Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
19/09/2003 (Nº 5) Entrevista Especial com Ana Lúcia Tostes de Aquino Leite
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Nossa entrevistada desta edição comemorativa é a querida Ana Lúcia Tostes de Aquino Leite: um nome de destaque na área da Educação Ambiental(EA) do Brasil, pelo tanto que realizou, realiza e realizará pelas questões educacionais e ambientalistas. Destacou-se no cargo de Diretora do PNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) do MMA quando muito incentivou a consolidação da EA através de diversos projetos, entre eles: o Curso Básico de Educação Ambiental à Distância. Vamos saber um pouco mais da sua valiosa experiência. 

- A Educação Ambiental no Brasil tem-se fortalecido muito com as ações propostas pelo MMA, principalmente através do Programa Nacional de Educação Ambiental/PNEA do qual você foi diretora. Como foi o início do PNEA e quais as ações por ele desenvolvidas que você destacaria? 

Bere e demais companheiros e companheiras desse construir a Educação Ambiental, antes de tudo eu gostaria de dizer que foi com enorme prazer que recebi o convite para essa entrevista. É muito bom poder prestar contas do que se fez, sobretudo se nesse fazer pudemos compartilhar com pessoas com as quais partilhávamos dos mesmos propósitos. E foi muito assim trabalhar no Programa Nacional de Educação Ambiental, primeiro como técnica e depois como Diretora.

O PNEA nasce no MMA praticamente ao mesmo tempo em que é votada a Lei 9795/99. Esse início foi um grande laboratório, onde foram propostas várias ações, que posteriormente vão se consolidando.

Nesse início foram delineadas as ações dos pólos, o sibea e, num momento posterior o curso básico de educação ambiental à distância. Foram também retomadas as articulações internacionais com a Red de Formación Ambiental para América Latina y Caribe/PNUMA, com a qual desenvolvemos ações conjuntas.

- O Curso Básico de Educação Ambiental à Distância foi um importante feito no período de sua gestão. Como aluna saliento que foi uma experiência gratificante e desafiadora. Fale um pouco desta experiência, das expectativas e dos resultados obtidos.

O Curso realmente foi, mais que um sucesso, um enorme desafio. Começou com a produção do material – todo inédito e feito especialmente para o curso. O grande mérito desse material é que se conseguiu reunir uma série de documentos e conteúdos dispersos em um único material. Até enquanto estive no ministério, em abril, depois de passado um ano desde a conclusão do último curso, continuávamos recebendo solicitação de material, que estava sendo usado por faculdades e universidades por todo o país, além de prefeituras, ong’s e outros. Lembro-me de um pedido que veio de um grupo de estudos que estava se reunindo em um parque e faziam uso do material de um funcionário que estava se aposentando, e o grupo queria continuar o estudo e pedia que enviássemos o material o quanto antes. Dias depois recebo um e-mail agradecendo e dizendo que não foi interrompido nenhum encontro, que o material tinha chegado a tempo.  

 No piloto, com um primeiro desenho para atender 1500 pessoas, foi ampliado para 4000. A avaliação desse piloto foi fantástica, 75% dos inscritos finalizaram o trabalho final. Com esses resultados demos um grande passo, atendemos 15000 pessoas, que estavam distribuídas em quase três mil municípios, contemplando todos os estados brasileiros.

O retorno que recebi, quer seja por e-mail, quer seja encontrando as pessoas dos mais diferentes pontos do país, me dão a exata dimensão do que significou esse curso a distância. Temos a certeza dos quase 19000 capacitados diretamente, mas não temos a dimensão dos capacitados indiretamente nos grupos de estudo de ong’s, de prefeituras, dos inúmeros cursos de graduação que listaram o material como bibliografia de consulta, enfim, de todos que se capacitaram de modo indireto. Tenho uma grande satisfação com esse trabalho.

- A Internet tem-se revelado como uma importante ferramenta para a consolidação da Educação Ambiental. Como você vê esta questão?

A Internet, cada vez mais democratizada, encurtou espaço e tempo e tem se mostrado uma grande ferramenta não só de comunicação como também de democratização da informação. A consolidação do Sibea se deu exatamente nesse contexto. Primeiro disponibilizando as informações disponíveis no âmbito do Ministério, depois possibilitando, via recursos do FNMA, a consolidação das redes de EA e a construção conjunta de diagnóstico da EA no pais, bem como a alimentação do sistema.

- Hoje temos fortes aliados que buscam a consolidação da Educação Ambiental no Brasil. Quais nomes você poderia destacar pelas iniciativas e ações realizadas? 

Morro de medo de fazer citações e cometer injustiças, ou pior ainda, esquecer as pessoas. Então vou citar em primeiro lugar a Nana, que tem um papel histórico na educação ambiental do país e que foi meu braço direito no MMA. Ainda como grande parceiro, e que tem desempenhado papel relevante está o Ibama, na figura do Professor Quintas. Nos governos estaduais, a implantação dos pólos de EA, com as Comissões Interinstitucionais, garantem a consolidação da EA nas unidades da federação, aí só para citar alguns, temos o exemplo de Minas Gerais, Tocantins, Rio Grande do Norte e Ceará, dentre outros tantos que têm levado esse trabalho muito a sério. Como experiência fora do âmbito governamental, é impossível não citar a sua Bere, que é toda coração.

- Qual é, na sua opinião, o maior problema que a Educação Ambiental enfrenta?

A necessidade premente de se consolidar. Como é uma dimensão nova, ainda em construção, com muitos olhares, e percepções diferentes, essa consolidação não tem sido fácil. Sair da dimensão da educação infantil, do projeto de reciclagem escolar para assumir uma dimensão maior, inserida no planejamento dos gestores governamentais ainda não é realidade consolidada. Caminhamos um pouco nessa direção, mas a trilha ainda é longa. As diferentes correntes da EA, muitas vezes competitivas ou contraditórias entre si, ainda precisam de muita reflexão. A todos nós não basta boa vontade e voluntarismo, temos que estudar muito.

- Para finalizar, qual é a importância da Educação Ambiental? Aproveite para deixar uma mensagem aos/as leitores/as da Educação Ambiental em Ação.

Falar da importância da EA é falar do nosso compromisso ético com a vida, com o planeta, com a cultura, com a humanidade... Ter instrumentos que nos ajude a re-interpretar essas relações intrínsecas entre os seres, assumir essa ética ambiental. Conviver e saber pactuar no conflito. EA para mim é isso tudo, além de ser também um grande instrumento de gestão pública. Espero realmente ver a educação ambiental consolidada, seja no âmbito formal, com cada escola tendo a EA inserida no seu projeto político pedagógico, seja no âmbito da comunidade, como instrumento de mediação de conflito e de apropriação do meio, na consolidação de um desenvolvimento sustentável e sustentado.

Aproveito mais uma vez para agradecer a todos que foram parceiros  durante o meu tempo à frente do Programa Nacional de Educação Ambiental. Tenho certeza que ainda temos uma longo caminho a trilhar , com muita reflexão e revisão das nossas práticas, mas tenho certeza que o resultado dessa nossa construção coletiva será muito bonito.

Um carinho muito grande a todos.

Ana Lucia

analucialeite@uol.com.br

Ana Lúcia! Agradecemos pela oportunidade da entrevista e por tudo o que você fez pela Educação Ambiental – e ainda fará. Muito obrigada!

Berenice Gehlen Adams e Equipe da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação

 

Ilustrações: Silvana Santos