Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
31/05/2013 (Nº 44) O QUE FAZER COM NOSSOS NÓS?
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O QUE FAZER COM NOSSOS NÓS?

Marina Strachman

 

- Mamãe, o que é um nó? - pergunta Otávio.

- Ah filho, nó é aquele negócio que usamos pra apertar o tênis no pé!

- Não é não mãe, aquilo é laço de cadarço, aquele fio do tênis se chama cadarço, e o laço, é difícil de fazer.

- Ah filho, nó é o que a gente dá, antes do laço.

- Não é não mãe, não tem antes do laço, tem tênis desamarrado, ou amarrado. Poxa, mãe, se você não sabe o que é um nó, é só dizer!

E a mãe do Otávio pensou: “E agora, como é que eu vou sair desta?” e olhando pros pés do filho, viu que ele calçava tênis com cadarços.

- Filho, vem cá e põe o pé no colo da mamãe.

Otávio fez como a mãe pediu. Então, ela deu um nó no cadarço e mostrou dizendo:

- Isto é um nó, e agora vou desfazer o nó e dar um laço.

E assim ela fez.

- Pronto, entendeu agora?

- Não, porque a professora disse que a gente de tanto se apertar pra sair mais rápido pro recreio, deu um nó na porta! E você e o papai outro dia, disseram que o porto de Santos estava todo cheio de nó! Mãe, como é dar nó na porta? E no porto?

- Puxa Otavio, agora você me pegou... Vou pensar em como que eu te explico isso sem te confundir mais, ok? Você deixa a mamãe pensar um pouco?

- Tá  bom mãe, aproveita e pergunta pro papai.

Rita, a mãe de Otávio, saiu pra deixá-lo na escola e trabalhar. Ficou pensando em como desvendar este “nó” da cabeça do filho.

De repente se lembrou da velha ampulheta que usava com seus irmãos para jogar “war”, aquele jogo de estratégia, que Rita, seus irmãos e os primos adoravam jogar nas férias, mas que podia se estender por muuuiiitas horas, e que, para as mães não interromperem o jogo no meio para colocá-los para dormir, usavam a ampulheta. Nenhuma jogada podia demorar mais tempo do que o tempo da areia da ampulheta cair. Se fosse maior, a jogada ficava para ser finalizada na rodada seguinte, o que a fez lembrar que tornou o jogo muito mais divertido!

Na volta do trabalho, Rita pegou Otávio na escola e foram direto para a casa da avó, onde estavam o jogo e a ampulheta.

Quando Rita pegou o jogo de cima do armário, sua mãe Celeste já começou a rir.

- Mãe, porque você está rindo?

- Só de ver você com esse jogo em baixo do braço, já me vieram tantas lembranças, que só podia rir!

- Mãe, me ajuda aqui, a explicar uma coisa para o Otávio.

- Tá bom , mas primeiro um pedaço de bolo e um cafezinho. Quer bolo Otávio?

- Eba, vovó, é de cenoura!!! Quero um pedaço beeem grandão!

Após, comerem, Rita pergunta:

- Filho, quer mais bolo?

- Não mãe, quero saber o que a gente vai jogar.

- Ah, não Otávio, a gente não vai jogar nada, esse jogo é difícil para você ainda, mas aqui dentro tem uma coisa que se chama ampulheta, que vai ajudá-lo a entender a questão do nó, que você me perguntou hoje de manhã.

Celeste não estava entendendo nada.

Rita pega a ampulheta e mostra para Otávio que aquele aparelho é cheio de areia, com dois espaços como se fossem taças de vinho, uma sobre a outra, e que no meio, só ficava um buraquinho, bem pequeno.

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- Então filho, imagina que vocês na sua classe, são esse monte de areia, e que a porta é esse buraquinho, certo?

- To entendendo mãe, quando bate o sinal do recreio, a gente sai correndo, como se fosse a areia caindo e não passa pela porta ao mesmo tempo! É isso não é?!

- É filho, e com o porto de Santos é a mesma coisa, mas aí a areia, “vira” um monte de caminhões de grãos, que chegaram ao mesmo tempo, e navios esperando para carregar!

- Entendi, mãe. Agora entendi e desatei esse nó que eu tinha na minha cabeça.

Os dois riram e foram para casa.

Para refletir:

Esta historinha foi só para ilustrar alguns “nós” que enfrentaremos em nossa vida.

Nós, estes que nos fazem pensar, devo desatá-los ou não?

Maturana, tem uma frase, que diz:  “A partir do momento que descobrimos existir um nó, somos obrigados a desatá-lo” .

Discordo, que todos os nós que encontramos no nosso caminho, devam ser desatados, penso que alguns devem ser sim desatados, outros deixados como estão e outros ainda, precisam ser amarrados o mais forte possível, para que, de preferência, nunca serem desfeitos.

E você o que acha?

Um beijo, Marina

MSc. Marina Strachman - arquiteta e urbanista, mestre em desenvolvimento regional e meio ambiente e especialista em educação ambiental. marinastrachman@yahoo.com.br

 

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos