Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
10/09/2018 (Nº 43) RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DIAGNÓSTICO PARA A IMPLANTAÇÃO DO PGRS EM UMA CLÍNICA DE MEDICINA E SEGURANÇA DO TRABALHO
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1413 
  

RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Diagnóstico para a Implantação do PGRS em uma Clínica de Medicina e Segurança do Trabalho

 

 

Izabel Cristina Cuaiato Soares¹

Luciana Fofonka²

 

 

Resumo

O acelerado ritmo da produção e o consumo humano exige cada vez mais a utilização dos recursos naturais, aumentando a geração e acúmulo de resíduos comprometendo a qualidade do meio ambiente, assim o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados pela sociedade moderna é uma necessidade incontestável. O estudo foi realizado na Clínica Grupo SESMAT Medicina e Segurança do Trabalho, Esteio, RS onde foram realizadas reuniões com a diretoria para esclarecer o desenvolvimento do trabalho e para o levantamento de dados. Foi realizada a caracterização de todos os resíduos gerados na clínica seguidos da segregação e quantificação dos mesmos.  Foram coletados dados sobre os pontos de geração, manuseio, coleta interna e externa, armazenamento e destinação final de todos os resíduos sólidos. Palestras de sensibilização foram ministradas para esclarecer as questões que envolvem os resíduos sólidos e para o treinamento dos colaboradores. Os resultados mostraram que os resíduos orgânicos provenientes dos sanitários e copa são os gerados em maior volume seguidos dos resíduos recicláveis. Após as palestras de sensibilização e treinamento dos colaboradores se verificou a redução dos descartáveis e outros materiais recicláveis demonstrando a viabilidade da implantação de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos. O presente estudo objetivou realizar um diagnóstico sobre os resíduos sólidos gerados em uma clínica de medicina e segurança do trabalho e a sensibilização dos colaboradores através da Educação Ambiental para a futura implantação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS).

Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Diagnóstico. Educação Ambiental. Gerenciamento.

 

SOLID WASTE AND ENVIRONMENTAL EDUCATION: Diagnostics for the Implementation of the SWMP in a Medical and Work Safety Clinic

 

 

Abstract

 

The accelerated production rate and the human consumption require gradually more the use of natural resources, increasing waste generation and its accumulation, compromising the quality of the environment; consequently, the management of solid waste generated by the modern society is an undeniable necessity. The study was conducted at the clinic Clínica Grupo SESMAT Medicina e Segurança do Trabalho, Esteio, RS, where meetings were held with the administration in order to clarify the development of the work and the data collection, the characterization of all waste generated in the clinic was performed, followed by the separation and the quantification of them. Data were collected on the points of generation, handling, internal and external collection, storage and disposal of all solid waste. Awareness lectures were given to clarify the issues surrounding solid waste and for the training of the employees. The results showed that the organic wastes from toilets and from the kitchen are generated in a greater volume, followed by recyclable waste. After the awareness and employee training lectures, it was possible to verify the reduction of the disposables and other recyclable materials demonstrating the feasibility of implementing a plan for solid waste management. This study aimed at performing a diagnostic of the solid waste generated in a clinic of medicine and occupational safety and awareness of employees through the Environmental Education for the future implementation of a Plan of Solid Waste Management (SWMP).

 

Keywords: Solid Waste. Diagnosis. Environmental Education. Management.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Os problemas ambientais decorrem do uso dos recursos naturais necessários para a produção de bens e serviços, bem como da necessidade do uso irracional das fontes de energia.

Segundo Barbieri (2011), um fator importante a se considerar é a grande escalada na produção, estimulando a exploração do meio ambiente e o aumento em grande escala na geração de resíduos. A Revolução Industrial representa o marco na intensificação da problemática ambiental, desta forma, começaram a surgir novas substâncias e materiais, até então, não existentes no ambiente e com a síntese de milhares de substâncias químicas a geração de resíduos não param de aumentar.

O acelerado ritmo da produção e o consumo humano exige cada vez mais a utilização dos recursos naturais, aumentando a geração e acúmulo de resíduos comprometendo a qualidade do meio ambiente e ameaçando a capacidade de suporte do planeta. Em relação ao ambiente organizacional, a ciência e tecnologia vêm contribuindo com grande relevância em relação aos problemas ambientais, mas questões políticas, econômicas, sociais ou culturais são os responsáveis pela inviabilidade das soluções (BARBIERI, 2011). A partir da Gestão Ambiental, e no caso, a Gestão de Resíduos Sólidos surge como um instrumento e ferramenta para a mensuração dos resultados de eficiência colaborando nos processos para redução da geração de resíduos.

O gerenciamento dos resíduos gerados pela sociedade moderna é uma necessidade que se apresenta como incontestável e requer não apenas a organização e a sistematização das fontes geradoras, mas, fundamentalmente, o despertar de uma consciência coletiva quanto às responsabilidades individuais no trato desta questão.

O presente estudo objetivou realizar um diagnóstico sobre os resíduos sólidos gerados na clínica de medicina e segurança do trabalho Grupo SESMAT, Esteio, RS e a sensibilização dos colaboradores através da Educação Ambiental para a futura implantação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS).

 

METODOLOGIA

 

            O estudo foi realizado entre os meses de junho a agosto de 2012, na clínica de Medicina e Segurança do Trabalho (Grupo SESMAT) no Município de Esteio, região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

            Primeiramente foram realizadas reuniões com a diretoria da empresa para apresentação da proposta do estudo e os procedimentos a serem desenvolvidos.

            Para coleta dos dados foi realizado um levantamento caracterizando todos os resíduos sólidos na clínica e o procedimento seguinte foi realizar a segregação correta e a quantificação destes resíduos que ocorreram nos dias 11 a 15 de junho de 2012. Também foram coletados dados sobre os pontos de geração, manuseio, coleta interna e externa, armazenamento e destinação final de todos os resíduos sólidos.

            Os materiais utilizados para a coleta dos dados foram sacos de lixo preto (resíduos comum), balança, luvas, máscaras, coletores de papel A4, coletores de copos descartáveis, para metais, vidros, lâmpadas fluorescentes, material eletrônico, filmes de RX, pilhas e baterias. Estes coletores facilitam o processo de segregação e quantificação em cada fonte geradora, bem como para a adequação no armazenamento dos resíduos.

            Após o diagnóstico, foi realizado um cadastro junto a Secretaria de Meio Ambiente do município de Esteio, para que responsáveis pela coleta seletiva recolham os resíduos destinados ao processo de reciclagem.

Palestras de sensibilização através da Educação Ambiental e o treinamento dos colaboradores foram ministrados a cada três dias da semana com pequenos grupos para que se pudesse dispor mais esclarecimento referente ao objetivo do estudo e o papel do colaborador neste processo. Também se realizou uma campanha com apoio da diretoria e colaboradores para a redução da utilização de materiais descartáveis. Esta etapa teve início em 18 de junho a 06 de julho de 2012 com a participação de 64 pessoas.

           

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ou O PGRS COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVIMENTO DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

 

Nas últimas décadas, o aumento da geração de resíduos vem alertando sobre a necessidade de mudanças nos hábitos do ser humano, tanto em âmbito profissional como domiciliar. Fato que culminou com a explosão demográfica e o capitalismo desenfreado, incentivando ao consumismo exagerado, fazendo com que a produção de resíduos cresça de forma alarmante (BARBIERI, 2011).

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de saneamento Básico do IBGE em 2000, diariamente são coletados 125.281 mil toneladas de resíduos, onde, 30,5% são depositados em lixões, 22,3% para aterros controlados e 47,1% são destinados para os aterros sanitários. Pesquisas da Organização Mundial de Saúde estimam que a disposição irregular dos resíduos seja responsável pela proliferação de moscas, ratos e outros insetos vetores de doenças nos centros urbanos. Desta forma, a adequação da coleta regular, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos são práticas essencialmente necessárias para o desenvolvimento sustentável (TONANI, 2011).

Em busca da sustentabilidade outra ação importante é a Educação Ambiental que surge como um instrumento na construção da consciência ambiental, estimulando as pessoas a serem portadoras de conhecimento sobre as responsabilidades com o meio ambiente, assim como o desenvolvimento de habilidades tornando-as cidadãos solucionadores (BARBIERI, 2011).  A Educação Ambiental está expressa na Lei 9.975/1999 e foi regulamentada pelo Decreto 4.281/2002 (BRASIL, 2002) e considerada um dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).

Segundo Melgar, Van Bellen & Lunkes (2006), no contexto empresarial, a Educação Ambiental deve ser contínua e permanente requerendo várias etapas, evoluindo em conteúdo e abordagem com o intuito de sensibilizar os funcionários em relação às questões ambientais, oferecendo suporte para uma futura implantação de um sistema de gestão ambiental na empresa. Os autores complementam que há uma carência de literatura, materiais e programas de Educação Ambiental voltada ao setor empresarial permitindo ao grupo de funcionários informações e conhecimentos sobre a realidade do meio ambiente em que vivem.

Alguns estudiosos definem lixo como algo ou resto sem valor, sobra não aproveitada, enquanto, resíduo é simplesmente resto (FIORILLO, 2000). Porém outros autores explicam que o lixo pode ser definido como algo sem valor, assumindo um caráter negativo, mas quando devidamente tratado e destinado possui características próprias para ser reaproveitado agregando valoração (MIRANDA, 1995).

Conforme o artigo 3º, XVI da Lei 12.305/2010, resíduo sólido é definido como “material, objeto ou bem descartado, resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólidos ou semissólidos, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.” (BRASIL, 2010).

De acordo com a NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT de 2004 os resíduos sólidos foram classificados em: resíduos classe I e resíduos classe II que se subdividem em classe II A – não inertes e classe II B – inertes.

Resíduos classe I: perigosos, apresentam características de periculosidade em função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas. Estes resíduos apresentam propriedades como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.

Resíduos classe II A – não inertes: apresentam propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

Resíduos classe II B – inertes: quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspectos, cor, turbidez, dureza e sabor.

Outro fator importante em relação aos resíduos sólidos são os provenientes do serviço de saúde por suas características que representam relevante preocupação. Representam a menor parcela em relação aos demais resíduos gerados, porém apresentam significativamente um alto risco ao meio ambiente e a saúde pública pelas suas características contaminantes e infectantes.

No país, os resíduos dos serviços de saúde começam a ganhar destaque com a Resolução 06/91 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) que desobrigando a incineração dos resíduos provenientes da saúde e de terminais de transportes, deliberando o licenciamento ambiental em nível estadual para estabelecerem normas aos municípios e estados que optaram pela não incineração dos resíduos. Após dez anos e antecedida a outras resoluções, a Resolução nº 283 de 12 de julho de 2001 estabelece o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde, sendo revogada pela Resolução CONAMA 358/2005. Esta resolução tratou do gerenciamento priorizando a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, definiu a competência aos órgãos ambientais estaduais e municipais para estabelecerem critérios para o licenciamento ambiental dos sistemas de tratamento e destinação final dos RSS.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2004, com a RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) nº 306, aprimorando a RDC ANVISA n° 33 de 2003, estabelece o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, concentrando sua regulação no controle de processos de segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e a disposição final dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS). É neste contexto de extrema relevância que foi promulgada a Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, instituindo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que altera parcialmente a Lei 9.605 de 1998 (TONANI, 2010).

Conforme os artigos 4º e 5º da Lei 12.305/2010 a “PNRS reúnem conjuntamente princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, integrando a Política Nacional de Meio Ambiente e articulando-se com a Política Nacional de Educação Ambiental e com a Política Nacional de Saneamento Básico” (BRASIL, 2010).

Tratando-se de empresas, atualmente muitas organizações implantam sistemas e soluções precárias, cumprindo o mínimo necessário frente às exigências da legislação, protelando um sistema de gestão eficaz, pouco fazendo para diminuir os impactos causados por suas atividades. É por esta razão que o gerenciamento de resíduos sólidos tem se tornado mais frequente objetivando, solucionar os problemas internos e o melhor aproveitamento dos materiais, áreas destinadas à disposição e tratamento de resíduos. Outro fator fundamental é a busca por tecnologias que viabilizem a minimização, reaproveitamento e reciclagem dos resíduos gerados na empresa (PEARSON, 2010).

Conforme o art. 60 do Decreto n. 7.404/2010 as microempresas e empresas de pequeno porte gerem apenas resíduos sólidos domiciliares ou equiparados pelo poder público municipal, nos termos do parágrafo único do art. 13 da Lei n. 12.305/2010, estão dispensadas de apresentar o plano de gerenciamento de resíduos sólidos. A utilização de um formulário com requisitos mínimos é exigida pela PNRS para a elaboração do plano de gerenciamento de resíduos sólidos para micro e pequenas empresas por apresentarem processos produtivos simples e escassez de recursos (KUDRJAWZEW, 2012).

 

RESULTADOS

 

As reuniões com a Diretoria da Clínica Grupo SESMAT (Figura 1) foram significativas, pois puderam elucidar a proposta do trabalho ao corpo diretor onde demonstraram grande interesse e apoio em todas as etapas do estudo, comportamento determinante para que a organização desenvolva a percepção sobre a importância da implantação do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos em sua empresa.

Através da caracterização e identificação dos resíduos sólidos gerados pela clínica em um primeiro momento foi possível constatar que os resíduos coletados em cada setor não eram segregados corretamente, com exceção dos materiais que oferecem riscos por suas características tóxicas e infectantes.

 


                

Figura 1: Fachada das instalações da Clínica Grupo SESMAT Medicina e Segurança do Trabalho. Autor, ano

 

             Observou-se através da pesagem diária realizada por uma semana (Tabela 1) que os resíduos gerados com maior volume são os resíduos orgânicos oriundos dos sete sanitários e a copa, seguidos dos resíduos recicláveis gerados em 31 salas e duas recepções.

 

Tabela 1: Quantidade de resíduos sólidos gerados em uma semana

Resíduos

1º dia/Kg

2º dia/Kg

3º dia/Kg

4º dia/Kg

5º dia/Kg

Total/Kg

Orgânico

10,3

8

8,7

6,3

5,8

39,100

Recicláveis

4,086

3,595

3,683

3,342

2,285

16,991

Perfuro-cortante

0,71

0,63

0,5

0,43

0,38

2,650

Infeccioso

1,252

1,115

0,953

0,737

0,569

4,626

Total

16,348

13,34

13,836

10,809

9,038

63,367

 Fonte: Izabel Cristina Cuaiato Soares, 2012.

 

Segundo o setor de compras, a quantidade mensal de materiais a serem utilizados (Tabela 2), varia de acordo com o número de atendimentos diários, volume de serviço* e com os períodos de calor.

 

Tabela 2: Quantidade mensal de materiais descartáveis utilizados mensalmente.

 

 

Material

Unidade/mês – inverno

Unidade/mês – verão

*Folhas A4

50.000

_

Copos descartáveis

5.000

9.000

Papel toalha

6.500

7.000

Fonte: Vanusa Spinelli, 2012.

 

            Os resíduos sólidos infectantes e perfuro-cortantes, resultante do setor de coleta de material biológico são os que possuem a menor quantidade quando comparados com os demais (Tabela 1), mas não o menos importante, devido aos riscos à saúde que oferecem. Estes resíduos são devidamente segregados e destinados obedecendo às determinações da ANVISA (Figura 2). A coleta interna e externa é de responsabilidade do laboratório de análises clínicas, prestador do serviço na clínica. O mesmo é contratante de uma empresa especializada e licenciada para o recolhimento e tratamento destes resíduos.

 

Figura 2: Coletores para materiais infectantes, perfuro-cortantes e descartáveis

 

Através da Educação Ambiental realizada com o apoio de palestras de sensibilização, foi possível construir a equipe colaboradora, sendo formada pelos responsáveis pela limpeza e o setor de compras. Após as etapas de sensibilização e treinamento dos colaboradores, se verificou a redução em relação à mistura de resíduos. Com campanha de adoção de canecas e garrafinhas para uso individual e uso consciente de papéis, foi possível constatar que a utilização de copos descartáveis sofreu uma redução de 92%, aproximadamente 560 copos por semana, equivalente a 1,232 Kg. Também se verificou a redução na utilização de papéis toalha nos sanitários para os funcionários, devido à diminuição da reposição nos suportes.

Com a disposição de coletores seletivos em locais devidamente estratégicos foi possível perceber os efeitos das palestras.  Isso possibilitou que apenas os resíduos orgânicos oriundos dos sanitários e copa fossem colocados nas lixeiras externas para recolhimento pelo serviço público de limpeza e os resíduos passíveis de reciclagem, fossem destinados à coleta seletiva. Em cada setor foram distribuídos pequenos coletores (Figura 3) destinados a receber os resíduos orgânicos gerados pelo café da manhã e lanche da tarde dos funcionários.

 

Figura 3: Coletores para resíduos orgânicos

 

O setor de RX já havia adotado equipamentos com tecnologia digital (Figura 4), não necessitando a utilização de filmes, porém há casos em que são solicitados serviços de RX ou tomografias por outras clínicas que utilizam a tecnologia convencional. Nestas circunstâncias alguns exames ficam retidos na clínica a espera do paciente, no entanto caso o mesmo não retire em determinado período, estes filmes são doados para um hospital da região metropolitana de Porto Alegre.

Os resíduos referentes às pilhas e baterias são descartados em coletores seletivos específicos em local próximo à clínica, pois são resíduos raramente produzidos.  As lâmpadas fluorescentes são devolvidas nos estabelecimentos que comercializam estes produtos ou encaminhadas a Secretaria de Meio Ambiente de Esteio. A coleta seletiva recolhe os resíduos devidamente segregados três vezes na semana não necessitando de um espaço muito grande para armazenar estes resíduos à espera da coleta. O local é adequado para o armazenamento dos resíduos recicláveis, onde é devidamente telhado, com piso e paredes revestidos e armazena somente os resíduos entregues a coleta seletiva.

 

Figura 4: Equipamento de RX com tecnologia digital

 

Para evitar o desperdício e aumento nos custos com papel A4, quando possível, as folhas com impressão em um lado são reaproveitadas para o trabalho interno e com a digitalização das fichas médicas, a clínica diminuiu o acúmulo de documentos em papéis que devem ficar arquivados por um período de 20 anos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            O estudo realizado na Clínica Grupo SESMAT demonstrou através do diagnóstico a viabilidade para a implantação de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos, mesmo que os resíduos gerados em todo o ambiente sejam classificados como resíduos comuns.

            Apesar de não possuir o PGRS se constatou que a clínica apresentava certa postura relacionada à redução de alguns materiais e consequentemente o acúmulo de resíduos representa no ambiente. É importante a percepção empresarial sobre os fatos que envolvem a questão do gerenciamento dos resíduos, tornando possível este processo e verificando os benefícios resultantes que exercem influência direta na economia da empresa e do meio ambiente.

            A clínica adotou uma estratégia empresarial em relação à prestação do serviço de análises clínicas, tornando o laboratório o responsável pelos funcionários que realizam as coletas de sangue e o gerenciamento dos resíduos infectantes, atendendo obviamente às exigências da ANVISA. Mas ainda não exime a clínica sob a responsabilidade do cuidado em relação aos resíduos e a promoção da qualidade do ambiente.

Neste contexto Rios (2006) afirma que os resíduos dos serviços de saúde representam a menor parcela em relação aos demais resíduos produzidos, porém apresentam significativa relevância em relação ao risco à saúde pública e ao ambiente quando descartados inadequadamente. É por esta razão que todo o trabalho de monitoramento deve ser realizado constantemente para que prováveis falhas sejam corrigidas

            A sensibilização através da educação ambiental corrobora no processo da conscientização e entendimento sobre a importância de um PGRS na empresa e para o meio ambiente, pois além de se adequar às exigências da legislação ambiental em vigor promove a redução dos custos com materiais e reduzo volume de resíduos destinados aos aterros sanitários. Também fornecem aos colaboradores informações e conhecimento sobre a temática, desenvolvendo uma postura solucionadora através da mudança das atitudes e que estas possam ultrapassar as portas do ambiente de trabalho e seja aplicado em âmbito residencial.

Estudos anteriores comprovaram que a Educação Ambiental através da coleta seletiva, reciclagem e reaproveitamento de materiais desenvolve a conscientização da população e mostra que é possível evitar o acúmulo de resíduos e reduzindo os impactos ambientais (SOARES, SALGUEIRO & GAZINEU, 2007).

            Os resultados obtidos serviram como diagnóstico e mostraram a viabilidade da implantação de um PGRS adequado à realidade da clínica Grupo SESMAT, no entanto, é recomendável a continuidade deste estudo, envolvendo outros fatores como consumo de energia e água através da elaboração de projetos para a possibilidade da implantação de um SGA envolvendo todas as outras filiais da empresa.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ANVISA – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 306, de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Resíduos Sólidos - Classificação, Rio de Janeiro, 2004.

BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2011.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,  Brasília, 2010. Disponível em <http://ftp.saude.sp.gov.br/.../u_pt-mma-gm-177_300511.pdf>. Acesso em 23 de julho de 2012, às 21:45 h.

______. Lei nº 4.281, de 25 de junho de 2002. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental; altera a Lei nº 9.975, de 27 de abril de 1999; e dá outras providências. Presidência da República – Casa Civil, Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm>. Acesso em 21 de outubro de 2012, às 23:10 h.

CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução 283, de outubro de 2001.  Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos do serviço de saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2001.

______, Resolução 358. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos do serviço de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2005.

______; Resolução 06. Dispõe sobre o tratamento de resíduos sólidos provenientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_1991_006.pdf>. Acesso em 11 de setembro de 2012, às 23h00min.

FIORILLO, Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000.

KUDRJAWZEW, Vladimir. 2012. Planos de Gerenciamento, p. 437-454. In: A. Jardim; C. Yoshida & J. V. M. Filho (orgs). Política Nacional, Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Manole. São Paulo.

MELGAR, M. J. A; BELLEN Van, H. M; LUNKES, R. J. Educação Ambiental nas Empresas: Um Estudo de Caso na Fischer Fraiburgo Agrícola Ltda. Revista Contemporânea de Contabilidade 3, Florianópolis, vol. 1, n. 1, p. 124 – 142, jul/dez. 2006. Disponível em: <http://www.rcc.ufsc.br/edicao6/jul_dez_2006_artigo7.pdf>. Acesso em 19 de outubro de 2012, às 17:45 h.

MIRANDA, Luciana Leite de. O que é lixo? São Paulo: Brasiliense, 1995.

PEARSON Academia. Gestão Ambiental. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

RIO, R. B. Cartilha do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde - PGRSS. Rio de Janeiro, 2006.

SOARES, L. G. C; SALGUEIRO, A. A; GAZINEU, M. H. P. Educação Ambiental Aplicada aos Resíduos Sólidos na Cidade de Olinda, Pernambuco: Um estudo de Caso. Revista Ciências e Tecnologia 1, Recife, n.1, jul/dez. 2007. Disponível em: <http://www.unicap.br/revista_e/artigo5.pdf>. Acesso em 16 de outubro de 2012, às 22:00 h.

TONANI, Paula. Responsabilidade de corrente da poluição por resíduos sólidos: de acordo com a lei 12.305/2010 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. São Paulo: Método, 2011.

 

Ilustrações: Silvana Santos