Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) ATIVIDADES LUDICAS COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE ANFÍBIOS E RÉPTEIS EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO
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ATIVIDADES LUDICAS COMO FERRAMENTA PARA educação ambiental sobre anfíbios e répteis EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO

 

Edivania do Nascimento Pereira¹, Mauriceia de Melo Silva Santana², Maria José Lima Teles³, Ednilza Maranhão dos Santos[4]


 

Resumo: A construção e/ou produção de ferramentas são elementos instigadores, para promover e estimular a aprendizagem, bem como auxiliar em atividades que promovam a valorização dos recursos naturais e mudança de atitude. Este trabalho visa relatar uma experiência com crianças que vivem no entorno de uma unidade de conservação no sertão de Pernambuco. Com o objetivo de fornecer subsídio para Educação ambiental. Ocorreu um planejamento, elaboração e aplicação de atividades lúdicas envolvendo anfíbios e répteis da Floresta Nacional de Negreiros, Serrita/PE. Foram registradas 17 atividades com diferentes temas sobre anfíbios e répteis da região. Dez foram trabalhadas nas comunidades do Carrasco e Negreiros (quebra cabeça, jogo da memória, achando o bicho, ligando o teju, completando a frase, trava-língua, trilhando a serra, corrida do sapo, pescando o sapo e comendo os insetos). Foi verificado que esses materiais lúdicos facilitaram a aprendizagem e a troca de saberes, pois além de relacionar imagens de espécies conhecidas com suas respectivas características e importância, tornou a atividade educativa interessante propiciando a interação efetiva do grupo, sendo um instrumento importante para ações de conservação dos grupos zoológicos na Floresta Nacional de Negreiros.

 

Palavras-chave: Atividades lúdicas. Educação Ambiental. Unidade de Conservação. Caatinga.

 

Introdução

 

As atividades interativas proporcionam muitas vezes bem estar e pode ser uma ferramenta importante no aprendizado e formação das crianças e adolescentes. É notório que a satisfação de bem estar, de descontração ou simplesmente o brincar é prazeroso e elemento motivador no ensino e aprendizagem. Para manter o seu equilíbrio com seu mundo a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar. A  construção e produção de ferramentas de “brincar” é atualmente um dos instrumentos mais eficientes nos trabalhos de conservação e caracteriza como o lúdico, os jogos não são apenas uma forma de divertimento, eles contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual (OLIVEIRA, 2010).

 Pinto (1995) considera a ludicidade como uma vivência privilegiada do lazer, que materializa experiência cultural movida pelos desejos de quem joga e sente o prazer da brincadeira. Para a autora, concretizar o lúdico é renovar relações interpessoais, experiências corporais, ambientes, temporalidades e energias; é reencontrar consigo mesmo, com o que gosta e deseja. Para Gomes (2004) a ludicidade pode ser manisfetada através da linguagem humana de diversas formas, seja oral, escrita, visual, artística, sendo uma possibilidade se brincar com a realidade, considerada como uma forma de re-significação do mundo. A autora ainda reconhece que as manifestações e construções artísticas podem ser pontuadas como práticas culturais constituídas pelo ser humano, verificando através da expressão de um imaginário simbólico exaltado de prazer, liberdade, criatividade e sentidos lúdicos.

De forma mais geral, os resultados demonstram que em seus momentos de descontração, na brincadeira e na escolha de seus brinquedos, a criança revela e constrói a sua visão de mundo, atitudes e conhecimentos (JACON & DUDA, 2009; OLIVEIRA, 2010). Segundo Vasconcellos (2003) por meio da educação a transmissão dos valores, bem como padrões e hábitos mentais de uma geração à outra está garantida de modo metódico. Nesse sentido, a educação como um todo é molde da natureza humana pessoal e coletiva que rege os valores, padrões e hábitos – sociais, políticos e ambientais dos indivíduos e de toda uma sociedade ao longo do tempo.

Focalizando o aspecto ambiental, a UNESCO (1987), na Conferência Internacional de Moscou, diz que:

“Educação ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros”.

Medina (1999) expõe que não se trata tão somente de ensinar sobre a natureza, mas de educar para e com a natureza, assim compreender e agir corretamente os problemas das relações do homem com o ambiente. Portanto, é importante saber educar para a natureza, havendo finalidade nos trabalhos realizados com educação ambiental e com a natureza, através de dinâmicas e exercícios correspondentes. Dessa forma, os conhecimentos e valores trabalhados tendem mais facilmente a serem percebidos e assimilados em termos da conscientização ambiental.

 

A Caatinga os anfíbios e répteis

Durante algum tempo, também entre herpetólogos, tinha-se a idéia de que a caatinga não tinha fauna própria. Dizia-se que os anfíbios e répteis encontrados ali, eram os mesmos encontrados em outras vegetações no nordeste. Sabe-se que tudo isso não é verdade, e que além da caatinga ter uma fauna de anfíbios e répteis bastante variadas também existem casos de endemismo (VANZOLINI, et.al. 1980)

 A importância dos anfíbios e répteis, em estudos ambientais, está no fornecimento de informações relevantes ao conhecimento do estado de conservação de regiões naturais, uma vez que eles funcionam como excelentes bioindicadores de níveis de alteração ambiental (POUGH et.al. 2008). Também são de grande importância ecológica como controladores de populações de invertebrados e de outros vertebrados. Assim destacando sua importância nos estudos de impactos ambientais podem direcionar medidas conservacionistas. Com isso, contribuem com informações importantes para manejo e conservação dos ambientes onde estes animais estão inseridos (POUGH et al. 2008). Esses animais são lembrados, pela maioria das populações humanas, com sentimento de medo e consequentemente são negligenciados e muitas vezes mortos (STAHNKE et. al. 2009).

Com base nesse cenário de degradação que a Caatinga vem sofrendo, muitas vezes por falta de informação e de que anfíbios e répteis constituírem um dos grupos de vertebrados importantes na manutenção do bioma, porém pouco lembrados, e que estratégias de conservação devem ser pensadas, tendo como parceiros a comunidade local. Neste caso, em Unidades de Conservação, todos os esforços para a defesa da caatinga devem ter como ponto principal a participação da comunidade e principalmente das crianças. Assim, com a finalidade de serem futuros multiplicadores de ações e valores de como viver melhor respeitando o meio ambiente. A construção e/ou produção de ferramentas que auxiliem no trabalho de educação ambiental, destacando a ludicidade, é considerada nesse trabalho como um instrumento importante, sendo o objetivo deste, fornecer uma lista de possibilidades lúdicas de interesse popular, para promoção de ações direcionadas a conscientização e conservação do bioma Caatinga, através da sensibilização da comunidade do entorno de uma Unidade de Conservação no sertão do Estado de Pernambuco.

 

Metodologia

 

Área de estudo

 

A área de estudo foi a Floresta Nacional de Negreiros, composta aproximadamente por 3.0004,04ha, fica cerca de 530 Km da capital Recife e foi criada em 11 de outubro de 2007, com objetivo de promover o uso múltiplo sustentável, com gestão do ICMBio (Instituto Chico Mendes). Possui diferentes fitofisionomias com áreas de cerradão e caatinga e tem como objetivo manter e proteger os recursos hídricos e a biodiversidade, bem como auxiliar na recuperação de áreas degradadas. Tem vegetação de Caatinga xérica, solo arenoso, e com vários recursos hídricos (açudes coivaras, negreiros e lagoa do mato, riacho negreiros, além de vários corpos d’água temporários). A precipitação média anual é de 700 à 900mm3, com temperatura média anual em torno de 25ºC. Anteriormente existiam algumas famílias morando dentro dos limites da Unidade, essas foram indenizadas e residem atualmente no entorno em pequenas comunidades. As comunidades do entorno são Vassouras, Carrasco, Jacú, Boa Esperança e Negreiros. As comunidades escolhidas para aplicação das atividades lúdicas foram Carrasco e Negreiros devido a sua proximidade com a FLONA-Negreiros.

A comunidade de Carrasco possui cerca de nove famílias, é uma comunidade pequena, com aproximadamente 25 crianças de 0 a 14 anos de idade, a comunidade de Negreiros possui apenas três famílias com cerca de oito crianças de 0 a oito anos. As famílias de ambas as comunidades possuem renda per capita de aproximadamente um salário mínimo, sendo a pessoa mais idosa da família que sustenta a casa através da aposentadoria, os demais membros da família trabalham autônomos nas fazendas arredores, além de receberem doações das cidades vizinhas. As crianças a partir de sete anos de idade, frequentam a escola pública na cidade de Serrita, cerca de 8 km de distância das comunidades, onde a prefeitura da cidade disponibiliza um carro no horário da manhã, 6:30h, para busca-los e às 12:00h trazê-los de volta para as comunidades.

 

Pesquisa, Organização e Planejamento das atividades

 

            Foi realizado um levantamento de informações secundárias sobre atividades lúdicas que envolvesse o tema através de pesquisas online (fonte: Scielo, Scopus, Cirus) e em bibliotecas. As atividades foram adaptadas à realidade local, como jogos, cantigas e brincadeiras, com o objetivo de representar afinidade com a caatinga e a comunidade da FLONA Negreiros. Esse acervo de possibilidades lúdicas tornou-se parte do banco de dados da Coleção Hepertológica da UFRPE, a fim de incentivar melhor o intercâmbio entre alunos, professores e pesquisadores.

Posteriormente visitas mensais entre agosto-2011 e junho-2012, com duração entre quatro a dez dias consecutivos, foram realizadas no entorno da Unidade de Conservação (Flona Negreiros) para estimar o número de crianças e verificar o local para realização das atividades. Escolas foram visitadas para fortalecer parcerias com os professores e entrevistas informais foram realizadas com a comunidade para obter informações sobre a representação humana em relação aos anfíbios e répteis. Paralelamente, outro grupo de pesquisadores realizou um levantamento sobre as espécies, que contribuiu na organização do material.

As ferramentas foram utilizadas em atividades com as crianças em dias pré-estabelecido. Essas foram documentadas através de filmagem e fotografias, sendo logo depois mantidas em banco de dados na coleção de herpetologia da UFRPE e também doadas como material testemunho para as escolas e a gestão da FLONA Negreiros. Utilizou-se data show, computadores e gravadores como equipamento importante durante as atividades para exibição das imagens. Ferramentas didáticas como brinquedos e jogos foram produzidas com materiais recicláveis. Lápis e folha A4 foram distribuídos em alguns momentos para elaboração de desenhos a partir de estórias contadas sobre alguns animais.

Todas as atividades foram direcionadas para a herpetofauna local, buscando sensibilizar as crianças a cerca de sua importância e conservação das espécies, bem como explorar a troca de conhecimento sobre a biologia, ecologia e comportamento a cerca do grupo trabalhado.

 

 

Resultados e discussão

 

Um total de 17 atividades lúdicas envolvendo animais no Brasil foi registrado, especificamente no semiárido, destacando anfíbios e répteis, destas, dez foram adaptadas e duas idealizadas (pescando o sapo e comendo o inseto), todas foram utilizadas durante as atividades com as crianças. São elas:

Quebra-cabeça – Feito a partir de imagens de anfíbios e répteis mais comuns na localidade. Estas foram salvas já em formato padrão de quebra cabeça, coladas em emborrachado e cortadas. Utilizou-se com o objetivo de fixar as informações, além de estimular a troca de saberes entre as crianças sobre os animais, onde se ressaltou anterior aplicação da atividade função e importância no ambiente;

Achando o Bicho – Foram recortados imagens de anfíbios e repteis e escondidos em seus possíveis habitat, onde as crianças tiveram que encontra-los. Com essa atividade foi possível trabalhar os habitat desses animais;

Jogo da Memória – Pares de imagens de anfíbios e repteis foram recortadas e coladas em papelão, onde os participantes teriam que encontrar esses pares, através dessa atividade eles puderam visualizar a morfologia, bem como a diversidade de espécies;

Ligando o teju – Foram feitos desenhos de alimentos com o objetivo de liga-los ao teju. Através desta atividade pode ser trabalhado o hábito alimentar deste animal;

Completando a frase – Texto relacionado à biologia, ecologia e comportamento do Teju com algumas lacunas. Foram distribuídos para as crianças completarem as lacunas, após a troca de conhecimento sobre este animal;

Trava- Língua – Um trava língua sobre a largatixa “largatixa larga a tia, larga a tia largatixa, só quando a tia chamar a lagartixa de lagartixinha”, foi utilizado ao abordar sobre os lagartos;

Trilhando a Serra – Uma trilha (caminho) desenhada com perguntas a cada casa andada, através da joga de um dado, com o objetivo de estimular os participantes a refletir sobre o assunto abordado, anfíbios e repteis;

Corrida do Sapo – Os participantes tiveram que correr um percurso com movimentos saltatórios como um sapo, através desta atividade pode-se trabalhar a locomoção desses animais;

Pescando o Sapo - Sapos com latinhas de refrigerante foram confeccionados e inseridos em uma bacia com água para serem “pescados” com vara de pescar e anzol, através dessa atividade pode-se abordar os habitat destes animais;

Comendo os Insetos - Língua de sogra com velcro colado em uma das extremidades onde ao soprá-la grudava em um inseto feito de velcro. Simulando o movimento da língua dos sapos no momento da alimentação, auxiliando assim na construção do conhecimento sobre alimentação dos sapos.

 

 Todas as ferramentas foram confeccionadas e adaptadas para o contexto cultural e ambiental, bem como ao grupo de animais estudado (anfíbios e répteis) e sua relação com a comunidade (Figura 1).  Segundo Santos-Fita (2007) a natureza das relações com o ambiente é nitidamente marcada pelas concepções/representações dos indivíduos, desenvolvendo um significativo sistema informacional sobre as espécies e o ambiente, o que se traduz nos saberes, crenças e práticas culturais relacionadas com o ambiente de cada lugar. Esse embasamento foi importante para melhor direcionamento, aceitação e participação das crianças, auxiliando assim na construção do conhecimento, estimulando a manter uma relação mais intima com a natureza e o meio ao seu redor.

Com as informações colhidas na literatura, no ambiente natural e com as crianças das comunidades, foi possível confeccionar também três livretos infantis e um livro de atividades sobre os anfíbios e répteis da caatinga, com base em desenhos das próprias crianças, do qual serviram também como material pedagógico em algumas atividades e foram distribuídos aos participantes e escolas do entorno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1. Materiais lúdicos confeccionados para a realização das atividades na comunidade do Carrasco, FLONA Negreiros, entre o período de agosto/2011 a junho/2012. A-.Procurando os bichos, B-.Trilhando a serra, C-.Quebra-cabeça, D-E. Comendo os insetos, F-. Pescando o sapo, G-. Jogo da velha “adaptado”, H-. Jogo da memória.

 

 

A primeira experiência, as atividades lúdicas utilizadas foram escolhidas de forma a construir conhecimento a cerca dos anfíbios e repteis em seu âmbito geral. Foram utilizadas o jogo da memória, quebra cabeça da cobra Floninha, achando o bicho, vídeos, além de uma cantiga (Serpente da união, autor desconhecido), essa última falava de uma serpente que pregava a união entre os seres. A cantiga, bem como a performance na construção de uma fila de crianças em forma de serpente foi de muita alegria. Em todas as atividades, a importância e características de anfíbios e répteis encontrados na região foram trabalhadas de forma a instigar curiosidade. No início das atividades, as crianças estavam bastante tímidas e poucos interagiam, mas no decorrer da intervenção, principalmente com as brincadeiras elas participaram mais ativamente. Essas atividades vieram somar aos conhecimentos já existentes sobre os animais, valorizando os elementos da Caatinga.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2. Atividades desenvolvidas na primeira intervenção. A- Apresentando os animais para as crianças; B- Aplicação do jogo da memória; C- Participantes montando o quebra cabeça da Floninha; D- Procurando o bicho; E- Música da serpente da união; F- Exibição do Filme. Flona Negreiros, Serrita/PE

 

Na segunda experiência as atividades lúdicas escolhidas foram voltadas para auxiliar na construção do conhecimento a cerca de dois animais mais conhecidos na localidade, o tejú (Salvator merianae Duméril & Bibron, 1839) e Cascavel (Crotalus durrisus drynas Linnaeus, 1758). Antes da aplicação da atividade obteve um momento de conversa informal a cerca dos dois animais, para estimulá-los na construção do conhecimento sobre a biologia e comportamentos dos mesmos. Assim foram selecionadas as seguintes atividades: Ligando o Tejú e completando a frase, ambas para auxiliar na fixação das informações. Para algumas crianças, que não sabiam ler foi necessário ajuda dos companheiros e da equipe na realização dessa atividade. Posteriormente utilizou-se uma cantiga, a cobra não tem pé (autor desconhecido) e a contação de história sobre a serpente floninha (Uma cascavel que vivia em uma Serra). Logo depois foi entregue materiais para desenhar e pintar sobre o que eles entenderam da história (Figura 3). Assim, a intenção dessas atividades foi proporcionar o diálogo das diferentes concepções sobre esses animais, incentivando a reflexão sobre suas práticas, crenças e aplicações das diversas formas de conhecimento, bem como impulsionar a busca da identidade e valorização da caatinga, tudo isso foi observado através dos relatos e dos desenhos confeccionado por eles. Rabelo et.al. (2006) diz que a ludicidade no ensino de ciências atrai o participante da atividade e o faz pensar com imaginação, trazendo a um maior prazer em obter informação. Através dessa atividade pode-se evidenciar o prazer em aprender, bem como a construção do conhecimento:

Oxe, a gente num pode matar a cascavé não, quando vê ela é só deixar o bicho passar pro mato, ela vai simbora...”

“... ele tem uma calda grande quisó..,” ... “a língua dele também é grande e divide no meio feito a das cobra” (relatos referente ao teju).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 3. Atividades realizadas na segunda experiência, Serrita/PE. A- Troca de conhecimento a cerca do teju; B- realização da atividade completando a frase sobre o teju; C- Musica da cobra não tem pé; D- Crianças desenhando sobre a estória da Floninha

 

Na terceira experiência, dois temas foram trabalhados: o Bioma Caatinga e os lagartos, as atividades escolhida para os temas foram, o filme Guardiões da Biosfera - Episódio Caatinga e contação de história Após a exibição do filme houve uma conversa informal a cerca da caatinga, surgimento e atual situação. Os conhecimentos dos moradores foram considerados indistintamente, sem a preocupação de serem concordantes ou não. Em seguida foi feito a contação de história do lagarto Diego (um lagarto que não desistia de construir sua toca) e em seguida foi distribuído material para pintura e desenho. Observou-se que o filme chamou muito a atenção das crianças, principalmente quanto à preservação do meio ambiente (Figura 4). Fica evidente que o conhecimento não fica parado, é construído continuamente de forma dinâmica. Com isso, ações como as atividades lúdicas (Filme e Contação de história) trouxeram possibilidade de dinamizar o aprendizado tornando o ambiente mais casual e agradável para os participantes dinamizando o conhecimento. Pazda et.al. (2009) enfatiza que a Educação Ambiental para ser efetivo não tem necessidade de ser algo formal e repleto de conceitos e questionamentos, tornando-se cansativos e chatos, ao contrário disto, deve ser dinâmico e motivador, para que se torne prazeroso tanto para quem ensina como para quem aprende.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 4: Atividades realizadas no mês terceira intervenção, Serrita/PE. A- Contação da estória do Lagarto Diego; B- Participantes desenhando a cerca da estória.

 

A quarta experiência abordou os lagartos como “bribas, calangos e lagartixas”, animais visualizados por eles constantemente. Foram escolhidas duas atividades para a construção do conhecimento sobre esses animais o trava língua da lagartixa e o jogo trilhando a serra (Figura 5). Depois de oferecer informação sobre os animais, foram feitas algumas perguntas obtendo respostas interessantes. Mais uma vez ficou evidenciada a alegria das crianças em participar, o interesse e integração durante as atividades, o que remete a reflexão sobre as ferramentas utilizadas que se tornam objetos eficazes na construção do saber agregando ao conhecimento científico ao saber popular em benefício da educação. Através das atividades lúdicas essas crianças tiveram a oportunidade de aprender a valorizar ainda mais o meio em que vive mantendo a biodiversidade local sem práticas aversivas ou destrutivas a cerca dos anfíbios e répteis que habitam na região. Nunes e Silva (2011) disseram que conhecer os tipos de ecossistemas, assim como seu funcionamento é importante para que seu papel no meio seja realizado de maneira consciente e crítica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 5. Atividade realizada na quarta experiência, Serrita/PE. A- Atividade do trava língua e B- Jogo da Trilha da serra.

 

O quinto momento teve como objetivo trabalhar apenas o sapo, e as atividades lúdicas voltadas para o contexto escolhido foram: A Corrida do sapo, Pescando o Sapo, Comendo o Inseto e o Filme sobre o Sapo Paulo, finalizando com a entrega de materiais para os mesmos desenharem (Figura 6). Mais uma vez observou-se que as crianças possuíam algumas informações prévias sobre o tema do dia, o que não foi empecilho para a consolidação e a troca de conhecimentos. Foi grande a satisfação de vê-los interagindo com esta atividade, que focou bastante a morfologia e fisiologia dos anfíbios anuros. A variedade na produção de atividades para facilitar a construção do “saber” nos dá a possibilidade de vislumbrar a formação de conhecimento sólido e duradouro que ficará na lembrança de todos que participaram. A criação e exibição do filme o Sapo Paulo (um anfíbios em busca de um lugar mais úmido, já que as lagoas estavam secas) foi uma dessas ferramentas facilitadoras na construção do saber. O lúdico veio somar esforços nessa atividade, auxiliando de forma positiva na construção do conhecimento o que foi evidenciado em seus depoimentos bem como nos desenhos construídos por eles, onde os mesmos expõem de forma clara características peculiares do animal trabalhado (sapos), como bolas no corpo, demonstrando as glândulas existentes na pele dos mesmos, bem como o sentimento ao desenhar o sapo ao lado de uma criança.

Quando se trabalha o lúdico é bem mais fácil de captar a atenção das crianças para o aprendizado, pois por meio dos jogos as crianças puderam aprender e/ou fixar o que aprenderam (DALRI, 2010).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 6. Atividade da quinta intervenção, Serrita/PE. A- Construção de conhecimento a cerca do sapo; B- Corrida do sapo; C- Pescando o sapo; D- Comendo os insetos; E- Exibição do Filme O Sapo Paulo e F- Confecção dos desenhos sobre o Filme.

 

No sexto e último momento, houve uma revisão de todos os assuntos abordados durante os encontros, isso para uma avaliação geral. O livreto com as estórias da “cobra Floninha”, “O Lagarto Diego” e “O Sapo Paulo” foram distribuídos, esses, com ilustrações feitas pelas crianças. Cantigas (serpente da união e cobra não tem pé) foram cantadas e dois filmes (Entrevista do Sr Sebastião, um fantoche, com Diego Meireles, gestor da Flona e Nossos momentos) (Figura 7). Todas as atividades ocorreram de forma dialogada. Com isso, é fato que a informação trabalhada de forma interativa, através da ludicidade contribui para a valorização e conservação da vida, principalmente dos anfíbios e répteis, animais tão negligenciados pela comunidade humana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 7. Atividades desenvolvidas na sexta intervenção, Serrita/PE. A- Conversa sobre os animais trabalhados durante a pesquisa; B- Grupo com o livro infantil sobre o Sapo Paulo; C- Socialização dos grupos a cerca das estórias compartilhadas; D- Exibição do filme do reporte das caatingas Sebastião e Diego Meireles, gestor atual da Flona; E- Comunidade assistindo o filme nossos momentos; F- Encerramento das atividades e agradecimento.

 

 

 

Considerações Finais

 

Sob a ótica de que, através das atividades sócio-culturais, educativas e da brincadeira, a criança se desenvolve espontaneamente, bem como constrói conhecimentos e habilidades necessárias a sua formação como cidadão (em destaque a formação ambiental). Ações como essas foram colocadas em prática, direcionando para esse caminho com a intenção de facilitar o conhecimento sobre alguns grupos da biota local, nesse caso os anfíbios e répteis. Demonstrando que existe, de forma constante, uma fonte geradora de incentivos à conscientização ambiental, através de estímulos lúdicos e educacionais às crianças. Há uma variedade de formas e ferramentas para serem adaptadas, transformadas em atividade interativa e participativa contribuindo não só para as questões de conservação e manejo da FLONA Negreiros, mas também com uma perspectiva futura para ser um produto que possa ser socializado entre os professores e educadores das escolas do entorno da Unidade.

Aproximar a criança às diferentes formas da caatinga, ativando seu imaginário, provocando um campo múltiplo de possibilidades humanas e de outros mundos, bem melhores para se viver, sem sombra de dúvida deveria ser o ideal para todas as crianças e é o que esse projeto, mesmo que bastante pontual fez.

As atividades foram de grande satisfação para a comunidade, o que demonstra o aproveitamento das crianças pela própria integração das mesmas. O lúdico desperta nas crianças, o prazer de conhecer mais sobre os elementos que estão a sua volta e fazem parte do seu cotidiano. Esse tipo de ação deve ser continua nos arredores dessa unidade de conservação, fazendo parte do plano de gestão contribuindo com o conhecimento e valorização dos recursos naturais.

 

Agradecimentos

 

A FACEPE pelo apoio referente ao projeto aprovado do APQ 0748-2.04/10, bem como a bolsas PIC/CNPQ. Em especial agrademos a família do Sr. Chicó e aos gestores da FLONA Negreiros , ICMBio, pelo apoio logístico e a Cristiane Salazar pela ajuda no desenvolvimento do artigo.

 

Referências Bibliográficas

 

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¹Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas. Discente da área de ensino do departamento de biologia- UFRPE. E-mail: edivania_nascimento@hatmail.com

²Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas. Discente da área de ensino do departamento de biologia- UFRPE.E-mail: mmausantana@gmail.com

³Graduanda em Bacharelado em Ciências Biológicas. Discente do departamento de biologia da Unidade Acadêmica de Serra Talhada-UFRPE. Email: maria_biouast@hotmail.com

[4] Doutora em Psicobiologia. Docente Adjunto III da Universidade Federal Rural de Pernambuco da Área de Ensino do Departamento de Biologia. Email: ednilzamaranhao@gmail.com

 

Ilustrações: Silvana Santos