Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O PROEJA: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE NO CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM INTEGRADO AO PROEJA-COLÉGIO AGRÍCOLA DE TERESINA-CAT
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O PROEJA: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE NO CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM INTEGRADO AO PROEJA-COLÉGIO AGRÍCOLA DE TERESINA-CAT

Gênesis Guedes Barros Lima (1)

1 Licenciatura Plena em Pedagogia e Geografia, especialização em Educação Profissional integrada a Educação de Jovens e Adultos, Especialização em Gestão e Coordenação Pedagógica.

E-mail: genesisguedes@yahoo.com.br

 

 

RESUMO

 

Este artigo aborda a Educação Ambiental e ensino do PROEJA, investigando as práticas educativas de Educação Ambiental desenvolvidas no curso Técnico em Enfermagem integrado ao PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT. Num plano geral, buscou conhecer os modos de inserção da Educação Ambiental no PROEJA oferecidos no curso Técnico em Enfermagem da referida instituição, e, num plano específico, tentou analisar de que forma as práticas docentes em Educação Ambiental são trabalhadas; procurou ainda identificar quais metodologias  são utilizadas e caracterizar a representação social da Educação Ambiental para os professores, propondo a partir desta ótica, uma reflexão acerca da Educação Ambiental e o PROEJA em meio ao processo educativo, através da sistematização da Educação Ambiental e suas bases conceituais, bem como a historicidade desta, abrangendo a dimensão discursiva da Educação Ambiental na legislação brasileira. Em linhas gerais, as teorias que estruturam esta investigação foram balizadas nos principais teóricos: Dias (1991), Loureiro (2004), Marcatto (2002), Minc (2005) dentre outros referenciais legais que normatizam a temática no Brasil, tais como: a Constituição Federal de 1988 e a própria Lei de Educação Ambiental - Lei nº 9.795/99.

PALAVRAS-CHAVE: PROEJA. Práticas de Ensino. Educação Ambiental

 

 

  1. INTRODUÇÃO

 

O Meio Ambiente atualmente vive em uma crise constante. Existe um grande processo de degradação provocada pelo próprio homem, ocasionando graves problemas ambientais que assolam o futuro do planeta Terra. Com isso, o rápido desenvolvimento econômico da sociedade tornou-se um dos grandes culpados por essa acelerada destruição da natureza. Assim, percebe-se a grande necessidade de se educar a sociedade para que atue de maneira sustentável no meio em que vive.

Dessa forma, acredita-se que a educação é o caminho fundamental para uma maior sensibilização da sociedade. A Educação Ambiental propiciará o uso mais consciente dos recursos naturais, buscando um aproveitamento menos agressivo da natureza. Assim, pode-se perceber que a Educação Ambiental deve ser aplicada de forma efetiva no ensino. Para isso ela deve estar envolvida transversalmente em todas as disciplinas escolares e cursos, inclusive no ensino do PROEJA.

Neste sentido, a presente pesquisa contextualiza a temática da Educação Ambiental e o ensino do PROEJA no universo educacional do Colégio Agrícola de Teresina-CAT. Essa pesquisa está especificamente voltada para investigação da inserção da Educação Ambiental no ensino do PROEJA oferecido no técnico em Enfermagem da referida instituição. Além disso, busca refletir sobre os sucessos e insucessos que têm assinalado as vivências das práticas educativas daquele estabelecimento de Ensino em relação à problemática da pesquisa.

O desenvolvimento desta pesquisa foi norteado por duas linhas centrais de problematização aqui delineadas: como vem sendo trabalhada a Educação Ambiental no ensino do PROEJA no curso de Técnico em Enfermagem do Colégio Agrícola de Teresina-CAT? Que concepções de Educação Ambiental sustentam as práticas educativas dos professores que atuam no PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT?

A realização desta pesquisa se justifica por tratar-se de uma investida científica que vai retomar, no universo acadêmico e educacional, as reflexões acerca de sua temática, oportunizando aos professores que atuam no PROEJA um estudo sistemático acerca do verdadeiro papel da Educação Ambiental no ensino do PROEJA em meio ao processo educativo.

Dessa forma, esta pesquisa contribuiu por diagnosticar as dificuldades encontradas pelos professores ao trabalharem as questões ambientais, bem como possibilitou uma reflexão crítica sobre os problemas que são encontrados no dia-a-dia das práticas educativas no que diz respeito à Educação Ambiental, buscando, assim, tornar esse estudo uma contribuição para os profissionais da educação, que têm interesse nessa área e que sempre estão em busca de melhorias em suas práticas docentes em sala de aula. Neste sentido, é essencial que sejam realizados estudos no intuito de refletir sobre a questão, oportunizando novas tomadas de decisão em relação aos seus contrapontos.

1.1   Educação Ambiental: bases conceituais

Na vida em sociedade, as pessoas constantemente estão aprendendo, seja na convivência com outras pessoas, na rua, na igreja, em casa, na escola, etc. Diariamente, de algum modo, os indivíduos sempre participam de situações de aprendizagem. Mesmo que casualmente, estas situações, nas quais se envolvem constantemente, podem ser consideradas como formas de educação. É a educação informal, ou seja, aprende-se coisas novas também de maneira não sistematizada ou organizada.

Além deste modelo de educação, existe ainda a educação formal, que ocorre geralmente na escola. Sobre isso, pode-se recorrer às ideias de Brandão (2007, p.10), que afirma que a educação

[...] pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como idéia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos. [...] A educação existe onde não há a escola e por toda parte podem haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida.

 

Assim, a educação é um processo indispensável para a formação do cidadão e, tendo em vista que a escola é responsável pela educação formal, cabe a esta instituição social desenvolver, em suas práticas cotidianas, atividades que busquem o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes nos educandos, no que diz respeito à formação de sua cidadania, e isso inclui trabalhar a Educação Ambiental.

Além disso, segundo a Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 205, a educação se constitui direito de todos e dever do Estado. Assim, este documento de legalidade atribui à escola o papel de promover ações educativas que busquem a qualidade, tendo em vista a garantia de igualdade de oportunidades que a lei também disciplina como um dos eixos que devem nortear as práticas educativas das escolas do país.

Neste sentido, no que diz respeito à relação entre educação e transformação da sociedade, para uma participação mais ativa e responsável e uso adequado do meio ambiente, Loureiro (2004, p.16) afirma que

 

[...] a educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade – ao propiciarmos vivências de percepção sensível e tomarmos ciência das condições materiais de existência; ao exercitarmos nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano.

 

 

Assim, é a partir da transmissão de valores, atitudes, comportamentos e habilidades, que será formado o cidadão com consciência mais crítica, com vontade de mudar sua realidade social, promovendo, dessa forma, uma transformação em suas atitudes e no seu convívio com o meio.  Brandão (2007, p.10) defende que

 

[...] a educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam e aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar - às vezes a ocultar, às vezes a inculcar - de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem.

 

 

Em meio a esse processo educacional, existe a Educação Ambiental. Esta pode ser considerada como uma modalidade de educação que busca a sensibilização dos educandos, procurando incutir-lhes um senso crítico sobre sua realidade, tornando-os cidadãos críticos e participativos, com a vontade de mudar e agir no espaço em que vivem, alertando-os acerca da problemática ambiental.

Em análise da literatura existente, relacionada a conceitos de Educação Ambiental, conceituá-la torna-se tarefa muito complexa, pois abrange muitas ideias, filosofias e, dependendo de seu contexto, recebe definições distintas. No entanto, tais definições indicam para a mesma direção, sempre apontam para a sensibilização da sociedade em relação ao uso consciente e menos agressivo do seu potencial humano, visando à preservação e conservação do meio ambiente.

A Educação Ambiental busca trabalhar com a sensibilidade e os valores dos indivíduos para com o meio ambiente, procurando propiciar oportunidades que se tornem significativas para os educandos. Promovendo-lhes maior interesse e participação, com muitos benefícios socioambientais.

A lei que dispõe sobre a Educação Ambiental - Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, em seu art. 1º, entende a Educação ambiental como:

 

[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

 

 

No Capítulo 36 da Agenda 21, a Educação Ambiental é definida como o processo que busca

 

[...] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos [...]

 

 

Em 1977, a conferência realizada em Tbilisi, Geórgia, Ex-URSS, definiu a Educação Ambiental como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de um enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.

Na visão de Marcatto (2002, p.14),

 

[...] a educação ambiental é um processo de formação dinâmico, permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passam a ser agentes transformadores, participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais.

 

            As Diretrizes Curriculares Nacionais, em relação à Educação Ambiental, conceituam-na como:

uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa, onde cada sujeito aprende com conhecimentos científicos e com o reconhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando a tomada de decisões transformadoras a partir do meio ambiente natural ou construído no qual as pessoas se inserem. A Educação Ambiental avança na construção de uma cidadania responsável, estimulando interações mais justas entre os seres humanos e os demais seres que habitam o Planeta, para a construção de um presente e um futuro sustentável, sadio e socialmente justo. (BRASIL, 2004, p.2)

 

            Na concepção de Floriano (2006), no que diz respeito à Educação Ambiental e suas finalidades, este tipo de educação tem como finalidade proporcionar ao ser humano o entendimento do universo e de sua participação nele, principalmente em relação à conservação do ambiente e ao uso sustentável dos recursos naturais, com o objetivo maior de formar cidadãos aptos a utilizar o ambiente em que vivem, conservando-o para presentes e futuras gerações.

Dentro desse contexto, pode-se afirmar que a Educação Ambiental é considerada uma educação muito mais abrangente, pois pretende provocar a participação de todos os cidadãos, desenvolvendo a sua criticidade, proporcionando aos educandos, por exemplo, maior aproximação com o ambiente em que vivem, instigando-lhes a preocupar-se com o meio ambiente e fazendo com que percebam a importância da necessidade de cuidar e preservá-lo.

            Dessa forma, é por meio desse processo de formação de indivíduos conscientes, promovidos por meio de uma construção de valores sociais, atitudes e habilidades direcionadas para a questão ambiental, que a sociedade poderá perceber, futuramente, no que diz respeito à qualidade de vida, a grande melhoria ou, até mesmo, amenização dos desequilíbrios provocados pelo próprio homem.

Sobre a importância da Educação Ambiental para a formação da cidadania, a afirmação de Minc (2005, p.74) propala que, “a Educação Ambiental é mudança de comportamento. Exige a combinação de elementos científicos e teóricos com experimentação, prática e conhecimentos externos à escola”.

Vale ressaltar, também, que a Educação Ambiental proporciona aos alunos que aprendam a observar e a analisar fatos e situações ambientais de maneira mais crítica, buscando, dessa forma, uma melhoria na sua qualidade de vida, como sujeitos ativos e modificadores do meio ambiente, relacionando as causas e os efeitos de suas ações no tempo e no espaço e, finalmente, posicionem-se como partes e agentes integrantes da natureza.

Assim, a Educação Ambiental deverá ser trabalhada e bastante enfatizada nas práticas educativas, cabendo à escola, juntamente com seu corpo docente, integrar em suas atividades escolares a Educação Ambiental. A questão ambiental deve ser trabalhada constantemente na transversalidade e interdisciplinarmente, inclusive e particularmente no ensino de geografia.

Sobre isso, Minc (2005, p. 72) destaca que

 

[...] ainda que o currículo disponha de uma cadeira especializada, os princípios de educação ambiental devem estar presentes em outras disciplinas, como História, Ciências Sociais, Geografia e Ciências da Saúde. É impossível ensinar a organização espacial das atividades e da rede de cidades sem mostrar seus impactos ambientais. Estudar o corpo humano e saúde sem as explicações das causas ambientais das doenças é ignorar as interações determinantes com o meio que nos envolve.

 

A Educação Ambiental também é subdividida em Educação formal e Educação informal. A Educação Ambiental formal é um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino, podendo envolver todos os níveis básicos de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior, além de cursos de formação continuada oferecidos a professores e demais profissionais da área ambiental.

 A Educação Ambiental informal se caracteriza por sua realização fora da escola, envolvendo uma maior flexibilidade de métodos e de conteúdos e um público alvo muito variável em suas características, tais como: faixa etária, nível de escolaridade, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc. Portanto, envolve todos os segmentos da população.

            2  ANÁLISE DOS DADOS

2.1 A Educação Ambiental contida no Ensino do Colégio Agrícola de Teresina-CAT: características gerais do ensino no Colégio Agrícola de Teresina-CAT

 

A pesquisa de campo foi desenvolvida no Colégio Agrícola de Teresina-CAT, localizada no Campus Universitário SOCOPO - Bairro SOCOPO - Teresina/PI, Bairro São Socopo, Zona Leste de Teresina – PI. O Colégio Agrícola de Teresina foi instalado em 10 de Maio de 1954, por iniciativa do Governo do Estado e Federal. Instituição pública federal mantida pelo Governo Federal, o período de controle direto do MEC prolongou-se até o ano de 1976, quando o Governo Federal através do Decreto Nº 78.672, vinculou o Colégio à Universidade Federal do Piauí. Foi fundada e inaugurada no início do ano de 1971.

A pesquisa de campo foi realizada nos meses de maio e junho de 2012, oportunidade em que foram realizadas observações, bem como coletadas informações no campo concreto da prática educativa desenvolvida na escola campo. Foram sujeitos do estudo 07 (dois) professores do estabelecimento de ensino, que atuam no curso técnico em enfermagem integrado ao PROEJA.

 As duas problemáticas centrais que nortearam a pesquisa substancializaram-se nas seguintes questões: como vem sendo trabalhada a Educação Ambiental no ensino do PROEJA no curso de Técnico em Enfermagem do Colégio Agrícola de Teresina-CAT? Que concepções de Educação Ambiental sustentam as práticas educativas dos professores que atuam no PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT?

O objetivo geral da pesquisa constituiu na tarefa de “conhecer os modos de inserção da Educação Ambiental no curso Técnico em enfermagem integrado ao PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT”. As respostas obtidas do público alvo da pesquisa após a aplicação dos instrumentais foram devidamente tabuladas, categorizadas e analisadas numa dimensão quantitativa e qualitativa, considerando-se as generalidades dos sujeitos da pesquisa, bem como o manancial de informações colhidas durante o processo de observação e das leituras realizadas a partir dos posicionamentos orais acerca da realidade observada nas atividades educativas de sala de aula.

2.2 Características profissionais dos professores

De início foram coletadas informações do perfil profissional dos professores, investigando acerca do nível de formação dos docentes pesquisados, bem como a devida contextualização dos dados na proposta de análise desenvolvida.


Esses dados coletados apontam que, em relação à formação acadêmica, todos os professores entrevistados têm pós-graduação, sendo que a maioria possui mestrado. Por fim em relação à carga horária, prevalecem mais docentes com apenas 40 horas semanais em regime de dedicação exclusiva.

 

2.3. Educação Ambiental nas práticas docentes no PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT

 

Aprofundando as buscas investigativas relativas ao objetivo de conhecer os modos de inserção da Educação Ambiental no ensino PROEJA do Colégio Agrícola de Teresina-CAT, lançou-se o seguinte questionamento: como a Educação Ambiental está contida no ensino do PROEJA? Tabulados os dados têm-se o gráfico 03 logo a seguir.


Analisando as respostas prestadas constata-se que a maioria dos professores concorda que a Educação Ambiental está contida no ensino do PROEJA como um tema transversal. Os dados coletados no questionamento acima indicam que os professores tratam como tema transversal. Todavia, 14% não a assinalaram como um tema que deva ser tratado transversalmente, com os demais conteúdos que são propostos pelo programa de ensino, conforme prescrevem os parâmetros curriculares nacionais.

Nas práticas docentes, é necessário que o professor, sempre que possível, trate a questão ambiental transversalmente aos seus conteúdos do programa de ensino, contextualizando-os com a realidade vivida pelos alunos, ao fazer uma relação entre as experiências desses alunos aos temas ligados ao meio ambiente, para, assim, haver uma aprendizagem mais significativa. No entanto, nem sempre isso ocorre.

Sobre essa questão, Penteado (2007, p.55) ressalta que

[...] o professor vem atestando o desinteresse, o enfado, a desatenção de crianças e adolescente quando colocados diante das exigências do estudo calcado apenas no ensino livresco; as respostas decoradas que daí resultam para provas e para agradar o professor, encerrando na própria escola o ato de aprender. Pouco se leva da escola para a vida. E assim a vida vai se repetindo, se conservando. Perpetuando e multiplicando seus problemas.

 

 

 

 

 

Na questão seguinte, com o intuito de saber de que forma os sujeitos pesquisados prefeririam trabalhar com Educação Ambiental e o tempo em que desenvolviam a Educação Ambiental em suas práticas docentes, os dados obtidos são expressos nos gráficos seguintes.


Ao observar o gráfico 04 percebe-se que 29% dos entrevistados trabalham a mais de 10 anos com Educação Ambiental, enquanto outros 29% afirma que nunca trabalhou, sendo que 14% de trabalham respectivamente a menos de 01 ano e de 01 a 03 anos, finalmente 14% trabalham de 09 a 10 anos.

Na leitura do gráfico 05, pode-se perceber que 72% dos professores estão cientes que a Educação Ambiental deva ser trabalhada como tema transversal de maneira interdisciplinar, no entanto, outros 14% acreditam que deva ser trabalhada na escola apenas como projetos extraclasses, enquanto os demais 14% afirma que deva ser como uma disciplina curricular.

Ao se deparar com esta visão de que a Educação ambiental deve ser tratada como disciplina curricular percebe-se uma visão que por muito tempo foi debatida entre os professores, pesquisadores e estudiosos. Hoje essa ideia é considerada de certa forma simplista e reduzida, pois, dessa forma, a Educação Ambiental perderá uma característica muito importante, a transversalidade.

            Isso aponta a falta de acompanhamento de alguns professores acerca dos debates sobre essa questão e do desconhecimento da literatura que já existe como fruto de encontros, tanto nacionais como internacionais, que mostram que há um consenso sobre a inoperância da Educação Ambiental por meio de uma nova disciplina curricular.

Como defende Segura (2007, p.96) a

 

[...] educação ambiental não é uma área de conhecimento e atuação isolada. Ao contrário, o contexto em que surgiu deixa claro seu propósito de formar agentes capazes de compreender a interdependência dos vários elementos que compõem a cadeia de sustentação da vida, as relações de causa e efeito da intervenção humana nessa cadeia, de engajar-se na prevenção e solução de problemas socioambientais e de criar formas de existência mais justas e sintonizadas com o equilíbrio do planeta.

 

 

Esta afirmação coincide com as dos Parâmetros Curriculares Nacionais, especificamente no que trata o tema meio ambiente, abordando que

 

[...] os conteúdos de Meio Ambiente foram integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que impregne toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais, assim como as articulações entre a escala local e planetária desses problemas. (BRASIL, 1998, p.193)

 

 

Justificando ainda mais esta proposição, Oliveira (2007, p. 108) defende que

 

a transversalidade da questão ambiental é justificada pelo fato de que seus conteúdos, de caráter tanto conceituais (conceitos, fatos e princípios), como procedimentais (relacionados com os processos de produção e de ressignificação dos conhecimentos), e também atitudinais (valores, normas e atitudes), formam campos com determinadas características em comum: não estão configurados como áreas ou disciplinas; podem ser abordados a partir de uma multiplicidade de áreas; estão ligados ao conhecimento adquirido por meio da experiência, com repercussão direta na vida cotidiana; envolvem fundamentalmente procedimentos e atitudes, cuja assimilação deve ser observada a longo prazo.

 

 


            Mais adiante, seguindo o objetivo específico de analisar de que forma os professores do curso técnico em enfermagem integrado ao PROEJA trabalham a Educação Ambiental em suas práticas docentes questionou-se aos sujeitos entrevistados como a educação é desenvolvida no curso e como o mesmo trabalha os Projetos de Educação Ambiental nas suas aulas. Feita a tabulação dos dados tem-se os gráficos abaixo.

Tendo em vista o questionamento acima realizado e as respostas obtidas, constata-se no gráfico 06 que a maioria dos professores inclui a Educação Ambiental relacionando-a transversalmente com os conteúdos programáticos. Seria interessante que os professores sempre que possível diversificassem suas metodologias, procurando evitar usar os mesmos métodos de ensino repetidas vezes, isso provoca nos alunos um desestímulo ou desinteresse aos estudos da matéria, provocados pelo cansaço ou enfado das aulas.

Neste sentido, Libâneo (2008, p.108) explica que existe uma saída para isso, e ela está nas mãos do professor

[...] que incute no aluno a importância e a necessidade de adquirir conhecimentos, mostra a sua aplicação, provoca a curiosidade, ensina de um modo que os alunos experimentem satisfação por terem compreendido a matéria e terem dado conta de resolver as tarefas. O sentimento de progresso impulsiona os alunos para o desejo de buscar novos conhecimentos.

 

Levando-se ainda em consideração o último objetivo mencionado, lançou-se a seguinte questão: Como você trabalha os Projetos de Educação Ambiental nas aulas de geografia?

No gráfico 07 constata-se que a grande maioria afirmou que trabalha os projetos ambientais a partir de questões socioambientais relacionadas aos conteúdos disciplinares, enquanto que 14% trabalham a partir da atuação conjunta entre professores alunos e comunidade.

Analisando-se estas afirmações, percebe-se que a maior parte dos docentes trabalham de maneiras distintas e, se metodologicamente estes trabalhos com projetos forem aplicados corretamente, poderão obter resultados significativos, no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem e a formação cidadã. Neste sentido, no pensamento de Segura (2007, p.98) sobre essa questão é abordado que

[...] qualquer que seja o projeto educativo é possível incluir a questão socioambiental, desde que haja a intenção clara de reconhecer a interdependência dos fenômenos que configuram a realidade, descobrir caminhos coletivos para melhorar a qualidade de vida e traçar estratégias educativas de comunicação de propósitos sustentáveis.

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            A abordagem científica das concepções de Educação Ambiental e ensino do PROEJA inseridas no contexto educacional do curso técnico em Enfermagem integrado ao PROEJA na realidade do Colégio Agrícola de Teresina-CAT, sinaliza para a concepção dos docentes desta instituição no que diz respeito à inclusão e definição do que é a educação ambiental e suas contribuições para o ensino de geografia.

            Observa-se que, na concepção destes docentes, a Educação Ambiental é tratada pela maioria dos entrevistados como tema transversal. No entanto, na visão de uma minoria é confundida muitas vezes, como conteúdo programático e consideram que deveria ser tratada como uma disciplina específica. Porém, sabe-se que isso provocaria a perda de uma de suas características mais importantes, a transversalidade. O olhar investigativo da pesquisa proposta na escola-campo supracitada mostrou esse quadro.

            Diante disso, as teorias aqui refletidas e sistematizadas apontam inevitavelmente para o fato de que é preciso que os professores deste estabelecimento de ensino sempre busquem alternativas viáveis ao incluírem a Educação Ambiental em suas práticas educativas, proporcionando em suas ações docentes um aprendizado mais significativo, ao primar pela formação integral dos alunos. Isso inclui trabalhar a Educação Ambiental no ensino do PROEJA visando transformar e sensibilizar os educandos a agirem de forma ecologicamente correta.

            Para isso, o professor deve observar em suas práticas docentes os reais objetivos da Educação Ambiental inserida no ensino do PROEJA, coerentes com os objetivos da formação que pretende construir para homens e mulheres sonhados no Projeto Político Pedagógico do estabelecimento de ensino: Que tipo de homem e que tipo de mulher se pretende formar? E em que tipo de mundo esses seres formados irão viver? Ora, se pretendem a construção de um mundo dinâmico de seres autônomos, crítico, participativos, com direito de voz e vez, necessário se faz repensar sobre suas concepções de Educação Ambiental e de como deve ser inserida no ensino do PROEJA.

            Neste sentido, necessário se faz que o docente evite a cultura da reprodução em suas práticas pedagógicas, que abandonem as formas tradicionais de ensino, pois estas se constituem em herança histórica de um modelo de educação desenvolvido de acordo com os moldes do sistema liberal conservador que sempre visou à consolidação de uma minoria dominante em seu poder. É preciso que a escola se torne reflexiva e seja capaz de responder se é isso mesmo que ainda se quer em pleno século XXI.

            Dessa forma, é importante considerar que os professores do PROEJA precisam implementar políticas educativas que promovam ensino de qualidade e evitem em suas práticas contradições inerentes a suas práticas docentes. Assim, faz-se necessária uma reflexão que qualifique a sua prática docente, melhorando o processo de ensino-aprendizagem.

Sobre isso, observou-se que a escola-campo e seu corpo docente estão atentos as abrangências de educação ambiental, porém, é preciso estar continuamente repensando acerca da Educação Ambiental no contexto de sua realidade pedagógica, refletindo para o fato de que ainda predominam em suas ações pedagógicas uma visão reducionista e simplista sobre o que é a Educação Ambiental e como ela deve ser trabalhada no ensino do PROEJA.

Em linhas finais, o presente estudo não tem a pretensão acadêmica de pôr termo à questão, tendo em vista a sua complexidade. Além do que, esta pesquisa encontra-se aberta às críticas e sugestões que ampliem o universo deste tema, oportunidade em que o presente estudo poderá ser ainda mais enriquecido por novos olhares, à luz de outras realidades.

 

4 REFERÊNCIAS

 

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______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

 

______. Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao13.pdf  > acesso em 18 de junho de 2010.

 

______. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.html. > Acesso em 26 de agosto de 2010.

 

______. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclo: apresentação dos temas transversais. -MEC/SEF, 1998.

 

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção primeiros passos - nº20. 2007

 

FLORIANO, Eduardo P. Educação ambiental como eixo transversal do processo de ensino-aprendizagem - Santa Rosa: Ambiente Inteiro, 2006.

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2008

 

LOUREIRO. Carlo Frederico B. Educar. Participar e transformar em Educação Ambiental. In: Revista brasileira de educação ambiental. – n. 0 (nov.2004). – Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004.

 

MARCATTO, Celso. Educação ambiental: conceitos e princípios - Belo Horizonte: FEAM, 2002.

 

MINC, Carlos. Ecologia e cidadania. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005.

 

OLIVEIRA, Haydée Torres de. Educação ambiental – Ser ou não ser uma disciplina: essa é a principal questão!?.In: Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

 

PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio Ambiente e formação de professores. 6. ed.-São Paulo: Cortez, 2007.

 

SEGURA, Denise S. Baena. Educação ambiental nos projetos transversais In: Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

Ilustrações: Silvana Santos