Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) O LETRAMENTO E A INCLUSÃO DIGITAL: A LINGUAGEM E A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS ATRAVÉS DE UM CONTEXTO AMBIENTAL E SOCIAL.
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LETRAMENTO DIGITAL: 100 ANOS DE LUIZ GONZAGA

O LETRAMENTO E A INCLUSÃO DIGITAL:

A LINGUAGEM E A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS ATRAVÉS DE UM  CONTEXTO AMBIENTAL E SOCIAL.

 

Herika Bastos de Medeiros

Mestre em Ensino da Saúde e do Ambiente (UNIPLI), Profa. da Rede Municipal de Itaboraí e São Gonçalo; herikabastos@yahoo.com.br

 

Antonio Carlos de Miranda

Doutor (UNICAMP); Professor/pesquisador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu UNIPLI; miratam@ig.com.br

 

 

 

RESUMO: O presente artigo apresenta uma análise realizada a partir da homenagem aos “100 anos de Luiz Gonzaga”, sob o aspecto da inclusão digital. Para isso, realizou-se um levantamento biográfico e uma análise crítica da música “Asa Branca”, a qual permitiu identificar em sua letra o meio ambiente e  o impacto social provocado pela seca na vida dos moradores do sertão nordestino. A partir deste tema, adotou-se um traçado metodológico visando o letramento e a inclusão digital. Identificamos nesta investigação através do uso de tecnologia digital (web) sua relevância como instrumento potencializador de uma discussão interdisciplinar no processo de aquisição de habilidades de leitura e escrita. Sem esquecer o tema ambiental  e social através de um envolvimento lúdico que uma atividade musical consegue trazer para a sala de aula. Nesse contexto, ao se incorporar o recurso digital, a educação passa a ser um instrumento motivador para um melhor desenvolvimento da leitura e da escrita.

 

 

Palavras-chave: inclusão digital, letramento digital, Luiz Gonzaga

 

 

ABSTRACT: This article presents an analysis from the Project "100 years of Luiz Gonzaga”, under the aspect of digital inclusion. For this, we performed a survey biographical and critical analysis of the lyrics of the song "Asa Branca”, which identified his handwriting on the social impact caused by drought on the lives of residents of the northeastern hinterlands. From this theme, we adopted a trace methodology aiming literacy and digital inclusion. We identified this research through the use of digital technology (web) its relevance as tool aggravating an interdisciplinary discussion in the procurement process skills of reading and writing. Without forgetting, that a ludic engagement musical activity can bring to the classroom. In this context, by incorporating digital resource, education becomes a tool for a better motivator development of reading and writing.

 

 

Key-words: digital inclusion, digital literacy, Luiz Gonzaga.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Atualmente a informática está presente em nossa vida, pode-se afirmar que de maneira irreversível e irresistível. As mudanças que ocorrem na sociedade sempre trazem novos desafios motivados principalmente pelo avanço tecnológico, e pela informática. Por um lado, a partir desse avanço tecnológico passou a ser exigido do profissional da educação o desenvolvimento de novos atributos, tais como: apropriar-se das novas tecnologias, elaborar material didático em ambientes virtuais e adquirir uma nova linguagem diante da oferta tecnológica.  Por outro lado, este avanço tecnológico não deve colocar em segundo plano a busca por valores que constroem uma formação educacional de qualidade e que envolvam os saberes necessários a uma formação visando à cidadania. Nesse sentido, cabe lembrar que “a educação visa não apenas inserir o homem no mundo, mas com o mundo, de uma forma crítica e autônoma. Então, atualmente, esse homem deve ser capaz de participar desse mundo que, cada vez mais, se compõe de ambientes informatizados” (FREIRE, apud Juca, 2006, p: 23).

É importante frisar que Paulo Freire foi um dos primeiros educadores a realçar o poder “revolucionário” do letramento. Ele concebe o papel do letramento “como sendo ou de ‘libertação do homem’ ou de ’domesticação’, dependendo do contexto ideológico em que ocorre, e alerta para a sua natureza inerentemente política, defendendo que seu principal objetivo deveria ser o de promover a mudança social”(Freire apud Soares, 2012, p:77). Para Freire (2005), “a cultura letrada conscientiza a cultura; a consciência historiadora auto-manifesta à consciência sua condição essencial de consciência histórica”.

Para Buckinghamm (2010), “letramento digital (ou computacional) equivale a um conjunto mínimo de capacidades que habilitem o usuário a operar com eficiência os softwares, ou a realizar tarefas básicas de recuperação de informações”. Por sua vez, Soares (2012) defende que o letramento é “o estado ou condição de quem se envolve nas inúmeras e variadas práticas de leitura e de escrita”. Uma pessoa é funcionalmente letrada quando pode participar de todas aquelas atividades nas quais o letramento é necessário para o efetivo funcionamento de seu grupo e comunidade (Soares apud UNESCO, 2012).

 

Compreendemos que para alfabetizar ‘letrando’ é preciso que o professor assuma certas posturas, de modo que a prática pedagogia seja conduzida o sentido de viabilizar a formação de um sujeito que não apenas decodifica/codifica o código escrito, mas que exerça a escrita nas diversas situações sociais que lhe são demandadas. Assim, cabe ao professor realizar o trabalho de aquisição da tecnologia da escrita, somado à interação com diferentes textos escritos, bem como criar situações de aprendizagem que se aproximam do uso real da escrita fora da escola. O modo como o professor conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o conhecimento sobre o objeto escrito e adquira certas habilidades que lhes permitirão o uso do ler e do escrever (CASTANHEIRA,  et alli, 2009, p: 32).

 

            Esta investigação, atenta a essas questões,  tem como objetivo principal integrar o uso da inclusão digital como forma de potencializar habilidades de leitura e escrita de alunos que já estão alfabetizados, porém em processo de letramento. E tem como foco um projeto em comemoração aos “100 anos de Luiz Gonzaga”.  Para isso, inicialmente, realizou-se um levantamento biográfico do cantor e compositor. E, em seguida, uma análise crítica da letra da sua mais conhecida composição: “Asa Branca”, através da qual foi possível identificar em sua letra, entre outros aspectos, o impacto social provocado pela seca na vida dos moradores do sertão nordestino. A partir deste tema, adotou-se um traçado metodológico visando o letramento e a inclusão digital. Para Klemann et alli  (2012), a inclusão digital é um processo estabelecido dentro de uma sociedade mais ampla que busca satisfazer necessidades relacionadas à qualidade de vida. Por outro lado, permite trazer à tona através do uso de tecnologia digital (web) sua relevância como instrumento para potencializar  uma discussão interdisciplinar no processo de aquisição de habilidades de leitura e escrita, acrescente-se ainda a possibilidade de discussão de aspectos geográficos e sociais. Para Japiassu (2006), a interdisciplinaridade não é uma categoria do conhecimento, mas de ação e, por isso, “precisa ser entendida como uma atitude” sem ter a ilusão de que basta a simples colocação em contato com os cientistas de diferentes disciplinas para se criar a interdisciplinaridade.

Cabe frisar que o tema, ao mesmo tempo, propiciou que estimulássemos os alunos, em sala de aula, a cantarem a música ‘Asa Branca’, e assim explorarem e desenvolverem a construção de uma atividade lúdica. Com efeito, a educação lúdica está distante da concepção de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. De acordo com Almeida (2003), ela é uma ação inerente na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e aparece sempre como uma forma transnacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual, em permutações com o pensamento coletivo. Nessa linha, Vygotsky (1984) afirma que “a cultura forma a inteligência e a brincadeira favorece a criação de situações imaginárias e reorganiza experiências vividas”.

 

 

 

MATERIAL E MÉTODO

           

            Os sujeitos desta pesquisa são os 15 alunos de uma turma da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do primeiro segmento do ensino fundamental da Escola Municipal Raul Veiga, localizada no município de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro.

As oficinas aconteceram no laboratório de informática com computadores do ProInfo, usando o sistema operacional CNU/Linux, e tiveram duração diferenciada dependendo da proposta do trabalho a ser realizado, em dois dias da semana (segunda e quarta-feira). O conteúdo ministrado nas oficinas foi construído a partir de orientações sobre como utilizar o mouse, abrir e fechar programas, editar texto e salvá-lo, procedimentos para realizar uma pesquisa na web, criar um e-mail, escrever mensagem, anexar um arquivo e enviar.

            O traçado metodológico situa esta investigação no âmbito de uma pesquisa qualitativa envolvendo, a entrevista, como principal fonte de coleta de dados. Adotou-se na sua interpretação a análise de conteúdo. De acordo com Bardin (2002, p:38), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos e descrição do conteúdo das mensagens. No entanto, aspectos quantitativos também foram explorados.  Para isso, foi elaborado um questionário aplicado aos 15 alunos da turma da EJA. Desses alunos, seis deles têm idades entre 18 e 29 anos; quatro, entre 30 e 50 anos e cinco, entre 51 e 75 anos. A pesquisa revelou que os alunos da faixa etária dos 18 aos 29 anos sabem lidar com o computador e entrar nas redes sociais[i], porém apresentam dificuldades em realizar uma busca na Internet. Já os alunos da faixa etária de 30 a 69 anos, não sabem nem mesmo ligar o computador e não reconhecem a importância e necessidade do uso da informática/internet, nos dias atuais.

 

Gráfico 1- Números de alunos que sabem acessar a internet

 

 

 

A fala do aluno, a seguir, representa bem o pensamento dos alunos com idade acima de 30 anos:

 

Aluno A: ”Eu comprei computador para meu neto, mas não sei mexer com essa máquina”.

 

Aluno F: “Fico com medo de mexer no computador”.

 

Aluno H: “Saí do trabalho por um tempo, voltei 17 anos depois e não pude ficar por que não sabia nada de computador”

 

Isso demonstra a necessidade do professor enfrentar essa forma de construção do pensamento dos alunos, para isso torna-se necessário desenvolver estratégias de ensino aprendizagem que consigam romper com a inibição e o medo do novo, do desconhecido, que na maioria das vezes cristalizam-se na atitude que está representada pelo seu afastamento do computador e nas dificuldades diante dele. Em suma, é necessário construir as competências que possibilitem lidar com a tecnologia da informática.

            Diante deste cenário, com a finalidade de investigar a proposta de letramento através do meio eletrônico, surgiu uma questão central: de que maneira poderíamos romper as dificuldades citadas e construir uma ponte de aproximação dos alunos com o computador? Como a unidade escolar estava desenvolvendo um projeto, cujo tema norteador é “100 anos de Luiz Gonzaga”, propomos que os alunos fizessem uma pesquisa sobre a biografia de Luiz Gonzaga e analisassem uma de suas principais músicas, “Asa Branca”. Com o intuito de contribuir para essa pesquisa, a unidade escolar proporcionou a ida da turma ao cinema para que pudessem assistir ao filme “Gonzaga, de pai para filho”.

           

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Em uma primeira etapa, os alunos aprenderam a utilizar e-mail e acessar a Internet, em seguida, solicitamos aos educandos que realizassem uma busca (na rede) sobre a ‘vida’ (um resumo da biografia) de Luiz Gonzaga, fizessem anotações e as enviassem por e-mail para a professora.

 

Figura 1- Mensagem enviada por e-mail (aluna para professora)

 

È importante ressaltar que a maioria desses alunos da EJA não chegou a ter uma vida escolar regular, muitos interromperam seus estudos e retomaram bem mais tarde. Isso, provavelmente, cria uma dificuldade inicial na aquisição de algumas habilidades.

Assim, esses alunos apresentaram dificuldades em anexar o arquivo com as anotações e enviá-lo no corpo do e-mail. Já outros, nos solicitaram ajuda no momento de enviar o arquivo. Segundo Pereira e Cordenonsi (2009), “com esses novos recursos e ferramentas, a educação pode oportunizar uma aprendizagem significativa, proporcionando que o aluno aprenda de forma dinâmica e inovadora”.

 

Essas atividades de leitura e de escrita proporcionam novo meio ou maneira do aluno se expressar e de se relacionar, pois transmite várias informações, as quais possibilitam ao mesmo melhorar sua comunicação. Isto favorece também, para o desenvolvimento de novas habilidades do uso da máquina, que o levam a novas aprendizagens, as quais proporcionam diferentes formas de pensar e aprender (PEREIRA e CORDENONSI, 2009, p: 2).

 

 

            Posteriormente, retornamos ao laboratório de informática e foi solicitado aos alunos, de posse da letra da música “Asa Branca” (obtida após a busca na Internet), que fizessem a análise de cada estrofe da música. Essa música  de autoria de Luiz Gonzaga e de Humberto Teixeira, composta em 1947, retrata o cenário do sertão do Nordeste brasileiro.  Esta é uma etapa em que pode ser explorado pelo professor o meio ambiente através de imagens representando a caatinga, que é um tipo de vegetação dessa região.

 

As caatingas podem ser caracterizadas como florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos muitos dos quais apresentam espinhos (...) apresentam muitas características extremas dentre os parâmetros meteorológicos: a mais alta radiação solar, baixa nebulosidade, a mais alta temperatura média anual, as mais baixas taxas de umidade relativa, evapotranspiração potencial mais elevada, e, sobretudo, precipitações mais baixas e irregulares, limitadas, na maior parte da área, a um período muito curto no ano  (LEAL et alli, 2003, p: 23).

 

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Figura 2 e 3: Imagens da caatinga

Fonte: http://www.ufpe.br/sercaatinga/index.php

 

Na primeira estrofe, chamou a atenção dos alunos a comparação  da terra quente com o fogo da fogueira. Ao mesmo tempo, permitiu a discussão, em sala de aula, da cultura nordestina presente na Festa Junina (ao falar da festa de São João). Além disso, retrata também a crença dos católicos que são devotos do padre Cícero,  ao perguntar o porquê de tamanha judiação com o povo e as terras do sertão.

 

 

Quando olhei a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação.

 

 

Tabela 1: Primeira estrofe da música: “Asa Branca”

 

Aluno C: A terra estava queimando igual à fogueira. Ele perguntou a Deus por que tanto sofrimento?  

 

Aluno F: Ele gostaria de saber por que ali era tão quente, igual à fogueira de   São João. Ele perguntou ao padroeiro do Nordeste Padre Cícero por que tamanha judiação?

 

Aluna H: A terra estava muito quente. Igual à fogueira de São João.

 

  

A aluna H apresentou dificuldades na interpretação e na escrita. Enquanto que os alunos C e F conseguiram fazer uma interpretação com poucos erros ortográficos.

Cabe frisar que o ato de ler e de escrever é um processo cognitivo, mas a busca por seu desenvolvimento depende, muitas vezes, de como ele acontece. Segundo Pereira e Cordenonsi (2009), devemos, enquanto professores, procurar caminhos alternativos que possibilitem o aprendizado da leitura e da escrita, respeitando o tempo de cada aluno, fazendo com que ele supere a sua própria limitação. Nesse sentido, alguns alunos, ao interpretarem a segunda estrofe, tiveram dúvidas com relação ao significado da palavra alazão. Foi sugerido pela professora que eles pesquisassem imagens e buscassem o significado da palavra.

 

 

 

Que braseiro que ‘fornaia’

Nem um pé de ‘prantação’

Por falta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão.

 

 

Tabela 2: Segunda estrofe da música “Asa Branca”

 

Aluno E: Alazão significa cavalo. Antigamente a gente não falava cavalo e sim alazão.

 

Aluno F: Por causa da quentura, a plantação não vingou e por falta de água perdeu o gado e o cavalo.

 

 

 

Figura 4: Imagem do significado da palavra “alazão”

Fonte:  http://farm4.staticflickr.com/3154/2954937567_8dc8ec49a8_z.jpg

 

 

            O aluno B, retirou do site Google, através da busca pela palavra alazão à imagem acima (Fig. 4),  e incluiu no seu texto.

Na terceira estrofe da música, o sertanejo é obrigado a sair de sua região,  assim como a ‘asa branca’ e promete a Rosinha que um dia irá voltar.  Essa estrofe retrata a imigração e ‘desterritorialização’, onde o nordestino se vê obrigado a sair de sua cultura herdada e se adaptar a outro tipo de cultura, que não é a sua.  Segundo Haesbaert (2005), a desterritorialização seria uma espécie de “mito”, incapaz de reconhecer o caráter imanente da (multi)territorialização na vida dos indivíduos e dos grupos sociais.

 

‘Inté’ mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

‘Intonce’ eu disse adeus Rosinha

Guarda comigo meu coração

 

Tabela 3: Terceira estrofe da música “Asa Branca”

 

           

            Quando os alunos cantaram essa estrofe, perguntamos a eles: o que seria “asa branca”? A seguir, decidiram pesquisar na internet.

 

 

Aluno A: Asa Branca é uma espécie de pombo. Professora!  olha a imagem da asa branca.

 

 


Figura 5: Imagem da espécie de pombo “Asa Branca”

Fonte: http://indikabem.com.br/wp-content/uploads/2012/03/pomba.jpg

 

Aluno F: O tema da canção é a seca no Nordeste brasileiro que pode chegar a ser muito intensa, a ponto de fazer migrar até mesmo a ave asa-branca (Patagioenas picazuro, uma espécie de pombo também conhecido como pomba-pedrês ou pomba-trocaz). A seca obriga também um rapaz a mudar da região. Ao fazê-lo, ele promete voltar um dia para os braços do seu amor.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Asa_Branca

 

Aluno B: Até mesmo o pombo foi embora fugindo da seca do sertão. Ele decide deixar sua esposa para tentar uma vida melhor.

 

Aluno E: Ele vai em busca de trabalho em outro lugar, porque no nordeste enquanto tiver seca ele não pode ficar.

           

            Convém lembrar que o educador é o agente principal deste processo de inserção da tecnologia nos ambientes educativos. Assim, conforme  sugerem Liano e Adrián (2006),  ele deve ir se apropriando progressivamente destas tecnologias e, com o apoio necessário, controlar e dirigir o processo de inserção destas ferramentas. Nesse sentido, apoiamos  Castanheira, Maciel e Martins (2009, p: 15) quando afirmam que é importante que o professor esteja atento que “o acesso ao mundo da escrita é em grande parte responsabilidade da escola, que conceba a alfabetização  e o letramento como fenômenos complexos e perceba que são múltiplas as possibilidades de uso da leitura e da escrita na sociedade.”

 

Hoje longe muitas léguas

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Para eu voltar pro meu sertão.

 

Tabela 4: Quarta estrofe da música “Asa Branca”

 

 

Aluno A: ”Hoje muito distante ele espera cair a chuva para voltar para o sertão”.

Aluno C: ” Muito distante e com saudades do seu amor, ele espera a chuva cair para poder voltar para o sertão.”

 

 

 

            Nesse contexto, segundo Nascimento (2006) “regiões semi-áridas, como os sertões nordestinos, estão sob condições anômalas, com períodos de secas, atingindo fortemente as atividades socioeconômicas, implicando na queda de produção, êxodo rural e crescimento da miséria no meio rural e urbano”. O Brasil possui em torno de 12% da água doce do planeta, considerado como um dos países que tem uma das maiores disponibilidades hídrica. No entanto, 68% desta água,  isto é, a sua maior parte,  encontra-se no norte do país onde vive apenas 7% da população brasileira, enquanto que a região nordeste possui apenas 3% para uma população de 28% (MIRANDA, GOMES, SILVA, 2006).

            Na quinta e última estrofe, a letra da música se refere ao verde da vegetação, que é a caatinga. No retorno do indivíduo ao sertão, acontece a ‘reterritorialização’, quando volta com as experiências de outro lugar onde se estabeleceu anteriormente. Apresenta-se sempre com um caráter emocional. Essa relação identidade-território, como afirmam Souza e Pedon (2006, p:128) é  um processo dinâmico,  que se desenvolve e tem como principal elemento, “o sentido de pertencimento do indivíduo ou grupo com o seu espaço de vivência. Esse sentimento de pertencer ao espaço em que se vive, de conceber o espaço como locus das práticas, onde se tem o enraizamento de uma complexa trama de sociabilidade”.

 

Quando o verde dos teus ‘óio’

Se espalhar na ‘prantação’

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração.

 

 

Tabela 5: Quinta estrofe da música “Asa Branca”

 

 

Aluno F: ”Quando você olhar a plantação toda verde eu te garanto  que seu coração não ficará mais triste que eu voltarei para nosso sertão.

 

Aluno D: “Quando ela olhar para a plantação e ver tudo verde, já sabia que logo seu amor irá voltar.”

 

 

A desertificação deve ser considerada como um problema socioambiental complexo. Conforme afirma Nascimento (2006), tal problema deve ser analisado dentro de uma perspectiva múltipla e diversificada, destacando sempre sua importância na convivência da população com o fenômeno da seca, como na caatinga ͥ ͥ ͥ, e nas ações necessárias  na melhoria da sua  qualidade de vida. É importante lembrar que a agenda 21, em seu cap. 12.2,  defende que é necessário promover o manejo de ecossistemas frágeis: a luta contra a desertificação e a seca.

 

CONCLUSÃO

 

            O letramento digital, segundo Buckinghan (2010), é bem mais do que uma questão funcional de aprender a usar o computador e o teclado, ou fazer pesquisas na web. Acreditamos que em uma primeira etapa seja importante começar com essas funções básicas. No entanto, em seguida, o estudante deve conseguir analisar as informações de forma crítica para que o conhecimento seja significativo para ele. Isso representa um dos pressupostos desta investigação. Nesse sentido, percebemos que a atividade desenvolvida, em sala de aula, focada na música ‘Asa Branca’ esteve atenta a esse pressuposto. Pois conseguiu retratar o sofrimento do nordestino com a seca, a imigração e a ‘desterritorialização’, onde o sertanejo se vê obrigado a sair de sua cultura herdada e de se adaptar a outro tipo de ‘vida’, em outra região. Ao mesmo tempo,  permitiu trazer à tona através do uso de tecnologia digital (web) com  imagens e textos  uma discussão interdisciplinar no processo de aquisição de habilidades de leitura e de escrita, acrescente-se ainda a possibilidade de discussão do meio ambiente e de aspectos  sociais, através  da compreensão, identificação e empatia com a vida do nordestino. Por fim, cabe frisar que através dessa atividade lúdica, ao cantarem a música, isso fica potencializado, isto é, constroem-se os significados. O que nos fez relembrar Vygotsky (1984) quando afirma que “a cultura forma a inteligência e a brincadeira favorece a criação de situações imaginárias e reorganiza experiências vividas”.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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JAPIASSU, H. O sonho transdisciplinar e as razões da filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

 

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MIRANDA, Antonio Carlos de; GOMES, H. P., SILVA, M. O.  Recursos Hídricos: A gestão das águas, a preservação da vida. Rio de Janeiro: Editora All Print, 2006.

 

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PEREIRA, L. L.; CORDENONSI, A. Z. Softwares Educativos: uma proposta de recurso pedagógico para o trabalho das habilidades de leitura e escrita com alunos dos anos iniciais. RENOTE: Novas Tecnologias na Educação, v. 7, N 3, dezembro, 2009.

 

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

 

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VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos pressos psicológicos superiores. São Paulo: Editora Martins, 1984.

 

O ProInfo visa promover o uso pedagógico de tecnologias da informação relacionadas a conteúdos educacionais nas escolas públicas de todo o Brasil. Nesse contexto, o Linux Educacional (LE) colabora para o atendimento dos propósitos do ProInfo, de forma a favorecer o usuário final (Guia de  Tecnologias Educacionais, 2008, 49).

[1] O Linux Educacional é um sistema operacional GNU/Linux produzido a partir da customização da distribuição Kubuntu (versão 8.04). Como principais diferenciais desta solução estão à facilidade de uso, a facilidade de instalação, a disponibilização de um variado leque de aplicativos de produtividade (editores de texto, planilhas eletrônicas, apresentações etc) e um conjunto de conteúdos para fins educacionais (Guia de  Tecnologias Educacionais, 2008, 49).

[1]iA  caatinga,  ao longo dos tempos,  passa por um  processo de alteração e deterioração ambiental, como destaca Leal et  alli (2003) “provocado pelo uso insustentável dos seus recursos naturais, o que está levando à rápida perda de espécies únicas, à eliminação de processos ecológicos chaves e à formação de extensos núcleos de desertificação em vários setores da região”.



 

Ilustrações: Silvana Santos