Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) DEGRADAÇÃO DO MANGUEZAL E POTENCIAL PESQUEIRO: A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO ENVOLVIDA COM A PESCA NO MUNICIPIO DE PIRAMBU/SE
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DEGRADAÇÃO DO MANGUEZAL E POTENCIAL PESQUEIRO: A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO ENVOLVIDA COM A PESCA NO MUNICIPIO DE PIRAMBU/SE

 

Eliane Vasconcelos Lima

Licenciada em Biologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Especialista em Ecologia de Ecossistemas Costeiros (UFS), atualmente professora de Ciências da Escola Estadual Pedro Diniz Gonçalves, Areia Branca - Sergipe. E-mail: Eliane-ufs@hotmail.com

          

 

RESUMO

 

 

A zona costeira no Brasil tem sofrido constantes agressões em virtude de ser formada por ricos ecossistemas e concentrar grande parte da população mundial. Dentre os ambientes mais explorados desta região destaca-se o manguezal. Trata-se de um ecossistema produtivo que promove a manutenção das cadeias tróficas marinhas, estabilizam litorais e estuários e contribuem de forma decisiva para o sustento de populações ribeirinhas. Porém, a ação antrópica tem ocasionado graves prejuízos às populações que sobrevivem dos recursos deste ecossistema e suas áreas circundantes. Desta forma, o presente trabalho analisa a percepção da população envolvida com a pesca no município de Pirambu/SE sobre a relação entre a degradação no manguezal do estuário do Rio Japaratuba e possíveis impactos no potencial pesqueiro da região. A pesquisa foi realizada no período de novembro de 2006 a abril de 2007 e baseou-se em dados levantados a partir da aplicação de questionários e entrevistas informais. Resultados da pesquisa demonstraram que os principais problemas relacionados à pesca na região é a queda de preços e diminuição da quantidade do pescado. Como principais causas deste problema foram destacadas a degradação ambiental do manguezal, a carcinicultura, o desrespeito a normas impostas pelo IBAMA e a pesca predatória.

 

Palavras-chave: Percepção Ambiental, Manguezal, Degradação Ambiental, Pesca

 

1.INTRODUÇÃO

 

O homem está constantemente agindo sobre o meio a fim de atender às suas necessidades e desejos. Em sua ânsia por lucros e pressionado pelos números populacionais crescentes, o homem coloca o ambiente em crescente pressão (VANNUCCI, 2002). Como exemplo disso, pode-se citar a zona costeira que, por ser formado por ricos ecossistemas e por concentrar grande parte da população mundial, tem sofrido constantes agressões e tem se tornado palco de conflitos ambientais.

No Brasil, a zona costeira compreende uma faixa de cerca de 8,5 mil km de extensão, com largura variável e abrange um conjunto de ecossistemas contíguos sobre uma área de aproximadamente 388 mil km2 (SERAFIM, 2006).

Um dos ecossistemas litorâneos mais atingidos pela degradação ambiental é o manguezal, visto que o homem, desde tempos remotos, tem um estreito relacionamento com oeste ambiente (SERAFIM, 2006). No Brasil este ecossistema está distribuído ao longo de 6800 km de costa, do Rio Oiapoque, Amapá (latitude 40030´ N), à Praia do Sonho, Santa Catarina (latitude 28053`S). 

Por ocorrer nas regiões tropical e subtropical a vegetação do manguezal, conhecida por mangue, possui alta capacidade de produção primária (SERAFIM, 2006). Entre as raízes dos mangues habita grande quantidade de invertebrados, constituindo um ambiente bastante rico. No entanto, apenas 5% da produção total de folhas de mangue, em geral, são consumidas pelos herbívoros terrestres, sendo o restante transportado para o sistema aquático, servindo como detrito (SERAFIM, 2006). Assim, os manguezais têm importante contribuição para a manutenção da produtividade primária dos ambientes aquáticos.

Esse ecossistema costeiro desempenha a função de habitat e “viveiro” natural para muitas espécies de animais, inclusive espécies de interesse econômico tais como peixes e invertebrados que servem também  como base alimentar de populações de regiões costeiras (LANDIM, 2003).

 principal uso dos manguezais no litoral brasileiro é de local de atividades extrativistas como a pesca e aproveitamento de seus produtos. A pesca artesanal baseia-se na captura dos caranguejos Ucidescordatus, Callinectesdanae e Anomalocardiaguanhumi; e dosbivalvesMytellaguyanensis, Macomaconstricta, Anomalocardia brasiliana eCrassostracearhizophorae. Soma-se a estas espécies da pesca artesanal aquelas pescadas comercialmente em grande escala, incluindo várias espécies de peixes e camarões da gênero Penaeus (VANNUCCI, 2002).

Mesmo com a proteção prevista na legislação brasileira (Constituição Federal no artigo 225, Lei nº 6766/79, Leinº 6938/81, Lei nº 7661/88, Lei nº 9605/98, dentre outras ao nível das Constituições estaduais) os manguezais vêm sofrendo intenso processo de degradação, o que compromete importantes serviços ambientais e econômicos dependentes destes ecossistemas. Uma fração apreciável de área de manguezais no Brasil foi eliminada pela expansão urbana, portuária, turística e industrial, principalmente nos litorais do nordeste e sudeste do país (VANNUCCI, 2002).

No Estado de Sergipe, os manguezais são protegidos também por leis estaduais (Constituição Estadual, art. 232, 233, 234 e Lei nº 5858/06), mas apesar disso ainda vem sofrendo grande pressão antrópica. Embora apresente pequena extensão territorial e reduzida linha de costa, Sergipe possui cinco estuários (Piauí-Fundo-Real, Vasa-Barris, Sergipe, Japaratuba e São Francisco). Nessas regiões existiam e ainda existem áreas significativas de bosques de mangues e o manguezal ainda é um ecossistema muito importante no Estado (LANDIM, 2003).

Localizado no litoral sergipano, o município de Pirambu apresenta ao longo de todo o estuário do Rio Japaratuba exuberante bosque de mangue. Segundo Silva (2001), nos últimos anos, o crescimento populacional e a expansão urbana deste município têm provocado alterações nas áreas de manguezais como, por exemplo, aterros, despejos de lixo e esgotos, etc. Este município é responsável por grande parte do pescado produzido no estado (BRASIL, 2004). A população de Pirambu é constituída por elevado número de pescadores e pessoas que sobrevivem da comercialização de peixes e crustáceos. Contudo, problemas relacionados à pesca têm preocupado a população de maneira geral e, em especial as pessoas envolvidas com esta atividade na região.

Diante deste quadro, o presente trabalho teve por objetivo analisar a percepção da população envolvida com a pesca em Pirambu com relação à degradação do manguezal no estuário do Rio Japaratuba e os possíveis impactos no potencial pesqueiro deste município.

 

 

2.  MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterização do Município de Pirambu-SE

O município fica localizado no litoral norte do Estado de Sergipe, numa região caracterizada como planície litorânea (SILVA, 2001a).

Sua área é de 218 km2 e está a dois metros acima do nível do mar, situado a latitude 10o 44’23’’S e 36º51’24”W, estando incluso na região da bacia hidrográfica do Rio Japaratuba, na mesorregião do leste sergipano (IBGE, 2010)

            A população de Pirambu é composta por 8.369 (oito mil trezentos e sessenta e nove) habitantes, apresentando em média 38,4 habitantes por km2, sendo 4.745 (quatro mil setecentos e quarenta e cinco) homens e 3.624 (três mil seiscentos e vinte e quatro) mulheres, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).

            O município apresenta uma vegetação litorânea muito variada. Nas praias predominam os coqueiros e uma vegetação rasteira, com campos de dunas, matas de restinga e manguezais, além de uma pequena área remanescente de Mata Atlântica (SILVA, 2001).

Os mangues se desenvolvem por quase toda a extensão dos rios Japaratuba e Siriri. Nos últimos anos, o mangue vem sendo destruído, fruto da ação do homem que faz aterramentos, corte da madeira para lenha e construções de casas (SILVA, 2001).

A região abriga uma área de conservação ecológica onde está localizada a Reserva Biológica de Santa Isabel, sob a administração do IBAMA.

A beleza costeira de Pirambu também é muito explorada turisticamente, sendo um dos pontos turísticos mais visitados do Estado de Sergipe (VALENÇA, 2001).

            O município tem grande produção de coco, mas é na atividade pesqueira que se destaca economicamente, sendo um dos maiores centros pesqueiro do Estado de Sergipe.  A sede do município possui um porto para barcos de pesca, equipado com fábrica de gelo para conservação do pescado e um galpão para o beneficiamento do camarão (SILVA, 2001).

 

2.2 Caracterização do Estudo

 

Esta pesquisa é caracterizada como exploratório-descritiva, conforme a classificação de Gil (1991), uma vez que tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, visando torná-lo mais explícito, além de assumir a forma de um estudo de caso.

 

2.3 Definição do Universo e Amostra

 

O trabalho foi realizado com pessoas que desenvolvem atividades relacionadas à pesca no município de Pirambu, incluindo pescadores, proprietários de barco, comerciantes de pescado, baldeadores e marisqueiras.

A amostra foi aleatória e constituída por 90 entrevistados.

 

 

2.4 Instrumento de Coleta de Dados

 

Baseou-se em um questionário destinado aos agentes envolvidos com a pesca no município de Pirambu-SE, abrangendo 16 questões fechadas.

O perfil social destes agentes foi traçado com base no sexo, idade, escolaridade, envolvimento com a pesca, tempo de serviço na profissão e renda mensal com a pesca.

Para a análise da percepção dos entrevistados foram abordadas questões como: degradação ambiental no estuário do Rio Japaratuba, problemas com a pesca, influência da degradação ambiental no potencial de pesca, conhecimento sobre o desenvolvimento e aceitação de projetos de Educação Ambiental e suficiência das orientações prestadas pelos órgãos ambientais competentes à referida população.

Os questionários foram, então, aplicados diretamente pela pesquisadora no período de 27 a 30 de novembro de 2006.

Para atender alguns dos objetivos específicos propostos também foram utilizados dados obtidos junto à direção da Colônia de Pescadores de Pirambu, funcionários do Projeto TAMAR e pesquisadoras da Universidade Federal de Sergipe.

 

2.5 Tratamento dos Dados

 

A análise dos dados baseou-se no método quantitativo, utilizando a distribuição de frequência absoluta lançadas sob forma de percentagem, através de tabelas e gráficos representativos dos dados levantados pelo questionário.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

3.1 Perfil Social dos Entrevistados

 

a)Sexo

 

A maior parte das pessoas envolvidas na atividade pesqueira do município de Pirambu é composta por homens (Fig. 1).

Segundo dados fornecidos pela Colônia de Pescadores de Pirambu, as mulheres desempenham funções relacionadas somente ao beneficiamento e comercialização do pescado, enquanto que os homens dedicam-se a pesca, a limpeza e manutenção das embarcações e também à comercialização do pescado.

 

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Figura 1 – Distribuição percentual, quanto ao sexo, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

b) Idade

 

Com relação à distribuição etária, verifica-se que a população envolvida com a pesca em Pirambu é composta por pessoas jovens com idade variando entre 20 e 40 anos (Fig.2).

A pesca movimenta a maior parte da economia de Pirambu e constitui uma das poucas alternativas de emprego oferecida à comunidade e desta forma, incorpora parcela significativa da população jovem.

 

Figura 2 – Distribuição percentual, quanto à faixa etária, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

c) Escolaridade

 

Nota-se que os entrevistados, em sua grande maioria, apresentam baixo nível de escolaridade (Fig. 3).

            O baixo nível de escolaridade dos agentes envolvidos com as atividades pesqueiras pode estar relacionado ao fato da indisponibilidade destes para freqüentarem horários fixos de aulas na escola.

Segundo o Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do Brasil (2002, p.18) as pescarias realizadas no mar podem durar de dois a doze dias consecutivos.

No período de defeso do camarão no Estado de Sergipe, os pescadores migram para outros estados do nordeste. As embarcações podem chegar do mar no porto de pesca de Pirambu a qualquer hora do dia, necessitando de agilidade no armazenamento, beneficiamento e comercialização do pescado. Desta forma, a população que desenvolve atividades relacionadas à pesca enfrenta grandes problemas com relação à freqüência em instituições de educação formal.

 

Figura 3 – Distribuição percentual, quanto à escolaridade, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90).

 

           

d) Envolvimento com a Pesca

 

Do total de entrevistados 43% são pescadores correspondendo, portanto a maior parte da população envolvida com a pesca (Fig. 5).

 

Figura 5 – Distribuição percentual, quanto ao envolvimento, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

e) Tempo de Serviço na Profissão

 

Verifica-se que a amostra é composta por profissionais com grande experiência em atividades pesqueiras (Fig.6) uma vez que a pesca á a principal fonte de renda da população de Pirambu.

 

Figura 6 – Distribuição percentual, quanto ao tempo de serviço, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

f) Renda Mensal com a Pesca

 

De maneira geral a remuneração desta população é baixa, uma vez que parte significativa dos entrevistados (43%) não atinge sequer os valores correspondentes ao salário mínimo vigente no país.

 

Figura 7 – Distribuição percentual, quanto à renda mensal, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

As pessoas que trabalham na manutenção, beneficiamento e coleta do pescado (baldeadores, marisqueiras e pescadores) são as que apresentam menores remunerações mensais.

 

3.2 - Percepção da População Envolvida com a Pesca Entrevistada

 

a)Problemas Ambientais Percebidos no Manguezal do Estuário do Rio Japaratuba

 

Os impactos sobre os mangues resultam de ações econômicas como o desmatamento dos bosques e a sua conversão para a agricultura, a construção de viveiros, a ocupação habitacional, e a instalação de indústria e depósitos de lixo (Mastaller, 1990).

Para grande parte da população entrevistada (46%) o maior problema ambiental que atinge o manguezal no estuário do Rio Japaratuba é o acúmulo de lixo (Fig. 12). Os esgotos lançados no rio também constituem uma evidente agressão ambiental no local (Fig. 13), correspondendo a 41% das respostas.

 

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Figura 12 – Acúmulo de lixo as margens do Rio Japaratuba.

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Figura 13 – Despejo de esgoto no Estuário do Rio Japaratuba.

 

O acúmulo de lixo e o despejo de esgotos são uma grave ameaça à saúde das pessoas que moram próximo à área, pois estas utilizam a água do rio para a recreação (principalmente crianças) ou complementam a renda familiar com a pesca de peixes, crustáceos e moluscos desta região. As descargas de esgotos domésticos e industriais nas áreas de mangue comprometem a qualidade do recurso extrativista proveniente destes bosques (LANDIM, 2003).

Cita-se também à ocorrência de extração de madeira no mangue. Em geral, esta madeira é retirada pela população para a construção de casas e cercas (SILVA, 2001a).

 

Figura 14 – Problemas ambientais percebidos pelos entrevistados no estuário do Rio Japaratuba. (N = 90. Cada entrevistado pode optar por mais de uma resposta).

 

 

b) Problemas relacionados à pesca

 

Para os entrevistados (46%), o maior problema enfrentado com o pescado no município de Pirambu é a queda de preços (Fig. 12). Segundo comerciantes, isso se dá em virtude da intensificação do cultivo de camarão em cativeiros, o que ocasiona um aumento na oferta e consequentemente uma baixa nos preços do produto.

Áreas de mangues ao longo do litoral sergipano têm sido ocupadas para a instalação de viveiros de camarão. Landim (2003) destaca que o desenvolvimento destas atividades representa a redução da área coberta por mangue com conseqüente redução da produtividade na região.

Serafim (2006) cita dados estatísticos da Food and Agriculture Organization/ Organização para a Alimentação e Agricultura para as Nações Unidas (FAO) onde se relata que nos últimos anos a produção de pescado por atividades de cultivo cresceu de pouco mais de 3,5 milhões de toneladas para cerca de 42 milhões de toneladas, de acordo com uma estatística realizada no ano de 2003.

Ainda segundo dados da FAO, Serafim (2006) destaca que há uma estimativa de que a produção pesqueira mundial ate 2020, para fins de consumo humano, cresça cerca de 40%. Contudo, a maior parcela desse crescimento advirá da aqüicultura, de forma que os produtos cultivados daqui a 15 anos, já deverão responder por quase a metade do pescado consumido pela humanidade.

Boa parcela da população entrevistada (38%) acredita que o maior problema do pescado reside na diminuição da quantidade disponível no mar, seguido por aqueles (15%) que afirmam ser a diminuição do tamanho do produto da pesca o maior problema enfrentado no município de Pirambu.

Segundo Silveira (2003) de forma semelhante ao que ocorreu no resto do mundo, a redução da taxa de crescimento da produção nacional de pescado é causada pelo esgotamento dos estoques pesqueiros disponíveis em decorrência da pesca excessiva, pesca predatória em contraposição as medidas de ordenamento em vigor, como a captura de juvenis, utilização de aparelhos e métodos de pesca proibida e captura de indivíduos em reprodução.

Figura 12 – Distribuição percentual, dos principais problemas enfrentados com o pescado, de acordo comos  profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

c) Degradação Ambiental no Manguezal do Estuário do Rio Japaratuba e Diminuição do Potencial Pesqueiro de Pirambu

 

            Dados do Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina no Nordeste do Brasil (2004) mostram que o município de Pirambu, mesmo mantendo a maior produção do Estado (fato relacionado à regularidade nas operações de pesca e a proximidade com os pesqueiros mais produtivos da costa sergipana) apresentou regressão nos desembarques a partir de 1998, chegando a um decréscimo da ordem de 38,9%num período de seis anos.

De acordo com a maioria dos respondentes (57%) a degradação ambiental do manguezal no estuário de Pirambu tem influência na diminuição do potencial pesqueiro do município (Fig. 13). Porém, boa parte da amostra (43%) não relaciona os problemas enfrentados com a pesca em Pirambu à ação humana sobre este ecossistema.

Segundo Mastaller (1990) a maioria dos trabalhos relevantes sobre manguezais chama a atenção para a relação positiva entre a área prístina do mangue e a pesca. Desta forma, em numerosas localidades supõe-se uma relação direta entre o retrocesso da vegetação do mangue e a saída no rendimento da pesca do camarão e da pesca costeira em geral.

Para a pesquisadora e professora do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe (DBI/UFS), Carmem Regina Parisotto Guimarães a diminuição do potencial pesqueiro deste município está relacionada principalmente à intensificação da pesca de arrasto. Esta opinião também é compartilhada pela professora e pesquisadora Ayda V. Alcântara do DBI/UFS, a qual acrescenta que além de não haver um controle para a manutenção da frota que opera com arrastos na costa sergipana, embarcações de outros estados migram constantemente para explorar o pescado desta região.

O Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina no Nordeste do Brasil (2004) fundamenta que o intenso esforço de pesca aplicado na área e o desrespeito às normas de proteção a população juvenil tem causado uma retração no banco camaroeiro. Destaca também que houve uma recuperação significativa da produtividade da região atribuída a adoção de dois períodos anuais de defeso do camarão.

Com relação à diminuição do potencial de pesca Hazin et al.(2006) afirma que além da pesca excessiva e predatória, um dos principais problemas enfrentados pelo setor pesqueiro nacional, especialmente o segmento artesanal, consiste na degradação generalizada dos ecossistemas costeiros, o qual possui um efeito deletério sobre as espécies marinhas. Para o autor, o impacto antrópico sofrido pelos ecossistemas costeiros tem causado graves prejuízos às populações adultas aquáticas e principalmente as populações juvenis que apresentam maior vulnerabilidade, particularmente em áreas de berçários.

 

Figura 13 – Distribuição percentual, quanto àrelação entre a degradação ambiental do estuário do Rio Japaratuba e diminuição do potencial pesqueiro, de acordo com os profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90).

 

d) Principais Causadores da Degradação Ambiental no Estuário do Rio Japaratuba

 

            A maior parte da população entrevistada (65%) destaca que a degradação ambiental no estuário do Rio Japaratuba é proveniente, principalmente, da ação dos próprios moradores de Pirambu (Fig. 14).

            Os esgotos do município são lançados diretamente no Rio Japaratuba, fato que pode ter repercutido nas respostas de 25% dos entrevistados. Estes afirmam serem os órgãos municipais e estaduais os principais responsáveis pela degradação ambiental na referida área.

Segundo Dias (2004) a maior ameaça à sustentabilidade humana é o desconhecimento das questões ambientais. Com relação ao assunto, Carvalho (2004) enfatiza que a chave para mudança comportamental dos agentes reside na tomada de consciência da humanidade sobre sua estreita relação com o meio ambiente, a fim de desenvolver valores e atuar de maneira a evitar ou corrigir problemas ambientais.

Figura 14 – Distribuição percentual, quanto aos causadores da degradação ambiental do estuário do Rio Japaratuba, de acordo com osprofissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

e) Aceitação dos Projetos de Educação Ambiental

 

No que se refere à avaliação dos projetos de Educação Ambiental desenvolvidos junto a população pesqueira de Pirambu, observa-se a partir da Fig. 15 que 37% dos respondentes considera positivo o desenvolvimento destas atividades.

No entanto, 33% afirmam que projetos relacionados à Educação Ambiental não existem na região.

Na Colônia de Pescadores houve informações que habitualmente são ministrados cursos, com boa aceitação por parte dos membros. Os referidos cursos incluem informações e técnicas de manejo em áreas como ostreicultura, beneficiamento do pescado e auxílio à navegação. Durante a realização destes cursos são inclusos alguns temas que abordam a necessidade depreservação do meio ambiente. Este trabalho, em geral, é realizado em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco, através do Departamento de Engenharia de Pesca.

No entanto, não são realizados trabalhos contínuos, junto à população envolvida com a pesca, que promovam a sensibilização sobre os problemas e a necessidade de conservação dos ecossistemas locais.

 

Figura 15 – Distribuição percentual, quanto o grau de aceitação dos Projetos de Educação Ambiental, dos profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

 

f) Orientações do IBAMA

 

 

Nota-se a partir da Fig. 16 que a maioria dos respondentes (70%) afirma ter recebido orientação do IBAMA no que diz respeito aos cuidados de preservação com o meio ambiente. Embora, enfatizem que estas são passadas durante o trabalho de fiscalização e/ou punição por parte destes órgãos em Pirambu. 

Em geral, as atribuições dos órgãos ambientais relacionadas à fiscalização e/ ou punições visando o efetivo cumprimento das leis ambientais, gera graves tensores na relação estabelecida com a comunidade nativa.

 

  

Figura 16 – Distribuição percentual, quanto às orientações do IBAMA sobre conservação do Meio Ambiente, dos  profissionais ligados a atividades relacionadas à pesca em Pirambu entrevistados. (N = 90)

 

4 – CONCLUSÕES

 

Apopulação envolvida com a pesca em Pirambu é constituída principalmente por homens com faixa etária entre 20 e 40 anos e apresentam, em sua grande maioria, baixo nível de escolaridade, sendo que os pescadores compreendem a maior parte da população envolvida com esta atividade. A renda mensal é baixa, em grande parte não atingindo os valores do salário mínimo vigente no país.

A queda de preços, quantidade e diminuição do tamanho do pescado são os principais problemas enfrentados com a pesca na região. Algumas questões como a pesca de arrasto, desenvolvimento da carcinicultura, pesca de juvenis e degradações do ecossistema de manguezal têm sido apontadas como possíveis causas.

Segundo dados da pesquisa, as orientações dos órgãos ambientais com relação à preservação dos ecossistemas locais são passadas durante a fiscalização e/ou punição por parte destes órgãos em Pirambu.

A interferência antrópica ao longo do estuário do Rio Japaratuba tem provocado alterações visíveis no manguezal. Entre estes impactos, destaca-se o despejo de esgotos, acúmulo de lixo e extração de madeira do mangue e os moradores são apontados como responsáveis pela maior parte desta poluição.

A população envolvida com a atividade pesqueira de Pirambu percebe que a degradação ambiental que vem ocorrendo neste ambiente tem ocasionado impacto negativo sobre o potencial pesqueiro do município. No entanto, a falta de conhecimento e/ ou comprometimento da comunidade com a preservação do ecossistema de manguezal continua interferindo na sustentabilidade ambiental da região.

Desta forma, embora a proteção dos manguezais em Sergipe tenha ampla previsão legal, é necessária uma rígida fiscalização, aliada a trabalhos de sensibilização da comunidade. Ressalta-se ainda, a necessidade da implementação de alternativas de trabalho (como artesanato, ecoturismo, costura e culinária típica) para as famílias envolvidas nas atividades relacionadas à pesca em Pirambu.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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VANNUCCI, M. Os manguezais e nós: uma síntese de percepções. 2ª edição. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

 

Ilustrações: Silvana Santos