Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE OS ECOSSISTEMAS RECIFAIS EM DUAS DIFERENTES ÁREAS DO LITORAL NORDESTE DO BRASIL.
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE OS ECOSSISTEMAS RECIFAIS EM DUAS DIFERENTES ÁREAS DO LITORAL NORDESTE DO BRASIL.

 

 

Luciana Medeiros SILVA1

Monica Dorigo CORREIA2

Hilda Helena SOVIERZOSKI3

 

 

1. Bióloga e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: lumedeiros.silva@gmail.com

2. Bióloga e Doutora em Ciências Biológicas, Professora do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: monicadorigocorreia@gmail.com

3. Bióloga e Doutora em Ciências Biológicas, Professora do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: hsovierzoski@gmail.com

 

 

 

RESUMO

 

A percepção ambiental sobre a importância dos ecossistemas recifais ainda é escassa junto aos frequentadores da região costeira. Entretanto, estes ambientes estão entre os principais ecossistemas costeiros da região nordeste do Brasil e recebem grande quantidade de visitantes todos os anos. Os ecossistemas recifais possuem alta biodiversidade, servindo como área de reprodução, berçário e alimentação para diversos grupos de invertebrados, peixes e tartarugas marinhas. O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção ambiental acerca dos referidos ambientes recifais, através da aplicação de questionários semiestruturados entre moradores e turistas na cidade de Maceió e na Ilha de Fernando de Noronha, no nordeste do Brasil. Constatou-se que o grau de conhecimento sobre os recifes em Maceió variou entre baixo a regular, enquanto que em Fernando de Noronha foi caracterizado de regular a bom. Com base nos dados obtidos, constatou-se que existe a necessidade do desenvolvimento de mais trabalhos em educação ambiental, tanto em Maceió quanto em Fernando de Noronha, direcionados as comunidades locais e a grande massa de turistas, sobre a importância em preservar os ecossistemas recifais, bem como formas de amenizar os impactos causados pelas diversas atividades humanas nesses ambientes.

 

Palavras-chave: recifes, percepção ambiental, impactos antrópicos, conservação.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Aspectos da Percepção Ambiental

Diversas formas podem caracterizar e promover a percepção ambiental, incluindo diferentes atividades e ações educativas, pelas quais as pessoas passam a se sensibilizar ao perceberem as inúmeras realidades de cada local, os fatos, os fenômenos e os processos que podem ser observados “in loco” relacionados diretamente com o meio ambiente que circunda cada indivíduo dentro de seu próprio contexto. Considerando esta visão mais ampla, inúmeras pessoas podem passar por experiências semelhantes, porém cada uma, individualmente, irá reagir e responder diferentemente às ações e as atitudes em relação ao ambiente onde vive e/ou visita. Estas manifestações serão decorrentes da forma de pensar e das percepções relacionadas aos processos cognitivos, julgamentos e expectativas individuais. Desta forma, a percepção ambiental está relacionada com a interação que cada pessoa desenvolve junto ao meio que a circula. Esta percepção dependerá da capacidade de observação e interpretação dos fatos transmitidos e da realidade existente no entorno, considerando desde as informações mais simples até as mais complexas. Sendo assim, a visão sobre o meio ambiente pode ser compreendida como um processo de aprendizado contínuo onde sempre o conhecimento poderá ser modificado a partir de novos conceitos e informações que ao longo do tempo o individuo absorve e passa poder estabelecer com o meio ambiente à sua volta. Isto resultará na evolução da percepção ambiental, o que desenvolverá uma consciência ambiental mais produtiva, onde a obtenção de novas informações serão valorizadas, resultando na melhoria da qualidade ambiental e consequentemente da qualidade de vida do próprio indivíduo (MACEDO, 2000; PELICIONI 2002; RAMOS, 2001).

A educação ambiental possui um potencial transformador, sendo capaz de proporcionar a população reflexão e reinterpretação do conceito de meio ambiente através da consciência ética constituída por valores, atitudes, comportamento, tolerância, responsabilidade e também permite a descoberta de meios para um desenvolvimento ecologicamente sustentável no meio urbano (DÍAZ, 2002). Dentro deste contexto, as experiências na área da educação ambiental a partir de atividades recreativas como passeios e turismo, vêm sendo desenvolvidas em vários locais e com diferentes propostas educativas, independentemente de estar vinculado a uma instituição educacional propriamente dita, pois este campo educativo tem sido fertilizado por diversas atividades consideradas transversais (JACOBI, 2003).

Sabe-se que os diferentes grupos socioculturais são influenciados por uma grande diversidade de fatores, muitos destes econômicos, os quais promovem variadas formas direcionadas à percepção ambiental de uma determinada população, o que pode acarretar em dificuldades na elaboração de atividades e ações que resultem na conservação do meio ambiente. Através da evolução da percepção ambiental é possível identificar e analisar as inter-relações do homem com a natureza, as quais se encontram diretamente relacionadas com a forma de pensar e agir de cada indivíduo. Estudos baseados nos aspectos da percepção ambiental de cada indivíduo resultam consequentemente em uma reação e resposta sobre o meio, sendo que estas manifestações geralmente afetam a conduta do homem inconscientemente. Conhecer a realidade é como as pessoas percebem o ambiente onde estão inseridos, sendo isto indispensável para trabalhar a conscientização de uma comunidade, assim como os turistas que também influenciam diretamente o ambiente em que visitam e passeiam (MAROTI, 2002).

Dentro deste contexto, a educação ambiental constitui uma importante ferramenta para promover junto aos cidadãos o desenvolvimento de uma sociedade direcionada para o uso sustentável dos recursos naturais, inseridos em um mundo interdependente e em harmonia com as leis da natureza (PORTO, 1996; AZEVEDO, 2001). Tendo um caráter amplamente socioambiental, a educação ambiental nasceu como um ramo da ciência, preocupado em integrar o conhecimento científico e a participação coletiva, na busca de soluções para os problemas ambientais causados por ações antropogênicas, bem como desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias ao pleno exercício da cidadania e respeito ao meio ambiente (SILVA et al., 2011). Para desenvolver processos de educação ambiental que auxiliem em medidas de conservação e proteção ambiental, faz-se necessário averiguar a percepção que os indivíduos possuem acerca de determinado ambiente (REIGOTA, 1995; SATO, SANTOS, 2003). Assim sendo, o intuito deste trabalho foi verificar a percepção socioambiental dos moradores e turistas acerca dos ecossistemas recifais em duas distintas regiões brasileiras, as quais são muito procuradas.

           O conhecimento das informações ou os dados isolados é insuficiente segundo Morin (2002), sendo preciso situar tanto estas informações quanto os dados em um contexto local e/ou regional para que as pessoas possam adquirir e ampliar os sentidos e as informações sejam realmente aprendidas. Sendo assim, experiências direcionadas para a educação ambiental vêm sendo realizadas em vários níveis de educação, independentemente de se estar vinculado a uma instituição propriamente dita, pois este campo educativo tem sido fertilizado por diversas atividades consideradas transversais (JACOBI, 2003). Entretanto em áreas recifais, no âmbito do planejamento se faz extremamente importante a introdução de políticas ambientais e a realização de atividades direcionadas para educação ambiental sobre um público-alvo segundo Steiner et al. (2006).

 

 

Caracterização dos Ambientes Estudados

Os ecossistemas recifais são ambientes tropicais que apresentam elevada diversidade biológica e grande número de organismos (CONNELL, 1978), servindo como área de reprodução, berçário, abrigo e alimentação para diversos grupos de espécie animais como invertebrados, peixes, tartarugas e mamíferos marinhos (SALE, 1991; GITIRANA, SOUZA, 2012). Por estas razões, estes ambientes compreendem os elos da base da cadeia alimentar costeira, incluindo o sustento de grande parte das atividades pesqueiras (PENNINGS, 1997). Inúmeros bens e serviços provenientes dos recifes são dependentes de inter-relações dinâmicas e complexas entre redes de espécies internas e os demais ambientes costeiros (MOBERG, FOLKE, 1999). Entretanto, devido a grande beleza estes ecossistemas vêm atraindo uma ampla quantidade de visitantes e turistas todos os anos (BARKER, ROBERTS, 2004), servindo também para atividades pesqueiras, além de fornecerem matéria-prima para o artesanato em alguns países (DAHL, 1981).

No Brasil, os ecossistemas recifais estão entre os principais atrativos turísticos do litoral da região nordeste (Figura 1A) devido à sua beleza cênica e pela grande oferta de bens e serviços, atraindo uma grande quantidade de visitantes todos os anos, acarretando inúmeros impactos ambientais decorrentes de atividades antrópicas, causadas por diversos usos diretos e indiretos provenientes de atividades turísticas inadequadas e desordenadas (CASTRO, PIRES, 2001). Devido a esta extrema complexidade, a maior ameaça que os recifes brasileiros vêm sofrendo diretamente são os impactos antrópicos, ocasionados principalmente pelo uso inadequado e por atividades turísticas descontroladas nas áreas recifais, principalmente aquelas que ficam expostas durante as marés baixas (PINN, RODGERS, 2005), somados aos crescentes processos da erosão e assoreamento costeiro, poluição agrícola e doméstica (COSTA JR, 2007), além dos impactos resultantes da pesca artesanal e comercial (SADOVY, 2005).

No arquipélago de Fernando de Noronha, existem características típicas de ecossistemas recifais, porém sem a formação geomorfológica da estrutura e do substrato recifal propriamente dito. Entretanto, existe a presença de diversas espécies de corais distribuídos verticalmente (ESTON et al., 1986; PIRES et al., 1992) ao longo dos costões rochosos de várias ilhas (Figura 1A). Neste arquipélago, inserido em um parque federal, a quantidade de turistas é muito grande anualmente, sendo a baía do Sudeste um dos locais mais impactados por atividades antrópicas (MAIDA, FERREIRA, BELLINI, 1995).

A costa do estado de Alagoas possui inúmeros ecossistemas recifais, distribuídos ao longo de 230 km, tendo-se as maiores concentrações no litoral norte alagoano até Maceió, onde está inserida APA Federal Costa dos Corais (CORREIA, SOVIERZOSKI, 2009). Estes recifes possuem formações geomorfológicas com duas origens distintas: os recifes de corais, formados por estruturas calcárias provenientes do acúmulo de esqueletos de corais hermatípicos, algas calcárias e outros invertebrados, assim como os recifes de arenito, constituídos pela consolidação de antigas linhas de praias (CORREIA, 2011). Na costa de Maceió existem vários recifes localizados junto à faixa de praia urbana e outros próximos (Figura 1B), os quais vêm sofrendo inúmeros impactos devido ao grande número de pessoas e turistas que visitam estas áreas, principalmente no local conhecido como piscina natural da Pajuçara (CORREIA, SOVIERZOSKI, 2010).

 

Figura 1. Localização dos ambientes estudados: (A) Mapa da região nordeste do Brasil, (B) Imagem da Baía dos Porcos e Morro Dois Irmãos na Ilha de Fernando de Noronha, Pernambuco - Foto: Luciana M. Silva, (C) Imagem área dos recifes urbanos de Maceió, Alagoas. Foto: Monica D. Correia.

 

 

 

METODOLOGIA

 

Esta pesquisa foi baseada no levantamento de dados em campo a partir do uso de questionários, sendo utilizada uma abordagem quantitativa e qualitativa que envolveu a interrogação direta de moradores e turistas nas duas diferentes localidades onde foi realizado o presente estudo, pois esta metodologia favorece a compreensão do assunto a partir da investigação realizada com os participantes (LÜDKE, ANDRÉ, 1993). Optou-se por classificar e analisar as inúmeras opiniões e informações obtidas, visando caracterizar a dinâmica e a percepção ambiental das pessoas envolvidas em ambas as localidades, a partir aplicação de questionários para a obtenção e comparação de dados das diferentes situações (MINAYO, 1996).

Foram aplicados questionários semiestruturados entre moradores e turistas das duas localidades, Fernando de Noronha e Maceió, em Alagoas, os quais continham questões objetivas e subjetivas sobre a percepção ambiental dos frequentadores em relação à temática ambiental. Estes questionários incluíram o total de 10 questões que foram classificadas em graus de conhecimento (baixo, regular, bom e excelente), sendo que ao todo participaram desta pesquisa 30 pessoas em cada uma das localidades escolhidas. Os resultados obtidos foram caracterizados de acordo com as porcentagens médias obtidas. Apesar dos ambientes costeiros presentes Fernando de Noronha e Maceió em Alagoas apresentarem características ecológicas e geológicas bastantes distintas, o termo recife foi utilizado de maneira genérica em todos os questionários visando facilitar o entendimento das perguntas pelos entrevistados. 

 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Foi possível constatar de forma geral, nas duas localidades tanto em Fernando de Noronha e como Maceió, em Alagoas, que os entrevistados possuem pouco conhecimento sobre a estrutura, biodiversidade e a ecologia de um ecossistema recifal, porém muitos afirmaram ser necessária a preservação destes ambientes por parte dos usuários e visitantes.

Com relação aos aspectos mais técnicos como origem e formação geológica de diferentes tipos de ecossistemas recifais, como a deposição sedimentar formada por esqueletos calcários de corais ou rocha de arenito, além das comunidades coralíneas instaladas verticalmente em costões rochosos, uma boa parcela dos entrevistados em Maceió demonstrou acreditarem que os recifes são constituídos por rochas e espécies vegetais, enquanto que em Fernando de Noronha várias pessoas apontaram como alternativas corretas rochas e animais (Figura 2).

 

Figura 2. Indagação sobre do que é a constituído um recife.

 

Em contrapartida, quando questionados sobre qual o tipo de ecossistema existente (marinho, estuarino ou lagunar) onde ocorre a formação de recife e que animais e plantas vivem associados a ele, os entrevistados mostraram um índice satisfatório de respostas corretas (Figuras 3 e 4). Estes fatos demonstraram que existia por parte dos entrevistados um conhecimento prévio sobre o que são os ambientes recifais em questão, provavelmente decorrente de informações obtidas em jornais e revistas (AZEVEDO, 2001).

 

Figura 3. Constatação da localização de onde é possível encontrar os recifes.

 

 

Figura 4. Caracterização do conhecimento sobre a fauna e flora dos recifes.

 

O uso e a ocupação dos recifes principalmente sob o aspecto do turismo ficou evidenciado tanto em Fernando de Noronha quanto em Maceió, onde as áreas recifais foram visitadas por cerca de 50% dos entrevistados (Figura 5).  Segundo as repostas obtidas, o acesso a estes locais ocorre principalmente pelo mergulho livre em Fernando de Noronha e por barcos turísticos em Maceió (Figura 6). As respostas obtidas nestas duas questões demonstraram que estes ambientes recebem uma grande quantidade de turistas, o que consequentemente vem acarretando diversos impactos ambientais (CORREIA, SOVIERZOSKI, 2010).

 

Figura 5. Número de pessoas entrevistadas que visitaram os recifes.

 

 

Figura 6. Forma de acesso e uso das áreas recifais.

 

 

Apesar da evidente presença humana nos ecossistemas recifais, os questionários apontaram um ponto bastante positivo, com a maioria dos entrevistados de Fernando de Noronha e grande parte de Maceió responderam que não levaram e/ou retiraram nenhum pedaço de recife ou organismo como lembrança da visita (Figura 7). Este fato demonstra que de alguma forma a informação acerca da necessidade em preservar os recifes está atingindo este público, tornando-os o que Reigota (1995) chamou de representação social do meio ambiente, ou seja, demonstrando que pessoas leigas podem ser capazes de captar, interpretar, agir e pensar sobre questões ambientais.

 

Figura 7. Entrevistados que coletaram algum pedaço e/ou organismo do recife.

 

Neste aspecto, Azevedo (2001) destaca que existem três tipos de representações sociais do meio ambiente entre as mais comuns: a naturalista, que enfatiza apenas os aspectos naturais; a antropocêntrica, que destaca o uso dos recursos naturais para a sobrevivência humana e a globalizante que aponta as relações recíprocas entre natureza e sociedade. Dentro deste contexto, o grupo de entrevistados demonstrou ter um perfil de representantes sociais de meio ambiente do tipo globalizante, apresentando certo grau de conhecimento acerca dos impactos antrópicos que ocorrem sobre os ecossistemas recifais, bem como da própria responsabilidade social sobre a preservação destes ambientes (Figuras 8, 9 e 10).

 

Figura 8. Impactos antrópicos existentes nos recifes segundo os entrevistados.

 

 

Figura 9. Opinião dos entrevistados sobre a necessidade em preservar os recifes.

 

 

Figura 10. Quais as esferas sociais responsáveis pela preservação dos recifes.

 

A pontuação geral dos entrevistados, tendo com base a porcentagem de cada grau de conhecimento em cada localidade e considerando todas as respostas, evidenciou que a maioria dos entrevistados apresentava algum grau de conhecimento com relação aos aspectos ambientais e a importância dos ecossistemas recifais (Figura 11). Entretanto, apesar da análise pontual de cada pergunta no questionário ter demonstrado certa consciência ambiental por parte dos entrevistados, de forma geral, a pontuação total e, consequentemente, o grau de conhecimento dos moradores e turistas de Fernando de Noronha e Maceió apontou um perfil um pouco diferente. Com base nos dados obtidos foi possível observar que o grau de conhecimento em Maceió variou entre baixo a regular, sendo que apenas 10% dos entrevistados apresentaram bom grau de conhecimento sobre a conservação dos ecossistemas recifais. Para Fernando de Noronha o grau de conhecimento foi caracterizado como regular a bom, tendo sido evidenciado que 20% dos entrevistados possuíam baixo nível de informação acerca dos ambientes recifais, considerando ser este um parque nacional marinho direcionado para a preservação ambiental.

 

Figura 11. Grau de conhecimento dos entrevistados sobre os ecossistemas recifais.

 

Os ambientes recifais vêm sofrendo há décadas com inúmeros processos de degradação ocasionados pelas atividades humanas. A retirada de corais hermatípicos para a produção de cal pelas caieras foi um dos primeiros impactos antrópicos sobre os nossos recifes. Esta prática levou inúmeras colônias de corais e hidrocorais ao extermínio desenfreado, em vista do crescimento da agricultura da cana-de-açúcar no nordeste do Brasil até o inicio da década de 70. Atualmente, a degradação dos recifes e a consequente perda da biodiversidade nas comunidades coralíneas, incluindo principalmente a fauna macrobentônica associada, estão diretamente ligadas ao crescimento constante do turismo no litoral brasileiro, em especial na região nordeste. Os impactos diretos causados pelo turismo nos recifes são decorrentes principalmente do pisoteio durante as caminhadas, ancoragem de barcos e lanchas, mergulho livre e autônomo sem orientação. Como impactos indiretos existem muitas construções de condomínios e estabelecimentos comerciais na linha de praia que causam a degradação ambiental através do despejo de efluentes e resíduos sem tratamento (CORREIA, SOVIERZOSKI, 2009).

O grau de conhecimento de moradores e turistas, em Maceió e Fernando de Noronha, evidenciou ainda que o uso inadequado dos bens e serviços provenientes dos recifes está intimamente ligado à falta de conhecimento destas pessoas sobre o que é um recife, das espécies que ali vivem e porque necessitam daquele ambiente íntegro para continuar provendo as necessidades humanas, além de todo o complexo aspecto ecológico das relações interespecíficas. Isto resulta, invariavelmente, na degradação ambiental contínua e desenfreada. Segundo Steiner et al. (2006), com planejamento adequado é possível fazer uso sustentável e de maneira satisfatória dos recursos gerados pela exploração dos ecossistemas  recifais, sem que isso represente uma degradação ambiental tão agressiva e irreversível destes ecossistemas. No âmbito do planejamento se faz extremamente importante a introdução de políticas ambientais e de atividades de Educação Ambiental sobre um público-alvo.

A chave para chegarmos ao uso sustentável dos bem e serviços gerados pelos recifes e a preservação da biodiversidade destes ecossistemas está aliada à responsabilidade individual, a organização social e a participação compartilhada, viabilizando ações e decisões para a solução dos impactos antrópicos. A participação de todos os segmentos sociais é essencial para a formação da ética ambiental dos cidadãos e de sociedades sustentáveis (SILVA et al., 2011).

 

 

CONCLUSÕES

 

Verificou-se que em ambas as áreas de importância turística para o litoral nordeste do Brasil, tanto em Maceió quanto em Fernando de Noronha, os entrevistados apresentaram diversas respostas equivocadas, principalmente nas questões relativas à preservação e a importância dos ecossistemas recifais. Estes fatos evidenciaram a falta de interesse pela necessidade em preservar os nossos ecossistemas recifais e a elevada desinformação sobre estes ambientes costeiros. Uma considerável parte dos entrevistados apresentou algum grau de percepção e consciência ambiental, porém a maioria ficou entre baixo e regular. Pode-se constatar assim que um número considerável de pessoas ainda desconhece o que são os ecossistemas recifais e os impactos causados pelas atividades humanas. Constatou-se que existe uma grande necessidade da realização de trabalhos direcionados para a área da educação ambiental junto às pessoas que direta e/ou indiretamente usam e visitam os ecossistemas recifais, tanto em Maceió quanto em Fernando de Noronha. Projetos com propostas de educação ambiental devem ser direcionados a informar as comunidades locais e a grande massa de turistas sobre como preservar os ecossistemas recifais e as formas de amenizar os impactos ambientais causados pelas diversas atividades humanas desenvolvidas nesses ambientes, pois somente desta forma é que poderemos ampliar a consciência ambiental e estimular o desenvolvimento de atitudes direcionadas para o uso sustentável e a preservação dos ecossistemas recifais brasileiros.

 

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos