Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 43) CONHECER PARA CONSTRUIR: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PRÁTICA CIDADÃ
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CONHECER PARA CONSTRUIR: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PRÁTICA CIDADÃ

 

Janaína Dias Godinho – Licenciada em Ciências Biológicas (ULBRA) e Mestre em Ensino de Ciências e Matemática (ULBRA). Doutoranda no PPGECIM – ULBRA. (Bolsista do Programa Observatório da Educação). Endereço: Rua Ana Nery, 442 Bairro Rio Branco – Canoas/RS – Fone: 51 82212729 – Email: tchejana@gmail.com.

 

Mariana de Souza Proença – Licenciada em Ciências Biológicas (ULBRA) e Mestre em Ensino de Ciências e Matemática (ULBRA). Doutoranda no PPGECIM – ULBRA (Bolsista CAPES/FAPERGS). Endereço: Rua Cangussu, 999/201 Bairro Nonoai - Porto Alegre/RS – Fone: 51 84179640 - Email: mariana.proenca@gmail.com.

 

Osmar Antônio Cerva Filho – Licenciado em Ciências – Habilitação: Matemática (ULBRA). Especialista em Educação Matemática (ULBRA). Especialista em Educação Especial – Atendimento Educacional Especializado (UFC). Mestrando do PPGECIM – ULBRA.  Professor nas redes municipais de ensino dos Municípios de Porto Alegre e Sapucaia do Sul. (Bolsista do Programa Observatório da Educação). Endereço: Rua Hermínio Machado, 695 Bairro: Jardim Algarve – Alvorada/RS – Fone:  51 91015753 – Email: prof.osmar@gmail.com

 

Maria Eloísa Farias – Graduação em Ciências Biológicas (UFRGS). Doutora em Educação (Universidad Pontificia de Salamanca) . Professora e Pesquisadora no PPGECIM – ULBRA. Endereço: Av. Farroupilha, 8001 Bairro São Luiz – Canoas/RS – Fone: 51 34779278 - Email: mariefs10@yahoo.com.br

 

Rossano André Dal-FarraLicenciado em Ciências Biológicas (ULBRA). Médico Veterinário (UFRGS). Mestre em Zootecnia (UFRGS). Doutor em Educação (UFRGS). Professor e Pesquisador no PPGECIM – ULBRA. Endereço: Av. Farroupilha, 8001 Bairro São Luiz – Canoas/RS – Fone: 51 34779278 - Email: rossanodf@uol.com.br

 

 

RESUMO

O presente estudo analisa uma atividade de educação ambiental voltada para a estimulação da prática cidadã, como parte do projeto Observatório da Educação (Edital 2010 - tratando-se de uma parceria entre a CAPES, INEP e programas de pós-graduação). Neste trabalho, são analisadas as posturas de protagonismo em relação à prática cidadã nos três diferentes níveis participantes da atividade. A análise tem como foco as respostas dos alunos presentes expressas nos desenhos, frases e palavras nos recortes de papéis utilizados durante o desenvolvimento de uma atividade, na qual foram instigados a pensar em atitudes para melhorar a sua cidade. Enfatiza-se a atuação da Educação Ambiental e a prática cidadã como um processo indissociável e em permanente construção. Esta atividade possibilitou a análise dos diferentes posicionamentos dos alunos em relação às questões ambientais problemáticas de suas comunidades, seja somente elencando situações ou já se posicionando como agente social. Considerou-se relevante o momento de exploração dos conhecimentos construídos pelos alunos sobre sua cidade, para ponderar atividades que estimulem a prática cidadã.

 

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Prática cidadã. Desenho.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A Educação Ambiental voltada para a cidadania representa uma maneira possível e atual para motivar e sensibilizar os indivíduos de se tornarem agentes participativo sem defesa de uma melhor qualidade de vida.

Há estudos que investem neste sentido, para a concretização de uma prática cidadã. Loureiro (2011, p.81) afirma que a “escola deve ser capaz de levar o aluno a refletir criticamente sobre seu ambiente de vida e de consolidar uma “cultura de cidadania”, nos planos local, regional ou internacional, articulada aos processos de transformação sistêmica”.

Assim, a escola necessita criar condições que promovam o acesso dos educandos ao conhecimento socialmente construído e necessário ao exercício da cidadania. Refletindo sobre isso, a partir dos procedimentos e da perspectiva da participação social mencionados nos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998, P.37), desenvolvemos uma atividade consoante ao princípio de que “a formação da cidadania se faz, antes de mais nada, pelo seu exercício: aprende-se a participar, participando”.

Neste contexto, Queiroz (2011) afirma que a educação que vise à formação para a cidadania deve entender o diálogo como construção humana e ainda compreender seu envolvimento na ação e na reflexão em uma relação dialética, cujas partes interagem reciprocamente.

A concepção mais ampla de cidadania se refere à conquista significativa de direitos sociais, qualidade de vida, equidade e participação, na relação entre direitos individuais e coletivos, e na relação entre direitos políticos, sociais, econômicos e culturais com os Direitos Humanos (RODRIGUES, 2002).

Referindo-se à situação de degradação ambiental e da condição de vida das cidades urbanas é necessário refletir sobre a mudança nas formas de pensar e agir. Deste modo, os princípios da Educação Ambiental norteiam essas mudanças de valores individuais e coletivos permeando diversos âmbitos do conhecimento, devendo ser vista como um processo que valoriza a formação de cidadãos com “consciência local e planetária”, como Jacobi (2003, p 197) adverte:

 

Quando nos referimos à educação ambiental, a situamos em contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter, portanto, em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida.

 

Nesta perspectiva, este estudo desenvolveu uma atividade de Educação Ambiental voltada para a estimulação da prática cidadã, como parte de um projeto maior denominado Observatório da Educação (Edital 2010 - tratando-se de uma parceria entre a CAPES, INEP e programas de pós-graduação). O referido projeto visa ao desenvolvimento de estudos e pesquisas na área de educação, assim como a integração entre professores universitários, bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado com os professores das redes municipais integrantes do programa de formação continuada.

 

METODOLOGIA

 

A atividade analisada neste estudo ocorreu no mês de julho de 2011, no município de Sapucaia do Sul, com alunos do sexto ano (Esta escola apresenta o Ensino Fundamental de 9 anos), sétima e oitava séries de duas escolas municipais integrantes do projeto. A escolha dos temas foi baseada na coleta prévia de informações e pesquisa sobre as características das duas escolas, dos alunos, da comunidade e dos bairros onde as mesmas estão inseridas.

Posteriormente, realizou-se um levantamento estatístico do município e a consequente contextualização abrangendo quatro temáticas: lixo, segurança, saúde e moradia.

Considerou-se relevante o prévio levantamento do contexto das comunidades envolvidas, pois a premissa de Freire (2011) acredita que o ato de ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, referindo-se aos saberes socialmente construído na prática comunitária. E, a partir deste embasamento, buscou-se o aproveitamento das experiências prévias dos educandos que vivem em áreas da cidade caracterizadas por problemas sociais importantes, instigando-se o debate sobre os temas expostos, como a poluição dos riachos e dos córregos, os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos à saúde das pessoas.

Inicialmente foram apresentadas por meio de exposição dialogada as características urbanas e geográficas, pontos turísticos, aspectos positivos do município e os quatro temas propulsores para discussão anteriormente mencionados.

O planejamento foi elaborado por uma parte da equipe (1 professora pesquisadora e uma bolsista de doutorado), a realização ocorreu nas próprias escolas, pela bolsista de doutorado acompanhada pelos professores regentes e também integrantes do programa. Em relação à equipe multidisciplinar, Rocha (2000) ressalta que a aplicação das atividades dentro do ambiente escolar com a participação dos professores das escolas como instrutores junto com os pesquisadores e pós-graduandos produz resultados animadores.

Foram analisadas as posturas de protagonismo em relação à prática cidadã nos três diferentes níveis participantes da atividade. Julgou-se relevante a análise do protagonismo juvenil, pois segundo Souza (2011), nos discursos de organizações internacionais, como a ONU e a UNESCO, o jovem, na condição de protagonista, ocupa um lugar de centralidade, sendo entendido como um recurso importante de mobilização social e de enfrentamento de problemas.

Como metodologia a pesquisa embasou-se, na afirmação de Perrenoud (2002) aludindo ao desenvolvimento da prática reflexiva por meio de vídeos, trabalhando com situações ou com dilemas e organizando debates.

Inicialmente, organizou-se o encontro buscando problematizar as questões sócio-econômicas e ambientais do município de Sapucaia do Sul estabelecendo relações com as vidas dos alunos e de suas comunidades.

O encontro foi organizado em quatro momentos distintos:

1.Contextualização: inicialmente, a pesquisadora integrante do Projeto utilizou uma projeção de slides digitais com tópicos previamente selecionados e organizados,ressaltando as questões sócio-econômicas do município. Como atividade motivadora foi apresentado o vídeo “Cuidando do Meio Ambiente com a Turma da Mônica”.

2.Problematização do tema e exposição da pergunta central: como posso colaborar para melhorar a minha cidade? Para isto, a turma foi organizada em grupos, onde cada participante representou sua resposta em forma de desenho em um recorte de papel de forma irregular e com uma linha preta também irregular.

3.Montagem do mapa: os recortes quando unidos formavam o contorno do mapa da cidade de Sapucaia do Sul;

4.Troca de ideias: Com os mapas formados, os participantes do grupo deveriam explicar para os demais colegas o que haviam desenhado no seu pedaço de papel e qual a sua representação.

 

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

 

A opção na utilização dos desenhos como instrumento de análise baseou-se em Goldberg (2005), que considera o desenho infantil como um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento integral do indivíduo e constitui-se num elemento mediador de conhecimento e de autoconhecimento. Para a autora, a partir do desenho a criança organiza informações, processa experiências vividas e pensadas, revela seu aprendizado e pode desenvolver um estilo de representação singular do mundo.

A análise foi focada nas respostas expressas através dos desenhos, frases e palavras escritas pelos alunos, nos recortes de papéis, durante o desenvolvimento da atividade, no momento em que foram instigados a pensar em atitudes para melhorar a sua cidade. O processo foi inspirado pelos pressupostos da interação simbólica, conforme Bogdan e Biklen (1999), com a asserção de que a experiência humana é mediada pela interpretação, e o significado que as pessoas atribuem às suas experiências, bem como o processo de interpretação, são elementos essenciais e constitutivos das mesmas, com os significados sendo construídos através das interações.

A interpretação dos desenhos ocorreu em dois momentos distintos: no primeiro momento transcreveu-se o conteúdo dos desenhos que resultou no quadro abaixo (Quadro 1.); no segundo momento, foi feita a interpretação do sentido das expressões, buscando conhecer as posturas reveladas pelos alunos, em relação à questão problematizadora: “Como posso colaborar para melhorar a minha cidade?”. 

Quadro 1: Descrição dos desenhos

Análise dos Desenhos da Turma de 8ª Série

 

Grupos

Integrante

A

B

C

D

1

Avenida

Posto Público (não identificado)

Supermercado BIG

Praça pública

Coleta seletiva

4 residências

4 pássaros

1 rua

Shopping

1 caminhão (sem identificação) mas pelo formato pode-se deduzir que é do lixo.

2

Avenida

Quadra esportiva

Delegacia de polícia

BR 116

3 residências

Morro

Vegetação

2 latas de lixo (especificadas)

Lixo orgânico

Lixo seco

1 caminhão (identificado como do lixo)

1 lixeiro carregando 2 sacos de lixo em direção ao caminhão

4 sacos de lixo avulsos no chão desenhado

1 lata grande de lixo com vários sacos de lixo dentro.

3

Avenida

2 árvores

Hospital

Delegacia

1 árvore

5 pássaros

Frase escrita: “Não adianta moradia boa se não tem segurança”.

15 residências (todas iguais)

2 pessoas (ambas fumando e armadas)

1 das pessoas com a arma na mão

1 pessoa com boné cobrindo os olhos (no boné havia desenhado um distintivo com a letra P) o que pode dar a entender que seja um policial.

4

Avenida

Hospital

2 casas

3 árvores

2 flores

Hospital

3 árvores

9 pássaros

Hospital

Frase escrita: “mais saúde”.

1 caminhão com identificação do lixo

1 pessoa com balão de fala: “lixo é no lixo

5

Avenida

Planetário

Shopping

Coleta seletiva

1 residência

1 árvore

1 morro

5 latas de lixo (sem especificação do tipo de lixo)

2 árvores

Frase escrita: “segurança todo mundo quer”.

Avenida

Pessoa com balão de fala escrito: “parem”.

1 lata de lixo

1 pessoa com balão de fala: “lixo no lixo

6

--

--

--

--

 

Análise dos Desenhos da Turma de 7ª Série

 

 

Grupos

Integrante

E

F

1

12 árvores

1 pessoa depositando resíduos em um contêiner de lixo

2 árvores

1 rio com dois dejetos

1 sol

2

3 latas de lixo (orgânico, seco e plástico)

3 pessoas (sorrindo) com objetos supostamente para serem colocados nas latas de lixo

Desenhou uma paisagem com 10 árvores

2 prédios residenciais e 4 casas

1 estrada

3

Hospital

1 árvore

Desenho a caneta

Dividido em três partes:

Uma parte contendo uma floresta preservada com 12 árvores, 1 vaca e 2 animais não identificados e flores

Outra parte representando o centro de uma cidade com

3 prédios e 2 casas

1 montante de lixo na calçada

1 caminhão de lixo e seus profissionais recolhendo o lixo

A terceira parte

1 morro com 9 casas

4

1 rua

1 prédio

2 árvores

2 pássaros

Um desenho bem colorido contendo:

1 árvore frutífera

Nuvens

1 pessoa regando um jardim de flores

5

1 rio

Vegetação

1 rua

1 praça

16 flores

Possui duas placas, uma com a orientação “não jogue lixo no chão” e outra “jogue lixo no lixo

A figura de três pessoas jogando lixo em um contêiner.

Três árvores frutíferas e três flores.

Três prédios

Duas nuvens e um sol

6

4 residências

1 rua

--

 

Análise dos Desenhos da Turma de 6º Ano

 

 

Grupos

Integrante

G

H

I

1

1 rua com 27 casas, distribuídas paralelamente.

Aparentemente interpreta-se como sendo uma rua sem asfalto e com terreno irregular.

2 carros na via

1patrola

2 pessoas próximas a uma cerca

1 carro dentro de um Buraco

A palavra Lixo escrita em caixa alta e colorida

Ao redor dela tem 3 afirmações:
- Ter coleta “celetiva

- Ter “lixeras” nas ruas

- Jogar lixo no lixo

 

Um desenho colorido com uma paisagem contendo sol, nuvens, duas árvores, pássaros, borboletas, 1 pessoa jogando lixo em uma lata de lixo seco, outra lata de lixo orgânico, flores

2

1 pessoa jogando lixo na lata de lixo

Possui um breve texto com o título “Falta de Segurança” destacado
“Em muitos lugares de Sapucaia do Sul falta segurança.

Em alguns bairros, mal se pode andar pela rua tranquilamente, pois muitos seguranças ao invés de cuidar a cidade eles ficam conversando e farreando na rua.”

Flores Coloridas ocupando toda a área do desenho

3

4 latas de lixo identificadas como
“lixo seco”, “lixo orgânico”, “lixo metal”, “lixo vidro”

Possui uma cruz vermelha em destaque com a palavra saúde e um breve texto

Ter mais infra-estrutura na saúde publica e maior numero de médicos”

Um barco que possivelmente esteja representando um barco escola “Martin Pescador”

4

Uma rua com três casas

Na via tem 4 buracos, sendo 1 tapado, 2 aberto e um maior sendo tapado por 2 pessoas com carrinhos de mão

1 pracinha com 2 crianças jogando bola

1 carro aguardando os buracos serem tapados

2 crianças brincando no meio da rua

A frase:

Desmatamento das florestas

Um rio com três peixes e borrões representando um possível vazamento de óleo no rio.

5

1 pessoa chutando uma bolinha de papel em direção a uma lata de lixo identificada com outros resíduos dentro

Apresenta o título

Saneamento Básico:
Com a frase

Esgoto a céu aberto nas ruas

 

--

6

 

 

 

 

 

 

--

Um breve texto sobre a saúde:

O hospital pode melhorar e muito, “poi” quando “agente” está doente eles “demorão” um tempão se a pessoa tá muito mal. Morre ali e ele não vem atender.

Ou eles vem atender rápido mas tem que fazer barraco.

É a Saúde tem que melhorar muito.

 

 

 

 

 

 

--

 

 

A representação dos desenhos revelou que os alunos, de forma preponderante, repetiram os temas expostos na apresentação, havendo poucos momentos nos quais se colocaram no papel de protagonistas em relação ao conteúdo exposto. Foi possível constatar que, dos 7 grupos, somente 2 posicionaram-se de forma ativa, demonstrando ações de preservação ou cuidado ambiental, os demais 5 grupos concentraram suas representações apontando situações problemáticas em suas comunidades. Tal constatação deve ser problematizada em atividades com os alunos, já que, conforme Ribas Jr. (2004) diante do papel do jovem no exercício da cidadania para o desenvolvimento de sua comunidade.

Levando em conta que a atividade proposta foi de Educação Ambiental, um tema transversal, articulada com as atitudes e posicionamentos dos alunos, o que se considerou relevante não foi a análise quantitativa destas respostas, mas sim a análise qualitativa e reflexiva em relação à conversão dos sentimentos em atitudes concretas de melhoria para a comunidade.

Em relação aos temas transversais, Pozzo (2009) afirma que a transversalidade ou generalidade dos conteúdos atitudinais devem ser inclusos no currículo baseado em um tratamento continuado, estando presente em todo o momento como objetivo educacional, uma vez que, as atitudes e os valores não são adquiridos como outros conteúdos do aprendizado.

Com base na pergunta proposta, onde os alunos deveriam destacar melhorias para a qualidade de vida do seu município, observaram-se desenhos que apresentavam problemáticas envolvendo poluição (3,57%), lazer (3,57%), saneamento básico (3,57%), habitação (10,71%), paisagem (10,71%), urbanização (10,71%), segurança (14,29%), saúde (14,29%) e lixo (28,57%), conforme tabela 1.

 

Tabela 1: Problemas Municipais identificados pelos alunos

Problemas Municipais

N

%

Lazer

1

3,57

Poluição

1

3,57

Saneamento Básico

1

3,57

Habitação

3

10,71

Paisagem

3

10,71

Urbanização

3

10,71

Saúde

4

14,29

Segurança

4

14,29

Lixo

8

28,57

Total

28

100

 

Na análise dos grupos observa-se que nos grupos A e B predominaram as representações da paisagem urbana através dos itens indicados na apresentação prévia. O grupo C, além de representar a paisagem urbana, teve como característica principal a postura crítica de seus membros, através de protesto e reivindicações por melhorias, em temas como saúde e habitação.

No grupo D predominou o tema lixo. Os alunos desse grupo buscaram uma postura conscientizadora através de frases de efeito, do tipo “Lixo no lixo”.

O grupo E, por sua vez, ressaltou a reflexão sobre a separação do lixo, através de “lixeiras” para lixo seco, orgânico e plástico.

Reproduzindo os bairros de Sapucaia do Sul e seus contrastes urbanos, os membros do grupo F, procuraram refletir em relação às possibilidades de se tornarem protagonistas por meio da expressão de ações concretas, tais como cuidar de jardins e separar o lixo. Outras possibilidades apontadas foram a realização de ações educativas e informativas através de placas, tais como, “Não jogue lixo no chão”, visando conscientizar as outras pessoas sobre melhores atitudes em relação ao destino dos resíduos.

O grupo G representou o bairro em que os alunos moram, apontando dificuldades em relação à mobilidade urbana. Destaca-se que nesse bairro as ruas não possuem pavimentação, havendo problemas com erosão, o que impossibilita o acesso de veículos. Além disso, conclui-se que o grupo demonstra possuir noções de conhecimento de educação ambiental relacionadas à melhoria das condições de coleta seletiva dos resíduos provenientes de suas casas, considerando que a falta de condições de mobilidade impossibilita o caminhão coletor de entrar nas ruas do bairro.

Além da coleta seletiva, o grupo H, reivindicou uma saúde de qualidade e sinalizou problemas em relação à descaracterização da vegetação nativa para a urbanização da região, anteriormente apresentando uma área verde e se constituindo em espaço de lazer.

O grupo I salientou a importância da coleta seletiva de lixo, mostrando um possível vazamento de óleo em um rio, o que se supõe como sendo o Rio dos Sinos, devido ao desastre ambiental ocorrido em 2006 nesta região. Os alunos destacaram também a presença de um barco representando a estação ecológica do Pesqueiro Martin Pescador, ponto turístico do município, visitado anualmente pelas escolas do entorno.

Com base nas problemáticas identificadas pelos alunos observa-se a predominância da temática Lixo (28,57%). Segundo Layrargues (2011, p.185), “a questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves problemas ambientais urbanos da atualidade, a ponto de ter-se tornado [...] alvo privilegiado de programas de educação ambiental na escola brasileira”. Em relação à abordagem desse tema o autor critica a maneira reducionista como ele é implementado nas escolas.

Esta atividade foi o ponto inicial para o desenvolvimento de propostas de trabalho subsequentes nas quais as temáticas foram integradas aos conteúdos escolares do currículo de matemática buscando um progresso na construção de atitudes concretas para a melhoria da qualidade de vida nestas comunidades. Como continuidade da sensibilização o estudo de Bolsoni et al (2012) integrou conteúdos matemáticos pertinentes a cada série, através da análise e da pesquisa de conceitos matemáticos e estatísticos, relacionando-os com a realidade da comunidade em que estão inseridos e com os temas ambientais que nortearam os trabalhos realizados em grupo.

           

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A Educação Ambiental, assim como a cidadania é algo que deve ser construído permanentemente. Essa atividade possibilitou a análise dos diferentes posicionamentos dos alunos em relação às questões problemáticas de suas comunidades, seja somente elencando situações ou já se reconhecendo como agente social.

A atividade proposta, realizada e analisada de forma crítica e colaborativa em parceria entre os professores municipais, bolsistas e professores universitários, possibilitou que houvesse a integração e o aprofundamento dos conhecimentos sob diferentes aspectos: a) as situações problemáticas do município (que farão parte das futuras atividades didáticas pensadas pelo grupo), b) aspectos sociais, culturais e ambientais da visão dos alunos sobre as suas vivências e c) no estímulo à postura ativa dos alunos como agentes modificadores em suas comunidades.

Considerou-se relevante o momento de exploração dos conhecimentos dos alunos sobre sua cidade para pensar-se em atividades futuras que estimulem o protagonismo cidadão. Este grupo de pesquisa acredita que a escola é o local no qual devem ser construídas e estimuladas as posturas críticas e ativas dos indivíduos, articulando na prática os conteúdos curriculares aos temas transversais, partindo do conhecimento do seu meio para agir e preservá-lo de forma consciente. 

 

REFERÊNCIAS

 

BOGDAN, R.C., BIKLEN, S.K. Investigação qualitativa em Educação: Uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal. Porto Editora LDA, 1999.

 

BOLSONI, G., CERVA FILHO, O.A.C., GELLER, M. O ensino de matemática através de uma metodologia de projetos envolvendo a educação ambiental. XI EGEM 2012. Anais. UNIVATES, 2012.

 

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FREIRE, P.. Pedagogia da Atonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 2011.

 

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JACOBI, P.. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p.189-205, março, 2003.

 

PERRENOUD, P.. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.

 

POZO, J.P.. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Tradução NailaFretias. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed. 2009.

 

RIBAS JR., F.B..Educação e Protagonismo Juvenil.Novembro de 2004. Disponível em: <http://prattein.publier.com.br/prattein/dados/anexos/95.pdf>. Acesso em: 05 de julho 2012.

 

ROCHA, J.B.T., SOARES, F.A. O ensino de ciências para além do muro do construtivismo.Educaçãonão-formal/artigos. 2000. Disponível em:<http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v57n4/a16v57n4.pdf>.  Acesso em: 18 jun 2012.

 

RODRIGUES, Z.A.L. Ética, Educação e Cidadania. Florianópolis-SC, 2002.

 

SOUSA, M. A. ; ARAÚJO, M. N. O. A propósito do protagonismo juvenil: quais discursos e significados? Editora:<http://www.teses.ufc.br> 2011. Disponível em:<http://hdl.handle.net/123456789/2243> Acesso em: 18 jun 2012.

 

Ilustrações: Silvana Santos