Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Breves Comunicações
10/09/2018 (Nº 43) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA CANALIZADORA DO POTENCIAL DO TURISMO DE CONSUMO NA FRONTEIRA SUL-BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA REGIÃO
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 “A educação ambiental como ferramenta canalizadora do potencial do turismo de consumo na fronteira sul-brasileira para o desenvolvimento sustentável da região”

 

Dalvaci Barros, Gilson Medina, Fabiana Barros, Carla Rosana Nunes, Ana Paula Torres, Pedro Nunes

 

Resumo

 

Este artigo sintetiza o trabalho desenvolvido pelo grupo de alunos do curso de formação em Educação Ambiental realizado na Universidade Federal do Pampa campus Jaguarão em dezembro de 2011.

A partir das discussões e apresentações realizadas em sala-de-aula, fomos incitados a formar grupos e definir  problemáticas inerentes à atual realidade da nossa região e propor ideias sobre quais seriam as formas pelas quais a educação ambiental pudesse contribuir para a melhoria dessa situação. Nosso grupo formado por cidadãos e professores da rede pública da cidade e municípios vizinhos, decidiu explorar um processo que vem se desenvolvendo com grande rapidez no nosso entorno e que não vem sido explorado pelas autoridades locais: a grande afluência de turistas de todo país que atravessam Jaguarão (cidade fronteiriça com o Uruguai) atraídos pelo forte apelo comercial dos “free-shops” situados do outro lado da ponte. As principais ideias discutidas são apresentadas nesse artigo.

 

 

Introdução

Dada a grande extensão territorial do Brasil, várias são as cidades fronteiriças que ervem de pontos de acesso para zonas comerciais de países vizinhos sendo uma das mais conhecidas Foz do Iguaçu e Ciudade del Este no Paraguai. A cidade de Jaguarão, localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul faz fronteira com a cidade de Rio Branco no Uruguay sendo separado apenas pela ponte internacional Barão de Mauá inaugurada em 1930. Ainda que historicamente, o comércio (legal e ilegal) tenha sido sempre realizado na região, dada a facilidade de acesso e demanda pelos produtos de ambos os países, mais recentemente, a retomada da  abertura dos free-shops na cidade de Rio Branco vem ocasionando uma avalanche de turistas provenientes principalmente das regiões sul e sudeste. Motivados pela oferta de produtos importados a menor custo, milhares de turistas cruzam a cidade de jaguarão para terem acesso a eletrônicos, perfumes, bebidas e produtos locais uruguaios (como queijos, vinhos, alfajores, etc) oferecidos do outro lado da fronteira.

 

Problemática

O turismo de consumo se transforma cada vez mais em uma realidade muito evidente e vivenciada todos os dias pelos habitantes da cidade. Hordas de turistas transitam e formam filas de veículos na ponte e seus acesso contudo muito pouco se conhece desses turistas e pouco também conhecem eles da cidade ou contribuem para o seu desenvolvimento, o que torna Jaguarão um mero ponto de acesso para o Uruguai. Alguns poucos turistas chegam a buscar na cidade um restaurante para a pausa do almoço e provar um delicioso churrasco gaúcho mas infelizmente pouco mais conhecem da cultura e historia local.

Nesse contexto, verificamos que o turismo de consumo na região chama a atenção para alguns efeitos negativos, por um lado, mas também para várias oportunidades ainda não exploradas por outro. Acreditamos que em ambas perspectivas oferecem possibilidade para novas iniciativas baseadas no desenvolvimento sustentável e a proteção ambiental.

Essas duas vertentes podem ser identificadas por 1º- A sensibilização sobre os potenciais efeitos negativos do turismo de consumo e 2º A valorização da cultura e economia regional.

Abordagens Sustentáveis

Turismo de Consumo

O consumo excessivo dos produtos comercializados nos free-shops (ainda que sob regras aduaneiras) expõe a ncessidade de sensibilização desses turistas para as armadilhas que caraterizam alguns desses produtos oferecidos a preços mais baixos mas que são parte de um sistema de produção e consumo baseados em produtos de baixa qualidade, criados para apresentarem ciclos de vida cada vez mais curtos (“obsolecência programada”) e provenientes de países que muitas vezes se utilizam de trabalho escravo ou infantil.

Nesse âmbito, uma das abordagens aplicáveis através da Educação Ambiental, seria a sensibilização desses turistas com o objetivo de formar consumidores responsáveis e conscientes de que suas escolhas sao determinantes para consolidar ou transformar esses sistemas de produção e exploração (MMA, 2005). Verificamos que esse momento de “cruzar a fronteira” pode se transformar em um meio lúdico para que se ofereça informação relativa as formas de produção de produtos importados como eletrônicos, produtos de grife ou ainda produtos de baixo valor e qualidade chamando a atenção para o fato de que devemos também prestigiar e consumir os produtos locais oferecidos em nossas regiões de origem. É uma oportunidade também para estimular as pessoas, principalmente os mais jovens, de que devemos ter espírito empreendedor estimulando o desenvolvimento de empresários brasileiros interessados em valorizar e produzir produtos baseados em matérias-primas regionais e preocupadas em apoiar o desenvolvimento das comunidades em que estão inseridas principalmente as rurais.

O tópico de turismo de consumo, reforçou a necessidade de promover novas políticas governamentais que apoiem a difusão de informação e a implementação pratica dessas medidas discutidas anteriormente.

Por fim, outro aspecto que foi vivamente discutido esta relacionado com a importância de repensar nossos hábitos de consumo aplicando diariamente a técnica dos 5 R’s

REPENSAR

Repensar se nossas decisões de consumo se devem a necessidades ou meras consequência da pressão de agentes externos como a mídia, a moda, etc.

REDUZIR

Reduzir a quantidade de lixo que se produz. Dar preferência a produtos com maior durabilidade e não aceitar produtos com excesso de embalagem que será imediatamente descartada.

REUTILIZAR

Dar uma nova vida aos objetos buscando por exemplo uma segunda função, uma revitalização ou ainda uma doação.

REJEITAR

Não consumir produtos que não estejam preocupados com o excesso de embalagem. Rejeitas sacolas plásticas no supermercado levando bolsas de mercado próprias.

RECICLAR

Triar e reciclar o lixo orgânico e inorgânico.

 

Valorização da cultura regional

A segunda vertente se refere à transformação dos desafios desse novo panorama em oportunidades. Para isso se faz necessário o aproveitamento desse novo e crescente fluxo de visitantes para o desenvolvimento de iniciativas enfocadas em valorizar e explorar de forma sustentável o potencial da região. Jaguarão, juntamente com os demais municípios da região  como Arroio Grande e Herval, se caracterizam por uma economia primordialmente baseada no agronegócio de pequenas, médias e grandes propriedades rurais. Dessa forma, a região tem um  rebanho muito grande e de alta qualidade de bovinos, ovinos, etc. Da mesma forma, a produção de cereais como arroz, milho, soja, etc. Infelizmente a grande maioria da produção é enviada para beneficiamento em outras regiões do estado ou até mesmo exportada. Uma das formas para a valorização regional seria, por exemplo, a criação de cooperativas que explorem produtos provenientes da agricultura e pecuários locais e polarizem o uso de técnicas orgânicas. Conceitos como “comércio justo e equitável” ou “economia social e solidaria” podem ser amplamente explorados nesse âmbito (FBES). UNIPAMPA, SEBRAE e EMATER podem ser inclusive instituições idôneas e interessadas em respaldar a concepção e implementação dessas iniciativas.

Jaguarão, como cidade fronteiriça acumula um importante valor histórico e cultural. A cidade se destaca pelos traços arquitetônicos, pela música e cultura valorizada pelos habitantes. Toda essa riqueza pode ser explorada e intensificada através da criação de roteiros turísticos destinados aos turistas que chegam na região. Essa informação poderia ser compilada e juntamente com a informação sobre pontos de venda de artesanato, gastronomia etc e ser distribuída aos visitantes em um entreposto que designamos como “Pedágio Turístico”. O Pedágio Turístico poderia desempenhar, de forma complementar, a função de arrecadar dados e estatísticas dos visitantes com o objetivo de adaptar a oferta à demanda e perfil desses turistas.

Finalmente, e não menos importante, identificamos a importância de conscientizar as pessoas, locais e visitantes, sobre a importância de preservar o meio ambiente evitando jogar lixo pela janela dos automóveis além da fixaçao de outdoors dando a conhecer a rica e variada fauna e flora do ecossistema local.

 

Conclusão

 

Vivemos em uma sociedade e sobretudo uma economia volátil em constante desenvolvimento e transformação. Nossas comunidades e o meio-ambiente sao muitas vezes vitimas dessas mudanças. Cabe a nos, criar alternativas que transformem esses desafios, as vezes vistos como verdadeiras ameaças, em oportunidades de crescimento e desenvolvimento social e econômico.

Todas as ações acima descritas foram exploradas em grupo durante um workshop de poucas horas mas colocam em evidência potenciais que existem ao nosso redor e que em geral sao negligenciados e ao mesmo tempo buscam ideias inovadoras inspiradas e possibilitadas pela educação ambiental. Nosso papel e contribuir para que ideias similares se transformem em iniciativas exitosas.

 

 

 

Bibliografia

 

FBES. (s.d.). Forum Brasileiro de Economia Solidaria. Consultado em http://www.fbes.org.br/ em janeiro de 2012.

MMA. Governo Federal. (2005). CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação. Brasília.

Ilustrações: Silvana Santos