Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ESCOLA: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1574 
  
Educação Ambiental e Escola: Práticas Pedagógicas Para a Conservação do Meio Ambiente

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ESCOLA: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

 

 

Washington Luiz Alves do Lago;

Licenciando em Ciências Biológicas, Bolsista do PIBID,

Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Prof.ª Cinobelina Elvas

Rua Milton Coelho, bairro Judite Piauilino, Bom Jesus, Piauí,

(89) 9987 2154. was_louis@hotmail.com,

 

Elayne Ferreira de Miranda;

Licencianda em Ciências Biológicas, Bolsista do PIBID,

Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Prof.ª Cinobelina Elvas

Bom Jesus, Piauí.

 

Luciana Barboza Silva.

Doutora em Entomologia, Coordenadora de área do PIBID,

Professora do Departamento de Ciências da Natureza,

Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Prof.ª Cinobelina Elvas

– Bom Jesus, PI.

 

 

RESUMO

 

Este artigo parte da ideia de Educação Ambiental (EA) como eixo norteador das práticas sociais, educacionais, culturais e éticas que envolvem nossa sociedade, tendo como objetivo despertar nos alunos da entidade de ensino, um conhecimento crítico relacionado à educação ambiental, com o intuito de disseminar tais informações, e que estas venham contribuir para a conservação e proteção do meio ambiente. O projeto foi executado em três etapas; na primeira etapa foi realizada uma avaliação diagnóstica através de questionários e, em seguida foram ministradas palestras dentro do contexto da educação ambiental. Na segunda etapa o projeto proporcionou a vivência dos alunos em diferentes locais da caatinga e foram produzidos vídeos e documentários, para que os alunos descrevessem suas experiências. Na última etapa foi realizada uma gincana envolvendo a comunidade escolar e foi desenvolvida uma série de atividades para que tornasse o ambiente escolar mais agradável. Devido a essa constante preocupação com a preservação do meio ambiente, uma das conquistas que esse trabalho proporcionou foi reforçar a abordagem ambiental na comunidade escolar de modo a ser explorado de maneira mais eficiente e, dessa forma, desempenhar papel articulador na busca de novas metodologias acerca do tema, e mostrar também que a EA pode ser trabalhada de uma forma interdisciplinar.

 

Palavras chaves: Educação. Educação Ambiental. Meio Ambiente. Sociedade.

 

 

ENVIRONMENTAL EDUCATION AND SCHOOL: PEDAGOGICAL PRACTICES FOR THE CONSERVATION OF ENVIRONMENT

 

 

ABSTRACT

 

This article is based on the concept of environmental education as a guide to social, educational, cultural and ethical practices that impact our society. The objective is to foster in the students a critical knowledge related to environmental education, with the intention of disseminating information such that the students can potentially contribute to the conservation and protection of the environment. The project was executed in three stages. The first step consisted of a questionnaire-based diagnostic evaluation followed by lectures presented on the theme of environmental education. In the second stage, the project made possible student experiences in different parts of the Caatinga, and videos and documentaries were produced in which the students described their experiences. The last step was the holding of a competition for the school community featuring a series of activities designed to make the school environment more pleasant. Due to a constant preoccupation with the preservation of the environment, one of the achievements this work was to strengthen the environmental approach in the school community, allowing it to be exploited more efficiently, thus playing an articulatory role in the search for new methodologies on the theme, and also showing that EE can be addressed from an interdisciplinary perspective.

 

Keywords: Education. Environmental Education. Environment. Society.

 

 

INTRODUÇÃO

Desde a segunda metade dos anos 90, vem ocorrendo no Brasil uma substancial produção de projetos, pesquisas e propostas teóricas de educação ambiental nas escolas, universidades, comunidades e outros segmentos da sociedade (TEIXEIRA; TOZONI-REIS; TALAMONI, 2011, p.3), de forma que fosse evidenciado um aumento significativo dos esforços por intermédio da criação e aplicação de diretrizes e políticas públicas no sentido de promover e incentivar a educação ambiental no ensino fundamental (LOUREIRO & COSSÍO, 2007, p.59). Leff (2001, p.17) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.

Com a aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei nº 9.795, de 27.04.1999, regulamentada pelo decreto nº 4.281, de 25.06. 2002 houve uma considerável perspectiva, relacionada à legalidade de implantar um sistema para promover uma mobilização de tal processo educacional, para os especialistas, professores e ambientalistas.

Essa mobilização só se torna possível com ação de todos, e o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), representado por oito alunos bolsistas, acadêmicos do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Piauí-UFPI, atuante na Unidade Escolar Joaquim Parente (UEJP), na cidade de Bom Jesus-PI, mobiliza-se para promover na comunidade escolar uma mudança de comportamento, de modo que a sociedade possa adquirir novas atitudes, em relação ao meio onde vivem. É nesse sentido, que Carvalho (2004a) alerta que a educação ambiental praticada dentro das escolas precisa incorporar elementos sociais e políticos, de forma a promover uma reflexão, por parte dos sujeitos envolvidos, sobre os problemas socioambientais. Inicialmente a Educação Ambiental foi entendida como uma prática de conscientização, hoje o grande desafio para a EA é, sair da ingenuidade do conservadorismo biológico e propor alternativas sociais, considerando as relações humanas e ambientais (REIGOTA, 2004).

            Nesse sentido, mais que a sensibilização, é imprescindível a mobilização, incorporando as questões ambientais na vida cotidiana e atuando, na luta política, na conquista de uma nova sociedade que valorize o equilíbrio (dinâmico) com a natureza e a justiça social (GUIMARÃES, 2004).

A mobilização na escola foi conseguida devido ao apoio do corpo docente e da administração da mesma, já que o tema Educação Ambiental engloba desafios a serem enfrentados, principalmente pela dificuldade de inserir tal questão nas disciplinas ou mesmo implementar projetos desse tipo. Essa união de forças e esforços é o que promove a expansão da EA nas escolas, visto sua importância, principalmente nos dias de hoje, onde é necessário formar cidadãos críticos em relação ao ambiente em que vivem e não apenas conscientizados, para que tenham atitudes transformadoras. 

Para Jacobi (2005) a incorporação do marco ecológico nas decisões econômicas e políticas, implica reconhecer que as consequências ecológicas e o modo como a população utilizam os recursos do planeta estão associadas ao modelo de desenvolvimento. Isto se explicita segundo Guimarães (2001, p. 51), pela crise que afeta o planeta, “o que configura o esgotamento de um estilo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente repulsivo”.

Com base nesse pensamento, o presente trabalho teve por objetivo, despertar nos alunos da entidade de ensino, um conhecimento crítico relacionado à educação ambiental, com o intuito de disseminar tais informações, e que estas venham contribuir para a conservação e proteção do meio ambiente, pois como descreve Tuma (2007):

“Proteger o meio ambiente é antes de tudo, conhecê-lo e compreendê-lo como se pode restabelecer o equilíbrio ambiental. Para isto, é preciso que cada um participe com sua cota de responsabilidade no seu dia-a-dia.”

            Sendo assim, deve-se pensar em um ambiente de forma sustentável não somente do ponto de vista atual, mas sim, tomando por base o contexto histórico, social e cultural do presente, passado e futuro. Nesse sentido, Silva-Sanchez (2000) afirma que esta questão “situa-se no campo dos valores, de uma nova ética, mas principalmente no campo de uma sociedade radicalmente democrática”.

AÇÃO METODOLÓGICA

 

Este trabalho foi realizado na Unidade Escolar Joaquim Parente (UEJP), conveniada ao PIBID-UFPI, estando localizada na Rua Machado de Assis, 87 – Bairro São Pedro no município de Bom Jesus, estado do Piauí sendo uma instituição mantida pelo governo do Estado do Piauí. A instituição de ensino oferece cursos de Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) no turno da manhã e Ensino Médio nos turnos da tarde e noite. Atualmente possui 396 alunos regularmente matriculados distribuídos em 14 turmas nos três turnos, pertencentes em sua maioria a classe social média-baixa. A escola também conta com um grupo composto por oito alunos bolsistas do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), acadêmicos da Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Profª Cinobelina Elvas-CPCE/Bom Jesus-PI, os quais atuam sob a supervisão de um docente da disciplina de Biologia da referente escola e um professor coordenador da UFPI- CPCE, ao qual cabe a orientação da equipe.

O projeto foi desenvolvido usando o método participativo, tendo por perspectiva a formação da consciência crítica e a mobilização dos estudantes envolvidos, sendo que seu desenvolvimento ocorreu em três etapas:

 

1ª ETAPA:

Inicialmente foi realizada uma avaliação diagnóstica com o objetivo de avaliar o conhecimento prévio dos alunos em relação à temática EA, através de questionários, para saber qual seria a melhor abordagem metodológica para o desenvolvimento do projeto.

O questionário utilizado para a entrevista dos alunos foi elaborado pretendendo saber o nível crítico que os mesmos têm referente à educação ambiental. Questões como: O que é o meio ambiente? Qual a importância da reciclagem na preservação do meio ambiente? Que cuidados devemos tomar para que possamos preservar o meio ambiente? Você já ouviu falar em Educação Ambiental? Em sua opinião, qual a contribuição da Educação Ambiental para e preservação ambiental? A Educação Ambiental na Escola é importante? Por que plantar árvores na cidade é importante?

Mediante as informações obtidas através do questionário, posteriormente foram realizadas palestras sobre educação ambiental para a comunidade escolar, com a contribuição da Prof.ª Dr. Sandra Regina Lestinge da UFPI-CPCE. De uma maneira menos formal, a professora especialista da área trouxe uma abordagem da EA apropriada para os alunos, procurando desenvolver uma conversa interativa, os quais foram instigados primeiramente a demonstrar seus conhecimentos a cerca do tema, através de perguntas, como: “o que é educação ambiental?”, e então, a partir do que eles pensavam, a palestra foi sendo desenvolvida de forma que, o conhecimento que outrora era caracterizado como senso comum se tornasse um conhecimento científico e crítico. Nessa etapa foram trabalhados os assuntos de modo a abordar temas como: o que verdadeiramente é a educação ambiental, a formação de cidadãos críticos e a importância da preservação ambiental para a região, com o intuito de trabalhar e mobilizar os alunos sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, e, dessa forma promover uma mudança na visão e percepção dos mesmos em relação ao meio em que vivem.

 

2ª ETAPA:

Nesta etapa o projeto proporcionou a vivência pelos alunos nos diferentes locais de intervenção, para que eles melhorassem a percepção e tivessem contato com esses ecossistemas. Nesta etapa foram produzidos vídeos e documentários pelos alunos, de modo que descrevessem o que eles viam no decorrer da visita aos locais de pesquisa.

Munidos de máquinas fotográficas, os alunos realizaram visitas sob a supervisão dos pibidianos ao riacho grotão, riacho da palmeirinha e ao lixão, todos localizados na cidade de Bom Jesus-PI, para que pudessem observar os diferentes estágios de interferência humana e preservação do meio ambiente na região. Nesse sentido, foi possível observar a fauna e a flora remanescente do sul piauiense, como também a área de transição entre a caatinga e o cerrado presente nessa área de estudo.

Isto se tornou essencial, pois com a vivência, os alunos puderam constatar a interdependência entre as espécies e, acima de tudo, que essa dependência torna-se crucial para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico e, por conseguinte, na preservação das espécies. Essa etapa foi eficaz, acima de tudo, quando se pretende mostrar a realidade de, como o ser humano pode interferir no equilíbrio de certa microrregião, degradando-a por motivos econômicos, políticos e culturais. Sendo assim, essa etapa caracteriza-se por disponibilizar aos alunos a possibilidade de abranger o que eles veem em sala de aula com a sua realidade cotidiana. Sendo que, nesse estágio do projeto, os alunos foram instigados a relacionar a importância dos seres vivos com a preservação ambiental, de tal modo que os mesmos tivessem a capacidade de se tornarem formadores de opinião critica sobre a importância da preservação ambiental. E isso se faz necessário, pois só assim a entidade educacional estará desenvolvendo seu papel que é servir como veículo para estabelecer relações entre o específico (Educação Ambiental) com o global – direitos e deveres de todos os cidadãos.

Sendo assim, foram trabalhados temas importantes pertinentes à EA, tais como degradação, poluição do meio ambiente por parte do ser humano no decorrer dos tempos e suas implicações para a manutenção da vida na área de intervenção. 

 

3ª ETAPA

Nessa última etapa foi realizada uma gincana envolvendo toda a comunidade escolar, onde foi abordada a temática ambiental, com o propósito de explorar o assunto de forma mais abrangente.

Após lançada a proposta da gincana, os alunos tiveram 15 dias para se organizar, contando com a ajuda dos professores da escola e também dos alunos pibidianos ali atuantes, orientando-os e incentivando-os nas atividades. Para tanto os alunos foram convidados a refletir sobre a necessidade de melhorar o ambiente que os cerca através da mudança de atitude tanto dos alunos, como da sociedade em geral.

As atividades desenvolvidas tiveram como principal objetivo a contextualização da temática em questão com todas as disciplinas da Educação Básica, adquirindo um caráter exploratório-participativo, de modo que pudéssemos explorar as habilidades, potencialidades e criatividade de todos os alunos envolvidos no projeto.

Durante o desenvolvimento das provas na gincana, os alunos passaram por experiências significativas que serviram como incentivo e proporcionou um conhecimento mais amplo sobre a questão ambiental. Nesta etapa os alunos desenvolveram várias atividades pertinentes à EA, interligando, educação ambiental, cultura e práticas pedagógicas. Os alunos apresentaram os vídeos e documentários confeccionados na etapa anterior, participaram de jogos e atividades produzidos a partir das aulas de campo e, ainda, foi desenvolvida uma série de ações realizadas pelos alunos para que tornasse o ambiente escolar mais agradável, dentre elas estão, a coleta seletiva do lixo da escola, entre outras atividades abaixo mencionadas.

Na disciplina de artes, os alunos foram convidados a desenvolver atividades de modo a valorizar as habilidades e potencialidades, através de danças, peças teatrais, e jograis. Em língua portuguesa os alunos produziram poesias e paródias. Outras ações foram desenvolvidas pelos alunos nesse mesmo período, como confecção de peças ornamentais a partir de material reaproveitado. Essa etapa proporcionou aos jovens e educadores a possibilidade de desenvolver atividades ambientais saudáveis de modo a formar cidadãos com posturas eticamente corretas, valorizando a vida em todas as suas formas e manifestações.

Este projeto tem um papel central: formar cidadãos críticos que possam compreender e intervir nos problemas ambientais de sua região. Sendo que, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) as escolas tem a obrigação social de incorporar valores éticos, morais e sociais em sua grade curricular.

Entretanto, segundo Guimarães & Vasconcellos (2006, p. 153):

O enfrentamento da atual crise socioambiental depende, entre outras, da luta pela formulação de uma Ciência e uma Cultura engajadas no processo de construção de um modelo de sociedade ecológica e socialmente sustentável.

 

E, complementa, afirmando:

Essa visão sobre EA se concretizará a partir de uma participação política que contribua para construir nas relações societárias uma perspectiva de imperativos éticos voltados para o bem comum, como a equidade, a solidariedade e a cooperação.

           

Dessa forma, nota-se a necessidade de se propiciar ao sujeito o exercício da ética social, profissional e ambiental, de forma que, essa visão torne-se uma constante na realidade socioambiental daquele sujeito, tornando-se cada vez mais “ambientalmente correto”.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Os resultados de todas as atividades realizadas foram bastante positivos, pois foi criada uma rede de cooperação entre os estudantes para discutir sobre Educação Ambiental (EA) e, acima de tudo, que estes se sensibilizassem com a questão da preservação ambiental, sendo que, o desenvolvimento das atividades serviu para estimular o senso crítico dos alunos envolvidos.

Com relação aos questionamentos, foi possível perceber que 77% dos alunos sabiam responder o que era meio ambiente, 94% consideraram que a reciclagem é muito importante na preservação ambiental, 67% consideram que devemos tomar iniciativas como não jogar lixo na rua, reciclar o lixo, não realizar desmatamentos, para que a preservação seja mais efetiva. Quando perguntados se já tinham ouvido falar em Educação Ambiental, 87% responderam afirmativamente e, ainda, 71% dos alunos consideram que a EA contribui de forma significante para a preservação do meio ambiente. Isto reflete, ainda, quando questionados sobre a importância da EA dentro da escola, sendo que 98% dos alunos achavam muito importante para a formação cidadã.

Dentro do contexto onde existem cidadãos atuantes na construção de uma sociedade melhor, a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e com seus semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra (VASCONCELLOS, 1997).

Para Andrade (2000) a escola atua como mantenedora e reprodutora de uma cultura que é predatória ao ambiente. Nesse caso, as reflexões que dão início à implementação da Educação Ambiental devem contemplar aspectos que não apenas possam gerar alternativas para a superação desse quadro, mas que o invertam, de modo a produzir consequências benéficas, com mudanças de atitudes e valorização do espaço e da sociedade, considerando o ser humano como integrante do sistema. Com esta percepção, paulatinamente ocorrerá a compreensão global da fundamental importância de todas as formas de vida coexistentes em nosso planeta, do meio em que estão inseridas, e o desenvolvimento do respeito mútuo entre todos os diferentes membros de nossa espécie (CURRIE, 1998).

Uma das grandes influências do projeto na escola é o ir além dos livros didáticos, proporcionando aos alunos a possibilidade de aprender de forma dinâmica, de acordo com sua realidade e tempo de aprendizagem. Partindo para os procedimentos de campo observou-se que os alunos se envolveram muito mais com a questão ambiental favorecendo a formação de uma prática reflexiva de cunho social e ambiental. Com isso foi observado um maior desempenho e, consequentemente, maior aproveitamento dos conteúdos por parte dos alunos, refletindo numa elevação das notas no período de vigência do projeto.

Dessa forma, notou-se que, ações simples podem intervir numa dada situação, de modo a alcançar resultados significativos para a conservação do meio ambiente como, também, promover uma melhoria da qualidade de vida. E isto se faz necessário, pois, devido à promoção da EA na escola há uma mudança de comportamento dos alunos e professores, desencadeando ações socioambientais. Diante do cenário e das ações observadas durante o desenvolvimento das atividades, concordamos com o pensamento de Andrade (2000), o qual relata que para uma implementação efetiva da EA nas escolas, é necessário,

... um processo de implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração de autonomia dos atores envolvidos.

Nessa perspectiva as ações desenvolvidas na escola proporcionaram aos alunos acesso e amparo nos órgãos administrativos da cidade para debater sobre a realidade preocupante que envolve o riacho “grotão”, possibilitando a discussão da criação de um parque ecológico na região que engloba esse riacho, sendo que, nesse sentido, a temática ambiental deve ser entendida como:

Um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de intervenção-ação participante que permitem o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os levem a incidir conscientemente sobre a realidade (CAPORAL & COSTABEBER, 2000, p. 33).

Vale ressaltar que, as estratégias de enfrentamento das problemáticas ambientais, apresentado nesse projeto possibilitaram melhor contextualização entre a relação homem/natureza de modo que, os envolvidos no mesmo, sentissem parte inseparável do meio ambiente e, antes de qualquer coisa, os principais responsáveis pela degradação do meio ambiente.

Durante a realização do presente trabalho foi possível, ainda, contribuir para um desenvolvimento educacional, fazendo com que os alunos se deparassem com elementos articuladores das atividades científico/educacionais, de forma que houvesse um despertar da comunidade escolar, bem como da população próxima à escola, pois, segundo Sorrentino (2005):

 A educação ambiental, em específico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política, no sentido de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita.

           

Sobre essa temática Mamede (2001, p.15) destaca que:

A interpretação ambiental é uma forma de despertar a consciência, trazendo à tona a importância de se conservar através de atividades ou dinâmicas que aproximem o público das realidades sobre as questões ambientais, sociais, culturais, históricas e artísticas.

 

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção sobre o incipiente processo de reflexão das práticas existentes e das múltiplas possibilidades de, ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura (Jacobi, 2005). Devido a essa constante preocupação com a preservação do meio ambiente, uma das conquistas que esse trabalho conseguiu alcançar foi reforçar a abordagem ambiental na comunidade escolar de modo a ser explorado de maneira mais eficiente e, dessa forma, desempenhar papel articulador na busca de novas metodologias de enfrentamento do tema, e mostrar também que a EA pode ser trabalhada de uma forma interdisciplinar.

Para Sorrentino (2005) a educação ambiental, por não estar presa a uma grade curricular rígida, pode ampliar conhecimentos em uma diversidade de dimensões, sempre com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta, aprendendo com as culturas tradicionais, estudando a dimensão da ciência, abrindo janelas para a participação em políticas públicas de meio ambiente e para a produção do conhecimento no âmbito da escola.  Assim, a ideia de se trabalhar a educação ambiental implica em propor iniciativas que envolvam toda a comunidade escolar e, acima de tudo, que possa envolver a sociedade de forma relevante. Além disso, deve, ainda, haver uma intensa participação dos órgãos gestores, escola e comunidade de forma a tecer uma rede de colaboração, podendo ocorrer uma mudança de postura da população.

            Para Freire (1988, p.67):

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, nitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.

            Com efeito, a iniciativa de abordar a temática ambiental, tem refletido resultados diferenciados, tornando as atividades em fortes aliadas na manutenção do ensino e despertando a curiosidade dos alunos e, dessa forma, tornando-os mais críticos com relação aos problemas ambientais, fazendo com que os estudantes adquiram uma nova postura cultural e social diante da problemática que engloba o contexto ambiental.

Ressalta-se que, com a aplicação dessas práticas pedagógicas valorizando o método participativo, o aluno está sujeito a socializações com alunos de outras turmas, tecendo uma rede de amizades maior e isto favorece ao processo de ensino/aprendizagem.

            Dessa forma, partindo-se do pressuposto que cada sujeito participa do processo ensino-aprendizagem, valendo-se dos conhecimentos que possui, nota-se que, o elemento articulador na produção do conhecimento é a interação entre os indivíduos que participam do tal.

            Isto se explicita segundo Freire (1987, p.81):

“Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de qualquer ação, aprender a ler o mundo, compreender o contexto, não numa manipulação dinâmica que vincula linguagem e realidade”.

            A proposta curricular da Educação de Jovens e Adultos – 2ª Segmento (2002, p.97), esclarece:

Na proposta freiriana, o processo educativo não se caracteriza pelo recebimento, por parte dos alunos, de conhecimentos prontos e acabados, mas pela reflexão, professores e alunos são produtos de cultura, todos aprendem e todos ensinam, são sujeitos da educação e estão permanentemente em processo de aprendizagem.

Os alunos não estão sujeitos à rotina da sala de aula, e isto favorece a manutenção do interesse dos alunos, pois, devido à situação inovadora, a ação pedagógica torna-se mais empolgante. Nesse mesmo intuito, as atividades valorizam e estimulam o trabalho em equipe e, a importância das relações sociais para o desenvolvimento do ser humano em seu contexto histórico, cultural, ecológico e social.

Sendo assim as atividades serviram para mostrar aos alunos à importância de realizar a coleta seletiva, disponibilizamos aos alunos a oportunidade de desenvolver suas ideias através de debates, grupos de discussão, enfim, a partir das atividades realizadas foi possível contribuir para a construção de uma sociedade mais sustentável e com pessoas mais atuantes na preservação ambiental.

Entre as diversas atividades desenvolvidas, a ideia de interdisciplinaridade que envolve a EA, desencadeou papel central. E isto se faz necessário, pois, quando a EA é abordada de forma que, disciplinas como Artes, Geografia, Inglês, Português, História, Matemática, Biologia, enfim, todas as disciplinas da Educação Básica, oferecendo aos professores, suporte teórico-prático para abordar a temática, possibilitando a formação de futuros cidadãos envolvido com a abordagem ambiental.

Portanto, ser cidadão envolve posturas públicas, sociais e econômicas. O cuidar do meio é uma das posturas que se associam à luta pela cidadania, pois propõe forma equilibrada a apropriação dos recursos naturais que passa a ser chamada de exercício da cidadania ambiental (JARDIM, 2005).

 

 

CONCLUSÃO

 

A educação ambiental, além de carregar consigo a utopia do mundo sustentável que a distingue, propõe-se a desenvolver uma capacidade de interpretação da realidade, de análise crítica dos fenômenos e de explicitação de toda essa rede de inter-relações, com a intenção não de criar um emaranhado insolúvel de questões e provocar angústias coletivas, mas de identificar caminhos possíveis para a construção de experiências de vida sustentável (SEGURA, 2007). Morin (2003; 2004) assegura que, para prepararmo-nos para o enfrentamento da crise em que a sociedade atual está inserida e das futuras gerações, é necessário mudarmos nossa forma de ver o mundo e partirmos para uma compreensão da complexidade da realidade.

Implementar a temática Educação Ambiental no âmbito escolar ainda é novidade para alunos e professores, daí a dificuldade de se trabalhar tal questão. Implica em introduzir pontos críticos e reflexivos sobre o que o homem está fazendo com o meio ambiente e ao mesmo tempo alertá-lo de que é urgente a preservação desse espaço que está se perdendo. Porém é preciso ações educativas que trabalhem essa temática no dia-a-dia escolar, pois a escola é o ambiente inicial propício para o desenvolvimento de uma educação ambiental em seu caráter crítico.

É primordial entender a complexidade da relação homem/natureza na realidade local. Essa compreensão na escola, por meio da formação de professores e alunos, é que poderá fazer a diferença na formação de indivíduos críticos, participativos, prontos a enfrentar os problemas ambientais e uma possível crise dos recursos naturais disponíveis (...) (BACCI & PATACA, 2008).

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4. out/nov./dez 2000.

 

BACCI, D. L. & PATACA, E. M. Educação para a água. Estudos avançados, 22(63), 2008.

 

CAPORAL, F. R., COSTABEBER, J. A. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: perspectivas para uma nova extensão rural. Porto Alegre, v.1, n.1, p 16- 37, jan./mar, 2000.

 

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004a.

 

CURRIE, K. L. Meio ambiente, interdisciplinaridade na prática. Campinas, Papirus, 1998.

 

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.

 

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 18ª ed. 1988.

 

GUIMARÃES, M. Educação ambiental: participação para além dos muros da escola. In: Vamos Cuidar do Brasil – Conceitos e práticas em educação nas escolas – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministerio do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: Unesco, 2007.

 

_________. A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004. (Coleção Papirus Educação).

 

GUIMARÃES, M.; VASCONCELOS, M.M.N. Relações entre educação ambiental e educação em ciências na complementaridade dos espaços formais e não formais de educação. Educar, Curitiba. Editora UFPR., n. 27, p. 147-162, 2006.

 

JACOBI, P. R. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 2, p. 233-50,2005a.

 

_________. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade, 2005b.

 

JARDIM,J.S. Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento como Liberdade e a construção da cidadania na perspectiva ambiental. Revista do Programa de Mestrado em Direito do UniCEUB, Brasília, v. 2, n.1 p. 189 – 201, jan – jun. 2005.

 

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo. Cortez, 2001.

 

LOUREIRO, C.F.B; COSSÍO, M.F.B. Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas: considerações iniciais sobre os resultados do projeto “O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental?” (in Vamos Cuidar do Brasil - Conceitos e práticas em educação nas escolas – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: Unesco, p.57-63, 2007.

 

MAMEDE, S. B. Interpretando a natureza. Campo Grande: Editora oeste, 2001. 158 p.

 

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonara F. da Silva e Jeane Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 8 ed. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco. 2003. P.118.

 

_________. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento.  Trad. Eloá Jacobina. 9 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. P.128.

 

REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. 6. ed – São Paulo, Cortez, 2004.

 

SEGURA, D. S. B. Educação ambiental nos projetos transversais. In: Vamos Cuidar do Brasil – Conceitos e práticas em educação nas escolas – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministerio do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: Unesco, 2007.

 

SILVA-SANCHEZ, S. S. Cidadania Ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2000.

 

SORRENTINO, M. et. al. Educação Ambiental como política pública. Educação e pesquisa. Maio/Ago. 2005, vol. 31, n°2 p.285-299.

 

TEIXEIRA, L.A.; TOZONI-REIS, M.F.C.; TALAMONI, J.L.B. A teoria, a prática, o professor e a educação ambiental: algumas reflexões. Olhar de professor, Ponta Grossa, MG, 14 (2): 227-237, 2011. Disponível em http://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor.

 

TUMA, R. Descobrindo o Meio Ambiente, [S.D.]. Disponível em: http://www.robsontuma.com.br

 

VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

 

Ilustrações: Silvana Santos