Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Breves Comunicações
31/05/2013 (Nº 44) USO E DESCARTE DA GOMA DE MASCAR EM SALA DE AULA NO CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS EM ARAGUAÍNA: REFLEXÃO SOBRE A NATUREZA HUMANA
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USO E DESCARTE DA GOMA DE MASCAR EM SALA DE AULA NO CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS EM ARAGUAÍNA: REFLEXÃO SOBRE A NATUREZA HUMANA

 

Marivaldo Cavalcante da Silva

Universidade Federal do Tocantins (UFT)

marivaldoareia@yahoo.com.br

 

RESUMO

De maneira geral as práticas humanas contribuem para a degradação do meio ambiente. Nosso comportamento, nossas ações, necessita constantemente de reavaliações e mudanças com vistas à melhoria na qualidade do meio ambiente que certamente implica na qualidade de vida. A educação ambiental é um complemento, um acréscimo no processo de educação humana. A industrialização de vários produtos acaba por acarretar determinados problemas na saúde de vários usuários, como pode ser citada a goma de mascar. Utilizar cadeiras de salas de aula para o seu descarte, acaba implicando na falta de educação e contribui para a poluição. É necessário refletir constantemente sobre nossas práticas e agir imediatamente modificando-as.

 

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais atingem, direta ou indiretamente, todas as sociedades em diversas localidades do planeta, principalmente, os vários níveis na qualidade de vida. Os debates em torno da educação e particularmente na educação ambiental aparentemente não tem proporcionado uma reflexão mais profunda quanto à necessidade de mudança de comportamento e atitudes por diversas camadas sociais e, em diversos países que se façam inseridas no universo predominantemente consumista.

Até meados do século XX o homem possuía a concepção de que a natureza era fonte ilimitada de recursos, o que levou à sua exploração intensa e, consequentemente, à degradação. Mas, a pior das degradações vivenciadas no presente trata da própria degradação humana fruto da devastação da própria natureza. Nesse sentido, chiavenato (1989, pg.26) diz que “declaramos guerra à natureza e somos os perdedores ao vencê-la”.

No que se refere às proteções do meio ambiente, a Constituição Brasileira no seu artigo 225 trata de vários aspectos, dedicando, como nunca antes, um capítulo específico a respeito da educação ambiental onde garante a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum da população e essencial à qualidade de vida, impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras gerações. Segundo a Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999 nos artigos Art. 1o entende-se por educação ambiental – grifos nosso - os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Já no Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

O presente texto não se limita a discussão da EA, da forma do descarte da goma de mascar “chiclete”, da poluição visual ou do tempo que o chiclete leva para se decompor. Vai pouco mais além, estabelece uma relação com o uso dos corantes e suas implicações a saúde, mas, principalmente, refletir sobre as práticas cotidianas. Ultimamente, tem-se ampliado em muito as discussões no seio da geografia e a saúde humana e ambiental.

 

Metodologia aplicada

Para o desenvolvimento desta pesquisa foram realizadas “vistorias” no mês de novembro nas cadeiras de quatro (4) salas de aula do curso de geografia da Universidade Federal do Tocantins Campus de Araguaína. A finalidade foi verificar a presença e forma do descarte do chiclete em sala. Foram contabilizadas 183 cadeiras distribuídas da seguinte maneira: na sala um (44); sala dois (44); sala três (47) e sala quatro (46) cadeiras. Após a verificação, as cadeiras foram fotografadas.

 

Resultados e discussão

A EA não pretende ensinar por ensinar, pretende vincular o social ao natural, reconectando o homem à natureza, sem, no entanto, que este perca sua identidade (LOUREIRO, 2004). É preciso que a população mantenha o meio ambiente sadio para a melhoria de sua qualidade de vida e da coletividade.

Para DIAS (1994, p. 8) “[...] a Educação Ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas”, devendo contemplar a sociedade como um todo, consequentemente, o planeta.

Não basta reduzir, reciclar e reutilizar é necessário repensar as atitudes e modificar. Por em prática deve ser a saída, o discurso da conscientização e sensibilização não tem surtido efeito esperado junto a sociedade. No ambiente universitário, em particular no curso de geografia na Universidade Federal do Tocantins Campus de Araguaína, apesar da realização de debates em salas de aula, eventos, palestras ficaram evidentes que não houve ruptura e mudança de comportamento quanto ao uso e descarte da goma de mascar “chicletes” ao menos em sala de aula. É bem verdade que a sala de aula também é utilizada por alunos de outro curso principalmente no período vespertino como é o caso dos alunos do curso de Escola de Medicina, Veterinária e Zootecnia (EMVZ) que funciona também em Araguaína e alunos do curso do Plano de formação de professores (PARFOR) nos meses de janeiro e julho basicamente.

Apesar da existência de cestos de lixo nas salas e de coletores nos corredores da instituição o local predileto para o descarte é grudá-lo embaixo dos “braços” das cadeiras como pode ser verificado na figura 01.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Silva, M. C. 2012

Os componentes curriculares do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) em vigência trazem disciplinas que proporcionam o debate e busca reflexão sobre a EA como, por exemplo, a disciplina de EA e Recursos Naturais e Meio Ambiente.

Tal realidade presenciada exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias diante da reapropriação da natureza, numa perspectiva que dá privilégios ao diálogo entre os saberes.

As discussões em torno da educação ambiental são amplas. (SANTOS, 2012) afirma que:

A educação ambiental deve destacar os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e regiões. À medida que se observa cada vez mais dificuldade de manter-se a qualidade de vida nas cidades e regiões, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada por meio da educação cumprindo seu papel social.

Não sei ao certo, até que ponto, o fato de ser ou se tornar sensível a causa, resultará em mudança de postura, comportamento e atitudes perante as ações que dizem respeito à educação, educação ambiental e melhoria na qualidade de vida coletiva e, por conseguinte da saúde ambiental nas instituições de ensino seja público ou privado quer seja no ensino fundamental, médio ou superior. A distribuição de cadeiras com o quantitativo de chicletes grudados por sala se encontram na tabela 01.

Tabela 01 – Distribuição de salas/períodos e quantidade de cadeiras com chicletes/sala

Dist. dos períodos por sala de aula

Identificação da sala

No Cadeiras/sala

Com Chicletes/cadeiras

(%)

1 e 2 períodos

Sala 01

44

44

100%

3 e 4 períodos

Sala 02

44

42

95,5%

5 e 6 períodos

Sala 03

46

45

97,8%

7 e 8 períodos

Sala 04

47

43

91,5%

TOTAL

181

174

96,1%

Fonte: Silva, M. C. 2012

Os resultados apresentados na tabela 01 permite induzir que a prática de descarte da goma de mascar em sala de aula não tem sido a esperada, ou seja, no sexto do lixo. Das 181 cadeiras distribuídas nas 04 salas de aula 174 que corresponde a 96,1% estão com chicletes grudados principalmente embaixo dos braços e acentos das cadeiras. A falta de educação e com a educação ao meio é perfeitamente visível. É realmente necessário mudar de comportamento, romper imediatamente com as práticas atuais, além de implicar na saúde do usuário.

Segundo JACOBI (2003, pg. 200)

A EA, como componente de uma cidadania abrangente, ligada a uma nova forma de relação ser humano/natureza, e a sua dimensão cotidiana leva a pensá-la como somatório de práticas e, consequentemente, entendê-la na dimensão de sua potencialidade de generalização para o conjunto da sociedade.

Na obra denominada de O Massacre da Natureza (CHIAVENATO, 1989. pg. 108) alerta para o consumo do açúcar e os problemas de saúde. Na oportunidade o autor diz que:

 

Há mais de um século se sabe que o açúcar faz mal ao homem. São clássicos os estudos sobre o aumento da diabetes, obesidade e várias doenças do coração desde que o uso do açúcar se tornou comum no mundo, com o barateamento do preço, na metade do século XVIII.

O autor busca inspirações junto ao abade Behagel e o sita afirmando que:

“e um produto agressivo, um dopante que não fornece ao organismo qualquer oligoelemento, qualquer diástese, qualquer vitamina, enquanto sua digestão e sua assimilação os retira (sic) do organismo. É um descalcificante, um desmineralizante”.

Na verdade o que o autor chama mais a atenção é sobre a propaganda quanto ao uso do açúcar. Segundo (CHIAVENATO, 1989. p. 108) é “através da propaganda e informação “científica” equívoca, que “açúcar é energia”. A realidade é justamente oposta”.

Ainda complementa em seu texto alertando as autoridades sanitárias quando aos males, prejuízos em função do uso do açúcar e diz que as:

“autoridades sanitárias sabem que o homem está exposto a uma série de adidtivos químicos nos alimentos que agridem a saúde. E nada fazem para impedir, pois haveria um colapso nos lucros das empresas. O negócio do capitalismo é o lucro, não a saúde do homem.”

A situação agrava-se com o uso de corantes, vários estudos em diversos países no mundo desenvolveram estudos apontando em suas pesquisas os malefícios ocasionados por tais substâncias. Existem várias controvérsias, porém, também é sabido que em países como os EUA algumas dessas substâncias são proibidas como é o caso do amaranto que apontam para o desenvolvimento carcinogênico enquanto no Canadá a mesma substância é liberada (GODOY; PRADO, 2003).

Em outra pesquisa desenvolvida em crianças nos EUA foi observado que a exposição ao uso dos corantes poderia estar causando grande aumento de crianças com desordem de déficit de atenção, dificultando a aprendizagem e outras desordens de comportamento como a hiperatividade, desordem agressiva e deficiência emocional (PRESSINGER, 1997).

Para Araújo; Antunes (2000) alguns estudos apontam que corantes artificiais presentes nos alimentos podem ter efeitos mutagênicos e/ou carcinogênicos, ou seja, podem induzir a mutações no ácido desoxirribonucleico (ADN) podendo desenvolver tumores.

No caso do Brasil, a regulamentação do uso dos aditivos para alimentos, dentre eles os corantes, é de competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). As leis do país permitem o uso de onze corantes artificiais, que são: amarelo crepúsculo, amaranto, azul brilhante, indigotina, azul patente V, eritrosina, azorrubina, tartrazina, ponceau 4R, verde rápido e vermelho 40 (BRASIL, 19990. Apesar da regulamentação pela ANVISA do uso desses corantes, não é descartada a possibilidade de efeitos adversos a saúde dos consumidores.

 

Considerações finais

Espera-se que este pequeno texto possa contribuir ao menos para a redução dos problemas relacionados ao descarte de chicletes no ambiente das salas de aula. Uma vez descartado da forma que vem sendo, é possível que as atitudes se estendam aos muros e cheguem a agências bancárias, bancos de praças públicas, outras instituições públicas, transportes coletivos dentre outras localidades.

Após a contabilização dos resultados houve o retorno em sala de aula para realização do debate sobre as práticas presenciadas e constatadas. Espera-se que em uma nova sondagem nos semestres vindouros essa realidade não mais se faça presente. Independente das questões ambientais, uma vez que a educação, antevêm a educação ambiental. Outro fator positivo da divulgação desse trabalho é a própria repercussão entre os colegas tanto do curso de geografia quanto aos demais cursos do campus. Também é necessário alertar para o consumo de certos produtos com o alto teor de corantes em função dos malefícios que podem vir a ocasionar a vários órgãos dos seres humanos.

REFERENCIAS

ARAÚJO, M. C. P.; ANTUNES, L. M. G. Mutagenicidade e antimutagenicidade dos principais corantes para alimentos. Ver. Nutr. V. 13(2) p81-88, Maio/Ago, 2000.

BRASIL, Resolução no44, 05 de Agosto de 1999. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Agência de Vigilância Sanitária. Brasília, DF. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/ligis/reso44_77.htm: acesso em: 27/12/2012.

CHIAVENATO, J. J. O Massacre da Natureza. São Paulo: Moderna, 1989 – (coleção polêmica) 136p;

DIAS, G. F. Atividades interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo: Global, 1994.

GODOY, H. T.; PRADO, M. A. Corantes artificiais em alimentos. Alim. Nutr, Araraguara, v. 14, n.2, p. 237-250. 2003.

JACOBI, Pedro. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n 118, p. 189-205, março/2003.

LOUREIRO, C.F. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo, SP: Cortez, 2004. 28 p.

PRESSINGER, R. W. Environmental Causes of Learning Disabilites and Chile Neurological Disorders: Reviw of the research. 1997, Disponível em: http://www.chemtox.com/pregnancy/learning_disabilities.htm. acesso em: 03/01/2013;

SANTOS, W. A. Sociedade, Natureza e as Alternativas da Educação Ambiental. Revista Educação Ambiental em Ação. Número 42, Ano XI. Dezembro/2012-Fevereiro/2013. http: //www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1376&class=21. Acesso: 17/01/2013;

Ilustrações: Silvana Santos