Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE COLEÇÕES ENTOMOLÓGICAS EM ESCOLAS
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UTILIZAÇÃO DE COLEÇÕES ENTOMOLÓGICAS EM AULAS PRÁTICAS NO ENSINO MÉDIO

 

 

 

 

A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE COLEÇÕES ENTOMOLÓGICAS EM ESCOLAS

 

 

 

 

Luana Fontoura Gostinski

 

Msc. em Biodiversidade e Conservação - Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Professora do Curso de Ciências Biológicas na Universidade CEUMA, Rua Josué Montello, nº 1, Renascença II, São Luís-MA, CEP 65.075-120; Fone: +55 98 3214 4190; Email: gostinskilf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

 

A Educação Ambiental busca a formação do pensamento coletivo e ecológico dos indivíduos. O trabalho buscou o desenvolvimento da percepção dos alunos de escolas públicas e privadas sobre a classe Insecta, elaborando-se coleções entomológicas em sala de aula e fazendo exposições e ciclo de palestras sobre o tema. A modificação do pensamento dos alunos sobre o tema foi efetiva após a aplicação do ideal trazido pela Educação Ambiental.

 

Palavras-chave: Mostruários entomológicos; ensino-aprendizagem; aulas práticas.

 

 

Introdução

 

A Educação Ambiental é uma medida que busca prever e evitar problemas ambientais para economizar os recursos naturais e biodiversidade ainda existentes (Jacobi, 1977). Segundo a Secretaria de Meio Ambiente (1999), “educação ambiental é a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentável”. E esta só ocorre quando se torna possível sensibilizar as pessoas sobre a problemática ambiental atual.

As aulas teóricas compõem grande parte da vida escolar dos alunos de escolas públicas e privadas, fazendo assim, com que a tão sonhada sensibilização buscada pela Educação Ambiental não ocorra. Neste contexto, ressalta Paulo Freire (1998), “Discursamos aulas. Não debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos sobre o educando. Não com ele”. Desta forma, necessita-se de ações práticas e interdisciplinares para que haja um despertar da consciência ecológica do alunado (Brasil, 2001).

Uma alternativa para solucionar tal celeuma é a utilização de coleções entomológicas, pois trazem informações através da curiosidade e provoca questionamentos. De acordo com Borror & Delong (1969), “atividades com insetos podem ser conduzidas em qualquer nível e constituem uma parte essencial do processo de ensino-aprendizagem”.

É sabido que os insetos podem trazer diversos benefícios ao homem, desde a fertilização das plantas, que futuramente fornecerão alimentos, até o controle de populações de insetos maléficos, afirmando que toda a biosfera depende dos insetos para sobrevivência (Buzzi & Miyazaki,1993). Devido sua grande importância ecológica, econômica e na saúde, este grupo é um excelente representante dos invertebrados.

Os insetos compõem cerca de 70% dos animais existentes (Buzzi & Miyazaki,1999), o que comprova seu convívio com o homem desde os primórdios da humanidade em todas as partes do globo, exceto os polos, tornando fácil a utilização dos insetos com ferramenta para o desenvolvimento da Educação Ambiental.

            A exposição de mostruários entomológicos foi o principal objetivo de deste projeto, buscando divulgar informações e despertar o censo crítico ecológico de crianças e adolescentes em uma escola pública municipal no Ensino Fundamental e uma escola particular no Ensino Médio.

             

 

Materiais e Métodos

 

Ação em sala de aula

 

            Durante a matéria Artrópodes, ministrada na 6ª série do Ensino Fundamental na disciplina Ciências e 2º ano do Ensino Médio na disciplina Biologia durante o 3º bimestre de 2008, foram aplicados estudos comparativos entre os grupos de Artrópodes, onde utilizou-se exemplares como: aranha para representar os aracnídeos, caranguejo representando crustáceos, piolho-de-cobra representando miriápodes e gafanhoto para representar insetos.

            Na segunda etapa, demonstraram-se as técnicas e materiais de coleta, triagem, montagem e conservação dos insetos. As turmas foram separadas em grupos de cinco, para montagem de caixas entomológicas, onde cada integrante trouxe dois exemplares. Após o término da montagem cada grupo apresentou para a turma seus exemplares, os classificando de acordo com as ordens e local de coleta.

 

Ação em toda escola

 

Utilizou-se a aplicação de questionários para se obter o nível de conhecimento dos alunos sobre insetos. Cada questionário constituía-se de dez perguntas, sendo cinco abertas e cinco fechadas. Os questionários foram aplicados durante o intervalo com os alunos do Ensino Fundamental de 4ª a 8ª séries, totalizando cinquenta alunos entrevistados, dez alunos de cada série.

            Após a análise dos resultados, elaboraram-se cartazes e coleções entomológicas para exposição na escola, além de um ciclo de palestras, que se adequaram as frequentes dúvidas. Nos cartazes encontravam-se informações, como: a importância dos insetos para homem, quais animais são insetos e quais não são, e, prevenção das doenças causadas por insetos. Isso se deu com o intuito de fomentar e conscientizar os alunos da preservação dos insetos para seu bem estar. Na elaboração das coleções entomológicas pelos alunos de 6ª série e 2º ano, buscou-se expor os insetos mais atraentes, como forma de despertar a curiosidade sobre suas origens e modo de coleta.

O mesmo questionário foi repassado na escola com mais 50 alunos para garantir se as palestras e mostruários foram absorvidos de forma válida.

 

 

Resultados e Discussões

 

Ação em sala de aula

 

            Na escola pública municipal os alunos das 6ª séries do Ensino Fundamental, foram bem receptivos e atenciosos às aulas práticas. Durante a montagem das coleções, houveram debates sobre hábitos de vida de cada ordem, os danos que os insetos podem causar e os benefícios que trazem ao homem. Notou-se que muitos conheciam doenças causadas e diversos nomes populares a elas empregados. O principal foco foi na percepção dos alunos sobre os integrantes do grupo Insecta, pois muitos confundiam com outros artrópodes.

            Assim como na escola pública a escola particular no 2º ano do Ensino Médio foi atenciosa às aulas práticas, porém alguns alunos tiveram extrema fobia aos insetos, talvez por conhecê-los pouco, o que tornou difícil o desenvolvimento das aulas práticas, tendo que adapta-las a cartazes e menos utilização de espécimes. As discussões tiveram o enfoque nos benefícios que os insetos trazem ao homem, como forma de desmistificar todo o ideal negativo marcado nas vivências anteriores com insetos. A polinização feita pelas abelhas e borboletas foi um assunto muito comentado, provavelmente porque constituem uma das maiores ordens da classe Insecta, segundo Buzzi & Miyazaki (1999).

            Uma dinâmica específica foi adotada para o 2º ano, denominada “onde vivem os insetos?”. Cada aluno desenhou seu entendimento de onde comumente visualizam os insetos nos seu dia-a-dia. O que foi muito válido, pois as expressões em desenhos coloridos interagindo com vegetação e em ambiente doméstico, mostrou que a compreensão dos alunos não era de total repulsa, como demonstrado nas ilustrações abaixo.

 

Figura 1. Percepção dos alunos do 2º ano do Ensino Médio sobre “Onde vivem os insetos”.

 

 

            Em ambas as escolas não houve o deslocamento dos alunos para a coleta, sendo um ponto negativo, pois os levando para observação do meio ambiente natural os fariam entender melhor os hábitos e importância dos insetos.

Contudo, no final da montagem das caixas, cada aluno relatou o histórico da coleta e armazenamento do espécime que trouxe, surgindo assim, diversos questionamentos. De acordo com Ronca (1996), questionar é necessário para que o “aprender” ocorra através do esforço pessoal pela buscando de solução de uma resposta que o satisfaça e o reequilibre.

 

Ação em toda escola

 

A escola nunca havia feito extracurricularmente dinâmicas envolvendo animais, o que despertou muita curiosidade em seus alunos. Notou-se que os alunos não tinham um conhecimento básico sobre a importância dos insetos, entretanto havia certa ciência sobre doenças causadas por eles.

Analisando os resultados dos questionários, observou-se que somente 10% dos alunos achavam que insetos não eram vivos (Figura 2 d), todas as respostas foram dadas por alunos de 4ª e 5ª séries, provavelmente porque ainda não tiveram a oportunidade de adentrar o estudo dos mesmos. Entretanto, tais respostas não se repetiram na repassagem do questionário.

Constatou-se também, que eles não tinham certeza de quais animais constituíam a classe dos insetos, colocando com termo “inseto” animais de outras classificações, que provavelmente provocam um sentimento de repulsa por transmitirem doenças ou causarem medo, como aranha, carrapato, minhoca, rato, caranguejo e piolho-de-cobra (Figura 2 b).

Figura 2. a- Importância dos insetos para o meio ambiente e humanidade; b- Qual animal pertence a classe Insecta?; c- Qual a função dos insetos?; d- Inseto é um ser vivo?

 

 

            Sobre a importância dos insetos no meio ambiente, constatou-se que poucos alunos sabiam e 50% deles acreditavam que os insetos tinham pouca ou nenhuma importância (Figura 2 a). Após o ciclo de palestras os que achavam muito importante tornaram-se 70%.

Já quanto à função, 45% associaram a transmissão de doenças, 25% praga de plantas, porém alguns lados positivos foram comentados, como polinizadores e decompositores (Figura 2 c). Alguns alunos demonstraram interesse no assunto e debateram algumas informações que achavam pertinentes, como: o uso dos venenos para obtenção do antídoto, insetos pragas em plantas nativas e sua função na cadeia alimentar.

Quando questionados sobre a preservação dos insetos, 50% dos alunos achavam necessária tal medida e a outra metade não entendia o porquê. Esse resultado foi obtido possivelmente por nunca terem utilizado animais como material para desenvolvimento da educação ambiental na escola e alguns ainda não conheciam o assunto como conteúdo curricular. Já na aplicação do segundo questionário, todos os alunos comentaram que seria necessária a preservação dos insetos para manter o meio ambiente saudável.

            Após a obtenção dos resultados, já comentados anteriormente, elaborou-se os cartazes com temas diversos, ciclo de palestras, porém o que mais atraiu a atenção dos alunos foram as coleções entomológicas com espécimes grandes, coloridos e exóticos de todo o Maranhão.

Considerações Finais

 

Através das respostas ficou evidente que a maioria dos alunos não se vê como integrante do meio ambiente, entretanto sabem que é o homem que o danifica. Eles possuem pouco conhecimento sobre a importância dos insetos para o homem, devido aos métodos de ensino aplicados pela escola pública.

O esgotamento físico e psicológico, que faz parte da rotina do aluno, pode impedi-lo de reciclar seus conhecimentos, para que isso não ocorra se torna necessária a utilização de didáticas mais atraentes, como as aulas prática, que facilitam a absorção e compreenção do conteúdo ministrado em sala.

            Considera-se que a prática e a teoria devem ser parceiras para o desenvolvimento do ensino, assim como a utilização de animais que compõem o dia-a-dia dos alunos, pois este contato direto com objeto de estudo os sensibiliza e os impulsiona a prática de um ambiente sustentável (Santos et al. 2006).

            A utilização de caixas entomológicas faz com que os alunos se sensibilizem com as condições do meio ambiente em que eles e os insetos vivem, sendo uma ferramenta eficiente para o desenvolvimento da educação ambiental.

 

           

Referências bibliográficas

 

 

BORROR, D.J.; DELONG, D.M. Introdução ao estudo dos Insetos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher Ltda., 1969. 653 p.

BRASIL - Ministério da Educação. Programa parâmetros em ação, meio ambiente na escola: guia para atividades em sala de aula. Brasília: MEC; Secretaria de Educação Fundamental, 2001. 200 p.

BUZZI, Z.J.; MIYAZAKI, R.D. Entomologia didática. 3. ed. Curitiba: Ed. UFPR, 1999. 308 p.

BUZZI, Z. J.; MIYAZAKI, R. D. Entomologia Didática. Curitiba: UFPR, 1993. 262 p.

FREIRE, P. Educação e Mudança. 22. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

JACOBI, P.R. Educação para a cidadania: participação e co-responsabilidade. Debates Sócioambientais, v. 2, n.7, p.1-2,1997.

RONCA, P. C. A prova operatória. São Paulo: Ed. Finep, 1996.

SANTOS, A.B.R.; SILVA, F.A; OLIVEIRA, C.R.F; MATOS, C.H.C. Integração de Escolas da rede Pública e Privada do Ensino Fundamental e Médio e UFRPE nas atividades de Feiras de Ciências no laboratório de Entomologia. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.6, n.2, p.279-285, 2006.

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Conceitos para se fazer Educação Ambiental. 3ª ed. São Paulo: SEMASP, 1999.

Ilustrações: Silvana Santos