Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES

 

 

 

AUTOR: VINÍCIUS FERREIRA BAPTISTA

 

Administrador.

Especialista em Educação Ambiental e Gestão Ambiental – Universidade Candido Mendes

Mestrando em Políticas Públicas e Formação Humana — UERJ

Assistente I na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro

 

 

 

 

RESUMO

 

Este artigo busca compreender a inserção da Educação Ambiental nas Organizações. Nota-se a crescente prática de ações voltadas aos colaboradores e à mudança de valores nas organizações.

 

Palavras-chave: sustentabilidade; organizações; educação ambiental.

 

 

INTRODUÇÃO

 

As organizações foram afetadas em muitos aspectos após a globalização da consciência ecológica. Alguns exemplos são referentes à tecnologia, à mão-de-obra, aos seus processos produtivos e em especial às práticas de educação ambiental.

No meio empresarial são cada vez mais difundidos os conceitos referentes ao desenvolvimento sustentável, produção + limpa, gestão ambiental, certificações ambientais etc., são conceitos que procuram incluir as questões ambientais na pauta das questões organizacionais.

A Educação Ambiental, nesse contexto, vem ganhando progressivamente mais espaço nas empresas, uma vez que é essencial não somente trabalhar nas questões de produção e consumo do setor produtivo da empresa, mas também incitar a participação permanente dos colaboradores das organizações para que se engajem ativamente em questões ambientais intraorganizacionais.

 

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

O Desenvolvimento Sustentável é conceituado como sendo o desenvolvimento que “atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 46).

Para Phillipi Jr e Pelicioni (2005), a fim do propósito do desenvolvimento sustentável, seria fundamental educar a população, para que esta, conscientizada ambientalmente, se engajasse e cobrasse das empresas, governo e sociedade em geral as mudanças pertinentes à própria sustentabilidade humana.

Para tal propósito de educação, as organizações apresentam como ação a Educação Ambiental, que segundo a 1ª recomendação da Conferência de Tbilisi (realizada em 1977), tem como conceito:

“o resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais” (DIAS, 2010, p. 107).

 

Em síntese, é um processo transformador, que conscientiza e intervêm nos hábitos e atitudes da sociedade como um todo e suas orientações subsidiam o homem para que ele compreenda e utilize corretamente os recursos naturais com o objetivo de satisfazer as suas necessidades (DIAS, 2010), além de conscientizá-lo como parte do meio ambiente, enfatizando as conseqüências de suas atitudes sobre o ambiente e o outro.

A EA nas organizações permite aos colaboradores compreenderem as práticas organizacionais e se posicionarem frente às mesmas de maneira que não atuem como simples coadjuvantes, mas que exerçam papel ativo, não somente dentro das empresas, mas também externamente.

Essa formulação de uma consciência requer comprometimento com a educação, pois, “educar no caminho da cidadania responsável exige novas estratégias de fortalecimento da consciência crítica a fim de habilitar grupos de pressão para uma ação social comprometida com a reforma do sistema capitalista” (PHILLIPI JR; PELICIONI, 2005, p. 7).

A EA procura formar e preparar cidadãos para que exerçam sua cidadania. Estes devem estar aptos a refletirem criticamente os rumos da sociedade, os problemas ambientais e suas causas socioeconômicas, políticas e culturais, com a finalidade de se proporem ações sociais que viabilizem o desenvolvimento sustentado da humanidade com bases éticas e de justiça social (PHILLIPI JR; PELICIONI, 2005).

A EA prepara as pessoas para que exijam direitos e cumpram deveres, mobilizando a participação social e a representatividade do coletivo na formulação das políticas públicas, exigindo melhorias e investimentos para formar uma cidadania ativa e igualitária (PHILLIPI JR; PELICIONI, 2005). O objetivo é mudar a realidade, com a meta de melhorar a qualidade de vida e garantir a sustentabilidade.

 

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES

 

As empresas têm de ser socialmente responsáveis e atuarem de maneira sustentável. O que antes era um mero discurso calunioso e conveniente, agora já faz parte das estratégias de muitas companhias para constatar como a questão da sustentabilidade vem sendo tratada no mundo corporativo. Além disso, não bastam mais às organizações simplesmente adequar seus meios e processos de produção, mas também conscientizar seus colaboradores desse novo modo de produção e atuação, que integre as esferas econômica, social e ambiental.

De acordo com essa nova conscientização, a EA exerce uma função social com finalidade de despertar a consciência e a melhor compreensão dos problemas que afetam o meio ambiente, devendo também abranger pessoas de idades e níveis diferentes, proporcionando aos mesmos o desenvolvimento de condutas positivas em relação ao meio ambiente, bem como a utilização dos recursos existentes (SANTOS, 2007). Ela torna-se, portanto, um instrumento de auxílio à implementação de políticas que objetivem o desenvolvimento sustentável.

A Lei nº 9.795/99 preconiza a participação da EA no mundo organizacional, explicitado em seu Art. 3º, alínea V, de forma que cabe:

às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente (BRASIL, 1999).

 

A sustentabilidade era vista antes como um processo alternativo, porém caro e altamente desvantajoso. Poucas foram as empresas que realmente acreditavam inicialmente em seu propósito. Outras se aproveitaram e entenderam tal modelo como uma simples forma de se melhorar suas imagens externas. E atualmente ainda existem executivos de grandes empresas que apenas entendem a sustentabilidade como uma excelente forma de maquiar a organização apenas para que os outros vejam.

Outras organizações a entenderam como uma nova oportunidade de negócio, uma vez que a repercussão e a importância da questão ambiental dentro da organização crescem no momento em que a empresa compreende que essa atividade, ao invés de proporcionar apenas prejuízos, pode-se transformar em um excelente local de oportunidade de redução de custos (DONAIRE, 1999).

A situação vivida pelas organizações, caracterizada pela alta competitividade, levou grande valor à capacidade criadora, ou seja, seguir pontos de vista originais e novos sobre assuntos antigos, pois a questão ambiental, antes considerada sinal de perdas, agora atrai consumidores preocupados com o tema.

A questão ambiental galvaniza os segmentos mais conscientes da sociedade civil, portanto pessoas com alto grau de influência pública. Esta, em sociedade midiática, como a atual, pode promover ou abalar a reputação organizacional. Impõe-se, pois, atenção visando modificar o paradigma da produção em detrimento da qualidade de vida (SANTOS, 2007, p. 17).

 

Muitas empresas adotaram esse novo modelo de produção sustentável. No entanto, poucas promovem o trabalho de conscientização de seus colaboradores. O desafio da sustentabilidade no mundo organizacional está na promoção da EA no ambiente interno da empresa. Não basta interferir apenas na produção. Processos produtivos são fáceis de mudar, pessoas não.

A conscientização dos participantes das organizações é essencial à sustentabilidade das empresas. A modificação de seus valores e cultura organizacional, assim como o clima organizacional e os mecanismos que afetam os sentimentos dos membros da organização tornam-se bases dos processos de EA nas empresas.

Esses fatores constituem a base para entender como a empresa e suas ações administrativas influenciam o interesse e o comportamento das pessoas participantes dela e afetadas por ela. O valor do clima organizacional encontra-se na habilidade de estimular os comportamentos das pessoas, no caso os valores ecológicos (SANTOS, 2007).

A mudança de hábitos é essencial. É indispensável mostrar às pessoas seus comportamentos e atitudes errôneas, com o intuito de incentivar mudanças. Certas atitudes das pessoas têm de ser notadas como algo que as prejudica agora e que de certo as prejudicará num futuro bem próximo. Necessita-se uma mudança de valores culturais e pessoais internamente. Não basta à empresa mudar externamente para que os outros vejam.

Educado ambientalmente, o colaborador dispõe de motivação, conceituada, neste caso, como combinação das tendências herdadas pela pessoa e do ambiente que a influencia; é o impulso para a ação, combinando essas duas forças, sustentando a atividade humana. [...] mantendo-se inspirada ambientalmente, a organização contará com corpo funcional executor das normas ecológicas, a par disso implementado maior produtividade por se sentir intensamente motivada pelo que efetua (SANTOS, 2007, p. 17).

 

A compreensão da EA é importante não somente às organizações, mas, sobretudo à sociedade. O ser humano passou por diversas alterações sobre como ele idealiza a forma de utilizar os recursos naturais e o que eles representam. Deve-se dar mais valor à preservação, redefinindo significativamente os padrões de consumo e de produção para que se possa melhorar a qualidade de vida das atuais e futuras gerações.

As organizações em geral também perceberam isso e se dispuseram a mudar. Contudo, elas necessitam de mudanças, primeiramente, na mentalidade dos executivos que direcionam as empresas, de forma que não se tornem apenas “maquiagens verdes”, senão perde-se o propósito original da atuação sustentável.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A origem dos problemas ambientais não reside apenas nas atuações das empresas e do governo, mas também nas sociedades, afinal suas ações também modificam as estruturas do planeta.

Desenvolvimento e meio ambiente ainda não se encontram em perfeita harmonia. A forma capitalista com que a sociedade conduz a busca pelo conforto se traduz na forma como ela organiza a produção e o consumo, de maneira a criar e recriar permanentemente novas demandas e necessidades desnecessárias. Muitas vezes tenta-se suprir materialmente emoções e desejos jamais satisfeitos.

O desenvolvimento sustentável estimula a mudança de hábitos e padrões de consumo sem esquecer de suprir as necessidades básicas da população como, moradia, educação, saúde e alimentação. O real desenvolvimento econômico sustentável tem as bases social, econômica e ambiental atendidas. Desenvolve-se por tratar dignamente o ser humano. Sustentável por respeitar a capacidade de regeneração da natureza, sem comprometer os recursos naturais.

O desenvolvimento sustentável abrange estratégias para a sociedade, que deve levar em consideração tanto a viabilidade econômica, social e ecológica. A noção de desenvolvimento sustentável é imprescindível à necessária redefinição das relações entre os seres humanos e a natureza.

As práticas de educação ambiental vêm ganhando mais espaço nas organizações, uma vez que a sustentabilidade entrou de vez na pauta das decisões organizações. Os processos produtivos deixaram de ser o único alvo de ações de cunho ambiental. Os colaboradores agora se tornaram público-alvo principal das empresas.

Diversos programas de educação ambiental vêm sendo implementados com o intuito de, primeiramente, diminuir custos e em segundo, de capacitar multiplicadores intraorganizacionais capazes de agir externamente ao ambiente empresarial, difundindo práticas socioambientalmente responsáveis.

Estas ações dão maior credibilidade às organizações, creditando-as como proativas em relações às questões ambientais. No entanto, se tais processos educativos são realizados simplesmente a fim de imagem externa, elas se tornam “maquiagem verde”, perdendo seu real propósito.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.  Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, n. 79, 28 abr. 1999.

Disponível em: Acesso em 7 de abril de 2009.

 

CMMAD (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988;

 

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004;

 

DONAIRE, Denis. Gestão ambiental na empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

 

PHILIPPI JR., Arlindo; PELICIONI, Maria Cecília Focesi [Editores]. Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2005;

 

SANTOS, Adélcio Machado dos. Educação ambiental: Matéria relevante para as ciências da administração nas dimensões acadêmica e organizacional. Florianópolis, Departamento de ciências da administração da UFSC, 18 mar. 2007. Disponível em:

. Acesso em 8 de abril de 2009.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos