste sentido, Vasconcelos et al. (2005) afirma ser função do professor a de apresentar ao aluno seus conhecimentos acumulados e socialmente tidos como relevantes, fazendo com que esses conhecimentos sirvam como instrumento para seu agir no mundo, para o pensar sobre si e sobre as coisas da sua vida. Diante disso, confirma-se que a educação constitui-se de relações interativas destacando-se entre estas, a relação professor-aluno e sua influência para o processo de ensino e aprendizagem (VASCONCELOS et al., 2005).

 

Escolas

            Para verificar a influência da aplicação da coleta seletiva e o conhecimento dos alunos em relação a definição da coleta seletiva comparou-se as respostas positivas da pergunta quatro com a quantidade de alunos que acertaram sobre a situação da escola.

            Através dessa comparação notou-se uma diferença significativa entre as respostas das escolas que possuem coleta seletiva das que não possuem. A média de acerto das escolas foi de quase 90%. Assim, 90% dos alunos que responderam sim na pergunta 4 acertaram a pergunta 8. Diferente dos alunos das escolas que não possuíam coleta seletiva que teve uma média de acerto de 50%, destacando as escolas Adão Valdir Lamota (10%) e Juscelino Kubitscheck (22%). Divergindo destas, as escolas E. E. E. M. Jovem Gonçalves Vilela e C. E. Adventista de Ji-Paraná apresentaram cerca de 90% de acertos. Sabe-se que a execução da coleta seletiva tem como objetivo sensibilizar os alunos sobre a problemática do lixo, pois segundo Calderoni (1996 apud Felix, 2007), a reciclagem, na sua essência, é uma maneira de educar e fortalecer nas pessoas o vínculo afetivo com o meio ambiente, despertando o sentimento do poder de cada um para modificar meio com que interagem.

Nesse contexto, ainda foi possível analisar a realidade apresentada pelos alunos de acordo com as séries. A Figura 8 demonstra uma análise feita com a escola Edilce dos Santos Freitas. Nela é possível observar que, em média, 90% dos alunos que afirmaram saber o que é coleta seletiva confirmaram a existência desta na escola. Somente a turma do 6º ano apresentou comportamento diferente do observado, onde aproximadamente 50% dos que afirmaram saber a pergunta oito. Esta situação é apoiada por Dias (1994; apud PELICIONI, 1998) que defende a educação ambiental como um processo que deve atingir todas as fases do ensino; desenvolvendo o senso crítico e as habilidades humanas necessárias para resolver problemas, como é o caso da escola Edilce, que apresenta alto índice de conhecimento pelos alunos (baseados nessas informações).

 

 

Figura 8. Relação entre o total de respostas e os acertos por série da escola Edilce dos Santos Freitas – possui lixeiras para coleta seletiva.

 

Um fato interessante que diverge da situação apresentada pela escola Edilce é a da escola CEDUSP, escola privada. Na Figura 9, o CEDUSP revela uma situação diferente da apresentada pelo Edilce. A média de acertos por turma do CEDUSP foi calculado em torno de 70% (menor que a da escola Edilce). E, diferente dos alunos do ensino médio da escola pública, esses alunos totalizaram uma porcentagem menor do que a média por sala. Essa realidade confirma que somente as lixeiras específicas não são suficientes para conscientizar os alunos, principalmente os do ensino médio. Porém, não há como dizer se há ou não a presença de projetos educacionais que priorizem a coleta seletiva e influencie esses dados. Ressalta-se que para muitos alunos as lixeiras da coleta seletiva não contribuíram para a fixação ou até obtenção de conhecimento sobre esse tema. Por isso, Tozoni-Reis (2004) defende que a educação ambiental deve ser organizada como educação formal ou não-formal, como um processo contínuo e permanente no qual o aluno precisa ser orientado constantemente para então assim desenvolver seu próprio conhecimento.

Figura 9. Relação entre o total de respostas e os acertos por série da escola CEDUSP – possui lixeiras para coleta seletiva.

 

            Diferentemente das duas escolas analisadas anteriormente, a escola JK (FIGURA 10) apresentou uma média de 26% de alunos que acertaram sobre a existência da coleta seletiva na escola. Visualmente é perceptível que a ausência de lixeiras específicas para esse processo de coleta seletiva é altamente importante. Porém, a escola JK mostra que a ausência desta implica em uma grande defasagem no desenvolvimento do conhecimento. Ou seja, as lixeiras não contribuem com o ato de conscientizar, mas ajudam na fixação do conhecimento adquirido pelos alunos.

Figura 10. Relação entre o total de respostas e os acertos por série da escola Juscelino Kubitschek – não possui lixeiras para coleta seletiva.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa obteve excelente representatividade devido ao grande número de crianças ouvidas. Através dessa análise percebeu-se que a coleta seletiva no ambiente escolar está presente na maioria das escolas, mas o conhecimento sobre o assunto ainda não é suficiente, revelando as falhas na forma de conscientização. Os alunos ainda não conseguem lidar com questões que confrontem seus conhecimentos teórico-práticos, que normalmente são adquiridos em projetos educacionais organizados pelas escolas. Ressaltando que em relação a esses projetos, foi constatado que a minoria das escolas possui um projeto relacionado ao tema em questão, sendo que nem todos os professores têm conhecimento sobre o mesmo, revelando certa desorganização da classe.

Assim sendo, observa-se que o investimento em projetos para conscientização de alunos e professores deve propiciar novas experiências, desenvolvendo dessa maneira distintos sensos críticos em relação ao ambiente e o cuidado de todos pelo mesmo.

Além do mais, notou-se que todo o processo de sensibilização, conscientização e obtenção de conhecimento envolvido causou uma ação positiva, ampliando de alguma forma a percepção ambiental não só dos alunos como dos professores.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, M. M. M. Reciclagem de lixo numa escola pública do município de Salvador. Candombá – Revista Virtual. v. 1,  n. 2,  p. 96 –113, jul – dez,  2005.

 

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. 1997.

 

BRINGHENTI, J. R. Programas de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos: Aspectos Operacionais e da Participação da População. 231f. 2004. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública da USP, São Paulo, 2004.

 

CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Ed. Humanistas, 1997.

 

CURWELL, S.; COOPER, I. The implications of urban sustainability. Building Research and Information. V.26, nº1, 1998. p. 17-28.

 

DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1994.

 

FELIX, R. A. Z. Coleta seletiva em ambiente escolar. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação ambiental. v.18, 2007.

 

FERNANDES, R. S. SILVA, M. C. M. SOUZA, V. J. BESTEIRO, A. ABELHEIRA, L. OLIVEIRA, M. MADANELO, O. RIBEIRO, P. LANÇA, N. FONSECA, S. Análise da percepção ambiental de estudantes do ensino básico em Portugal. Vitória-ES, 2007.

 

GUNTHER, W.M.R. Minimização de resíduos e educação ambiental. In: Seminário

Nacional de resíduos sólidos e limpeza pública, 7. Curitiba, 2000. Anais... Curitiba, 2000.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010 – Cidade de Ji-Paraná. 2010.

 

JOHN, V.M. Reciclagem de resíduos na construção civil – contribuição à metodologia de pesquisa e desenvolvimento. São Paulo, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, Tese (livre docência). 2000. p.102.

 

NASCIMENTO, R. K. BUTZKE, K. SOUZA, V. A. S. AGUIAR, R. G. A atuação do programa COM-VIDA no município de Ji-paraná. In: Simpósio de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), 1. Anais... 2008.

 

PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental, Qualidade de Vida e Sustentabilidade. Revista Saúde e Sociedade, v.7, p.19-31. 1998.

 

PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São Paulo, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, Tese (Doutorado). 1999. 189p.

 

SANTOS, S. P. MACEDO, S. Educação Ambiental: O que indicam as representações sociais de meio ambiente e percepção ambiental de educandos do Ensino Fundamental – 6° Ano. 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica. Universidade Federal de Uberlândia. 2008.

 

SFORNI, M. S. F. Aprendizagem conceitual e organização do ensino: contribuições da teoria da atividade. Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 7, n. 1, p. 120-120, 2004.

 

TOZONI-REIS, M. F. C. Educação ambiental: natureza, razão e história. Campinas, SP. Autores Associados. 2004.

 

VASCONCELOS, A. A. SILVA, A. C. G. MARTINS, J. S. SOARES, L. J. A Presença do Diálogo na Relação Professor-Aluno. In: Colóquio Internacional Paulo Freire, 5. Anais... Recife – PE. 2005.

 

VILLAR, L. M. ALMEIDA, J. L. V. ALMEIDA, A. J. SOUZA, L. F. B. LIMA, M. C. A. PAULA, V. S. A percepção ambiental entre os habitantes da região noroeste do estado do Rio de Janeiro, Escola Anna Nery. Revista de Enfermagem, jun; v.12, p 285 – 90, 2008.

 

Ilustrações: Silvana Santos