Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EFETIVAÇÃO E ANÁLISE DE AÇÕES EDUCATIVAS PROMOTORAS DA BIODIVERSIDADE EM UMA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL COSTEIRA DO NORDESTE – BR
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EFETIVAÇÃO e análise DE AÇÕES EDUCATIVAS PROMOTORAS DA BIODIVERSIDADE em UMA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL COSTEIRA DO NORDESTE – BRASIL

 

 

Maria Vitória Élida do Nascimento

 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Endereço: R. Dr. Guilherme de Almeida, 66, Lagoa Azul, Natal, RN. <84 8839 7366> Email: vitoriaelida@yahoo.com.br

 

Elineí Araújo-de-Almeida

 Profª Dra. do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN – Brasil. <84 8829 9132> Email: elineiaraujo@yahoo.com.br

 

 

Resumo: Diante das problemáticas ambientais atuais é importante que se criem estratégias no intuito de conservar a diversidade biológica ainda existente. Diante desta realidade, o objetivo deste artigo é mostrar que a implantação de ações educativas em escolas situadas em áreas protegidas é uma importante ferramenta para a sensibilização direcionada à conservação da biodiversidade, pois tais ações agem impulsionando o desenvolvimento de uma visão crítica e reflexiva voltada a atitudes mais conscientes com relação ao meio ambiente.

Palavras-chave: Ações educativas; Biodiversidade; Área de Proteção Ambiental.

 

 

1. Introdução         

 

Wilson (1997) chama a atenção para o acelerado ritmo de extinção das espécies causado pelo crescimento populacional e as consequentes expansões de atividades necessárias para a sobrevivência humana. A conservação da biodiversidade passou então a ser uma preocupação constante entre os ambientalistas.

Segundo Pegoraro e Sorrentino (1998), as atividades centradas em temáticas da flora, da fauna e dos ambientes, qualificadas como sendo de Educação Ambiental, vêm sendo justificadas pela necessidade da conservação da biodiversidade. Tais ações suscitam polêmicas, pois frequentemente estão associadas ao conservacionismo pontual ou a enfoques puramente descritivos, voltados à informação e à memorização.

Mas, ao pensarmos na elaboração de propostas e medidas reparadoras para problemas ambientais, algumas questões devem ser levadas em consideração. Segundo lembram Hoeffel, Sorrentino e Machado (2004), a problemática ambiental não é nova e precisa ser analisada dentro de uma perspectiva histórica porque a compreensão dos problemas ambientais não é homogênea. É importante destacar que de acordo com Jacobi (2003), a Educação Ambiental (EA) assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento.

Leff (2001) afirma que a Educação Ambiental (EA) torna-se elemento-chave para a transformação social e deve estar presente em todos os espaços educativos, de forma interdisciplinar, transversal e holística. Neste contexto, temos a escola, que diante dos temas atuais e com o seu papel formador de cidadãos, é vista como um local indicado para as discussões e aprendizado de temas como os que se referem ao ambiente (VILA; ABÍLIO, 2010), levando a reflexão sobre a postura que o homem deve assumir para com o ambiente. Assim, a escola através de suas atividades de sala de aula e de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação levam à autoconfiança e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental (DIAS, 1992). Isso vem convergir com as necessidades atuais de conservar o meio, criando-se espaços direcionados para tal finalidade, entre eles destacam-se as Unidades de Conservação (UC).

As UC’s são áreas privilegiadas para a atuação da Educação Ambiental, principalmente em atividades que tratem da biodiversidade. A diversidade biológica é considerada um tema emergente e estratégico para a EA (OLIVEIRA, 2004), e essa característica é de grande importância para a prática de ações educativas. Nessas áreas protegidas, é possível a realização de diversas ações educacionais, entre elas as trilhas interpretativas (MENGHINI; MOYA-NETO; GUERRA, 2007; NASCIMENTO; ARAÚJO-DE-ALMEIDA, 2009) e as vivências na natureza (MENDONÇA, 2005). Além disso, os espaços de gestão participativa das Unidades de Conservação trazem oportunidades de articulação política e ação educativa, de forma a estabelecer coletivamente as tomadas de decisão para gerenciar conflitos e promover a conservação ambiental (LOUREIRO, 2004; QUINTAS, 2002).

Morin (2000) diz que não existe Educação Ambiental apenas na teoria. Sendo assim, para se adquirir aprendizado na área ambiental é necessário um exercício ativo e prático de cidadania. Nesse contexto, estão inseridas as ações educativas, que agem despertando uma consciência crítica acerca da necessidade de conservação, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental (TABANEZ; PÁDUA; SOUZA, 1997).

            Este trabalho teve, portanto, como objetivo avaliar como a realização de ações educativas em escola situada em uma Área de Proteção Ambiental pode ser efetiva para a sensibilização acerca da promoção da conservação da biodiversidade.

 

2.  Ações Educativas voltadas às questões ambientais

 

Segundo Carvalho (2006), a Educação Ambiental deve estar pautada em três dimensões: a natureza dos conhecimentos, onde é fundamental que se compreenda a complexidade dos processos naturais e a sua associação com o homem; os valores éticos e estéticos, que atuam na sensibilização e respeito ao ambiente; e a participação política, que age no exercício da cidadania; gerando tendências diversas.

            Marpica (2008) baseado em Silva (2007) classificou as ações educativas na educação ambiental dentro de quatro tendências: Tendência Silenciosa, onde momentos que seriam interessantes para trabalhar as questões ambientais não recebem destaque; Tendência Conservacionista, em que o homem não é considerado parte integrante da natureza, e as ações educacionais se voltam a uma visão contemplativa do meio, sem que haja uma problematização das questões ambientais; Tendência Pragmática, onde a natureza é vista como recurso e apenas medidas punitivas são consideradas eficientes contra as degradações; e a Tendência Crítica, em que os contextos históricos, políticos, culturais e sociais são levados em consideração, e em conjunto atuam na compreensão de uma realidade e na superação de problemas.

            A tendência conservacionista por muito tempo foi a mais utilizada nas atividades de Educação Ambiental. Guimarães (2004) diz que tal postura faz com que a leitura do mundo e o fazer pedagógico trilhem um caminho único, traçado por racionalidade. Este processo reproduz uma educação tradicional e uma Educação Ambiental sem resultados efetivos na busca pela mudança da visão com relação às questões ambientais. Dessa forma, faz-se necessário perceber que a mudança de comportamento não ocorre apenas ao transmitir o conhecimento, pois a teoria não pode sobrepor a prática e o conhecimento não pode ser desvinculado da realidade.

            Em meio a esse contexto encontra-se o ambiente escolar, que está completamente arraigado da realidade social, realidade esta, onde a perspectiva ambiental também está inserida. Dessa forma, os temas meio ambiente e Educação Ambiental exigem um tratamento mais interdisciplinar, de forma a preservá-los dos reducionismos e das abordagens simplistas (PORTELA, 2009). Também, a Educação Ambiental mostra que é necessária a elaboração de propostas pedagógicas centradas na sensibilização, mudança de atitude, desenvolvimento de conhecimentos, capacidade de avaliação e participação dos educandos (JACOBI, 2005).

            Tudo isso vem mostrar o grande desafio que é fazer com que ações educativas voltadas às questões ambientais se tornem realmente efetivas (CARVALHO, 2005).

 

3. Unidades de Conservação, Ações de Educação Ambiental e Promoção da Biodiversidade

 

A criação de Unidades de Conservação é uma importante estratégia na busca pela conservação da biodiversidade e dos recursos naturais. Porém, Diegues (1994) afirma que a criação de áreas protegidas por si só, não tem possibilitado o resultado esperado, já que as atividades de degradação ambiental ainda existem. Com isso, para que se tenha conservação em áreas protegidas é necessário que se leve em consideração a complexidade que envolve a realização de atividades educacionais.            

Sabe-se que as ações de Educação Ambiental atuam contribuindo para a conservação da biodiversidade, pois levam a mudanças na relação homem/natureza (MENDONÇA, 2005). De acordo com De Marco (2000), estas ações educativas devem atuar oferecendo instrumentos para que os sujeitos  possam se apropriar dos conhecimentos necessários ao exercício da participação na gestão e busca pela conservação, podendo ser efetivadas no espaço escolar e fora dele.

            Porém, para a efetivação de ações educativas, principalmente no espaço escolar, é preciso que se tenham alguns cuidados. A organização da ação assume um papel crucial, já que conceitos como os de currículo, avaliação, estratégias e conteúdos são formas de organizar o ambiente físico e humano, tornando-os mais atraentes e facilitadores da aprendizagem (DRAGO; RODRIGUEZ, 2009).

            Ações de Educação Ambiental voltadas à conservação da biodiversidade devem promover diálogos e trocas de saberes entre os diferentes atores sociais visando à produção de propostas de planejamento ambiental participativo, levando à mudanças de hábitos e valores, podendo gerar uma diminuição nos danos ambientais.

Sendo assim, as ações educacionais atuam como importantes instrumentos na promoção da biodiversidade em áreas naturais protegidas, pois promovem o interesse pelo conhecimento por parte dos indivíduos envolvidos, além de sensibilizar sobre a necessidade de conservação.

 

4. Percursos Metodológicos

4.1. Caracterizando a área de estudo

 

Esta pesquisa foi realizada na Escola Municipal Sérgio de Oliveira Aguiar (EMSOA), localizada no distrito de Jenipabu, município de Extremoz – RN (FIGURA 1). Esta instituição de ensino funciona nos turnos matutino e vespertino, com o Ensino Fundamental II e Ensino Fundamental I e Infantil, respectivamente. As turmas selecionadas para as atividades foram as de 6º ao 9º ano (60 alunos), turmas já trabalhadas em atividades anteriores. A escolha por esta escola deveu-se a existência de contato anterior da pesquisadora com a instituição

A EMSOA esta inserida na Área de Proteção Ambiental Jenipabu (APAJ), a qual está localizada entre 35º 12' 56"W e 05º 40' 40"S, com uma área total de 1.881 ha, pertencente em quase sua totalidade ao município de Extremoz, apresentando apenas uma pequena faixa no município de Natal (FIGURA 2).

A APAJ foi instituída pelo Decreto nº 12.620 de 17 de maio de 1995, e foi criada devido à necessidade permanente e emergencial de se preservar toda a biodiversidade costeira existente nessa região, tendo como objetivo ordenar o uso, proteger e preservar, os ecossistemas de praia, mata atlântica e manguezal, lagoas, rios e demais recursos hídricos, dunas e espécies vegetais e animais. A APAJ abrange as praias de Jenipabu, Redinha Nova e Santa Rita.

 

FIGURA 1. Imagem da Escola Municipal Sérgio de Oliveira Aguiar

 

FIGURA 2. Mapa da localização da Área de Proteção Ambiental Jenipabu

 

 

4.2. Ferramentas de pesquisa

 

            Para efetivação da pesquisa realizou-se um estudo exploratório na perspectiva de Minayo (2007) através de visitas ao local, para delimitar estratégias de como as atividades seriam desenvolvidas. Esta etapa permitiu uma aproximação com a realidade a qual se propunha trabalhar, além de estabelecer uma interação com os atores envolvidos na pesquisa.

            O enfoque para a obtenção de dados vinculou alguns elementos da pesquisa-ação de Thiollent (2000) abordados em Cazoto e Tozoni-Reis (2008), dos quais foram diagnóstico, ação e avaliação. A fase diagnóstica envolveu a obtenção de informações sobre o significado que alguns eventos de Educação Ambiental representaram no processo educativo de alunos e professores, principalmente acerca da ação promovida para a comemoração da Semana do Meio Ambiente. Neste evento foi realizada uma palestra informativa sobre a APAJ e apresentações culturais. E contou com a participação de alunos, professores, funcionários e representantes do Conselho Comunitário de Jenipabu.

Após esta fase, foram realizadas reuniões com a direção da escola e professores para a escolha das atividades que seriam desenvolvidas e direcionamento de turmas e equipes de trabalho. Foram elaborados cronogramas de atividades e decidido pela realização de um evento na escola voltado para a biodiversidade encontrada na APAJ. Este evento recebeu o nome de Semana da Biodiversidade, que envolveu palestras e oficinas, das quais resultaram produções artísticas. Abaixo se encontra o cronograma seguido pelo evento (TABELA 1).

 

 

 

 

 

Tabela 1. Demonstrativo de atividades desenvolvidas durante a Semana da Biodiversidade

Dia

Tema

Atividade

Público Envolvido

Local

 

1º dia

A Área de Proteção Ambiental Jenipabu

- Abertura da Semana da Biodiversidade com a Corrida Ecológica

Professores, alunos e pesquisadora

Praia de Jenipabu

 

2º dia

A importância da biodiversidade e sua conservação

- Palestras sobre a biodiversidade existente na APAJ

Professores, alunos, pesquisadora e colaboradores

EMSOA

 

3º dia

A arte como ferramenta de sensibilização

- Oficinas de artes: A biodiversidade desenvolvida em massa de modelar

Alunos, pesquisadora e colaboradores

EMSOA

 

4º dia

Um olhar sobre a APAJ

- Produção de modelo tridimensional sobre a APAJ e folder

Professores e alunos

EMSOA

 

 

5º dia

Mostrando a APAJ

- Participação em evento da Prefeitura de Extremoz

Professores, alunos e pesquisadora

Secretaria de Educação de Extremoz

 

 

 

 

 

 

 

 

           

            As palestras desenvolvidas no evento foram intituladas: a) A Área de Proteção Ambiental Jenipabu - objetivou informar os alunos sobre o processo de criação desta unidade, as finalidades da criação, e a importância da participação social nas atividades de conservação); b) A Biodiversidade Marinha - a qual tinha como objetivo averiguar sobre o conhecimento dos alunos acerca da biodiversidade de espécies marinhas existente na APAJ, bem como discutir a participação humana no processo de conservação destes animais; c) A fauna associada as bromélias - que teve como objetivo mostrar a interação existente entre a fauna e flora, enfatizando importância da mesma para o equilíbrio ecológico.

            Após o término da ação, os alunos foram convidados a participar do processo avaliativo. Dos 60 alunos participantes, 30 (50%) compareceram ao encontro marcado. Todos estes responderam aos questionários de forma voluntária. Os questionários avaliativos eram semiestruturados com perguntas fechadas e abertas, que agem complementando informações obtidas em questões estruturadas, que segundo Whyte (1977) fornecem dados sobre identidade e percepção. Estes questionários objetivaram avaliar acerca do conteúdo informativo adquirido pelos alunos sobre a biodiversidade. As perguntas contemplaram conhecimentos sobre organismos biológicos, APAJ, interesse pela conservação e atuação do individuo como agente transformador do meio ambiente.

          Para a avaliação dos questionários se utilizou à análise de conteúdo categorial temática descrita por Bardin (2010), que consiste na análise de dados qualitativos através da identificação de temáticas que constituem respostas à questões específicas. Os temas encontrados foram agrupados de acordo com suas semelhanças de significado. Tais respostas foram quantificadas pela contagem de sujeitos que apresentaram em suas respostas as categorias pré-identificadas.

          É importante destacar que para a análise do questionamento sobre o conceito de biodiversidade nos baseamos na definição de diversidade biológica descrita no artigo 2 da Convenção Sobre Diversidade Biológica (BRASIL, 1999), o qual diz que a biodiversidade pode ser entendida como a variabilidade dos organismos vivos, abrangendo ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, compreendendo assim, a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

 

5. RESULTADOS

5.1. A Semana da Biodiversidade – Unindo teoria à prática

 

            Quando se pretende trabalhar com Educação Ambiental para a sensibilização de indivíduos é importante que se saiba que, não podemos abordar temas referentes ao meio ambiente somente passando conhecimentos, ou seja, é necessário que os conteúdos estejam atrelados às atividades práticas. Partiu-se do princípio de que a escola tem condições de planejar as ações educativas, envolvendo situações que possibilitem a interação dos educandos com o meio ambiente, facilitando a formulação de conceitos e despertar para a aquisição de uma consciência ambiental trazendo mudanças de atitudes e de hábitos no sentido da preservação do meio (CARVALHO, 2004).

            A introdução da Semana da Biodiversidade na escola possibilitou reforçar o conhecimento dos alunos acerca da diversidade biológica existente na Área de Proteção Ambiental Jenipabu, bem como sobre a necessidade de conservação. Diante disso, observamos como a efetivação das ações educativas contribui para uma evolução dos conhecimentos em biodiversidade. Outro ponto importante foi a disponibilidade em participar de ações voltadas à conservação, trazendo evidências positivas nas diferentes etapas da pesquisa em que os alunos foram requisitados.

            Tabanez, Pádua e Souza (1997) destacam que estimular a participação dos indivíduos em atividades socioambientais, desperta cada vez mais o interesse dos mesmos com as questões de conservação, fazendo com que passem de seres passivos para ativos e descobridores do meio natural.           

            Como produtos das atividades desenvolvidas durante a Semana da Biodiversidade podemos destacar: a elaboração de um folder explicativo sobre a APAJ; a criação de réplicas de espécies de biodiversidade marinha feita em massa de modelar; a elaboração de um cordel sobre a APAJ e a criação de um modelo tridimensional, contemplando os diversos ecossistemas presentes nesta unidade (FIGURAS 3A e B). Todas as atividades foram realizadas por alunos, com a colaboração dos professores.

 

 

B

 

A

 

 

 

FIGURA 3. A – Foto com réplicas de representantes da biodiversidade marinha da APAJ produzidas pelos alunos; B – Foto do Cordel sobre a APAJ.

 

            Estes materiais confeccionados foram levados para uma exposição promovida pela Secretaria de Educação do Município de Extremoz, onde mais escolas participaram, abrangendo as ações a um número maior de indivíduos. Percebemos aqui o que chamamos de socialização do saber, que segundo Saviani (2000) encontra na escola um importante meio de socializar os saberes elaborados. Este autor parte do pressuposto de que a elaboração do saber implica em expressar de forma elaborada os conhecimentos que surgem da prática social.

            Assim, percebe-se a importância e a necessidade da Educação Ambiental, mas não apenas de informação e sim de experimento, integração e sensibilização, capaz de desenvolver a percepção humana. Com a efetivação dessas ações percebemos o fundamental papel da Educação Ambiental em realizar ações que levem ao entendimento da realidade em que se vive, gerando reflexões, para que assim, os conhecimentos adquiridos possam ser transportados para a sua vivência social, alcançando assim seus objetivos (PRZYPYSZ et al, 2010).

 

5.2. A biodiversidade na visão dos alunos

 

          Quando os alunos foram questionados sobre o conceito de biodiversidade observamos que a maioria (64%) definiu biodiversidade numa perspectiva de meio biótico, abrangendo a diversidade de fauna, flora e seus ecossistemas (GRÁFICO 1). Este fato demonstra a evolução no conhecimento dos alunos, pois quando perguntados em momentos anteriores as ações educativas, os mesmos demonstraram dificuldades na formulação desse conceito.

 

 

 


 

GRÁFICO 1. Concepções dos alunos sobre o conceito de biodiversidade

           

            Tais concepções são evidenciadas pelas citações descritas no quadro a seguir (TABELA 2):

 

 

Tabela 2. Exemplos de citações dadas pelos alunos

 

 

Categoria

Citação

Perspectiva biótica

“Biodiversidade é a diversidade de vida que existe no planeta, são as plantas e os animais e os lugares onde eles vivem.” (Aluno do 7º ano)

Perspectiva abiótica e biótica

“São as plantas, os bichos e a lagoa.” (Aluna do 6º ano)

 

           

 

Com relação ao conhecimento sobre biodiversidade, podemos fazer uma comparação entre os dados obtidos antes e após a realização das ações. Quando questionamos, antes da efetivação das ações, sobre a diversidade faunística existente na APAJ, obtivemos os dados representados abaixo (GRÁFICO 2):

 

 

GRÁFICO 2. Grupos de animais citados pelos alunos antes das ações educativas

 

            Com a concretização das ações, realizamos o mesmo questionamento, acrescido da diversidade de flora, e obtivemos menção de diversas espécies encontradas na unidade. As citações nos deram um total de 14 espécies de animais dentro de 5 grupos categorizados (GRÁFICO 3) e 12 de vegetais. 

 


GRÁFICO 3. Percentual de grupos de animais citados pelos alunos após a realização das ações educativas

 

            Segundo Begossi (2003), o homem tende a perceber, identificar e utilizar os animais, levando em consideração os seus costumes e percepções, isso faz com que cada indivíduo perceba e cite os animais com os quais ele apresente uma maior afinidade, ou que mantenha um maior contato.

De acordo com o supracitado podemos observar que as espécies de vertebrados são mais citadas que os invertebrados, tanto antes como após as ações, este fato se deve a maior facilidade em perceber os animais que apresentam grande porte (SILVA, 2006). Os animais mais citados foram jacaré e cobra. Isso pode ser explicado devido às grandes discussões sobre a existência de jacarés na Lagoa de Jenipabu, e também pela presença de uma área verde em que constantemente se encontram cobras.

Porém, vale destacar que quando analisamos por grupo categorizado, percebemos que os invertebrados conseguiram adquirir mais destaque, saindo de 2% para 16%. Sendo mais citados que animais como os mamíferos, este fato deve-se a aproximação dos alunos com estes animais a partir das ações educativas que foram desenvolvidas. Merece destaque também as espécies de invertebrados que tiveram seus nomes mais citados, as esponjas (4 citações) e as ascídias (3 citações), isto é um dado curioso, pois estas últimas não são espécies em que os alunos estejam em contato frequente, mais uma vez enfatizando a importância das ações levando novos conhecimentos através do contato com as espécies.

            Dentre as espécies vegetais citadas a mais lembrada foi o cajueiro (Anacardiaceae), com sete citações. Isso é justificado pela grande abundância dessa espécie na região. A segunda espécie mais citada foi a bromélia (Bromeliaceae), que recebeu seis citações. Este dado é importante que seja enfatizado, pois em pesquisas anteriores desenvolvidas (fase diagnóstica) esta espécie de vegetal não havia recebido nenhuma citação, enfatizando mais uma vez a atuação das ações educacionais. Merece destaque também a citação por um aluno de uma espécie conhecida como cravo-de-defunto, que foi citada como cravo-de-urubu, demonstrando a importância de interação com estes indivíduos, para que os pesquisadores entrem em contato com os conhecimentos populares.

            Ao serem questionados sobre a importância da introdução de pesquisas que levem ações para o espaço escolar, e solicitado para que os alunos caracterizassem em Muito Importante, Pouco Importante ou Sem Nenhuma Importância. Diante desse questionamento, 100% dos alunos afirmaram ser Muito Importante a introdução de pesquisas no ambiente escolar. Alguns dos alunos afirmaram que as pesquisas ajudam por levar novos conhecimentos sobre o meio e como cuidar dele, e que devem continuar acontecendo na escola. Tais demonstrações servem de estímulo para que novas pesquisas sejam desenvolvidas nesses ambientes, e assim aumente cada vez mais a sensibilização dos indivíduos quanto às questões ambientais.

            Quando perguntados como poderiam ajudar para conservar a Área de Proteção Ambiental Jenipabu e sua biodiversidade, destacamos as seguintes categorias: ações de conservação, onde estão incluídas, as atitudes para com o ambiente como não desmatar, não caçar e não poluir, e ações de sensibilização, como elaboração de cartazes e realização de palestras (GRÁFICO 4). Podemos observar com isso a sensibilização e o conhecimento por parte dos alunos de atividades que são degradantes e a postura que deve ser adotada em prol da conservação da biodiversidade encontrada na Unidade de Conservação.


GRÁFICO 4. Concepções dos alunos referentes à atuação em prol da conservação da APAJ.

 

6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Com a realização deste estudo percebemos que os discentes envolvidos apresentam interesse nas questões que envolvem esta Unidade de Conservação, e que os mesmos anseiam conhecimentos sobre a área e sua diversidade biológica. Dessa forma, vimos que é importante que os assuntos referentes ao meio ambiente não sejam trabalhados apenas com um olhar biológico, onde o homem é visto como um agente degradante do meio, ao invés de ser visto como um agente capaz de gerar transformações positivas. Assim, a Educação Ambiental deve ser trabalhada nas escolas de forma constante e com caráter interdisciplinar, já que estas instituições são importantes campos de formação cidadã.

            As instituições de ensino inseridas em áreas protegidas se deparam com um papel ainda mais desafiador, pois estão diante de diversas normas e leis que regem essas unidades, as quais acabam refletindo no comportamento dos indivíduos para com a área. Fazendo de cada proposta de sensibilização um desafio para o pesquisador e para quem se propõe enveredar nas trilhas da Educação Ambiental.

            As reflexões acerca da efetivação de ações educativas em prol da conservação da biodiversidade realizadas neste ambiente escolar mostram ainda que, para formarmos indivíduos com uma visão crítica e transformadora, capazes de pensar por si mesmo e assim tomar decisões conscientes, faz-se necessário que as atividades de sensibilização sejam atividades em que as vertentes teoria e prática estejam atreladas, e que estejam sempre presentes nos cronogramas escolares, para que o aprendizado se torne mais efetivo, e assim, haja o desenvolvimento de indivíduos capazes de promover mudanças sociais. É importante, também, que as ações de Educação Ambiental voltadas para a conservação da biodiversidade mostrem o papel de cada individuo no ambiente, para que o desejo de uma área efetivamente conservada se torne uma realidade.

           

AGRADECIMENTOS

 

Agradecemos a direção da Escola Sérgio de Oliveira Aguiar pela liberação dos alunos para realização desta pesquisa, aos professores que se envolveram tão prontamente nas atividades, e em especial aos alunos, por tamanha dedicação e ajuda nas ações realizadas durante a pesquisa. Agradecemos também ao CNPq pelo apoio concedido.

 

7. REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos