Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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O que fazer para melhorar o meio ambiente
10/09/2018 (Nº 45) QUANTAS VEZES PAREI PARA OLHAR O RIO: O CASO DO RIO DOS SINOS
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

O QUE FAZER PARA MELHORAR O MEIO AMBIENTE

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

leosinos@gmail.com

 

 

 

 

QUANTAS VEZES PAREI PARA OLHAR O RIO: O CASO DO RIO DOS SINOS

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 

 

 

O Rio dos Sinos é, sem dúvida, um rio histórico. Localizado na Bacia Hidrográfica de mesmo nome, nasce na cidade de Caraá, próximo ao litoral gaúcho e, após percorrer aproximadamente 190 km e receber águas de três grandes afluentes (Rio Rolante, Rio da Ilha e Rio Paranhana), desagua no Delta do Rio Jacuí, já na cidade de Canoas. Dali em diante estas águas comporão o Lago Guaíba, na capital Porto Alegre, e a Laguna dos Patos, a jusante, que desagua no Oceano Atlântico.

Esta breve caracterização talvez fosse desnecessária, tendo em vista os importantes eventos que marcam sua história. Sinuoso até no nome, este grande rio habitado por indígenas, foi “descoberto” e, em seguida, há quase 190 anos passados, virou cenário da primeira colônia alemã do país. Suas margens também acolheram pessoas ilustres, como Padre Réus, Jacobina e Henrique Luiz Roessler, este último, pioneiro da Ecologia no Brasil e criador da primeira organização ambientalista do país, a União Protetora da Natureza (1955).

Em decorrência das enchentes de 1941 e 1965, o Rio dos Sinos ficou famoso e voltou a chamar atenção na década de 70 pela construção do Sistema de Contenção contra as Cheias (composto por diques de terra, casas de bombas, cortinas e muro de proteção), na cidade de São Leopoldo. Esta obra, gerenciada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento, embora com boas intenções, fez também com que a cidade perdesse seu contato com o Rio, mantendo-o prisioneiro em um pequeno espaço, enquanto seus banhados – termo regionalista utilizado no Sul do Brasil para designar as áreas úmidas – eram ocupados indiscriminadamente por construções irregulares (ou até mesmo de forma “legal”).

Se você conversar hoje com um idoso do município, certamente lhe falará que as margens do rio eram um belo ponto de encontro para casais apaixonados que, em harmonia, contemplavam-no em seus momentos de lazer. Ali, também, ocorriam regatas, lavava-se a roupa, abasteciam-se as residências (que ainda hoje são abastecidas), além de ser o meio de chegada para mercadorias e pessoas. Pessoas, estas, trazidas através de barcos pelo rio e que, ao invés de conservá-lo, acabaram por contribuir para sua degradação, desmatando sua vegetação ciliar e lançando, ali, seus resíduos e efluentes.

Abastecidos por suas águas, já em 1941 o Rio dos Sinos recebe sua primeira Estação de Tratamento de Esgoto – construída pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SEMAE) e reconhecida como a pioneira do Estado. Apesar disso, o Rio dos Sinos teve a depreciação de suas águas acentuada ano a ano pela poluição dos 32 municípios que a compõem. De agrotóxicos, utilizados em áreas rurais, a produtos químicos despejados por indústrias coureiro-calçadistas e de metal-mecânica, situadas em áreas mais urbanas, o rio sempre recebeu muita matéria orgânica proveniente de efluentes domésticos. Esse cenário preocupante uniu diferentes setores sociais para a criação do primeiro Comitê de Bacia Hidrográfica do Brasil: o Comitesinos, criado em 1988 e mantido até hoje em São Leopoldo.

Pela tragédia ocorrida em 2006 – onde milhares de peixes (e várias outras espécies animais) morreram devido à eutrofização causada pelo esgoto doméstico – surgiu também o Consórcio Público de Saneamento Pró-Sinos, que também contribui para a melhoria das condições do rio através de uma gestão territorial mais ampla. Gestão essa que necessita ainda de medidas de conservação e educação ambiental mais efetivas, de modo que mais alterações ambientais não sejam causadas no rio – como a construção de barragens, atualmente sob estudo de viabilidade.

Hoje o que muitos estão vendo – com a evacuação de centenas de famílias da região e uma cheia que não ocorria há 48 anos – é mais um pedido do Rio: Quero meu lugar de volta! – Preciso da mata ciliar para conseguir manter água de qualidade a todas as espécies! – Não quero sacolinhas plásticas “decorando” minhas margens ou alimentando meus animais! – Preciso dos banhados para desaguar e, por meio deles, recarregar os aquíferos que sob mim descansam! – Esse espaço é meu (e por Lei defendido)!

Talvez seja isso o que tantos (que passam vagarosamente de automóvel sobre as pontes, ou que se debruçam sobre os diques) ouvem ao chegar em suas margens. Muitos que nunca foram antes ver o rio, ou que passavam diariamente sobre este e não o observavam, hoje, espero eu, tem o tempo das águas baixarem (o tempo do Rio) para refletir sobre suas ações como cidadãos e, sobretudo, seres vivos dependentes da água.

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IMAGENS

 

 

 

Enchente em São Leopoldo é a maior desde 1965 Charles Dias/Especial

 

Os diques barraram as cheias do Rio dos Sinos em São Leopoldo, mas a força das águas ultrapassa as barreiras humanas e exigem de nós humildade e respeito na gestão territorial. Nos rendemos à sua força e precisamos ser mais sensíveis à sua dinâmica natural.

Foto: Charles Dias / Especial ZH

Ilustrações: Silvana Santos