Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) BIODIGESTORES E CONSERVAÇÃO DA ENERGIA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL FEITA A PARTIR DE INTERAÇÕES EM REDES SOCIAIS
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Biodigestores e Conservação da Energia:

educação ambiental feita a partir de interações em redes sociais

 

Vagson Luiz de Carvalho Santos

Doutor em Física pela Universidade Federal de Viçosa

Professor de Física do Instituto Federal Baiano, Campus Senhor do Bonfim*

vagson.santos@bonfim.ifbaiano.edu.br

 

Edna Maria Oliveira Ferreira

Mestre em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Professora de Língua Portuguesa do Instituto Federal Baiano, Campus Senhor do Bonfim*

edna.ferreira@bonfim.ifbaiano.edu.br

 

Osvaldo Barreto Oliveira Jr.

Doutorando em Educação pela Universidade Federal da Bahia

Professor de Língua Prtuguesa do Instituto Federal Baiano, Campus Senhor do Bonfim*

osvaldo.junior@bonfim.ifbaiano.edu.br

 

*Estrada da Igara, km 04, Zona Rural, Senhor do Bonfim – BA, CEP 48970 – 000

 Tel: 74-3541-3676

 

 

Resumo: Neste trabalho procurou-se compreender o princípio de funcionamento de uma máquina térmica a partir da análise de um gerador de indução movido a combustíveis fósseis e sua provável substituição pelo biogás. Compreendendo então o funcionamento de um biodigestor, obteve-se dados sobre a produção de resíduos na suinocultura do IF Baiano, campus Senhor do Bonfim, para testar a viabilidade econômica da implantação de um biodigestor. Abriu-se a possibilidade de uma discussão profunda a respeito de geração de energia e meio ambiente através de fóruns de discussão em redes sociais na internet. Dessa forma, este trabalho torna-se relevante tanto do ponto de vista de pesquisa aplicada à relação entre Física e meio ambiente, quanto de incentivar discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

 

 

 

Introdução

Energia é um dos principais requisitos para a manutenção da sociedade moderna, sendo necessária para criar bens com base em recursos naturais e para fornecer muitos dos serviços com os quais temos nos beneficiado. Dessa maneira, o desenvolvimento econômico e os altos padrões de vida são processos complexos que compartilham de um denominador comum: a disponibilidade de um abastecimento adequado e confiável de energia. Devido ao princípio da conservação da energia, tal abastecimento está intrinsecamente relacionado com a disponibilidade de fontes primárias para geração da energia necessária para mover todos os processos e atividades demandados pela sociedade.

Essas fontes primárias usadas para a produção de energia elétrica podem ser classificadas em não renováveis e renováveis. As fontes não renováveis são passíveis de se esgotar, devido ao fato de serem utilizados com velocidade bem maior que os milhares de anos necessários para sua formação. Dentre estas estão os combustíveis fósseis, cujas estimativas apontam para um esgotamento dentro de aproximadamente 35 anos [1]. A energia solar, hidráulica, eólica e de biomassa podem ser consideradas como fontes renováveis de energia, pois sua reposição é bem mais rápida do que sua utilização energética. Além disso, seu manejo pelo homem pode ser efetuado de forma compatível com as necessidades de sua utilização energética [2].

No caso do Brasil, a principal fonte para geração de energia elétrica no século XXI é a geração de energia hidrelétrica, o que deve perdurar por um longo tempo devido ao potencial ainda disponível. Entretanto, para atender a demanda de energia cada vez mais crescente, a construção de novas hidrelétricas tem sido apontada como solução, porém isso resultaria em um aumento dos problemas ambientais devido ao alagamento de grandes áreas que podem abrigar animais e plantas nativos da região, e que se perderiam no caso do alagamento. Há ainda prejuízos sociais por conta da quantidade de pessoas que deveriam ser removidas de suas casas ou inundação de áreas férteis para agricultura e pecuária. Dessa forma, uma alternativa é a utilização de fontes de energia renováveis de energia [3].

Dentre as alternativas para geração de energia na zona rural, podemos citar a biomassa como fonte de combustível para alimentar geradores térmicos e aquecedores. A biomassa pode ser conceituada como a massa total de matéria orgânica que se acumula em um espaço vital, sendo considerada, por alguns autores, como uma das principais fontes para produção de energia e com maior potencial de crescimento nos próximos anos [4].

A produção de energia a partir da biomassa só é possível com a utilização de um biodigestor, o qual oferece condições satisfatórias para que bactérias presentes nos resíduos atuem sobre a biomassa, produzindo o biogás, o qual pode ser utilizado para a geração de energia elétrica em geradores de indução movidos por este combustível. Assim, o aproveitamento da biomassa pode ser feito por meio da combustão direta, por processos termoquímicos ou biológicos [2].

Um dos grandes motivadores para a implantação de biodigestores em propriedades rurais é o fato de que grande parte dos resíduos de animais são simplesmente descartados, os quais poderiam ser aproveitados para produção do biogás. Ao contrário do álcool produzido pela cana-de-açúcar, de óleos extraídos de outras culturas, e do biodisel, o biogás não compete com a produção de alimentos nem com a busca de terras disponíveis para agropecuária, uma vez que ele é obtido de resíduos agrícolas [5].

Diante deste contexto, propusemos um estudo sobre o princípio de conservação da energia e as leis da Termodinâmica, a partir da análise do funcionamento de um biodigestor e dos processos físicos envolvidos nas conversões de energia necessárias para a geração de eletricidade e calo nessas estruturas. A relevância deste trabalho reside na necessidade de promover debates, nos contextos educacionais, acerca das demandas contemporâneas por geração de energia e pela preservação do meio ambiente; o que pode inserir os jovens estudantes do ensino médio numa teia dialógica que argumenta em favor da correlação entre desenvolvimento (produção energética) e sustentabilidade (preservação dos recursos naturais existentes no planeta).

Entendemos, pois, que este diálogo entre o conhecimento propedêutico e realidade social deve ocorrer tanto em espaços formais quanto em espaços não formais de ensino. Por essa razão, acionamos as redes sociais na internet, para suscitar discussões a respeito de tópicos relacionados à geração de energia elétrica e meio ambiente com os estudantes da segunda série do Ensino Médio, do curso Técnico Integrado em Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), campus Senhor do Bonfim. O acionamento dessas redes on line foi motivado pelas interações sociais que os jovens costumam realizar nesses ambientes, buscando inserir, no rol das atividades fomentadas pela escola, suportes de leitura e escrita que os jovens utilizam no dia a dia, para estabelecer contato com outrem; já que, as redes sociais são verdadeiros ambientes de vivência e aprendizagem [6].

Este trabalho, concretizado através das redes sociais da internet - ajudou os estudantes a terem uma compreensão acerca do princípio da conservação da energia, dos processos envolvidos na conversão de calor em energia mecânica e desenvolverem um senso crítico acerca de questões envolvendo o conceito de desenvolvimento sustentável, geração de energia elétrica e meio ambiente.

 

Metodologia e Desenvolvimento do Trabalho

Sabe-se que a Física não é uma ciência dissociada de outras áreas do conhecimento, de forma que seu estudo não precisa se dar de forma isolada e sem ligação com discussões acerca de aspectos econômicos, ambientais e políticos da sociedade. Dessa forma, realizamos uma atividade interdisciplinar com o objetivo de fazer os estudantes assumirem uma postura crítica frente a debates sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. A opção por atividades interdisciplinares reside no fato dessas virem se mostrando relevantes tanto para para que os estudantes façam associações entre as diversas áreas de conhecimento a que têm acesso quanto no auxílio para que os professores consigam ter uma visão mais ampla dos conceitos de sua disciplina discutidos em sala de aula. Tal forma de atividade fora realizada previamente a partir de uma pesquisa sobre o consumo de drogas por estudantes de Ensino Médio da cidade de Senhor do Bonfim - BA [7], e os resultados desse trabalho nos motivam a continuar optando por discussões interdisciplinares.

No presente trabalho, realizamos uma atividade envolvendo as disciplinas de Geografia, Química, Física, Matemática e Zootecnia II (criação de animais de médio porte, em especial suínos), a qual se desenvolveu seguindo algumas etapas que consideramos fundamentais e que serão discutidas a seguir.

Para sensibilizar os estudantes em relação ao objeto de pesquisa/estudo, o professor da disciplina Geografia apresentou textos e vídeos referentes a desenvolvimento econômico e sua relação com a geraão de energia. Durante e após essa etapa, o professor de Química propôs textos introdutórios sobre os processos bioquímicos envolvidos na produção do biogás. Os estudantes foram incentivados a pesquisar sobre os tipos de biodigestores existentes e sobre as vantagens e desvantagens de cada um deles. Concomitantemente a essas atividades, os professores de Física e Matemática propuseram a análise do modelo matemático proposto por Walker et al. [5], o qual utiliza-se da programação linear aplicada na área da saúde para o processamento dos dados e determinação da análise de viabilidade econômica da implantação de um biodigestor numa propriedade rural.

A partir disso, começamos a estudar em sala de aula, as leis da Termodinâmica, discutindo processos de transformação de energia e estudando como pode-se realizar conversões de calor em energia mecânica e ainda, como esta última poderia ser utilizada para gerar energia elétrica. Para motivar e sensibilizar a turma, iniciamos o estudo de máquinas térmicas a partir de um estudo do texto "Mais quilômetros por litro", no qual os autores tratam do princípio de funcionamento de um motor de combustão e discutem medidas tomadas para aumentar sua eficiência [8]. Os estudantes foram então incentivados a fazer uma pesquisa a respeito da geração de energia elétrica a partir de uma máquina térmica, compreendendo as transformações de energia numa usina termelétrica, nuclear e em geradores de indução movidos a diesel e gás natural, os quais consistem em máquinas térmicas, obedecendo às leis da Termodinâmica.

Para avaliarmos o desenvolvimento dos estudantes em discussões relativas a termodinâmica e funcionamento de máquinas térmicas, propusemos a realização de um júri simulado, no qual colocaríamos em debate a possibilidade da implantação de novas usinas termelétricas e nucleares no Brasil. As turmas foram divididas em quatro grupos: Imprensa, responsável por trazer notícias e fatos atuais sobre usinas termelétricas e nucleares, bem como mostrar o princípio de funcionamento de tais usinas; População, responsável por buscar pesquisas de opinião pública acerca dos temas, e discutir os resultados encontrados; Defesa, que deveria apresentar argumentos a favor da implantação de tais usinas em nosso país; e finalmente, a equipe de Acusação, que deveria apresentar argumentos contra a instalação de usinas nucleares e termelétricas.

Enquanto os estudantes realizavam o levantamento bibliográfico sobre o tema, realizamos um levantamento sobre a produção de resíduos de suínos no IF Baiano, Campus de Senhor do Bonfim, para realização de um estudo de caso da aplicação do modelo matemático da Ref. [5]. Além disso, foi feito um levantamento sobre o descarte atual de resíduos e o gasto de energia elétrica para manutenção do próprio setor do campus. Os resultados deste levantamento de dados podem ser encontrados na Ref. [9].

Finalmente, com todos os dados em mãos, iniciamos uma discussão sobre geração de energia e meio ambiente, com o intuito de difundir as ideias adquiridas durante o desenvolvimento do trabalho, sobre impactos ambientais, sociais e econômicos trazidos pelas fontes primárias para obtenção de energia. Os estudantes foram então incentivados a postar comentários a respeito de tópicos propostos em redes sociais na internet. Optou-se por trabalhar com a rede social Orkut, na qual foram criados fóruns de discussões e os estudantes emitiam opiniões sobre tópicos propostos. Os endereços, nos quais podem-se acessar as demais discussões, estão na [10].

Essa opção em se trabalhar com fóruns de discussões em redes sociais encontrou respaldo no caráter dialógico da linguagem, defendido por Bakhtin [11], que admite a importância da existência do "outro" para que se efetue realmente a linguagem entre os interlocutores, que na ânsia de compreender e interpretar o outro, aciona em si atitude responsiva, confirmando esse caráter dialógico da linguagem. A construção dos sentidos do texto é resultante das relações que se estabelecem com discursos prévios e com o contexto sócio-histórico-cultural do sujeito, concebido por Bakhtin como "horizonte ideológico" [12]. Logo, a interação em redes sociais veio somar para que alunos e professores das diversas disciplinas envolvidas no projeto pudessem participar de debates, sugerir, questionar, enfim, dinamizar ainda mais o processo ensino-aprendizagem instituído.

Isso nos leva a refletir também sobre a questão da alteridade, que "define o ser humano, à medida em que se torna impossível pensar o homem fora das relações sociais que o ligam a este outro" [12]. Nesses termos, a interação social possibilita ao homem constituir linguagem e, por conseguinte, tornar-se sujeito de ações que, exercidas dialogicamente na reflexão com outrem, constroem os conhecimentos necessários ao estar-no-mundo; ou seja, dota o sujeito das habilidades requeridas pelas diversas ações que a vida cotidiana nos exige. Nas redes sociais da internet, esse diálogo com outrem é potencializado, pois encontra possibilidades de materialização num espaço desterritorializado, em que os papéis dos interlocutores são redimensionados, e as relações com o poder e o saber são mais democráticas, conforme defende Lévy [13,14], "Qualquer grupo ou indivíduo pode ter, a partir de agora, os meios técnicos para dirigir-se, a baixo custo, a um imenso público internacional. Qualquer um (grupo ou indivíduo) pode colocar em circulação obras ficcionais, produzir reportagens, propor suas sínteses e sua seleção de notícias sobre determinado assunto."

 Nessa perspectiva, buscamos redimensionar, via redes sociais, nossos papéis, enquanto interlocutores do processo dialógico-formativo pressuposto nos contextos educativos; a fim de oportunizar a estudantes e professores as mesmas condições e possibilidades de interação, aproveitando a democracia discursiva emergente nas redes on line, para incentivar os jovens estudantes a perquirir e dialogar constantemente acerca dos temas geradores deste projeto: biodigestores e geração de energia. Essa experiência mostrou-se bastante satisfatória e, diante da diversidade do material coletado nesses fóruns de discussão, vamos proceder à análise de apenas algumas falas, como forma de aproximar ainda mais o leitor deste texto.

 

Resultados e Discussão

Dentre os principais resultados obtidos com o desenvolvimento dessa atividade interdisciplinar, pode-se citar a análise os estudantes da quantidade de resíduos de suínos produzidos na criação de porcos da escola, calculando a viabilidade da implantação de um biodigestor no campus. Com os resultados da aplicação do modelo matemático da Ref. [5], observaram que a escola poderia ter um biodigestor, com recuperação de recursos em torno de 7 meses.

Dentre os dados coletados pelos estudantes, houve a observação de que os resíduos produzidos pelos suínos são conduzidos até uma fossa séptica, não sendo aproveitados para produção de biogás [9]. Os dejetos são despejados no chão, ficando no mesmo ambiente que os porcos, o que obriga um manejo diário dos mesmos. Tal manejo é feito através da raspagem da região com rodo e água. Os dejetos seguem então para uma espécie de córrego a céu aberto, caindo diretamente na fossa. Os estudantes apontaram ainda que essa é uma realidade na maioria das propriedades rurais a que eles têm acesso.

Do ponto de vista de Ensino de Física e Geografia, a presente pesquisa teve grande impacto nas discussões acerca de conservação de energia, desenvolvimento sustentável e geração de energia limpa. Além disso, pôde-se notar o desenvolvimento dos estudantes a partir do diálogo que conseguiram realizar entre diversas áreas aparentemente distintas do conhecimento. O diálogo partiu da compreensão dos diversos processos físicos envolvidos na transformação da energia química do biogás em calor e energia mecânica e em seguida, em energia elétrica, através de um gerador de indução.

No que se refere à utilização de novas tecnologias no ensino de Física, criamos fóruns de discussão na rede social Orkut, os quais motivaram os estudantes a permanecer discutindo e trocando experiências sobre o assunto tanto durante o desenvolvimento das atividades quanto após o término das pesquisas realizadas. Nas falas dos estudantes, pudemos notar uma preocupação constante com questões ambientais, ao ponto de existirem expressões até agressivas com relação à ausência de medidas preventivas no tocante a projetos ambientalmente sustentáveis por parte de órgãos governamentais e da sociedade em geral. Dessa forma, além de aprenderem conteúdos novos, o aluno pôde exercitar sua cidadania, conforme nos mostram estas falas.

·         Moderador: "Em seu livro `Earth in the Balance', Al Gore argumenta que "a pesquisa em lugar da ação é irresponsável. Uma escolha por não fazer nada em resposta a evidência comprovada [do aquecimento global] é, na verdade, uma escolha por continuar e, até mesmo, acelerar a destruição ambiental que está colocando uma catástrofe em nossas mãos". O que vocês acham dessa afirmação?."

 

   Estudante 1: "A pesquisa é muito importante, porque nela saberemos o que realmente está precisando mudar em termos de problemas ambientas. Mas tem coisas hoje que já estão aí na nossa cara, a gente cidadão e governantes (principalmente os que governam) devemos nos conscientizar e agir, a palavra certa é AGIR. Como já disse a pesquisa é sim importante, mas se não tiver ação de nada iráa adiantar."

   Estudante 2: "Não acredito que a ação seja mais importante que a pesquisa, em primeiro lugar, penso que tentar separar a pesquisa da ação ou escolher uma entre as duas é tolice, pois uma não funciona sem a outra. Agir sem pesquisar é o mesmo que andar vendado em uma terra totalmente desconhecida: pode sim dá certo e se acertar o caminho, mas a chance de errar é muito maior. A pesquisa determina a melhor decisão a ser tomada para resolver o problema, sem ela não há possibilidade de fazer isso, o que me leva a crer que a ação não existe sem a pesquisa. Por outro lado a pesquisa também não deve ser vista como solução de problema, pois sozinha ela não resolve nada, apenas nos mostra um caminho que deve ser seguido através de uma ação."

   Estudante 3: "Acredito, que Al Gore é um hipócrita, através de frases como essa, de peso filosófico faz com que nos chame atenção, ele tenta nos convencer de suas teorias. Quando na verdade, o que realmente deseja é chegar ao seus objetivos pessoais e políticos (poder), esta é a imagem que ele me remete. Simplesmente demagogo, uma vez que, `um segredo de um demagogo é de se fazer passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.'(Karl Kraus). Afirmo isso, pela impostura apresentada acima. A pesquisa é o primeiro passo para se promover um projeto que ajude o meio ambiente, ou qualquer outra coisa, para qualquer ação social, política, econômica, ambiental e até mesmo pessoal é necessário que se analise muitos aspectos e isso só é possível através de uma pesquisa, não é uma escolha por não fazer nada, pois a pesquisa é uma grande começo, sem ela não seria possível saber sobre o próprio aquecimento global, e principalmente o que fazer para minimizar os problemas. A pesquisa permite ampliar o seu conhecimento, através do conhecimento adquirido sobre o que se busca, portanto, de forma geral não aumentará catástrofe, pois uma vez que sejamos responsáveis, a pesquisa contribuirá para resolver nossos problemas, como sempre tem sido. Resumindo, a pesquisa não é irresponsável, as pessoas que tem domínio sobre ela é que dicidem o que fazer a partir delas, assim são irresponsáveis seres humanos, como ele e outros. Tudo é uma questão de ação e consciência, humanidade acima de tudo, quando se trata de meio ambiente."

 

·         Moderador: "Sabe-se que existem diferentes formas de geraçõ de energia elétrica. Cada uma delas tem suas vantagens e desvantagens no que tange o meio ambiente. Dessa forma, responda o seguinte: Os impactos ambientais devem ser sempre a primeira consideração a ser feita em relaçõ ao uso da energia?"

 

   Estudante 1: "Sim. Antes de qualquer atitude a ser tomada deve sempre ser levado em consideração o meio ambiente, já que dependemos dele para viver. Infelizmente não é o que está acontecendo, porque quem está no poder não se importa com o futuro da humanidade. Na minha opinião também, não adianta investir tanto em uma energia não renovavél agora, sem pensar nas consêguencias que viram, já que a energia em questão não se renova. O que é mais triste é que quem está no poder não da ligança pra esses impactos ambientas, se importando somente consigo, e com o dinheiro em questão. Temos (governantes) que investir em energia renovável, tendo que o nosso país nos proporciona isso."

   Estudante 2: "O uso de energia, o desenvolvimento e o progresso são ideias que estão ligadas entre si, pois a energia é fator determinante no desenvolvimento da sociedade em geral  no progresso e no bem estar da população, afinal no mundo de hoje é impossível viver sem energia. Até algumas décadas atrás os seres humanos viam o planeta Terra como uma fonte sem fim de recursos, como se ele existisse para ser explorado sem limites por nós. Hoje em dia esse tipo de ideia vem mudando, pois muita gente vê o planeta como algo vivo que deve ser respeitado, e isso realmente é verdade. As consequências do desenvolvimento descontrolados que tivemos até os dias atuais são muitas: chuva ácida, aquecimento global, poluição do ar, desmatamento, entre outros. Felizmente, o homem já percebeu que um dia os recursos vão acabar e que se continuarmos consumindo cada vez mais continuaremos cometendo os mesmos erros do passado. E arrumar o que já foi destruido é muito mais caro e díficil do que prevenir essa destruição através da preservação. é impossível voltar atrás e consertar esses erros que já foram cometidos e também não dá pra parar o desenvolvimento, pois regredir não é a solução para o nosso problema. Acredito que a melhor solução seria se desenvolver de uma forma sustentavél, tomando o maximo de cuidados possíveis, para gerar energia de forma que não agrida ao meio ambiente, pois é possível evoluir e crescer de forma responsável, preservando a natureza e garantindo o bem estar dos seres vivos em geral."

   Estudante 3: " O desenvolvimento do ser humano está diretamente ligado ao uso de energia, seu domínio sobre o fogo foi o primeiro passo, logo depois usou lenha, mais tarde carvão mineral o qual impusionou a Revolução Industrial, o desenvolvimento. Mais tarde surgiram o petróleo, o gás natural e a energia nuclear (bombas atômicas e usinas nucleares) como fontes de energia, que movimenta uma cultura altamente desenvolvida, entretanto isso acarretou uma série de impactos ambientais, socias e até econômicos, nesse cenário surge a perspectiva de um novo modelo de produção de energia sustentável e eficiente, não para corrigir os erros do passado, mas sim para utilizar racionalmente os recursos naturais, sem colocá-los em extinção, assegurando o bem-estar da sociedade e futuro das próximas gerações, continuando o desenvolvimento sem sequelas ao meio ambiente e a sociedade em geral. Nesse contexto, os impactos ambientais, sem dúvida devem ser ponderados, entre outras consideraões levantadas, e com maior peso, afim de proteger os recursos que podem ser extintos, embora ainda temos, garantindo um futuro de qualidade e bem-estar de todos, pois uma vez extintos os recursos naturais, extinta também estará a vida em nosso planeta. Outras considerações também devem ser feitas, como: custo, necessidade energética, demanda da produção, etc. Com tudo, o imprescindível ainda é a questão ambiental."

 

Assim, e de acordo com Dowbor [15], "não é apenas a técnica de ensino que muda, incorporando uma nova tecnologia. é a própria concepção de ensino que tem de repensar seus caminhos". Isso nos instiga a dinamizar as estratégias de ensino-aprendizagem, a fim de aproximar as pretensões educacionais das experiências de vida dos estudantes. Essa aproximação medeia uma construção de conhecimento pautada na realidade cotidiana, aproximando o saber acumulado pelas diversas áreas do conhecimento das vivências e expectativas dos aprendizes; provocando, dessa forma, reflexões que, conscientemente acionadas pelos sujeitos da aprendizagem, suscitam ações ou, nas palavras de Freire [16], uma práxis transformadora da realidade.

Pautados nessa lógica de aproximação entre os saberes pretendidos pela escola e as experiências vividas pelos estudantes, acionamos as redes sociais para consubstanciar diálogos acerca dos biodigestores e conservação de energia. Aproveitamos, portanto, a familiaridade que os estudantes possuem com as redes on line, bem como as interações e os laços que estabelecem nesses ambientes do ciberespaço, para estimular pesquisas e debates acerca de conteúdos interdisciplinares, de interesse da Física, da Química, da Matemática, da Geografia, da Zotecnia II (Disciplina na área técnica oferecida pela escola ao curso Técnico em Agropecuária), dentre outras.

Convém salientar que a apropriação das redes sociais da internet como ferramentas capazes de estimular a aprendizagem nas disciplinas citadas não pretendeu, em hipótese alguma, burocratizar ou formalizar a interação nessas redes. Mas, sobretudo, aproveitar as aprendizagens de interação que os estudantes desenvolvem nesses ambientes, para despertar o interesse por questões epistemológicas interdisciplinares. Dessa forma, tentamos estreitar laços entre os interesses escolares e as predisposições sociais dos estudantes, levando-os a usar meios rotineiros de interação para mediar os conhecimentos pretendidos pela escola.

 

Conclusões e Perspectivas

Devido ao fato de estarmos inseridos no contexto de educação profissionalizante em agropecuária, propusemos o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar para discutir os conceitos de conservação da energia e termodinâmica. Para tal, realizamos uma pesquisa sobre a possibilidade de um biodigestor no campus de Senhor do Bonfim do IF Baiano e, a partir de atividades realizadas em conjunto pelos professores dos diversos componentes curriculares, abrimos espaço para uma discussão sobre desenvolvimento sustentável e geração de energia elétrica. Os estudantes puderam notar, a partir da proposição de uma situação problema, as diversas etapas na conversão do calor em energia mecânica e compreender o funcionamento de uma máquina térmica.

Realizou-se ainda um trabalho de pesquisa sobre usinas termelétricas e nucleares, que são máquinas térmicas, e, portanto, obedecem às leis da termodinâmica, e abrimos espaço para discussão sobre impactos ambientais causados por essas e outras formas de geração de energia elétrica. Realizou-se um debate acerca de geração de energia e meio ambiente em uma rede social na internet (Orkut), de onde pudemos notar uma sensibilização dos estudantes envolvidos e o consequente avanço nos debates ambientais dentro dos espaços do campus de Senhor do Bonfim do IF Baiano.

É válido registrar o dinamismo do grupo em participar dos debates em rede, o favorecimento para a autonomia do aluno, propiciado pela atividade interativa, o papel do professor ao problematizar as participações de cada aluno, no sentido de incentivá-los a relacionar saberes, sintetizar e avaliar ideias que iam sendo veiculadas pelos debatedores no ambiente virtual de discussões. Enfim, uma atividade dessa natureza em muito contribui para ampliar os significados das informações novas trazidas à baila, on line, e posteriormente nos corredores e pátios da escola.

Seguindo esse raciocínio, é fundamental evidenciar a necessidade de se trabalhar para que o professor deixe de ser um mero transmissor de informações, um "fazedor não-pensante", fruto de uma prática ortodoxa e assuma, cada vez mais, posturas e atitudes investigativas e interdisciplinares, com vistas ao desenvolvimento da ação  e  da reflexão críticas [17]. Dialogicamente, esse ser/fazer docente crítico-reflexivo respaldaria um ser/fazer discente consciente das possibilidades de transformação social que a apropriação/compreensão do conhecimento provoca, levando-nos a uma pedagogia que, segundo Freire [16], seria de "homem libertando-se"; isto é, um processo de aprendizagem construído, não para o aluno, e sim com ele, capaz de provocar reflexões que o levem a agir de modo a transformar o sistema opressivo a que estamos submetidos.

 

Agradecimentos: Os autores agradecem ao CNPq, concessão número 562867/2010-4, pelo suporte financeiro. Agradecemos ainda ao professor Paulo Eduardo Ferreira dos Santos, pelas informações sobre produção de resíduos na suinocultura do IF Baiano, Campus Senhor do Bonfim.

 

 

Referências Bibliográficas

 

[1] J. F. Carvalho, "Combustíveis fósseis e insustentabilidade", Energia, Ambiente e Sociedade/Artigos,

[2] L. B. Reis, "Geração de energia elétrica", 2a. ed.  Ed. Manole, São Paulo-SP, 2011.

[3] M. A. N. Andrade, "Biodigestores rurais no contexto da atual crise de energia elétrica brasileira e na perspectiva da sustentabilidade ambiental". UFSC. In: 4o Encontro de energia no meio rural - AGRENER 2002. Campinas/SP, pp. 1-12, 2002.

 

[4] ANEEL; Capítulo 5: "Biomassa". Disponível na página da internet:

Acessado em 06/11/2012.

[5] E. Walker, G. V. Leandro, R. F. Camargo, J. C. O. Bolacell, "Modelo Matemático para Estudo da Viabilidade Econômica da Implantação de Biodigestores em Propriedades Rurais", Anais do CNMAC , vol.2, ISSN 1984-820X, 2010.

[6] N. L. Pretto, Prefácio. In: E. S. Couto, T. B. Rocha (orgs.). "A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais". Salvador: EDUFBA, 2010.

 

[7] V. L. Carvalho-Santos, E. M. O. Ferreira, "Estudo bioquímico-fisico dos efeitos das drogas no corpo humano: uma proposta interdisciplinar", Cadernos Temáticos do MEC, No 14, p. 38, 2007.

[8] B. Kight, "Mais quilômetros por litro", Scientific American Brasil, no. 94, Duetto, São Paulo, 2010.

[9] R. D. R. Santos, T. C. B. Xisto, V. L. Carvalho-Santos, "Levantamento de dados sobre resíduos produzidos no IF Baiano, Campus Senhor do Bonfim", Submetido a revista Ciência Junior do IF Baiano.

[10] http://www.orkut.com.br/Main\#Community?cmm=120963812

       http://www.orkut.com.br/Main\#Community?cmm=120972329

       http://www.orkut.com.br/Main\#Community?cmm=120969432

       http://www.orkut.com.br/Main\#Community?cmm=120969436

     

[11] M. Bakhtin. "A interação verbal". In: "Marxismo e filosofia da linguagem". 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. p. 114 - 132.

[12] D. P. L. Barros, "Teoria Semiótica do Texto". 4a. ed. São Paulo: Editora ática, 2005.

 

[13] P. Lévy, "A nova relação com o saber". In: "Cibercultura". Tradução de Carlos Irineu da Costa. 3 ed. São Paulo: Editora 34, 2010. p. 159-170.

 

[14] P. Lévy, "A diversidade das línguas e das culturas encontra-se ameaçada pelo

ciberespaço?" In: "Cibercultura". Tradução de Carlos Irineu da Costa. 3 ed. São

Paulo: Editora 34, 2010. p. 247-251.

[15] L. Dowbor, "Tecnologia do Conhecimento: os desafios da educação". Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

 

[16] P. Freire, "Pedagogia do Oprimido". 42 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

[17] M. Santos, Projeto UCA - "Um Computador por Aluno: Uma Análise das Práticas Pedagógicas".

Disponível em: http:www.virtualeduc.info/.../242/santos.doc.$\%$santos\_resumo.doc

Acessado em: 15/01/2013, às 11h.

Ilustrações: Silvana Santos